quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

O ano em que nasci - Para a F1

Quando você é uma criança e começa a gostar de corridas e querer ter informações sobre tudo desse mundo maravilhoso, umas das primeiras atitudes é procurar saber o que aconteceu no ano em que você nasceu. Quem foi o campeão? O Brasil teve um bom ano? As corridas foram boas? Particularmente, a primeira fonte que tive foi a revista 500 GPs da Fórmula 1, da Quatro Rodas, que, por sinal, ainda guardo com muito carinho, apesar de já estar meio estragada.
Que decepção! Logo no título, já tinha coisa estranha: Um campeão meio por acaso. Logo percebi que Keke Rosberg tinha sido campeão apenas uma vez e com apenas uma vitória naquele ano. Como eu ainda tinha 8 anos e não tinha muita vontade de pesquisar e nem aonde, deixei isso para lá. Mas a internet é uma benção! Hoje podemos ter tudo que você imaginar nas suas mãos e a F1 foi e continua sendo um dos meus focos. Pude pesquisar sobre tudo que sempre sonhei e, agora adulto, fui pesquisar com mais carinho o ano que nasci.
Outra decepção! Foi um ano de exceção. De tão ruim que foi! O sueco naturalizado finlandês Keke Rosberg é até hoje considerado um dos campeões mais sem brilho da história da F1. Vendo vídeos das corridas da década de 80, percebo um certo exagero nessa afirmação, mas com certeza Rosberg não mereceu o título que consquistou até com certa facilidade em cima de John Watson.
Nelson Piquet tinha tudo para se tornar bi-campeão e o Brasil tinha quase uma certeza disso, mas o então chefe de equipe Brabham Bernie Ecclestone sabia que o futuro próximo da F1 passaria pelos motores turbo e entrou de cabeça num projeto com a BMW e Piquet passou a sofrer com o desenvolvimento do motor alemão. Ou seja, um ano de quebras e o bi ficando para depois.
1982 começou com uma polêmica logo na primeira corrida, na África do Sul. Os pilotos entraram em conflito com a FISA e promoveram uma greve liderados pelos pilotos da Ferrari Didier Pironi e Gilles Villeneuve e por Niki Lauda, da McLaren, que voltava à F1 após dois anos parado. O primeiro dia de treinos foi cancelado em Kyalami e os pilotos fugiram(isso mesmo, fugiram juntos num ônibus) para um local secreto nas cercanias de Johannesburgo, levando ao desespero chefes de equipe e também aos organizadores, que tiveram que devolver o dinheiro aos espectadores que foram a Kyalami na quinta-feira(a corrida sul-africana era realizada aos sábados). Soube-se depois, que durante a estadia,os pilotos ficaram juntos por várias horas ouvindo Elio de Angelis tocar piano e se divertindo vendo Nelson Piquet imitando Carlos Reutemann. Na sexta, Didier Pironi entrou em acordo com Jean-Marie Balestre, Bernie Ecclestone e os organizadores sul-africanos e os pilotos resolveram correr. A Renault corria desde 1977 com motores turbo e como Kyalami tinha uma enorme reta e ainda ficava na altitude, os carros amarelos venceram, com Alain Prost dando um show, após ter um pneu furado quando liderava e ficar quase uma volta atrás do seu companheiro René Arnoux e chegar em primeiro, enganando o então novato na Rede Globo Galvão Bueno, que disse que Arnoux que tinha vencido.
No Brasil, mais confusão. As equipes inglesas, ligadas à FOCA, não tinham o orçamento de Ferrari, Renault e Alfa Romeo, equipes de fábrica e ligadas à FISA. Seus projetistas, liderados por Gordon Murray, John Barnard e Gerard Ducarouge, tinham idéias geniais e acabavam burlando o regulamento para desespero de Ferrari e Renault. A segunda etapa seria na Argentina, mas a crise econômica no país (oh novidade) fez com que a etapa fosse cancelada e mais uma sacada genial de Gordon Murray da Brabham estreasse no Brasil. A Brabham deixaria de lado os motores BMW turbo e voltariam ao confiável Ford Cosworth aspirado e colocaria um a novidade: um resfriador de freios. Isso era nada menos que uma artimanha para diminuir o peso dos carros durante a corrida e ser um lastro durante a pesagem oficial dos carros. Williams e McLaren copiaram o invento, mas Renault e Ferrari chiaram. Aconteceu de Piquet vencer após uma disputa espetacular com Gilles Villeneuve e Keke Rosberg. Piquet e o segudo colocado Rosberg foram desclassificados meses depois.
Em Long Beach, a Ferrari resolveu provocar as equipes inglesas e construiu uma asa traseira dupla, totalmente fora do regulamento. Villeneuve foi terceiro, mas seria desclassificado e Enzo Ferrari ameaçou deixar a F1 após mais essa presepada. Pensa que acabou? Antes da quarta etapa, em Ímola, foi confirmada a desclassificação de Piquet e Rosberg do GP do Brasil e as equipes da FOCA boicotaram o GP de San Marino. Apenas 14 carros largaram, sendo que apenas Renault e Ferrari eram carros de ponta. Isso seria a ponta do iceberg para a tragédia que aconteceria duas semanas depois. Os carros da Renault quebraram e Pironi venceu na frente de Villeneuve, mas o canadense ficou uma arara, pois tinha plena consciência que aquela corrida era sua por direito(essa história fica para depois).
Na quinta etapa, em Zolder na Bélgica, a trágica temporada ficou literalmente trágica quando Villeneuve morreu num acidente horrível durante os treinos classificatórios no sábado.
Em Mônaco, a corrida mais doida da temporada. Ninguém queria vencer! Patrese ganhou sem perceber e cinco pilotos foram ao pódio, tamanho foi a loucura do final da prova.
No Canadá, mais uma tragédia. O italiano Riccardo Paletti fazia sua segunda largada de F1 em Montreal e largava na última fila do grid. Na pole, o então líder do campeonato Didier Pironi deixou o motor morrer e vários carros desviam da Ferrari parada, mas os últimos carros não conseguem e Paletti acerta Pironi em cheio. O francês é o primeiro a tentar ajudar Paletti, mas as coisas pioram quando há um vazamento de combustível e um grande incêncio se inicia. Mesmo com o fogo logo sendo extinto, nada se podia fazer pelo italiano, que morreria poucas horas depois.
Após 7 etapas em que tudo aconteceu, a F1 entrou numa certa calmaria e parecia que Pironi conquistaria o primeiro título para a França, mas o GP da Alemanha ainda traria mais tragédia. Durante os treinos do sábado, debaixo de uma chuva torrencial, Pironi sofre um gravíssimo acidente. Ele luta para não perder a perna direita e acaba conseguindo, mas sua carreira havia terminado ali.
Quem leu tudo isso deve estar se perguntando: E cadê Rosberg? Parece incrível, mas chegando a metade da temporada, o futuro campeão estava longe de ser um protagonista. Na verdade, ele tinha feito uma temporada regular a bordo de seu Williams com motor aspirado, marcada por vários pódios, principalmente chegando em segundo lugar. Na Bélgica e em Detroit, ele foi ultrapassado pelo vitorioso John Watson nas últimas voltas e era com o piloto da McLaren que a briga pelo título acontecia. Alain Prost também brigava pelo título, mas a Renault parecia uma lâmpada de 100W e vivia quebrando e ele ainda não tinha o apoio de René Arnoux, seu inimigo fidagal pelos próximos anos. Os dois acabaram se anulando e a forte equipe Renault estava fora da disputa. E a Ferrari, com sua dupla de pilotos fora de combate antes da metade do campeonato, já pensava em 1983.
Na antepenúltima etapa, em Dijon-Prenois, Rosberg vence sua primeira corrida na carreira e tinha chances de liquidar a fatura em Monza, mas andando com um Williams aspirado e com vários problemas, Rosberg acaba em oitavo e a briga chega à Las Vegas, última etapa do campeonato. Rosberg só precisava chegar em quinto para ser campeão independente de onde Watson chegar e era bom que isso acontecesse, pois a decisão poderia ir para os tribunais, pois a Williams ainda estava de olho na desclassificação no Brasil. Para alívio de todos, Watson não venceu, Rosberg foi apenas quinto e venceu seu primeiro e único título da carreira.
Lendo tudo isso, dá para perceber que eu merecia pelo menos um anos menos trágico e um campeão mais digno...

Nenhum comentário: