domingo, 15 de maio de 2016

Aposta certeira

Quanto custa queimar a carreira de um jovem piloto para trazer outra promessa para a sua equipe? Este foi o questionamento feito à Red Bull, mais especificamente à Helmut Marko, que promoveu a polêmica troca entre Daniil Kvyat e Max Verstappen entre as corridas da Rússia e da Espanha. Mesmo Verstappen tendo muito mais potencial, muito se criticou a crueldade com Kvyat. Tudo isso seria apagado com uma boa atuação de Verstappen em algum momento na temporada. Contudo, a precocidade marca a curta carreira de Max Verstappen e o holandês só precisou de uma corrida para mostrar que o chato e ranzinza Helmut Marko estava certo em trocar o rápido e atrapalhado Kvyat pela promessa de fenômeno Max Verstappen. Numa corrida histórica em vários aspectos, Verstappen se aproveitou da pane mental de Hamilton para superar as Ferraris e seu companheiro de equipe Ricciardo para se tornar o mais jovem vencedor da história da F1 com 18 anos e sete meses.

A corrida hoje de Barcelona saiu do script de provas chatas na cidade espanhola e hoje vimos uma corrida emocionante e apertada do começo ao fim, que irá ecoar ainda por muito tempo. Primeiro, a Mercedes. Um toque, um zero ponto da Mercedes não seria nenhuma surpresa em algum momento da temporadas e até mesmo das duas anteriores. Nico Rosberg e Lewis Hamilton não são mais amigos há dois anos. Após a classificação, Hamilton aproveitou para dar algumas cutucadas em Rosberg, dizendo que conquistou todas as poles quando não teve problema no sábado. Mesmo inferior tecnicamente, Rosberg está num ótimo momento e mesmo não largando muito melhor do que Hamilton, conseguiu uma bela ultrapassagem por fora da curva um. Aquilo pode ter mexido na cabecinha de Hamilton, que tinha se comportado tão bem nos últimos tempos. Perdendo a vantagem da pole, 43 pontos atrás do rival no campeonato e querendo demarcar terreno, Hamilton não esperou mais do que algumas centenas de metros para atacar de forma agressiva Rosberg, que fechou de forma forte, mas sem ser desleal. A agressividade de Hamilton se tornou loucura quando Rosberg ficou totalmente por dentro e Lewis tentou achar espaço na grama. Alguém lembra da musiquinha do Programa do Ratinho nos testes de DNA? Pois essa 'canção' ecoou nos boxes da Mercedes na medida em que os dois carros prateados, na presença do presidente da Daimler nos boxes da equipe, saíram voando na curva quatro, destruindo a corrida dos dois e da Mercedes, para espanto de quem estava nas arquibancadas e dos milhões que acompanhavam a corrida pela TV. A chance de virada de Hamilton foi pro vinagre no momento, mas sua moral com a equipe desmoronou completamente. A relação entre Nico e Lewis, já abalada não de hoje, mas desde que a Mercedes se tornou a equipe dominante da F1, tende a piorar, mas Rosberg tem clara vantagem nesse entrevero. Hoje, somente a Mercedes pode conquistar o campeonato e com os dois pilotos zerados, Nico tem os mesmo 43 pontos de vantagem sobre Lewis, com uma corrida a menos para se disputar. Estou curioso para ver o que Hamilton dirá dessa disputa, o mesmo acontecendo com Rosberg, Wolff e Lauda. O clima na Mercedes ferverá!

Com a Mercedes fora da corrida com poucos metros de ação, a corrida caía no colo da Red Bull e da Ferrari, que tinham uma rara chance de vencer. A Red Bull tinha se mostrado superior à Ferrari em ritmo de classificação, mas os italianos sempre se mostraram melhor em ritmo de corrida. Ricciardo e Verstappen, estreante na equipe, ou seja, sem muita experiência com o carro, lideravam e ainda tinham a ajuda de Carlos Sainz, que largou muito bem e estava em terceiro, na frente das Ferraris de Vettel e Raikkonen. Deixando o espanhol para trás, Vettel tentou o ataque em cima de Verstappen e, posteriormente, em cima de Ricciardo. Inicialmente, essa parecia ser a briga pela vitória: Ricciardo x Vettel. Com pneus macios Ricciardo andou bem melhor do que Verstappen, mas os pneus tiveram vida curta e com pneus médios, Verstappen parecia melhor, o mesmo acontecendo com Vettel. Estabeleceu-se os três correndo separados por 1s, mas sem muitas disputadas. Então Vettel e Ricciardo, que pareciam brigar pela vitória, anteciparam suas paradas. Era uma briga de gato e rato da Ferrari e da Red Bull, que apostavam claramente nos seus dois primeiros pilotos. Porém, Verstappen e, mais atrás, Raikkonen faziam uma corrida dentro do script e quando novamente Vettel e Ricciardo pararam, com vantagem para Vettel, que saiu 7s na frente de Ricciardo, em terceiro, estabeleceu-se a dúvida: parar uma terceira vez com Verstappen e Raikkonen? Conhecendo o histórico de Raikkonen em preservar os pneus e o veterano já calçado com os médios, podia-se esperar que o finlandês desse o pulo do gato e não parasse mais. E Verstappen? O jovem holandês estava estreando num carro que mal andara e era mais conhecido pela agressividade. O tempo foi passando e Raikkonen talvez estivesse esperando uma terceira parada de Verstappen que nunca veio e quando tentou algo, seus pneus estavam desgastados demais, pelo tempo em que ficou atrás da Red Bull. Numa história de contos de fadas, Max Verstappen, que corria de kart até 2013 e duas semanas atrás amargava um abandono na Rússia com seu Toro Rosso, estreou na Red Bull e numa pilotagem impressionante, se tornou o piloto mais jovem da história da F1 a vencer uma corrida. Surgirão muitos questionamentos de que a F1 estaria tão fácil, que até um moleque de 18 anos pode vencer uma corrida. Isso são os inconformados. Olhando pelo lado do copo meio cheio, podemos estar presenciando um momento histórico, de um piloto diferenciado aparecendo na frente de nossos olhos. Um verdadeiro fenômeno!

A Ferrari subiu ao pódio com seus dois pilotos, mas ficou um gosto amargo na boca por ter perdido uma chance tão clara de vitória. Faltou agressividade em Raikkonen, que parecia certo de que Verstappen pararia em algum momento e por isso apenas escoltou o holandês e quando percebeu que o holandês não pararia mais, se viu sem pneus e teve que se conformar com o segundo lugar. A forma como Vettel se aproximou dos carros da Red Bull indicava que ele venceria a prova, mas a Ferrari cometeu o mesmo erro da decisão do título de 2010, quando se concentrou unicamente em Webber e se esqueceram de Vettel. Hoje, a Ferrari focou apenas em Ricciardo e se esqueceram de Verstappen, fazendo que a estratégia funcionasse para que Vettel ficasse à frente de Ricciardo, mas não na frente de Max. Vettel subiu ao pódio e ficará novamente com fama de chorão ao xingar quando foi atacado por Ricciardo nas voltas finais. Mesmo sendo mais rápido do que Raikkonen em boa parte das classificações, hoje Sebastian está atrás de Kimi no campeonato. Se Raikkonen pouco tentou ultrapassar Verstappen lá na frente, o mesmo não se pode dizer de Ricciardo, que tentou a ultrapassagem várias vezes em Vettel, colocando de lado três vezes na curva um, forçando ainda mais os seus desgastados pneus médios. A conta viria na penúltima volta, quando o pneu traseiro esquerdo furou e Ricciardo teve que se conformar com a quarta posição. Pior do que perder o pódio, é ver seu reinado dentro da Red Bull bastante ameaçado. Claramente mais rápido do que Kvyat e com a confiança total dos dirigentes, Daniel agora vê um Max Verstappen planamente fortalecido dentro do seio da cúpula da Red Bull e com a fama de campeão em potencial. Quem subiu para receber o troféu de vencedor pela Red Bull? Helmut Marko. E é o austríaco quem dita as ordens na Red Bull. Será outro ponto a ser observado no futuro: como se comportará Ricciardo dentro da Red Bull daqui para frente?

Com a corrida tão cheia de histórias e emoções na frente, os pilotos de quinto para trás foram ainda mais coadjuvantes do que normalmente o são. Bottas não largou bem, mas assim como fez as Ferraris, deixou Sainz para trás na primeira rodada de paradas e o finlandês ficou quietamente em quinto a corrida inteira. Felipe Massa fez uma boa corrida de recuperação após o erro da Williams na Classificação e ganhou dez posições no grid, chegando em oitavo e amealhando mais pontos no campeonato. Sainz largou bem, mas sem ritmo, segurou por muito pouco tempo as Ferraris, se achando em sexto e terminando a corrida na importante posição. Comparado à Verstappen em seu primeiro ano de F1, vendo o que holandês pode e deve fazer, Sainz sai fortalecido no futuro, pois o espanhol andou sempre próximo de Max na Toro Rosso. Se Verstappen obteve um sucesso extraordinário em sua estreia na Red Bull, Kvyat não foi tão bem em sua reestreia na Toro Rosso, ficando com o último ponto da corrida, após sempre andar atrás de Carlos Sainz. Kvyat terá que remar muito, se quiser refazer sua carreira na F1. Sergio Pérez fez uma prova discreta rumo aos pontos, num momento em que o mexicano se mostra bem mais forte do que o badalado Nico Hulkenberg, um dos poucos abandonos do dia, mas sempre fora da zona de pontos. Alonso decepcionou a torcida quando abandonou já no final da corrida, mas se o espanhol andou bem mais rápido do que Button na classificação, o inglês virou o jogo na corrida, largando melhor do que Alonso e terminando em nono. Alonso estava na zona de pontos quando abandonou, a McLaren vem evoluindo, mas ainda está longe do que a equipe e a Honda podem fazer. A Hass quase marcou pontos com Gutierrez, o que seria os primeiros do mexicano, mas Esteban foi superado por Button e Kvyat nas voltas finais e ficou em 11º, com Grosjean abandonando no final, quando andava atrás do mexicano. Realmente para Grosjean andar atrás de Gutierrez, algo de errado havia com o carro. Enquanto a Red Bull venceu a corrida com seus motores, a equipe Renault mal apareceu na TV, ficando discretamente fora dos pontos, mas já percebe-se que Kevin Magnussen está um ou mais degraus acima de Jolyon Palmer, que tanto chiou quando Nasr subiu da GP2 e ele, como campeão, não. Falando em Nasr, o brasiliense foi superado por Ericsson e com uma Sauber cambaleante, pega extremamente mal para Felipe se manter na F1 em 2017, mesmo com todo o aporte financeira que tem. A Manor pouco apareceu, se não levando voltas.

O Grande Prêmio da Espanha de 2016 foi cheio de histórias que marcarão a F1 pelas próximas semanas e, por que não, pelos próximos anos. O clima dentro da Mercedes ficará ainda mais pesado com mais um erro de Hamilton, que garantiu o primeiro zero da equipe tedesca desde 2012. Num momento em que Arrivabene está 'prestigiado' dentro da Ferrari, não vencer uma corrida onde a Mercedes não completou sequer uma volta não deixa de ser um mal resultado para os italianos. Porém, o que ficará na história é: até onde irá parar Max Verstappen? 

domingo, 21 de dezembro de 2014

Mudança

Para quem acessa o blog, percebeu que ele está com um problema e mesmo após várias tentativas com o Blogger, não consegui que fosse consertado. Migrei todo o conteúdo para outro blog (jcspeedway2.blogspot.com). Aproveitando o Natal, esse será o último post deste blog, o original, mas não fechei as portas! Basta copiar o endereço acima para poder curtir o novo blog. Feliz 2015!

sábado, 25 de outubro de 2014

Crônica de duas mortes anunciadas

Quando a Brawn fez história em 2009 e conseguiu o título mais improvável da história da F1, Max Mosley teve mais um dos seus delírios, em que um equipe surgindo do nada poderia ser campeã na F1. Foi então que Mosley, então presidente da FIA, criou um concurso para fazer com que três equipes novas estreassem na F1 já em 2010. Uma das escolhidas, a USF1, morreu antes de nascer numa história para lá de mal contada, incluindo até dinheiro público argentino. Restaram Lotus, Virgin e Campos. Antes de estrear, a Campos, do antigo piloto espanhol Adrian Campos, foi vendida a outro dono espanhol e mudou seu nome para Hispania. 

E quando começou a temporada 2010, essas três equipes passaram a ser imediatamente chamadas de nanicas, pois nenhuma delas tinha condições de, sequer, se aproximar do pelotão intermediário. O sonho de Mosley morreu junto do fim da lei do teto orçamentário e de outro detalhe que o inglês esqueceu ou não quis ver. A Brawn não surgiu do nada. Mesmo vindo de duas temporadas terríveis, a Brawn era a antiga equipe Honda, com toda uma estrutura por trás e um carro já projetado para tirar vantagens dos novos regulamentos de 2009. Lotus, Virgin e Campos, que mudariam de nome ao longo do tempo, nunca tiveram chances contra as equipes ditas consolidadas e as histórias de falência não demoraram a surgir.

A mais fraca delas, a Campos (depois Hispania e depois HRT) fechou às portas em 2012. A Lotus mudou seu nome para Caterham e a Virgin foi vendida para a Marussia. Mesmo com todas as promessas ao início de cada temporada, essas duas equipes nunca saíram das últimas filas do grid, sendo que a Marussia ainda teve duas tristes histórias para contar na sua breve carreira, com os gravíssimos acidentes de Maria de Villota e Jules Bianchi. 

No meio desse ano, Tony Fernandez vendeu a Caterham para um grupo obscuro, na tentativa de manter a equipe da F1, além do malaio se livrar da batata quente de suas mãos. Foi uma sucessão de trapalhadas dos novos donos, que trocavam de pilotos como uma adolescente troca de roupa, além de abandonos mal explicados nas corridas. No tour asiático da F1, soube-se que a justiça britânica tinha confiscado equipamentos da Caterham na fábrica. Os novos donos, que agora tem nome (Envagest) desistiram do negócio e devolveram a 'criança' para Fernandez, que não quer ser o 'pai' de jeito nenhum. Hoje era o dia para que os equipamentos saíssem da Europa em direção à Austin, mas foi confirmado que a Caterham não vai, mas a equipe verde não será a única. Ainda se recuperando de todo o drama de Bianchi no Japão, a Marussia também disse que não vai aos Estados Unidos. Enquanto toda a atenção estava voltada para o problema da Caterham, ninguém lembrou que a Marussia, uma montadora russa, tinha falido e consequentemente, a equipe de F1 passava por sérios problemas financeiros.

Com a confirmação da não-participação de Caterham e Marussia em Austin e São Paulo, somente um milagre poderia fazer com que essas equipes voltem em Abu Dhabi ou para a temporada 2015. Com apenas nove equipes no grid (ou menos, já que Sauber e Lotus não estão com a saúde financeira muito boa), a ideia de um terceiro carro para as grandes equipes volta a surgir no horizonte. Muitas pessoas são contra essa ideia, principalmente as mais tradicionalistas, fora que isso traria um gasto à mais para os times grandes. Porém, na minha humilde opinião, isso traria mais benefícios do que malefícios para a F1, mas tudo dependendo do bom-senso de equipes e Bernie Ecclestone. Bastando olhar para outro campeonato da FIA para tirar algumas boas sacadas. No Mundial de Rally, há poucas montadoras inscritas (VW, Citröen, Hyundai e Ford, esta de maneira não-oficial) e são essas equipes que lutam pelas vitórias. Para não ter um campeonato esvaziado, a FIA libera (ou liberada, não sei ao certo) um terceiro carro eventual para essas equipes, onde este piloto pode marcar pontos no Mundial de Pilotos, mas não no Mundial de Construtores. Por exemplo, se o terceiro piloto da VW vencer uma etapa do WRC, ele marca pontos normalmente no Mundial de Pilotos, mas os 25 pontos da vitória no Mundial de Construtores iria para o segundo colocado, se esse for de um piloto que participa normalmente no campeonato. Bem simples e sem mexer muito no Mundial de Construtores, grande temor das equipes médias.

Por fim, a quase certa saída de Caterham e Marussia põe fim a um delírio de Max Mosley que desde o começo parecia fadado ao fracasso. Claro que novas equipes são bem-vindas na F1, mas após muito planejamento e garantias financeiras sólidas, porém esse não foi o caso das equipes que surgiram em 2010. Um terceiro carro para as equipes grandes também aumentaria o nível dos pilotos da F1, pois é muito melhor ter um Jolyon Palmer (atual campeão da GP2) num terceiro carro da Mercedes do que ter um Max Chilton se arrastando nas últimas posições.     

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Seu nome é Emerson

Bela homenagem da McLaren aos 40 anos do seu primeiro título e também do bi de Emerson Fittipaldi.

domingo, 19 de outubro de 2014

A volta do doutor

Não assisti a corrida nessa madrugada, ainda com dor de cotovelo, cabeça e coração pelo resultado do jogo da tarde de sábado, mas soube que Valentino Rossi venceu mais uma vez e se encaminha para um digno vice-campeonato. No final do ano passado, Rossi parecia um piloto em decadência, abaixo do trio espanhol Márquez-Lorenzo-Pedrosa, mas o italiano da Yamaha se reinventou em 2014 e mesmo não sendo capaz de lidar com o fenômeno Marc Márquez, está superando o seu fortíssimo companheiro de equipe Jorge Lorenzo e Daniel Pedrosa, dono de um dos maiores empresários da história do esporte a motor. Pedrosa está há quase dez anos na equipe oficial da Honda na MotoGP, viu três companheiros de equipe ser campeão e nesse ano corre o risco de ficar em quarto lugar no campeonato com a mesma moto do campeão! Nessa madrugada, Rossi se aproveitou de um erro de Márquez e após superar Lorenzo ganhou com autoridade em Phillip Island, a pista mais bonita do mundo. Aos 35 anos de idade, com todo o dinheiro e títulos que um motociclista poderia ganhar, Rossi ainda é capaz de se reinventar e mostrar que mais do que um grande piloto, é uma verdadeira lenda viva!

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Whollongong Whiz

Ele participou da chamada Era Dourada do Mundial de Motovelocidade nos anos 80 e foi um dos protagonistas de uma das melhores gerações de todos os tempos das 500cc, a principal classe do motociclismo. Wayne Gardner foi um dos principais rivais dos grandes pilotos americanos dos meados dos anos 80, em particular de Eddie Lawson, com quem disputou arduamente vários campeonatos. Sempre ligado à Honda, Gardner se tornou o primeiro australiano campeão mundial nas 500cc e com isso garantiu um aumento do interesse do australiano pelas corridas de moto e na esteira de Gardner, surgiram Michael Doohan e, mais tarde, Casey Stoner. Completando 55 anos recentemente, vamos conhecer um pouco mais da carreira desse australiano que marcou época.

Wayne Michael Gardner nasceu no dia 11 de outubro de 1959 em Wollongong, na Austrália, e quando o jovem piloto mostrou sua grande velocidade, a sua cidade natal incorporou seu apelido. Como era comum na Austrália, as corridas entraram na vida de Gardner através das corridas em pista de terra, os dirt track, onde Wayne correu inicialmente com motos Yamaha de segunda mão nas categoria 250 e 350cc. Em 1977, com 18 anos incompletos, Gardner fez sua estreia no Campeonato Australiano de Motovelocidade com uma Yamaha, garantindo um segundo lugar logo na sua primeira corrida na categoria 250cc, acabando por Wayne vencendo algumas provas, lhe garantindo uma rápida subida para a categoria principal, a Superbike. Mesmo conseguindo algum sucesso na categoria, Wayne Gardner não conquistou nenhum título nacional, mas com o apoio da Honda local e o sonho de se tornar Campeão Mundial de Motociclismo, Gardner foi para a Inglaterra em 1981 para ganhar experiência e tentar realizar o seu sonho. Não demorou muito para o australiano se destacar nas provas inglesas e Gardner consegue o importante apoio da Honda britânica, que lhe promove a estreia no Mundial de Motovelocidade em 1983, logo de cara nas 500cc, na Catedral da Motovelocidade, em Assen. Gardner abandona em sua primeira corrida, mas em Silverstone, pista em que conhecia muito bem, Gardner consegue um bom nono lugar no grid, mas sem a experiência necessária com a arisca moto das 500cc, Wayne acaba finalizando fora dos pontos.

Wayne Gardner continuava se destacando nas provas inglesas e com os bons resultados nas duas corridas que fez no Mundial, o australiano correria cinco vezes no Mundial das 500cc em 1984, desta vez conseguindo bons resultados, culminando com o seu primeiro pódio no Grande Prêmio da Suécia, com um terceiro lugar. Mesmo inscrito na equipe Honda Britain, Gardner corria numa equipe satélite da fortíssima equipe oficial da montadora japonesa, a Rothmans Honda, e os bons resultados do australiano fez com que Gardner garantisse um lugar na equipe principal em 1985, ao lado de Ron Haslan, Randy Mamola e a estrela do time, Freddie Spencer. A equipe Honda havia perdido o título de 1984 para a Yamaha de Eddie Lawson e numa tentativa de reaver o título, a Honda construiu a famosa NSR500 que deu à Spencer não apenas o bicampeonato nas 500cc, como o americano também garantiu o título das 250cc. Contudo, após essa temporada de sonhos para Freddie Spencer, o americano começa a ter problemas de sensibilidade em seu braço direito e sua prodigiosa carreira praticamente terminou ali. Gardner tinha sido segundo melhor piloto da Honda em 1985, com um quarto lugar no campeonato e cinco pódios. Mas nenhuma vitória. Com Spencer sofrendo com os seus problemas com o braço,  Gardner tomou as rédeas da equipe Rothmans Honda. O jovem engenheiro Jeremy Burgess, que preparava a moto de Freddie Spencer, agora ficaria ao lado do seu compatriota Gardner. Para mostrar que era agora indubitavelmente o principal piloto da Honda, o australiano conseguiu sua primeira vitória no Mundial das 500cc logo na etapa inaugural de 1986, em Jarama.

Porém, Gardner teria um adversário dificílimo, se quisesse conquistar o título das 500cc. Eddie Lawson era experiente, com o título mundial de 1984, e era o principal piloto da Marlboro Yamaha, maior rival da Rothmans Honda no Mundial desde 1983. Sem Spencer, a Honda apostava todas as suas fichas em Gardner, que tinha uma grande ambição: se tornar o primeiro australiano a vencer o Mundial das 500cc. Porém, mesmo mostrando muita velocidade em 1986, Gardner não foi capaz de impedir o domínio de Lawson, que venceu o campeonato com sete vitórias, enquanto Gardner ficou com o vice, com vitórias também em Assen e Silverstone. Correndo praticamente sozinho na Honda, Gardner viu a Yamaha se dividindo em duas grandes equipes para 1987. De um lado, a equipe oficial gerenciada por Giacomo Agostini e patrocinada pela Marlboro, tendo como principal piloto Eddie Lawson. Do outro, a segunda equipe da Yamaha era comandada por outra lenda da marca, o americano Kenny Roberts, tendo como piloto o agressivo e bastante popular Randy Mamola. Mais experiente, contando com apoio total da Honda e com o sonho ainda pendente de se tornar Campeão Mundial, Wayne Gardner começou a temporada de 1987 com um segundo lugar no Japão, ficando atrás de Mamola e vendo seu teórico principal rival, Lawson, ficar pelo caminho. Porém, nas cinco corridas seguintes, Gardner consegue quatro vitórias, enquanto Lawson e Mamola dividem pontos entre si, garantindo uma confortável vantagem para Gardner no campeonato. Ao contrário de sua maior característica, Eddie Lawson fazia uma temporada irregular, alternando vitórias (cinco no total em 1987) com quedas, fazendo com que o americano ficasse apenas em terceiro lugar no campeonato. Com uma vitória na penúltima etapa da temporada, em Goiânia, o sétimo triunfo no ano, Gardner conquistava o seu sonhado Campeonato Mundial nas 500cc.

Como atual campeão mundial, Wayne Gardner era um dos grandes favoritos ao título de 1988, mas o Mundial das 500cc veria a entrada de dois americanos que marcariam para sempre o campeonato: Wayne Rainey e Kevin Schwantz. Os dois novatos mostrariam logo de cara seu talento, com Schwantz vencendo em sua estreia no Japão, mas não demorou muito para que os velhos rivais tomassem conta do campeonato, com Gardner e sua Honda de uma lado e Lawson e sua Yamaha do outro. Foi um campeonato inesquecível e os dois protagonizaram várias lutas por vitórias, tendo como coadjuvantes Rainey, Schwantz, Christian Sarron, Kevin Magee e Neill Mackenzie, companheiro de equipe de Gardner na Rothmans Honda. Porém, a Honda NSR500 mostrava uma velocidade impressionante nas retas, mas a ciclística da moto deixava muito a desejar e mesmo tendo Burgess e a lenda Erv Kanemoto na Honda, Gardner sofreu bastante em 1988, conquistando poucos bons resultados no começo de 1988, enquanto Lawson voltava à velha forma de conquistar o maior número de pontos possível, somado a algumas vitórias. Contudo, o australiano mostrava seu talento e com três vitórias consecutivas no meio da temporada, Gardner indicava que podia fazer frente à Lawson, mas Wayne acabaria sofrendo um grande baque quando liderava o Grande Prêmio da França e estava prestes a conquistar a quarta vitória consecutiva, quando sua Honda tem problemas mecânicos na última volta e o australiano cai para o quarto lugar. E a vitória caía no colo de Lawson. Mesmo Gardner tendo como pior resultado o segundo lugar nas quatro provas finais, o australiano teria que se conformar com o vice-campeonato, com quatro vitórias, e viu seu rival Lawson conquistar o tricampeonato. 

Porém, mesmo com o tricampeonato, Eddie Lawson teve dificuldades em renovar seu contrato com a Marlboro Yamaha e no final de 1988 ele surpreendeu o mundo da motovelocidade ao anunciar que estava se transferindo para a Honda em 1989, correndo por uma equipe satélite da Honda oficial, chefiada por Kanemoto. Wayne Gardner não era das pessoas mais simpáticas do mundo e todo o paddock do Mundial de Motovelocidade sabia que ele e Lawson não se gostavam. Havia uma enorme curiosidade no ar para saber como seria o relacionamento entre as duas maiores estrelas das 500cc da época na mesma equipe, mesmo Lawson ficando num time à parte. Porém, ainda no começo de 1989, Gardner viveria um dos grandes momentos de sua carreira. O seu título em 1987 fez com que o Mundial de Motovelocidade ganhasse um enorme interesse na Austrália e Gardner fez de tudo para promover uma corrida na Oceania e o primeiro Grande Prêmio da Austrália seria a segunda etapa de 1989. No belíssimo circuito de Phillip Island, Gardner teve uma disputa sensacional com Rainey e Sarron, derrotando a ambos e vencendo sua corrida caseira, para o seu júbilo e de toda a torcida, que lotou o circuito. Porém, a temporada de 1989 de Gardner estaria acabada dias depois. A corrida seguinte seria realizada no espetacular e perigoso circuito de Laguna Seca, na Califórnia. Durante os treinos, Gardner perdeu o controle de sua Honda e acabou fraturando seriamente sua perna numa das pequenas áreas de escape do circuito californiano. Wayne passaria a maior parte do ano de molho, vendo Lawson conquistar o seu quarto titulo mundial com a sua moto. Para surpresa de todos, Lawson voltou para a Yamaha em 1990 e teria ao seu lado o seu pupilo, Wayne Rainey, que tinha sido vice-campeão em 1989. A Marlboro Yamaha, comandada por Roberts, tinha o chamado 'Dream Team', mas um acidente de Lawson em Laguna Seca fez com que Rainey conquistasse o seu primeiro título com facilidade. Sem Lawson por perto, Gardner poderia ter a Honda orbitando em torno dele novamente, mas a chegada de Michael Doohan em 1989 fazendo um bom trabalho fez com que a equipe não apostasse tudo em Gardner como havia feito antes e para piorar, após vencer a terceira etapa em Jerez, Wayne sofreria outro grave acidente em 1990, ficando de fora de cinco corridas, vendo Doohan liderar a Honda e ficar em terceiro no campeonato. Gardner retornaria nas corridas finais a tempo de conquistar o Grande Prêmio da Austrália, derrotando seu compatriota Doohan, mesmo Gardner tendo um pulso quebrado devido a um acidente.

Wayne Gardner vinha de duas temporadas ruins, onde teve problemas de contusão e agora tinha em Michael Doohan um piloto do mesmo nível dentro de sua amada Rothmans Honda. A chegada de Doohan também divide a torcida australiana e Gardner fica enciumado, gerando atritos entre os dois pilotos da Honda. Mesmo tendo apenas 32 anos, Wayne Gardner vê as contusões começarem a pesar, além do fato que o Mundial das 500cc chegava ao auge da chamada Era de Ouro. Rainey e Schwantz dominavam o campeonato e a rivalidade entre os dois era um grande chamariz para o campeonato, mas Michael Doohan começava a se intrometer na briga dos dois, vencendo provas e chegando em terceiro no campeonato, vencido por Rainey. Gardner faz uma temporada opaca, onde consegue apenas três pódios e fica em quinto no campeonato. A temporada de 1992 começa de forma péssima para Gardner, que sofre um acidente na primeira etapa em Suzuka e fica várias corridas de fora. O australiano só retornaria na metade da temporada e de forma surpreendente, andando como nos seus melhores anos. Após um segundo lugar em Magny-Cours, Gardner derrota Rainey para vencer o Grande Prêmio da Inglaterra em Donington Park e aproveita para anunciar que estaria se aposentando do Mundial no final de 1992. Ainda competitivo. Com um segundo lugar no Grande Prêmio da África do Sul, Wayne Gardner deixava o Mundial de Motovelocidade com 100 largadas, 18 vitórias, 51 pódios, 19 poles, 19 voltas mais rápidas, 1074 pontos e o Campeonato Mundial de 1987.

Logo após abandonar a sua carreira em duas rodas, Wayne Gardner voltou à Austrália e passou a se dedicar às quatro rodas, participando ativamente do Campeonato Australiano de turismo, agora chamado de V8 Supercars. Primeiramente como piloto oficial da Holden, depois como dono da própria equipe, Gardner se manteve ativo por dez temporadas, mas sem repetir o seu sucesso nas duas rodas, inclusive sendo chamado de 'Captain Chaos' devido aos seus vários acidentes. Gardner também participou de algumas provas no Japão e em 1998 competiu nas 24 Horas de Le Mans. Hoje, Wayne Gardner organiza corridas de moto clássicas, se tornou uma lenda da MotoGP e tem uma equipe de motovelocidade na Espanha para os seus dois filhos, Remy e Luca. Piloto bem do estilo do seu compatriota Alan Jones, competitivo e truculento, Wayne Gardner se destacou numa das melhores gerações da história do motociclismo, se mantendo fiel a Honda nos bons e maus anos, mas sempre se mantendo um piloto forte e pronto para brigar pela vitória em todos os seus anos nas 500cc, tendo como grande rival a também lenda Eddie Lawson, além de ajudar a popularizar a motovelocidade na Austrália. 

Parabéns! 
Wayne Gardner

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Figura(RUS): Mercedes

Quando Ross Brawn conquistou o título com sua equipe em 2009, a Mercedes parecia estar fazendo um negócio da China quando adquiriu o espólio do time no final de 2009. Se sem praticamente nenhum investimento a Brawn GP ganhou os Mundiais de Pilotos e Construtores com o pé nas costas, contando agora com o maciço apoio da Mercedes, os títulos pareciam que viriam em profusão, ainda mais tendo Ross Brawn como um competente chefe de equipe e com um motivado Michael Schumacher voltando de sua aposentadoria. Porém, mesmo com os carros mudando muito pouco entre 2009 e 2010, as coisas não saíram como esperado e a Mercedes viu o domínio da Red Bull nos anos seguintes, tendo a Ferrari de Fernando Alonso como principal rival. A Mercedes nunca deixou de investir na equipe, mas os resultados teimavam em não aparecer, principalmente devido à algumas dificuldades em compreender os pneus. As mudanças não tardaram a acontecer e Brawn saiu da equipe, juntamente com Norbert Haug, antigo manda-chuva da Mercedes desde a parceria com a McLaren. Para os seus lugares, vieram Niki Lauda e Toto Wolff, que trouxeram consigo vários engenheiros conceituados no paddock da F1 (Aldo Costa, Paddy Lowe, Geoff Willis e etc), além de terem convencido Lewis Hamilton sair da McLaren e da asa de Ron Dennis para se unir ao projeto. Nico Rosberg já havia demonstrado ser capaz de trabalhar bem com os engenheiros e ser bastante eficiente dentro da pista, derrotando de forma inapelável Michael Schumacher. Faltava algo para a Mercedes dar o pulo do gato e isso veio com a profunda mudança de regulamento para 2014, com a saída dos motores unicamente à combustão interna aspirados para a vinda dos motores turbo e pequenos motores híbridos. Tendo que fazer um projeto de uma folha de papel em branco, ótimos engenheiros e muito dinheiro para investir, a Mercedes construiu de longe o melhor motor da F1 e ainda projetou um ótimo chassi, que proporcionou à Lewis Hamilton e Nico Rosberg dominarem a F1 em 2014 como fazia tempo que não era visto. Os únicos percalços vividos pela Mercedes nesse ano foram causados por problemas mecânicos ou pelos seus próprios pilotos, que numa disputa surpreendente, vide a amizade que Lewis e Nico tinham desde o kart, causaram as maiores dores de cabeça para Lauda e Wolff, mas os dois austríacos geriram da melhor forma possível a disputa interna e sem interferir muito nas ações dentro da pista, viram Hamilton e Rosberg conseguirem nove dobradinhas, contando com a da corrida em Sochi, e garantirem com três corridas de antecedência o Mundial de Construtores. Como Rosberg e Hamilton também ficarão com os dois primeiros lugares no Mundial de Pilotos, a Mercedes fará em 2014 barba, cabelo e bigode na F1. Mesmo que esse domínio tenha feito que os dois pilotos da Mercedes começasse uma rivalidade que algumas vezes saiu do controle, da forma como a Mercedes está hoje, podemos estar assistindo um grande domínio pelos próximos anos.