É praticamente impossível não utilizar clichês para falar a respeito de Niki Lauda. Expressões como "O homem que venceu a morte", "Venceu contra tudo e contra todos" ou "Deu a volta por cima" são antigas, mas definem bem esse austríaco que superou a oposição familiar, a desconfiança dos críticos, que o viam apenas como um piloto-pagante, levou a Ferrari de volta ao topo da F1, voltou às pistas um mês e meio depois de encarar a morte de perto, retornou de uma aposentadoria e bateu pilotos do gabarito de Emerson Fittipaldi, Clay Regazzoni, James Hunt, Jody Scheckter e Alain Prost. Tudo isso para se tornar uma lenda do automobilismo mundial e vencer três Campeonatos Mundiais de F1. As cicatrizes em seu rosto demonstra toda a força de vontade e o sacríficio que Niki teve que fazer para seguir o sonho de ser piloto e continua-lo, mesmo contra todos os diagnósticos. Completando 60 anos no dia de hoje, vamos conhecer um pouco mais da história de Niki Lauda.
Andreas-Nikolaus Lauda nasceu no dia 22 de fevereiro de 1949 em Viena, de uma família abastada dono de uma cadeia de indústrias de papel. Dentro do seio familiar, o pequeno Niki, apelido de infância, seria um homem de negócios, seguindo os demais membros da família. No entanto, o jovem representante da família Lauda era apaixonado por carros desde cedo e aos 12 anos, pedia aos seus parentes para estacionar seus carros quando a família se reunia nos finais de semana. E foi justamente esse amor aos carros que fez Niki pensar em ser piloto, não se inspirando nos grandes pilotos da década de 60. Péssimo aluno na juventude, Lauda teve que falsificar um diploma na escola para finalmente convencer seus pais a comprar um carro para ele: um Fusca 1949 conversível. Logo o fusquinha foi trocado por um Mini Cooper e foi com ele que Niki iniciou sua carreira no automobilismo, no dia 15 de abril de 1968, uma semana após a morte de Jim Clark, numa corrida de subida de montanha onde Niki conseguiu um bom segundo lugar. O problema foi que o seu pai ficou sabendo desta pequena aventura e proibiu-lhe de participar de outra corrida. Tarde demais.
Lauda põe na cabeça que seria um piloto de corridas e o austríaco participa de provas com o seu Mini Cooper e um Porsche 911, conseguindo ótimos resultados em seu ano de estréia no esporte a motor. Para 1969, Lauda é convidado pela Kaimann para participar da Temporada de Fórmula Vê na equipe oficial da fábrica e Niki não faz feio, fazendo parte de 13 provas, principalmente na Europa Central, conquistando duas vitórias e quatro segundos lugares. Sem paciência para ficar mais um ano na categoria de base, Lauda dá mais um passo em sua carreira e sobe para a F3 em 1970, andando pela equipe de Francis McNamara, mas desta vez sem obter muito destaque. Enquanto isso, Niki participava com sucesso de provas de turismo em carros da Porsche e foi dos prêmios destas corridas que Lauda se sustentava no automobilismo, financiando sua carreira nos monospostos. Porém, para o próximo passo de Niki, era preciso muito mais do que os prêmios que ele conseguia em corridas pela Europa. Apesar de não ter se destacado na F3, Lauda decide participar do prestigioso Campeonato Europeu de F2 pela forte equipe March. Sem grandes resultados para apresentar a Max Mosley e Robin Herd, Lauda resolve comprar o cockpit da equipe e utiliza o seu sobrenome para negociar com os bancos austríacos o necessário empréstimo de 20.000 libras. Correndo ao lado de Ronnie Peterson, na época reconhecido como o piloto mais promissor daquela geração, Lauda consegue acompanhar o sueco na primeira corrida, mas é massacrado pelo companheiro de equipe no resto da temporada. A March trabalhava claramente para Peterson, enquanto Lauda era considerado apenas um pay-driver.
Apesar da temporada sem grande destaque na F2, Lauda participa do Grande Prêmio da Áustria de F1 de 1971 pela equipe March, onde estréia praticamente sem ser notado. Para 1972, Lauda decide fazer uma jornada dupla e participar tanto na F2 como na F1 pela equipe March, porém, mais uma vez, Niki precisava trazer dinheiro a equipe para ser companheiro de Peterson e o austríaco entra em contato com o mesmo banco que o emprestou dinheiro no ano anterior para poder tirar as 100.000 libras pedidas pela March. No entanto, o avô de Niki ficou sabendo da negociação do neto com o banco e usou sua influência para melar o negócio, fazendo com que Niki cortasse relações com a sua família e jamais falasse com o seu avô novamente. Apesar do infórtunio, Lauda consegue o empréstimo com outro banco e dá seu seguro de vida como garantia. Lauda pensava em aprender com Peterson na F1, como havia ocorrido na F2, para poder chamar a atenção das grandes equipes para 1973, mas assim como tinha acontecido na F2, toda a equipe March se volta para Peterson e contrói o carro pensando no sueco. Logo nos primeiros testes, Lauda diz que o carro é inguiável e os péssimos resultados ao longo do ano provam que Niki tinha razão, a ponto do carro ter sido trocado na metade do ano. Lauda não consegue pontuar em sua primeira temporada completa na F1 e assim não chama a atenção de ninguém no paddock da F1. Na tentativa de pagar sua dívidas, Lauda corria de F1, F2, Endurance e carros de turismo, mas ele não tinha contrato para 1973 e o único convite que tinha era para ser piloto de testes da própria March.
No final de 1972, Lauda consegue um teste com a BRM no circuito de Paul Ricard e é rápido o suficiente para conseguir o terceiro carro na equipe para 1973, batendo Vern Shuppan. Foi na tradicional equipe inglesa que Niki Lauda conheceu seu companheiro de equipe mais famoso e com quem faria história mais tarde: Clay Regazzoni. Mais uma vez Niki Lauda tinha que trazer dinheiro para a equipe e disse para Louis Stanley que tinha um grande patrocinador por trás dele, quando na verdade o austríaco tinha feito outro empréstimo bancário, desta vez de 80.000 libras, para permanecer na equipe o ano todo. Como não iria receber salários na BRM, Lauda aceita o convite da equipe BMW Alpina para participar do Campeonato Europeu de Turismo. A essa altura Lauda sabia da encrenca que estava metido e que, se algo de extraordinário não acontecesse naquele ano, ele estaria arruinado e sua carreira estaria acabada. Para piorar, a BRM prefere focar seu trabalho em Regazzoni, deixando Lauda e Beltoise com carros menos desenvolvidos. A situação só piorava na medida em que os resultados não vinham, mas seus primeiros pontos com um quinto lugar no Grande Prêmio da Bélgica foi o momento da virada para Lauda. Na corrida seguinte, no Grande Prêmio de Mônaco, Niki consegue ser o mais rápido dos BRM no grid com a sexta posição e durante a corrida ocupa o terceiro posto, ficando à frente da Ferrari de Ickx, até abandonar com o câmbio quebrado. Com esse resultado, Lauda consegue um patrocínio e um contrato de dois anos com a BRM. E pela primeira vez na F1, receberia salários!
Após Monte Carlo, Niki consegue largar em boas posições e faz boas provas, como no Canadá, quando chegou a liderar com 20s de vantagem sobre o segundo colocado quando teve que fazer um pit-stop que demorou mais do que o planejado. Enzo Ferrari tinha assistido a boa exibição de Lauda em Mônaco pela TV e fica encantado com o estilo do austríaco. Quando a Ferrari traz Regazzoni de volta para a equipe em 1974, a equipe pede uma opinião do suíço para quem seria o segundo piloto da escuderia. A Ferrari estava em dúvida sobre Lauda ou Jarier. Rega elogia bastante seu companheiro de equipe em 1973 e a Ferrari compra o contrato que Lauda tinha com a BRM e o austríaco se transferiria para uma equipe de ponta em 1974. Finalmente todo o sacríficio de Niki era recompensado e ele poderia pagar suas enormes dívidas. A Ferrari passava por um momento de transição na época e os resultados não condiziam com a tradição da equipe italiana. A escuderia tinha uma enorme burocracia e Enzo Ferrari só recebia boas notícias sobre o time, enquanto os problemas ficavam no meio do caminho. Lauda resolve mudar essa filosofia e após cada sessão de testes, ia ao escritório de Enzo Ferrari para lhe contar sobre os problemas. O jovem Luca di Montezemolo tinha sido contratado para gerenciar os novos rumos da equipe e juntamente com Lauda, os dois fizeram com que a Ferrari voltasse aos tempos de glória.
Até aquele momento, ninguém conhecia muito bem Niki Lauda e todos diziam que, como tinha feito anteriormente, o austríaco tinha comprado um lugar na equipe de Maranello. Logo na primeira corrida de 1974, Lauda mostra aos críticos que isso não era verdade com um segundo lugar no Grande Prêmio da Argentina. Não demorou para os resultados de Niki aparecessem e no Grande Prêmio da África do Sul, terceira etapa do ano, o austríaco consegue sua primeira pole na F1 e duas corridas depois, em Jarama na Espanha, sua primeira vitória, conseguindo uma dobradinha da Ferrari, já que Regazzoni tinha terminado em segundo. Na Holanda, Lauda consegue sua segunda vitória e inicia uma espetacular série de seis poles consecutivas. Na Inglaterra, Niki liderava tranquilamente a corrida e iria liderar o campeonato pela primeira vez na carreira, mas um pneu furado na penúltima volta pôs tudo a perder. A surpreendente temporada de Niki Lauda em 1974 o tinha colocado como um piloto de ponta na F1 e somente a falta de experiência somado a falhas mecânicas o tinha deixado em quarto no Mundial desse ano. Mas 1975 seria diferente.
Lauda inicia o campeonato de 1975 com o carro do ano anterior, conseguindo apenas um quinto lugar nas primeiras quatro corridas, mas na África do Sul a Ferarri lança o novo modelo 312T, com o câmbio transversal. Seria o início da virada. O carro se mostra um vencedor logo de cara e com cinco vitórias (Mônaco, Bélgica, Suécia, França e Estados Unidos), Lauda vence o seu primeiro título mundial. Foi uma temporada tão perfeita, que o próprio piloto definiu o ano como "inacreditável". Ninguém foi páreo para Niki naquele ano. Regazzoni, inicialmente primeiro piloto da Ferrari, foi subjugado dentro da equipe, enquanto o bicampeão Emerson Fittipaldi pouco pôde fazer para evitar o domínio de Lauda. Por isso, Niki era favorito destacado para 1976 e corresponde as expectativas com um início de campeonato estupendo, poucas vezes visto na F1 até aquele momento. Nas nove primeiras provas, Lauda tinha vencido cinco (Brasil, África do Sul, Bélgica, Mônaco e Inglaterra) e tinha mais dois segundos lugares. Quando venceu em Brands Hatch, Lauda tinha o dobro de pontos do segundo colocado no campeonato, Jody Scheckter, e o segundo título consecutivo, algo que não acontecia desde Jack Brabham em 1959 e 1960, era apenas uma formalidade. Já pensando nos recordes, Lauda esperava superar a temporada perfeita de Jim Clark em 1963. Mas veio o Grande Prêmio da Alemanha...
O circuito de Nürburgring trazia emoções distintas aos pilotos que o desafiavam. Os mais de 22 km da tradicional pista alemã trazia prazer e medo para os pilotos. Prazer pela pista espetacular. Medo pelas inúmeras mortes e das grandes árvores ao lado da pista. Apesar das reformas no início dos anos 70, já tinha sido decidido pela FISA que o autódromo era antiquado demais para os padrões da F1 e que 1976 seria o último ano da categoria em Nürburgring, se mudando para Hockenheim a partir de 1977. Lauda tinha conseguido o segundo lugar no grid para essa prova, mas a corrida se inicia com a pista ainda úmida e muita movimentação nos boxes. Na segunda volta, correndo atrás do Brabham de José Carlos Pace, Niki perde o controle da sua Ferrari na curva Bergwerk, bate no guard-rail e é atingido pelo Surtees do americano Brett Lunger. A Ferrari explode em chamas e Lauda fica preso dentro do carro. Sem respirar, Lauda tira o capacete enquanto Arturo Merzario, Guy Edwards, Harald Ertl e o próprio Lunger fazem um socorro improvisado ao piloto da Ferrari. Foi Merzario, italiano que foi substituído por Lauda na Ferrari, que desatou o cinto de segurança do austríaco. Niki saiu andando do carro, mas sua situação era mais grave do que as queimaduras em seu rosto. Ele tinha inalado gases tóxicos durante a operação de salvamento e seus pulmões estavam queimados e seu sistema circulatório estava afetado. Um Niki Lauda todo enfaixado foi levado em coma para o Hospital de Adenau e depois para o Hospital de Manheim, onde no dia seguinte recebeu a extrema-unção.
Vendo a possibilidade de perder seu principal piloto, o chefe da equipe Ferrari Daniele Audetto ligou para Enzo Ferrari ainda no mesmo dia e pediu instruções. "Contrate agora Emerson Fittipaldi!", disse Enzo. Nunca se soube ao certo o que fez Lauda perder o controle do seu carro, mas a principal suspeita foi uma suspensão quebrada. Fittipaldi não aceitou o convite para correr na Ferrari, mas poucos acreditavam na volta de Niki Lauda ainda naquele ano e Carlos Reutemann foi contratado para substituir o austríaco. Porém, de forma surpreendente, Lauda consegue uma recuperação espantosa e seis semanas após estar próximo da morte, estava de volta ao cockpit da Ferrari para conseguir um emocionante quarto lugar no Grande Prêmio da Itália. O rosto deformado de Lauda se tornou uma espécie de marca registrada do piloto. Afora uma operação reparatória nas pálpebras, Niki se recusou a fazer qualquer cirurgia plástica. Na ausência de Lauda, James Hunt da McLaren tinha reduzido a vantagem do piloto da Ferrari no campeonato e após o inglês vencer os Grandes Prêmios do Canadá e dos Estados Unidos, Lauda tinha apenas três pontos de vantagem sobre Hunt quando a F1 chegou ao Grande Prêmio do Japão, primeira corrida no oriente na história. Lauda largaria em terceiro lugar, uma posição atrás de Hunt, mas no dia da corrida, uma chuva torrencial castigou o circuito de Monte Fuji e após vários atrasos, a corrida foi iniciada com a pista encharcada e em péssimas condições. Ainda na terceira volta, Lauda entrou nos boxes e saiu do carro. Não havia problemas na sua Ferrari. "Sou pago para correr, não para me jogar pela janela."
Após ter problemas em seu carro, Hunt fez uma ótima corrida de recuperação e terminou a prova em terceiro, conquistando seu único título mundial por apenas um ponto. A cúpula da Ferrari ficou uma fera pela desistência de Lauda na corrida decisiva do campeonato e a imprensa italiana chegou a chamar Niki de covarde. Apesar de tudo isso, Lauda permaneceu na Ferrari em 1977, mas o clima dentro da equipe era péssimo e Reutemann era o novo queridinho da equipe. Ao contrário de Regazzoni, com quem tinha um ótimo relacionamento, Lauda não se envolve muito com Reutemann, mas faz uma temporada extremamente regular, derrotando seu companheiro de equipe, a força da Lotus de Mario Andretti, do já antiquado McLaren de James Hunt e o surpreendente Wolf de Jody Scheckter para conquistar seu segundo título mundial. Mesmo tendo conquistado apenas três vitórias (África do Sul, Alemanha e Holanda), Lauda consegue a impressionante marca de seis segundos lugares. A precisão com que venceu esse campeonato lhe rendeu o apelido de "O Computador".
Antes do Grande Prêmio da Itália, Lauda anunciou que estava abandonando a Ferrari e o austríaco teve que contratar seguranças com receio da "recepção" dos tifosi. Niki tinha acertado com a Brabham e pela primeira vez na história um piloto de F1 ganharia um milhão de dólares por ano. No segundo dia de treinos para o Grande Prêmio do Canadá, Lauda ficou sabendo que seu engenheiro também tinha sido demitido e assim decidiu abandonar a Ferrari naquele momento, não participando das duas últimas provas do campeonato. Por curiosidade, a Ferrari chama o desconhecido canadense Gilles Villeneuve para substituir Lauda. Chegando a equipe Brabham, Lauda teria ao seu lado a raposa Bernie Ecclestone e o gênio Gordon Murray. Parecia que seria uma parceira vitoriosa, mas dois problemas acabaram atrapalhando o que seria um 1978 perfeito para Lauda e a Brabham. Primeiro foi o motor Alfa Romeo Flat-12, que era pesado e problemático, fazendo com Niki abandonasse cinco vezes ao longo do ano. O segundo era o domínio da Lotus de Andretti. Pensando em uma forma de fazer frente ao carro de Colin Chapman, Murray cria o "Fan-Car", onde um ventilador foi instalado na traseira do Brabham, fazendo com que toda turbulência aerodinâmica fosse chupado pelo dispositivo. Dizem que o carro era tão superior aos demais, que Bernie pediu a Lauda e John Watson antes da corrida para que maneirassem, ou a humilhação as demais equipes seria grande demais. Sem muito esforço, Niki venceu o Grande Prêmio da Suécia, mas o carro foi considerado ilegal logo depois. Lauda ainda venceria o triste GP da Itália, prova marcada pela morte do seu ex-companheiro de equipe Ronnie Peterson, e terminaria o campeonato em quarto.
Para 1979, Lauda ganharia um jovem companheiro de equipe: o promissor Nelson Piquet. Apesar de sempre largar nas primeiras posições, o carro quebrava demais e no final do ano Niki estava totalmente desmotivado. Nos treinos para o Grande Prêmio do Canadá, dois anos depois da confusão com a Ferrari, Niki diz a Ecclestone que estava se aposentando naquele momento. Para não deixar a equipe na mão, Lauda acha o piloto argentino Ricardo Zunino, que apenas assistia os treinos, para lhe substituir e como tinham tamanhos parecidos, dá todo o seu equipamente a Zunino, inclusive o capacete. Quando perguntado o motivo de uma aposentadoria tão repentina, Lauda desabafa: Estou cansado de andar em círculos!
Saindo da F1 com apenas 30 anos, Lauda se tornou comentarista de TV e abriu a LaudaAir, companhia aérea que levava seu nome, porém, as coisas não saíram como desejado e a empresa passou a ter dificuldades financeiras. Em 1981, Niki aceita participar de um teste pela McLaren em Brands Hatch e é rápido o bastante para se interessar de novo pela F1 e Ron Dennis se interessar por Lauda. Pensando em garantir um bom contrato, Lauda pede um salário nunca pago a qualquer outro piloto antes e Dennis aceita, fazendo com que Lauda fale uma verdade ao chefe de equipe. "Você está pagando apenas um dólar pela minha capacidade. O resto foi pela minha personalidade." A reestréia de Lauda seria no Grande Prêmio da África do Sul em Kyalami, onde percebeu algo de errado com a nova Super-licensa concedida aos pilotos de F1, fazendo com que os pilotos ficassem em desvantagem na hora de assinar os contratos. Niki imediatamente entra em contato com o presidente da GPDA, Didier Pironi, e o resultado é uma inédita greve de pilotos, cancelando os treinos de quinta-feira. O caso foi resolvido e Lauda pôde voltar à F1 com um bom quarto lugar. Logo ficou claro que o talento de Niki ainda estava lá e em sua terceira corrida, ele consegue uma vitória em Long Beach. Porém, a McLaren ainda usava motores Cosworth aspirados e os motores turbo começavam a dominar o cenário da F1. Lauda ainda venceria o Grande Prêmio da Inglaterra, mas ficaria longe da briga pelo título.
Para 1983, estava claro que os motores aspirados estavam defasados com relação aos turbos e um segundo lugar em Long Beach, após uma impressionante recuperação durante a prova, foi o melhor resultado de Lauda no ano. A McLaren tinha acertado um contrato com os motor TAG-Porsche turbo, mas o motor não estava pronto até a metade da temporada. No final do ano, Lauda fez pressão sobre a McLaren para que o novo motor fosse usado e Niki quase venceu a última etapa do ano em Kyalami. Com esse resultado, a McLaren voltava ao panteão dos favoritos, mas Lauda teria agora a companhia de Alain Prost na equipe. O francês perdeu o título de 1983 nos detalhes e na época era considerado um campeão em potencial. Extremamente político, Prost convenceu Dennis a investir mais nele do que em Lauda, que tinha o maior salário da F1 na época. A McLaren confirma o favoritismo e era o carro a ser batido naquele ano. Na metade da temporada, todos sabiam que o título seria decidido entre Lauda e Prost, mas Niki ainda precisava renovar o seu contrato para 1985. Dennis propõe uma proposta com metade do salário de Lauda e o austríaco procura Gerard Larrouse, chefe da Renault, e acerta um acordo verbal.
Apesar de todas as vitórias ao longo dos anos na F1, Lauda nunca tinha vencido na Áustria, mas em 1984 ele bate Nelson Piquet na batalha pela liderança e vence, mesmo tendo problemas no câmbio, assumindo a liderança do campeonato pela primeira vez no ano. Duas horas antes da corrida, Dennis exige que Lauda assine o contrato naquele momento ou contrataria Keke Rosberg. Niki recusa, mas em setembro Larrousse diz a Lauda que os sindicatos franceses não aceitam a contratação do austríaco e que não pode honrar seu compromisso. Com o apoio da Marlboro, Lauda consegue renovar o contrato para 1985 praticamente com o mesmo salário, mas Dennis passa a apoiar claramente Prost. Se Lauda vencesse, seria uma vitória do próprio piloto. Se Prost vencesse, seria uma vitória da McLaren e de Dennis. Na última corrida do ano, no Estoril, Lauda só precisava de um segundo lugar para assegurar o campeonato. O final de semana português foi tenso e Lauda achou pôsteres dentro de uma caixa nos boxes onde se dizia "Prost, Campeão Mundial de 1984". Prost estava claramente nervoso, mas venceu a corrida com categoria. Lauda largou apenas em décimo primeiro, mas como tinha sido comum naquele ano, ele fez uma corrida de recuperação com uma precisão cirúrgica e após ultrapassar Nigel Mansell, levou seu carro ao segundo lugar, garantindo o seu terceiro título pela menor das margens na história da F1: meio ponto.
Muito se falou que Dennis tinha sabotado Lauda durante 1985, mas o próprio austríaco negava essa possibilidade, dizendo que a equipe estava concentrada em apoiar Alain Prost finalmente conquistar o seu primeiro título. Niki sofreu inúmeros problemas mecânicos, chegando ao fim de apenas três corridas. Na última vez que viu a bandeirada, Lauda fez uma ótima corrida em Zandvoort, onde tudo deu certo. Nas últimas seis voltas, Prost pressionou de todas as formas Niki, mas, provavelmente sabendo que essa seria a última oportunidade de vencer, Lauda segurou o ímpeto do francês e conseguiu a última vitória de sua carreira. Durante o Grande Prêmio da Áustria de 1985, Lauda reuniu os jornalistas para dizer que estava se aposentando de vez no final daquele ano e no Grande Prêmio da Austrália, quando era pressionado por Ayrton Senna, que confessou que era fã de Lauda no início de sua carreira, os freios da McLaren de Niki falharam no final da reta Brabham e o austríaco terminou sua carreira na F1 batendo levemente no muro. Foram doze temporadas em que Niki Lauda participou de 171 Grandes Prêmios, venceu três títulos mundiais (1975,77 e 84), conquistou 25 corridas, 24 poles, 24 melhores voltas, 54 pódios e 420,5 pontos.
Após seu segundo abandono da F1, Lauda voltou a se dedicar a seu companhia aérea, mas em 1991 um Boeing 767 caiu na Tailândia, matando 233 pessoas. Conta a lenda que Lauda foi ao local do acidente e ele próprio percebeu que o acidente tinha sido provocado por um erro da Boeing e que a LaudaAir não tinha culpa. Fato confirmado pouco tempo depois. Após vários anos em litígio com a Ferrari, Lauda voltou a equipe em 1992 como consultor técnico e nessa função ficou até 1997. Ele ainda voltaria a F1 em 2001, como chefe de equipe da Jaguar. Percebendo a aparelhagem eletrônica, Lauda lançou o desafio aos pilotos atuais, dizendo que "qualquer macaco poderia pilotar um F1 atual". Niki voltou ao cockpit de F1 em 2002, mas após rodar várias vezes, ele teve que engolir sua palavras. Apesar da brincadeira, a confusão na equipe inglesa só era similar ao que Lauda encontrou na Ferrari no início dos anos 70 e no final de 2002 ele saiu da equipe. Após vencer a LaudaAir para a Austrian Airlines em 1999, Lauda abriu outra empresa aérea chamada Niki, que mantém até hoje. Hoje, Lauda é o respeitado comentarista de F1 da RTL alemã e suas opiniões são bastante avalisadas, apesar de muito acharem demasiadamente ácidas. Seguindo a tendência atual, Niki tem um filho correndo pelas pistas no mundo, Matthias Lauda, mas o pimpolho não tem um centésimo do talento do pai e sempre anda atrás aonde compete. Casado por muitos anos com Marlene, Lauda se separou em 2006 e recentemente se casou com uma antiga aeromoça de sua companhia aérea. Piloto dos mais técnicos que a F1 já viu, Lauda sempre está presente nas listas dos maiores de todos os tempos. Extremamente profissional, ganhou muito dinheiro em sua carreira em atividades promocionais, como cobrar para participar de sessões de autógrafos, por exemplo. Grande acertador de carros, ajudou a construir grandes carros ao longo dos anos, aproveitando-os para vencer corridas e os três Mundiais, mesmo sem ter tido destaque antes de entrar na F1. Frio e calculista, Lauda não arrebatou os corações dos tifosi como Gilles Villeneuve, por exemplo, mas garantiu a simpatia dos italianos ao aprender italiano enquanto esteve na Ferrari. Extremamente competente no que fez, Lauda foi uma lenda do seu tempo e é ainda hoje.
Parabéns!
Niki Lauda
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