sábado, 15 de fevereiro de 2014

Alex, o grande

Normalmente o biotipo de um piloto de monopostos é de um homem baixinho e se tratando da F1 em 2014, com o peso de jóquei. Alexander Wurz era o oposto disso. Com 1,87m, o austríaco se destacava pela sua altura exagerada dentro do cockpit, mas também pelo seu carisma e simpatia, além de um início forte da F1, que impressionou tanto que Wurz passou mais de dez anos na categoria, principalmente como piloto de testes, onde sua finesse em acertar os carros o fez ficar ficar famoso na F1. Completando quarenta anos no dia de hoje, vamos conhecer um pouco mais deste austríaco fora dos padrões.

Alexander Wurz nasceu no dia 15 de fevereiro de 1974 na pequena cidade de Waidhofen an der Thaya, na Áustria. Apesar do nome comprido da cidade, o pequeno sobrenome Wurz era sinônimo de velocidade na região, pois Franz Wurz se tornou uma estrela do Rallycross europeu, vencendo o campeonato continental em 1974, 76 e 82. Alexander era o segundo filho de Franz e a velocidade sempre esteve presente na vida dele, assim como os esportes radicais. Inicialmente Alexander se interessou pelo BMX e se tornou um precoce campeão mundial aos 12 anos de idade em 1986. As corridas em bicicletas o ajudaram a ter um ótimo preparo físico, que o ajudaria mais tarde. Aos 15 anos, Wurz se mudou para o kart onde ficou apenas dois anos, mas demonstrou grande potencial quando foi o quarto colocado no prestigioso Campeonato do Oriente Médio da modalidade. Quando completou 17 anos Alex se mudou para a F-Ford e foi considerado o novato do ano em seu país, para se tornar campeão alemão e austríaco da categoria em 1992, recebendo o prêmio de piloto austríaco do ano.

Tamanho talento chamou a atenção de Helmut Marko, homem forte da Red Bull já neste tempo, e o austríaco não titubeou em contratar seu jovem compatriota para sua equipe de F3 Alemã, mas Wurz não consegue bons resultados em seu ano de estreia, mas este contato com Marko lhe ajudaria mais tarde. Wurz muda de equipe na F3 Alemã e em seu segundo ano na categoria mostra seu talento, ficando em segundo lugar no campeonato, conquistando três vitórias, perdendo o título para Jorg Müller. Em um movimento não muito usual, Wurz decide ficar mais um ano na F3 e o resultado não foi muito bom. Já tendo um vice-campeonato nas mãos, algo menor do que ser campeão já seria um fracasso e Wurz, mesmo tendo permanecido na mesma equipe, foi apenas sexto colocado no certame vencido pelo argentino Norberto Fontana e, para piorar, do Campeonato Alemão de F3 de 1995, todos se lembram do bizarro acidente de Wurz em Avus. O austríaco liderava a corrida quando o safety-car foi mandado à pista. Na verdade, parecia mais um safety-truck, mas a verdade foi que Wurz colocou seu F3 na frente do carro de segurança e sem a mesma eficiência de freios, o carro atingiu a traseira de Wurz de forma até mesmo cômica. Sem chance na F3000, próximo passo de um piloto para chegar à F1, Wurz é contratado pela equipe Joest, que competia com um Opel Calibra no DTM e participava de provas de Endurance com um Porsche. Wurz não participou de todas as etapas do ITC, novo nome do DTM naquele ano, e foi até mesmo discreto, mas convocado pela Joest para participar das 24 Horas de Le Mans de 1996, ao lado de Davy Jones e Manuel Reuter, Wurz se tornou o mais jovem  (22 anos) vencedor da tradicional corrida, algo que não foi batido até hoje. Ainda pensando na F1, Wurz teve seu primeiro contato com a categoria num teste pela Sauber, graças aos contatos que Wurz ainda com tinha com Marko.

Com a vitória em Le Mans chamando atenção, Wurz é contratado pela Mercedes para participar de algumas provas do FIA-GT em 1997 e, principalmente, é contratado como piloto de testes da Benetton naquele mesmo ano. Numa época em que se podia testar de forma indiscriminada, Wurz ganhou uma vasta experiência com o Benetton B197, mas também ganhou uma oportunidade inesperada quando seu compatriota e apoiador Gerhard Berger teve um problema após uma cirurgia de sinusite e Wurz foi convocado a substituir Berger no Grande Prêmio do Canadá. O paddock da F1 ficou impressionado com a visão de um piloto extremamente alto e com as sapatilhas de cores diferentes andando tão bem com o Benetton, mesmo Wurz tendo batido no infame Muro dos Campeões de Montreal durante os treinos. Após abandonar suas duas primeiras corridas na F1, Wurz teve uma bela exibição em Silverstone e ajudado pela quebra de Mika Hakkinen no final da prova inglesa, subiu ao terceiro lugar e logo em sua terceira corrida na F1, Wurz estava no pódio. Foi uma grande exibição inicial de Wurz, mas quando Berger estava novamente em forma, Wurz voltou ao cargo de piloto de testes. Em sua primeira corrida após sua volta, Berger conseguiu uma emocionante vitória em Hockenheim, alguns dias depois da morte de seu pai. Wurz retornava ao FIA-GT, onde corria ao lado da lenda alemã Bernd Schneider, conquistando uma vitória em Donington Park. Na penúltima etapa do FIA-GT, em Laguna Seca, Wurz teria como parceiro na prova californiana o canadense Greg Moore, numa improvável parceria de um piloto ativo de F1 e F-Indy numa corrida de Endurance. 

As exibições de Wurz haviam impressionados os chefes da Benetton, que haviam se arrependido amargamente da veterana dupla Berger-Alesi nas duas temporadas anteriores. Com David Richards substituindo Flavio Briatore, o inglês viu a necessidade de uma dupla jovem e, principalmente, mais barata em 1998. Wurz estava no perfil do que Richards precisava e foi efetivado como piloto titular da Benetton, ao lado ascendente Giancarlo Fisichella. A equipe azul celeste ainda estava carente dos anos gloriosos de Schumacher e havia muita pressão na jovem dupla da equipe. Wurz mostrou um bom serviço com dois quartos lugares no Brasil e na Argentina, mas foi em Monte Carlo que Wurz colocou seu nome como uma das possíveis estrelas da F1 quando protagonizou com Michael Schumacher uma eletrizante batalha lado a lado com o alemão nas estreitas ruas de Mônaco. Porém, correr lado a lado em Mônaco não é muito saudável e ambos os pilotos acabariam nos boxes para conserto, mas Wurz mostrava que não tinha medo de cara feia. Porém, em Montreal, um ano após sua estreia, Wurz entrava na história pelas portas dos fundos quando se envolve numa carambola na largada e seu carro capotando se tornou uma foto clássica da F1.

Alex terminou 1998 na frente de Fisichella por apenas um ponto, mas apenas em oitavo no Mundial. Pouco para uma equipe que três anos antes tinha sido campeã. Mas o que Wurz não sabia era que esse seu primeiro ano completo na F1 seria o seu melhor na categoria. Sem o apoio de uma grande fabricante (a Benetton corria com motores Mecachrome, antigos motores Renault recauchutados e disfarçado com nomes da marca Benetton), o time italiano se apequenava cada vez mais e seus pilotos sofriam com temporadas irregulares, com bons resultados seguidos de corridas sofríveis. Na briga interna da Benetton, Fisichella sobressaia claramente frente a Wurz e se em 1998 o austríaco superou seu companheiro de equipe por apenas um ponto, em 1999 Fisichella foi nono colocado com um segundo lugar em Montreal, enquanto Wurz era apenas 13º com apenas três pontos para mostrar. Alex permaneceria outro ano na Benetton, mas a equipe passava por pesadas reformulações. A Renault voltava à F1 comprando a Benetton em meados do ano 2000 prometendo um forte investimento para os próximos anos. Não em 2000, onde a Benetton continuava sofrendo com resultados irregulares, mas com Fisichella agora claramente na frente de Wurz, que só marcou seus primeiros dois (e únicos) pontos daquela temporada em Monza, já no final do ano. Os franceses trouxeram de volta Briatore que, desafeto de Richards, tratou de se livrar do inglês e bater forte em algumas das pessoas que Richards tinha na equipe. E uma delas era Wurz, que foi hostilizado por Briatore, quando italiano chegou a dizer que um manequim de loja poderia fazer a mesma coisa que Wurz num carro de F1.

Sem espaço na Benetton, Wurz procurou outras equipes, mas o máximo que conseguiu foi se tornar piloto de testes da McLaren. Com certeza Wurz esperava se espelhar em Olivier Panis, que passou 2000 inteiro testando na McLaren e no ano seguinte conseguiu um bom lugar como titular na F1. Porém, Wurz fez um trabalho admirável na McLaren a ponto da equipe ter segurado-o mesmo quando Alexander teve chances de um lugar como piloto titular, principalmente em 2003 na Jaguar, onde Antonio Pizzônia fazia uma temporada ridícula e acabaria sacado no meio do ano, com Wurz sendo o principal favorito a ocupar a vaga do manauara, mas a McLaren o segurou. Em 2005, a McLaren contratou com todas as honras o colombiano Juan Pablo Montoya para ser companheiro de Kimi Raikkonen, mas o piloto sul-americano machucou o ombro numa partida de tênis (mas realizada numa pista de motocross...) e os pilotos reservas da McLaren foram chamados para substituir o colombiano. Primeiro foi a vez de Pedro de la Rosa, mas em Ímola seria a vez de Wurz, que não decepcionou quando terminou em quarto lugar, mesmo estando quatro anos e meio sem correr de F1. Porém, com a desclassificação dos carros da BAR e de Jenson Button alguns dias depois, Wurz subiria para terceiro, mesmo não tendo experimentado o pódio quase oito anos depois. Wurz desejava um lugar na F1 novamente e para isso usou sua fama como grande piloto de testes e se mudou para a Williams em 2006, mas com a promessa de se tornar titular no ano seguinte. Naquele tempo, as equipes menores tinham direito a colocar um terceiro carro na sexta-feira e por isso Wurz se manteve na ativa em todos os finais de semana de F1 naquela temporada e em agosto foi anunciado que o austríaco substituiria Mark Webber, que estava de mudança para a Red Bull, em 2007.

Tendo ao lado o novato sensação Nico Rosberg, Alexander Wurz teria um ano complicado em sua volta à F1 como piloto titular. Logo na primeira corrida em Melbourne, Wurz se envolveria num acidente perigoso com David Coulthard quando o Red Bull do escocês passou perto de decepar os dedos de Wurz. Porém, era a diferença entre Wurz e Nico Rosberg que chamava a atenção, principalmente nas Classificações, onde raramente Wurz ficou à frente e as diferenças a favor do alemão chegava a dez ou mais posições no grid. Porém, na pista icônica de Alexander Wurz, Montreal, o austríaco brilharia pela última vez na F1 quando se aproveitou de uma prova confusa pelos vários acidentes e entradas do safety-car para chegar em terceiro e marcar seu último pódio na F1. Em outra corrida complicada, agora devido ao tempo, Wurz estava novamente em terceiro em Nürburgring, mas acabaria ultrapassado por Webber nas voltas finais. Seriam os últimos pontos de Wurz na F1. Com Nico Rosberg claramente à frente e com 33 anos de idade, Wurz anunciou que estava se aposentando da F1 e o austríaco nem esperou a última corrida em Interlagos, entregando o carro o piloto de testes Kazuki Nakajima. Foram 69 corridas, três pódios, uma volta mais rápida e 45 pontos na F1.

Alexander Wurz ainda foi convencido a ser piloto de testes da Honda em 2008, que vinha de uma temporada terrível em 2007, e o austríaco ainda foi capaz de melhorar o carro antes da montadora japonesa abandonar a F1 abruptamente, abrindo espaço para Ross Brawn fazer história no ano seguinte, com Wurz ainda como parte integrante da equipe. Enquanto isso, Wurz mergulhava de cabeça no Endurance quando foi contratado pela Peugeot, tendo como objetivo principal as 24 Horas de Le Mans. Após um quinto lugar em 2009, Wurz voltou a vencer em Sarthe ao lado de Marc Gené e David Brabham. A diferença de treze anos entre as duas vitórias é a maior na grandiosa história de Le Mans. Wurz permaneceu na Peugeot até 2011, quando os franceses abandonaram o Endurance e Alex se mudou para a Toyota, onde leva toda a sua experiência ao time japonês em sua tentativa de desbancar a Audi. Wurz continuou nos bastidores da F1 e em 2012 foi uma espécie de treinador da dupla da Williams, Bruno Senna e Pastor Maldonado. Atualmente Wurz mora em Mônaco e comentarista de TV nas corridas de F1, assessor da GPDA, embaixador da FIA em segurança rodoviária, além de ocasionalmente ser convidado como comissário de corrida na F1. Além da liderança entre os pilotos, onde foi presidente da GPDA, Wurz se caracterizou pela simpatia e pela altura exagerada para um piloto de F1, mas que não impediu de Wurz mostrar serviço na F1, principalmente nos primeiros anos, e se manter ligado a categoria até hoje.

Parabéns!
Alexander Wurz

3 comentários:

Vinicius disse...

Não entendi essa do Montoya se machucar de Tênis numa pista de motocross?

João Carlos Viana disse...

Simples Vinicius. Quando foi anunciado que o Montoya tinha machucado o ombro, a McLaren informou que o colombiano tinha caído de mal jeito durante uma partida de tênis. Porém, todo mundo sabia que Montoya na verdade caiu de moto enquanto praticava motocross. Motivos para isso? O seguro!

Vinicius disse...

Que seguro,João?