sábado, 8 de maio de 2010

Com asas?


É impossível não lembrar da propaganda da Red Bull com o desempenho da equipe nos treinos de hoje em Barcelona. Ferrari e Mercedes modificaram profundamente seus carros, enquanto a McLaren vinha com boas novidades para a primeira corrida na Europa, mas num final de semana sem modificações metereológicas e numa pista conhecida de cor e salteado, a Red Bull esmagou a concorrência nos treinos deste sábado e colocou seus dois carros na primeira fila, sendo que desta vez Mark Webber superando Sebastian Vettel por apenas um décimo de segundo, enquanto as demais, lideradas por Lewis Hamilton, ficaram inacreditáveis oito décimos atrás. É demais!

O carro projetado por Adryan Newey se comportou de forma perfeita num circuito que privilegia a aerodinâmica de forma ampla e histórica. Quando estava na McLaren, Newey cansou de vencer em Barcelona com Hakkinen. Agora na Red Bull, o projetista inglês fez um carro capaz de humilhar a concorrência de forma poucas vezes vista nos últimos tempos, causando até mesmo um anti-clímax para uma temporada que prometia tanto equilíbrio. Os treinos viram uma briga particular entre Webber e Vettel, com o australiano sempre superando o jovem companheiro de equipe por pouco. Assim foi nas três sessões de treinos e foi assim que o australiano conseguiu sua segunda pole em 2010 e parte como favorito em uma corrida que normalmente não ocorre surpresas. Como aconteceu na Malásia, quando foi superado pelo vizinho de box nos treinos, Vettel deverá tentar uma boa largada para conseguir a vitória.

A McLaren mostrou que é a segunda força no momento e Hamilton foi sempre o mais 'próximo' da Red Bull, algo que se repetiu hoje, mas provando o quanto a McLaren sofre na Classificação, Button acabaou em quinto, superado por Alonso, sempre muito forte correndo em casa. Por sinal, a Globo começou a demonização do espanhol, o criticando abertamente por ter ultrapassado Massa na China. Uma ultrapassagem que eu faria e acho que a maioria das pessoas que lêem este post também faria. Mas Alonso cometeu o pecado mortal de fazer isso sobre Massa, o queridinho do Galvão e isso foi motivo mais do que suficiente para que o narrador comparasse a manobra do espanhol as vergonhosas manobras de Prost, Senna e Schumacher em seus piores momentos. Enquanto chora pelo amigo, Galvão vê Massa levar mais um capote do companheiro de equipe, claramente mais lento em relação a Alonso. O cronômetro mostrou mais uma vez Massa levando meio segundo de Alonso. É muito! Só falta o Galvão dizer que foi anti-ético...

Rosberg teve a indicação clara que é o segundo piloto da Mercedes quando a equipe modificou o carro de forma profunda apenas para Schumacher andar melhor. E o heptacampeão não se fez de rogado e colocou tempo sobre o jovem companheiro de equipe na primeira oportunidade que teve, ficando em sexto lugar, enquanto Rosberg ficou em oitavo. A Mercedes ainda está atrás de Red Bull, McLaren e Ferrari, mas aposta em Schumacher para tentar reverter isso. Não há mais novidade em ver Kubica andar mais que o potencial da Renault e se meter entre os grandes, mas finalmente Kobayashi mostrou o que todos esperavam dele ano passado e pela primeira vez foi ao Q3, numa boa sessão da Sauber, que quase fez o mesmo com Pedro de la Rosa. Adrian Sutil, costumaz em ficar entre os dez primeiros no sábado, foi superado por uma volta banzai de Kobayashi, mas novamente superou amplamente Liuzzi, que faz uma temporada apática. Correndo em casa e ameaçado, Alguersuari superou Buemi, mas ficou pelo caminho do Q2, enquanto Hulkenberg superou Barrichello numa rara ocasião e o brasileiro ainda pagou o mico de ter ficado de fora do Q2. Rubens culpou o tráfego e sobrou até para o pobre do engenheiro, mas a verdade é que a Williams errou a mão esse ano. Entre as novatas, a Lotus superou novamente suas rivais e causou sorrisos entre seus chefes, mas o nível de amadorismo das pequenas ficou pela punição da Virgin, que atrasou um documento a FIA. Bruno Senna, numa situação ainda pior, pois está na pior equipe entre as novatas, foi superado por muito por Karun Chandhok. De novo!

As caras feias de Button e Massa enquanto se pesavam mostra bem a preocupação de McLaren e Ferrari frente ao domínio da Red Bull. Em condições normais de pressão e temperatura, a Red Bull vence com dobradinha e com os pés nas costas, com a corrida sendo decidida unicamente entre Webber e Vettel. Para as outras, resta torcer por uma quebra (algo não muito difícil) da Red Bull ou uma largada relâmpago. Porém, Barcelona nunca foi palco de zebras.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

História: 25 anos do Grande Prêmio de San Marino de 1985


As provas de Ímola de F1 eram conhecidas como "corridas econômicas", pois o consumo de combustível era essencial se um piloto quisesse ou não terminar a corrida na pista italiana. Com um enorme trecho rapidíssimo, que começava no início da reta dos boxes, passava pelas rápidas curvas Tamburello e Villeneuve para terminar na freada da curva Tosa, Ímola era uma das pistas mais velozes do ano e juntando com as subidas e descidas que marcavam o traçado italiano, o consumo de combustível era extremamente alto e quem quiser terminar a corrida, precisava pensar sempre em dosar o acelerador para enxergar a bandeira quadriculada.

Ayrton Senna estava motivado após sua primeira vitória na F1 e mostrava, já em sua segunda temporada na categoria, que era um ás nas Classificações e utilizando o famoso motor de treinos da Renault, consegue sua segunda pole consecutiva. Duas em três provas em 1985. Keke Rosberg mostrava a força do motor Honda ao compartilhar a primeira fila com o brasileiro, enquanto Michele Alboreto tentava mostrar que a Ferrari podia vencer em casa e ficava na segunda fila, ao lado do seu compatriota Elio de Angelis. As McLaren não apareceram forte nos treinos, mas numa corrida em que a estratégia era essencial, Prost e Lauda eram capazes de dar o bote e ninguém podia descartá-los.

Grid:
1) Senna (Lotus) - 1:27.327
2) Rosberg (Williams) - 1:27.354
3) De Angelis (Lotus) - 1:27.852
4) Alboreto (Ferrari) - 1:27.871
5) Boutsen (Arrows) - 1:27.918
6) Prost (McLaren) - 1:28.099
7) Mansell (Williams) - 1:28.202
8) Lauda (McLaren) - 1:28.399
9) Piquet (Brabham) - 1:28.489
10) Berger (Arrows) - 1:28.697

O dia cinco de maio de 1985 estava nublado em Ímola, mas não havia perspectiva de chuva para a corrida. Era o típico clima de primavera na Itália e isso significava que o sol não castigaria pilotos e carros durante a prova. Na tentativa de garantir uma corrida parecia como a prova portuguesa, quando venceu de ponta a ponta, Senna foi logo garantindo uma boa largada e permanecendo na frente, enquanto Rosberg patina na largada e perde posições. Elio de Angelis completava a dobradinha da Lotus, seguido de perto por Alboreto, Prost e Rosberg.

Os cinco primeiros faziam uma corrida tranquila na frente, onde ninguém atacava ninguém, mas todos vinham bastante próximos. A única mudança significativa era Niki Lauda e Nelson Piquet ultrapassando um lento Keke Rosberg ainda na sétima volta, mas o Brabham do brasileiro acabaria tendo problemas e Piquet perderia muito tempo nos boxes. Acompanhado dos gritos dos tifosi, Alboreto atacou Elio de Angelis na volta 11 e assumiu a segunda posição na freada da curva Tosa, manobra que Prost repetiu na passagem seguinte. De Angelis começava a pensar no final da corrida e diminuía seu ritmo, enquanto Alboreto atacava Senna pela primeira posição. Após mais uma tentativa do italiano, o motor Ferrari pede arrego e Alboreto estava fora da corrida. O dia da Ferrari parecia acabado.

Prost passa então a atacar Senna, mas o brasileiro se defendia sem muitos dramas. Era a primeira briga na pista dos dois futuros desafetos. Quando Lauda começa a ter problemas elétricos em seu McLaren e perder posições, mais atrás um piloto ignorava a lógica de segurar o ritmo e partia com tudo para cima de seus adversários. Stefan Johansson tinha tido problemas nos treinos com seu motor Ferrari e largara em 15º, mas o sueco imprimia um ritmo muito forte e ganhava posições constantemente, a ponto de na volta 37 estar em quarto e se aproximando de Elio de Angelis, culminando com a ultrapassagem treze voltas mais tarde.

Prost abandonava a briga pela ponta nas voltas finais quando percebe que seu combustível se aproximava do limite. Inexperiente, Senna não abranda seu ritmo e isso o deixaria sem gasolina no início da volta 57, a três do final. Senna tinha feito uma grande corrida e acabou sendo considerado o 'vencedor moral' em Ímola. Porém, a corrida ainda não havia terminado. Prost havia diminuído tanto seu ritmo que ele acabou ultrapassado por Johansson e o sueco liderou uma corrida de F1 pela primeira vez na carreira, para delírio dos tifosi, que esperava uma vitória italiana parecida com a de Tambay dois anos antes. Porém, Johansson havia forçado demais e ainda nessa volta ele perdeu velocidade de repente. Pane Seca. Prost completou as duas voltas lentamente e após receber a bandeirada, encostou seu McLaren sem gasolina. Elio de Angelis cruzou a linha de chegada balançando sua Lotus, tentando pescar as últimas gotas de combustível que ainda tinha no seu tanque. Thierry Boutsen completou o pódio empurrando seu Arrows, enquanto Mansell e Piquet ficaram pelo caminho. Esse parecia ser o pódio, mas duas horas após a cerimônia, foi anunciado que Prost havia sido desclassificado por que seu carro estava dois quilos abaixo do peso mínimo. A ultra-profissional McLaren não calculou corretamente o combustível que seria utilizado em uma corrida tão dura nesse quesito. Numa prova em que a inteligência e o estilo refinado era mais do que necessário, a vitória caiu nas mãos certas, pois era assim que todos lembravam de Elio de Angelis.

Chegada:
1) De Angelis
2) Boutsen
3) Tambay
4) Lauda
5) Mansell
6) Johansson

domingo, 2 de maio de 2010

Por dentro!


O apelido de Jorge Lorenzo dentro do motociclismo é 'Por fuera', pelas suas manobras de ultrapassagem suicidas vindas por fora dos seus adversários. Contudo, o espanhol teve que mudar um pouco sua marca registrada para conseguir uma vitória emocionante na última volta no Grande Prêmio da Espanha em Jerez e completar a trifeta dos espanhóis, já que mais cedo Pol Espargaró e Toni Elias tinha garantido a vitória nas 125cc e Moto2, respectivamente.

Ao contrário das duas categorias menores, a prova da MotoGP foi carente de emoções na maior do tempo, com a ótima largada de Daniel Pedrosa, o pole, e Valentino Rossi. Inicialmente a corrida parecia que seria decidida entre os dois, mas Rossi, com o ombro avariado por uma queda num treino de motocross, demonstrava estar conformado em se manter na região do pódio e marcar pontos importantes para o campeonato. Enquanto isso, Pedrosa disparava com sua Honda, bem ao seu estilo. Mais atrás, Lorenzo brigava com as Ducatis após uma má largada. Primeiro houve uma disputa intensa com Stoner, incrivelmente apagado em Jerez, e depois foi a vez de atacar e ultrapassar Nicky Hayden. Então a corrida ficou estática e o melhor momento foi a briga pela 7º posição entre Marco Melandri, Simoncelli e Randy de Puniet.

Numa pista quente, quem cuidou bem dos pneus colheria os frutos mais tarde. Mesmo correndo sozinho na frente, Pedrosa estava forçando muito e de forma análoga, Lorenzo, que havia feito algumas ultrapassagens nas primeiras voltas, cuidava melhor de sua borracha e sua forma de pilotar, usando menos pista, mostrava isso claramente. As últimas voltas viram Lorenzo subir de produção de forma incrível e o espanhol partiu para cima de Rossi. Faltando seis voltas, Rossi meio que cedeu a posição para o companheiro de equipe, pois sabia que não tinha condições de brigar. Lorenzo então partiu para cima do seu compatriota e arqui-rival Pedrosa. Rapidamente Lorenzo estava colado na traseira de Pedrosa, mas o piloto da Honda tentou de tudo para se manter na ponta, sendo até mais agressivo do que o normal. Na entrada da última volta, Lorenzo tentou uma manobra audaciosa por fora, mas Pedrosa lhe fechou a porta com vontade. Lorenzo tinha que mudar de estratégia e assim o fez. Na curva Dry Sack, eternizada pelo toque de Schumacher em Villeneuve em 1997, Pedrosa deu um mole incrível quando deixou a porta aberta e Lorenzo não fez de rogado e meteu por dentro.

Foi uma vitória incrível de Lorenzo que lhe deu a liderança do campeonato de bandeja. As 122.000 pessoas que lotaram o circuito de Jerez foram a loucura e isso pareceu ter contagiado Lorenzo, que se jogou no lago dentro do autodromo de Jerez durante as comemorações. Agora a Yamaha tem seus dois pilotos ponteando o campeonato e terá que se virar em administrar dois egos enormes, como o de Lorenzo e Rossi. Pedrosa, que perdeu uma corrida praticamente ganha na última volta numa bobeada sua, precisa muito mais de um psicólogo do que uma moto melhor. Casey Stoner, a última ponta do quadrado mágico da MotoGP, precisa se recuperar e agora vê seu companheiro de equipe, Nicky Hayden, andando muito bem esse ano, enquanto a Ducati aparenta estar um degrau abaixo com relação a Honda e, principalmente, a Yamaha.

A Moto2 protagonizou uma corrida empolgante em Jerez e quem se deu bem foi Toni Elias, o mais experiente de todos, inclusive com passagem pela MotoGP. O espanhol entrou na história ao vencer em quatro categorias diferentes (125, 250, Moto2 e MotoGP), mas Elias sofreu bastante para ganhar em casa. Primeiro se envolveu no múltiplo acidente que provocou uma bandeira vermelha na primeira largada e ainda sofreu uma queda hilária enquanto corria das outras motos. Depois, teve que lhe dar com uma multidão de motos que estavam sedentos pela vitória, incluindo aí Tomizawa, Thomas Luthi e o surpreendente Kenny Noyes, americando radicado na Espanha e que conhecia a pista com a palma da mão. Foi uma corrida cheio de troca de posições, mas no fim Elias usou a experiência para vencer e tentar se consolidar como favorito que era antes da temporada começar. Mas quem começou a festa espanhol em Jerez foi Pol Espargaró, que superou seu compatriota Nicolas Terol na corrida das 125cc e venceu pela primeira vez no ano, enquanto Terol lidera o campeonato.

Foi uma festa espanhola com certeza, com todas as nuances das corridas do Mundial de Motociclismo. Drama, emoção e muitos pegas marcaram as três corridas do final de semana. Lorenzo saiu fortalecido e comemorará seu 23º aniversário com a liderança do campeonato nas mãos, deixando peara Rossi a pressão de tentar derrotá-lo com a mesmo moto. Mas alguém ousa duvidar de Valentino Rossi? Jorge Lorenzo com certeza não!

sábado, 1 de maio de 2010

Nova fase


A antes categoria exclusiva dos ovais agora tem um dos calendários mais versáteis do automobilismo mundial, com provas em todo tipo de traçado. A F-Indy iniciou a temporada de 2010 com uma inédita série de quatro provas em circuitos mistos, sendo que três em traçados urbanos e quem tem o mínimo de conhecimento em virar para a direita se sobressaiu. Will Power, que começou sua carreira na F3 na Austrália e na Inglaterra, se sobressaiu nessa primeira fase da temporada e conseguiu poles e vitórias em todas as corridas, conseguindo a liderança tranquila do campeonato. Outros nomes como Justin Wilson e Mike Conway, que fizeram suas carreiras na Inglaterra, também apareceram bem, mas ninguém sabia ao certo como se sairiam em circuitos ovais. E essa nova fase começou no perigoso circuito de Kansas.

A tríade Penske-Ganassi-Andretti continuou dominando no primeiro circuito oval do ano, mas nomes que estavam praticamente desaparecidos, como Ryan Briscoe e Scott Dixon, retornaram as primeiras posições e foram o destaque dessa nova fase. Briscoe conseguiu a pole e liderou as primeiras voltas, mas na primeira bobeada, Dixon ultrapassou o australiano e dominou a prova com certa tranquilidade. Foi a primeira vitória do neo-zelandês, que sempre andou bem em circuitos mistos, mas foi mal nas quatro corridas iniciais, em 2010 e também da Ganassi, igualmente em má fase até hoje. A equipe do gordo chefe de equipe também garantiu uma boa segunda posição com Franchitti e volta à briga, pela enésima vez, pelo título deste ano.

E Power? O líder do campeonato fez uma prova discretíssima, com sua quase infalível equipe errando num pit-stop e fazendo o australiano ficar no pelotão intermediário. O vice Helio Castroneves fez uma prova sem graça, onde ciscou nas primeiras posições, mas nunca brigou de verdade pela vitória. Briscoe chegou a perder uma roda após uma parada, mas ainda chegou nas primeiras posições, mostrando que o australiano ainda pode se recuperar do seu mal início de ano. A Andretti fez uma má Classificação, mas Tony Kanaan e Ryan Hunter-Reay se recuperaram bem e chegaram nas primeiras posições. Hunter-Reay, que conseguiu uma vitória em Long Beach, pode surpreender neste ano. E pensando que ele nem tinha lugar pra correr este ano...

Já pensando em Indianápolis, cuja corrida será realizada no último domingo do ano, a F-Indy viu pilotos oscilando na medida em que entravam e saíam dos seus habitat e isso pode ser determinante nas 500 Milhas, com uma boa performance de Ganassi, com Penske e Andretti um pouco mais atrás. Para o resto do campeonato, os pilotos que andarem bem em todos os circuitos serão beneficiados. Hunter-Reay, Kanaan e Castroneves saíram na frente.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

História: 15 anos do Grande Prêmio de San Marino de 1995


Não faltaram homenagens naquele final de semana cinzento em Ímola. Havia se passado um ano desde o trágico final de semana em que a F1 havia se reencontrado com a morte e perdido um dos seus maiores gênios. A Formula 1 estava diferente após aquele baque, mas o Autodromo Enzo e Dino Ferrari também estava. Se antigamente a pista era considerada extremamente rápida, as modificações motivadas por segurança deixaram a pista italiana obviamente mais lenta. A fatídica curva Tamburello se tornava uma chicane como qualquer outra no mundo. A curva Villeneuve agora tinha uma entrada mais lenta antes da freada da Tosa. As curvas que mataram Ayrton Senna a Roland Ratzenberger estavam diferentes, mas a dor não havia passado.

Além disso, talvez para trazer um pouco de alívio em tantas lembranças tristes, Nigel Mansell fazia mais um retorno à F1, desta vez na McLaren. O inglês de 41 anos de idade tinha ficado de fora das primeiras corridas por não caber dentro da McLaren MP4/10, mas Mansell já teria regalias de primeiro piloto quando estreou a versão B da McLaren. Porém, a grande estrela dos treinos era novamente Michael Schumacher, quando o alemão usou o seu enorme talento para tirar a desvantagem do seu Benetton com relação a Williams e ficou com a pole, seguido muito de perto pela Ferrari de Berger. Correndo em casa, a Ferrari sempre mostrava um desempenho superior em outras corridas e não faltavam comentários de dispositivos proibidos, com a FIA fechando os olhos, para que a Ferrari chamasse mais torcedores para as corridas.

Grid:
1) Schumacher (Benetton) - 1:27.274
2) Berger (Ferrari) - 1:27.282
3) Coulthard (Williams) - 1:27.459
4) Hill (Williams) - 1:27.512
5) Alesi (Ferrari) - 1:27.813
6) Hakkinen (McLaren) - 1:28.343
7) Irvine (Jordan) - 1:28.516
8) Herbert (Benetton) - 1:29.350
9) Mansell (McLaren) - 1:29.517
10) Barrichello (Jordan) - 1:29.551

O dia 30 de abril de 1995 estava chuvoso em Ímola, mas não a ponto de encharcar a pista. Era a típica situação onde não se sabe ao certo com que pneus largar, mas os ponteiros preferiram usar a via segura e os cinco primeiros do grid largaram, sem grandes incidentes, com pneus de chuva, enquanto o resto usava pneus slicks. Inicialmente, parecia que os pilotos que largaram com pneus biscoitos tinham uma vantagem clara sobre os demais, mas não demorou para que a sorte virasse.

Não chovia e estava claro o traçado seco na pista de Ímola e os líderes não demoraram a colocar pneus slicks, a começar pelas duas Ferraris. Michael Schumacher se segurou até a nona volta, mas resolveu trocar seus pneus quando liderava. Porém, na Subida da Acqua Minarale, o alemão perdeu o controle do seu Benetton e bateu forte no muro. Uma quase coinscidência nefasta aconteceu. Senna havia batido em 1994 às 13:16, enquanto Schumacher bateu um ano e um minuto depois. O alemão saiu irritado do seu carro e todos apontaram para um erro de Schumacher, querendo forçar demais enquanto ainda tinha pneus slicks e frios numa superfícia escorregadia, mas Michael disse que havia sido um problema técnico, provavelmente de suspensão. Rapidamente confirmada pela Benetton!

Para alegria dos tifosi, que lotaram o circuito em Ímola com a esperança de uma vitória ferrarista, Berger liderava à frente de Hill, que ganhara a posição de Coulthard durante as paradas de box, o segundo piloto da Williams e Alesi. Porém, a alegria da torcida italiana duraria pouco quando Berger faz sua parada e deixa seu carro morrer, fazendo o austríaco perder uma enormidade de tempo. Hill faz sua parada logo depois, enquanto Coulthard e Alesi passaram a brigar pela 2º posição, já que Berger havia caído para 4º.

A disputa entre Coulthard e Alesi era empolgante e o escocês tinha saído um pouco à frente do francês dos boxes, mas havia um motivo que apenas os sensores da FIA acusaram. Coulthard tinha sido rápido demais dentro dos boxes e não demorou para que o piloto da Williams tivesse que cumprir uma penalidade de 10s nos boxes, sem contar que o escocês ainda tinha uma avaria no bico. A corrida fica estática, com Hill abrindo uma enorme vantagem para as Ferrari, enquanto os torcedores italianos rezavam para que algo acontecesse com o Williams de inglês. E quase aconteceu, quando a mangueira de combustível fica presa no carro de Hill e o piloto da Williams perde tempo, mas, para infelicidade dos italianos, não o suficiente para que Hill perdesse a liderança para Alesi e vencesse com categoria. Um ano após a tragédia em Ímola, a Williams poderia comemorar uma emotiva vitória. Claro que a equipe dedicou a vitória a Senna.

Chegada:
1) Hill
2) Alesi
3) Berger
4) Coulthard
5) Hakkinen
6) Frentzen

quarta-feira, 28 de abril de 2010

História: 35 anos do Grande Prêmio da Espanha de 1975


"Eu não quero correr." Emerson Fittipaldi era o atual Campeão Mundial de F1 e por isso tinha a moral suficiente para dizer isso. Porém, a atitude corajosa do brasileiro, em conjunto com todos os membros da GPDA tinha razão de ser: segurança. Os níveis de segurança da Formula 1 na década de 70 eram precárias e o circuito de rua em Montjuich era o maior exemplo do descaso dos organizadores com relação ao mínimo bem estar dos pilotos, as principais estrelas do evento. Os guard-rails, única barreira entre a tragédia estavam soltos na Espanha e alguns eram ridiculamente presos com arames. Na sexta-feira os líderes da GPDA, Emerson Fittipaldi e Graham Hill, anunciaram que os pilotos estavam de greve enquanto melhorias urgentes fossem feitos no circuito, literalmente, improvisado nos arredores de Barcelona. Assustados com a atitude de seus pilotos, os chefes de equipes mandaram seus mecânicos para ajudar a organização do evento e fazer consertos paliativos no traçado espanhol.

Se a adesão à greve foi quase geral na sexta-feira, no sábado as coisas não caminharam tão bem para os pilotos revoltos. A organização da corrida espanhol prometeu ações legais e Franco em pessoa prometeu reter todos os produtos da Philip Morris se Emerson Fittipaldi não corresse. A pressão foi grande demais e os pilotos foram forçados a fazer a Classificação em uma pista sem nenhuma condição de segurança. Em forma de protesto, Fittipaldi deu apenas três voltas lentas e marcou o último tempo daquele dia. E prometeu não correr.

Grid:
1) Lauda (Ferrari) - 1:23.4
2) Regazzoni (Ferrari) - 1:23.5
3) Hunt (Hesketh) - 1:23.8
4) Andretti (Parnelli) - 1:23.9
5) Brambilla (March) - 1:24.2
6) Watson (Surtees) - 1:24.3
7) Depailler (Tyrrell) - 1:24.4
8) Pryce (Shadow) - 1:24.5
9) Stommelen (Hill) - 1:24.7
10) Jarier (Shadow) - 1:25.0

O dia 27 de abril de 1975 estava perfeito na cidade de Barcelona, mas extremamente nebuloso no paddock da F1. Os pilotos ainda mostravam descontentamento com a situação e Emerson cumpriu sua promessa. Ele largou, apenas para fazer parte da corrida e evitar maiores problemas para a McLaren e seu patrocinador principal, mas abandonou no final da primeira volta. Aquele dia de abril tinha tudo para dar errado e começou de forma esquisita, como um aviso funesto. O desastrado Vittorio Brambilla tentou mais uma de suas manobras otimistas e acabou tocando em Mario Andretti, que largava em sua melhor posição na temporada com a novata Parnelli, e o ítalo-americano acabou tocando na traseira de Lauda, que foi jogado para cima do carro de Regazzoni. Após dominar a primeira fila, a Ferrari estava na primeira curva.

Apesar de ter levado pancado de todos os lados, Andretti não apenas permanecia na pista, como havia subido para a 2º posição, atrás de James Hunt, que capitalizou os problemas da Ferrari. Ralf Stommelen, um alemão que fazia muito sucesso em corridas de Esporte-Protótipo, graças aos problemas dos outros, já aperecia numa ótima quarta posição, atrás do também surpreendente Watson. Na quarta volta, Jody Scheckter tentava uma corrida de recuperação após largar em 13º e vinha ganhando posições constantemente até ver seu motor estourar, só que o sul-africano não abandonou sozinho, pois o óleo deixado pelo seu carro fez Mark Donohue e o estreante Alan Jones baterem. Hunt liderava, mas o inglês acabou deslizando no óleo deixado por Scheckter e também abandonaria apenas três voltas depois.

A corrida estava para lá de esquisita. Em apenas sete voltas, nove carros haviam abandonado a disputa e quem liderava era um piloto numa equipe novata (Andretti), seguido por dois pilotos talentosos (Watson e Stommelen), mas com carros reconhecidamente ruins e de grandes campeões do passado (Surtees e Hill). Na verdade, os incidentes na largada ainda causariam vítimas e Watson abandonou com problemas seríssimos de vibração, seguido logo depois por Andretti, com a suspensão quebrada. Stommelen liderava de forma inacreditável, mas começava a ser pressionado pela Brabham de José Carlos Pace, o primeiro piloto do pelotão dianteiro da F1. Os dois estavam bem à frente dos demais e protagonizaram uma disputa empolgante pela primeira posição. Então, veio a tragédia.

Na volta 26, Stommelen vinha à frente de Pace quando sua asa traseira se soltou sem aviso. O carro do alemão alçou voo e Pace, sem ter o que fazer, atingiu com força o bólido de Stommelen. Isso fez com que o carro descontrolado de Stommelen fosse jogado para o outro lado da pista a alta velocidade, mas nesse ponto o guard-rail não estava fixado corretamente. Da maneira que os pilotos avisavam desde sábado. O Hill de Stommelen atravessou o guard-rail e atingiu fotógrafos e pessoas que estavam ao lado do rail. Quem viu a cena nunca se esqueceu a visão de pessoas despedaçadas no chão. Milagrosamente Stommelen não foi a sexta vítima falta daquele dia, mas a organização espanhola estava tão atarantada, que demorou quatro voltas para paralizar a corrida e nesse meio tempo Jochen Mass ultrapassava Jacky Ickx e recebia a bandeirada em primeiro, vencendo, de forma triste, sua primeira corrida na F1 e quebrando um jejum de 14 anos sem uma vitória alemã. Outro ponto histórico desta corrida de péssimas lembranças foi o meio ponto, já que a corrida foi terminada antes da metade, de Lella Lombardi, a única mulher até agora a conseguir esse feito. Chegando em sua casa na Suíça após abandonar a corrida na Espanha, Emerson Fittipaldi era perguntado sobre a tragédia. Sem saber o que havia acabado de acontecer, Emerson não mostrou nenhuma alegria em ter razão de não ter corrido naquele dia.

Chegada:
1) Mass
2) Ickx
3) Reutemann
4) Jarier
5) Brambilla
6) Lombardi

domingo, 25 de abril de 2010

História: 5 anos do Grande Prêmio de San Marino de 2005


Com as mudanças de regulamento propostas após a esmagadora vitória da Ferrari em 2004, a F1 mudou radicalmente em 2005 e quem estava dominando naquele início de temporada era a Renault, com Fernando Alonso vindo de duas vitórias consecutivas e liderando o campeonato com facilidade. A Ferrari usou novamente a tática de começar o ano com o carro do ano anterior, mas o já lendário F2004 não foi capaz de segurar os novos carros e o F2005 foi colocado na pista às pressas no Bahrein. Schumacher andou próximo de Alonso até abandonar e por isso as expectativas eram ótimas para o time vermelho para a primeira corrida na Europa e ainda por cima, correndo no quintal de casa.

O mais esquisito das formulas de Classificação dos últimos anos, com os tempos somados em duas sessões em dois dias diferentes, estragou a boa fase de Michael Schumacher e um erro do alemão o colocou em 13º, mas ao contrário do que todos imaginavam, quem marcou a pole não foi um Renault. De forma bem discreta, a McLaren começava a mostrar suas garras e Kimi Raikkonen superou Alonso com uma larga vantagem, enquanto Alexander Wurz continuava o rodízio do time prateado na substituição do machucado Juan Pablo Montoya.

Grid:
1) Raikkonen (McLaren) - 2:42.880
2) Alonso (Renault) - 2:43.441
3) Button (BAR) - 2:44.105
4) Webber (Williams) - 2:44.501
5) Trulli (Toyota) - 2:44.518
6) Sato (BAR) - 2:44.658
7) Wurz (McLaren) - 2:44.689
8) Heidfeld (Williams) - 2:45.196
9) Barrichello (Ferrari) - 2:45.243
10) R.Schumacher (Toyota) - 2:45.416

O dia 24 de abril de 2005 estava nublado em Ímola, mas não havia previsão de chuva. Normalmente a corrida realizada no auge da primavera européia não tinha nem muito calor e as chuvas eram raras. O clima era agradável para a corrida e a largada ocorreu sem maiores problemas, com Raikkonen se mantendo na frente, seguido por Alonso e Button. A equipe BAR, após um início de temporada tumultuado, tinha seu primeiro bom final de semana no ano, bem na estréia do seu novo diretor esportivo, Gil de Ferran.

A McLaren não havia impressionado em 2005 e por isso todos ficaram impressionados com o ritmo imposto por Raikkonen, que rapidamente se distanciava de Alonso. Em oito voltas, Kimi tinha 3.5s de vantagem sobre Alonso, mas uma das marcas dos carros de Adryan Newey eram justamente a velocidade e a inconfiabilidade e na nona volta, Raikkonen diminuiu seu ritmo e abandonava quando partia para o que parecia ser uma tranquila vitória. Aquela cena se tornaria corriqueira em 2005. Alonso assumia a ponta e mantinha uma diferença confortável em cima de Button, que corrida isolado em 2º, já que Trulli, que havia feito uma boa largada, mas não tinha um bom ritmo de corrida, mostrava a todos a dificuldade de ultrapassagem na F1 e provocava um verdeiro engarrafamento atrás de si, liderado por Mark Webber. Em último lugar desta fila, estava Michael Schumacher, colado atrás do seu irmão, em 11º. Que logo virou 10º quando Barrichello abandonou a corrida na volta 17.

Enquanto Alonso liderava com tranquilidade lá na frente, Giancarlo Fisichella continuava sofrendo e após uma quebra misteriosa, o italiano bateu forte na Tamburello. Ainda bem que a fatídica curva estava bem mais lenta do que nos anos anteriores. Mais atrás, Felipe Massa e David Coulthard brigavam por posição e o brasileiro acabou com o bico do seu carro quebrado, mas esse entrevero teria desdobramentos depois da corrida, quando os dois quase se engalfinham fora da pista!

A partir da volta 22, as primeiras paradas começaram e com isso houveram mudanças que se mostraram definitivas para a corrida a partir de então. Trulli e Webber foram os primeiros a parar, seguido de Alonso e Sato. Button, Wurz e Michael Schumacher foram os últimos a parar e foi aí que o alemão mostrou sua magia. Com pista livre, Schumacher conseguiu três voltas voadoras que o fez pular de 10º para 3º em quatro voltas! Se houvesse uma votação para a melhor 'ultrapassagem nos boxes', eu escolheria essa de Schumacher que, com pista livre, era o mais rápido da pista. Na volta 25, o piloto da Ferrari tinha 13s de desvantagem para Button, mas Schumacher vinha tirando a diferença a um ritmo absurdo e não demorou para o alemão encostar no inglês. Porém, todos sabiam que Ímola não era uma pista de fácil ultrapassagem e ninguém esperava uma manobra mais brusca de Schumacher antes da segunda parada de box, onde ele poderia efetuar a 'ultrapassagem' sobre Button. Porém, naquela dia de abril, Schumacher queria provar que ele era mesmo um fora-de-série e após Button ficar encaixotado por retardatários, Schumacher se aproveitou para ultrapassar o inglês na chicane alta. Button chegaria em terceiro na pista, mas a BAR seria desclassificada por irregularidades no seu tanque de combustível e seria suspensa por duas corridas. Gil de Ferran teria um belo pepino para resolver logo de cara.

De forma surpreendente, Alonso faz sua segunda parada mais cedo, na volta 42 e com a ultrapassagem de Schumacher, o alemão liderava a corrida e tentava, com um ritmo mais forte, tirar a vantagem de Alonso na pista. Na volta 49, Schumacher faz um pit-stop rapidíssimo e voltou à pista logo atrás do espanhol da Renault. Estava feito o cenário para um final de corrida histórico. Alonso, de 23 anos e três vitórias, teria como segurar o lendário Schumacher, de 36 anos e sete títulos mundiais? A resposta seria dada nas treze voltas seguintes. Rapidamente o ferrarista colou na Renault de Alonso e o público, pequeno por causa da má fase da Ferrari, começava a se empolgar, principalmente quando o alemão colocava de lado em certas curvas. Era definitivamente a prova de fogo de Alonso e o espanhol estava se comportando maravilhosamente bem. Quem estava naquele dia em Ímola ou na frente da TV ficou com a respiração ofegante pela perseguição implacável e emocionante de Schumacher. Nas voltas finais, Alonso viu um grupo de retardatários, mas ao invés de cometer o mesmo erro de Button, o espanhol preferiu segurar seu ritmo e não enfrentar aqueles carros mais lentos. Lembrando a famosa corrida em 1983, quando Tambay conseguiu a vitória para a Ferrari após uma emocionante disputa com Patrese, os tifosi esperavam um triunfo parecido e por isso urravam quando Schumacher tentava uma manobra. Mas as voltas foram se passando e Alonso não errava. Na última volta, Schumacher mergulhou por dentro na Tosa, mas Alonso fechou a porta com vontade, mas Schummy não desistiria. Na freada para a Rivazza, nas últimas curvas do circuito, o ferrarista atingiu a maior velocidade do dia e tentou uma manobra, mas Alonso resistiu. Apenas 0.3s de diferença, Alonso recebeu a bandeirada e apontava o número três com os dedos. Mas aquela não era apenas a terceira vitória do espanhol em 2005. Era a confirmação de que Fernando Alonso era uma nova estrela e que poderia derrotar Michael Schumacher numa disputa direta. Ele estava preparado para ser campeão.

Chegada:
1) Alonso
2) M.Schumacher
3) Wurz
4) Villeneuve
5) Trulli
6) R.Schumacher
7) Heidfeld
8) Webber