domingo, 15 de fevereiro de 2009

O Cavalheiros das pistas


O seu famoso capacete azul marinho com remos brancos. O seu inconfundível bigode bem tratado. O seu bom humor, elegância, inteligência e capacidade de superação. Tudo isso fez de Graham Hill o maior ídolo do automobilismo britânico na década de 60, mesmo não tendo sido tão brilhante como o seu grande amigo Jim Clark, tido o conhecimento técnico de John Surtees ou a volúpia de Jackie Stewart. Hill foi protagonista na F1 em toda a década de 60, mas suas glórias não se restringiram apenas a principal categoria do automobilismo mundial, sendo o único piloto da história a ter conseguido a tríplice coroa e por muito tempo teve a honra de ter sido o maior vitorioso em Mônaco, lhe garantindo o apelido de "Mr. Monaco". Tentando conquistar respeito como chefe de equipe por algum tempo, Graham acabou encontrando seu destino e não pôde ver seu filho, Damon, levar o sobrenome Hill de volta ao olimpo da F1. Se estivesse vivo, Graham Hill estaria completando 80 anos hoje e assim iremos conhecer um pouco mais da curiosa e emocionante carreira deste gênio do automobilismo.

Norman Graham Hill nasceu em 15 de fevereiro de 1929 na cidade de Hampstead, nas proximidades de Londres e vinha de uma família humilde, tanto que aos 16 anos teve que começar a trabalhar na empresa Smith Instruments, até ser chamado para servir na Marinha quando completou 21 anos, onde ficou por dois anos. Ao contrário do seus pares, Hill começou tarde no automobilismo e foi seu segundo esporte. Ao sair do serviço militar, Graham se interessou pelo remo, onde conseguiu algum destaque e conheceu a mulher da sua vida: Bette. Eles se casariam em 1955. A paixão pelo remo influenciou de tal maneira Hill, que seu capacete na F1 era inspirado na touca do London Rowing Club. Até os 24 anos de idade, Hill não tinha sequer carteira de motorista e o pouco que se envolvia em corridas eram com motos. Mas em julho de 1953 Graham viu um anúncio em uma revista especializada de uma nova escola de pilotagem, onde se dizia que qualquer pessoa poderia dar uma volta em Brands Hatch com um Cooper de F3 por apenas cinco xelins. Naquele mesmo sábado, Hill juntuou o suficiente para andar quatro voltas pelo autódromo inglês. "Tudo mudou a partir daquele dia", falaria Hill mais tarde. Com o vício da velocidade em seu sangue, Graham coloca na cabeça que seria piloto de corrida, não importava como!

Para tentar se manter próximo aos carros, Hill convence o dono desta escola de pilotagem, a Universal Motor Club, a ser mecânico da escola e em troca faria algumas corridas pela equipe, mas Graham acabou sendo enganado e nunca esteve perto de participar de uma corrida. Não desistindo do seu sonho, o inglês faz a mesma proposta a outro dono de escola de pilotagem e, desta vez, participa de algumas corridas, tornando-se instrutor da escola. Entre as estratégias de participar do círculo dos pilotos e construtores ingleses, Hill freqüentava o Volant Club, em Londres, mesmo sem participar do clube. E foi numa dessas reuniões que Graham conheceu um jovem construtor e mudaria a vida de ambos. Voltando de Brands Hatch começa a conversar com Colin Chapman e Mike Costin (que mais tarde fundaria a Cosworth), e pega uma carona no caminhão da Lotus, equipe recém-formada por Chapman. O interessante disso, é que Chapman pensava que Hill era amigo de Costin, enquanto Costin pensava que Graham era amigo de Chapman. Sendo que Hill não conhecia nenhum dos dois! Assim, quase que por acidente, Graham começa a trabalhar na Lotus como mecânico e no início de 1956 Hill prepara seu primeiro carro de corrida, um Lotus 11, mas Chapman se mantém como proprietário do carro, recebendo todos os prêmios que Hill viesse a ganhar. Naquele momento, tudo o que Graham queria era correr!

Após passar 1957 correndo em todo tipo de carro para ganhar experiência, Hill é contratado pela Lotus para ser piloto da equipe na F1 em 1958. A estréia de Graham e da equipe seria em Mônaco, no Lotus 12, ao lado dos grandes carros italianos e dos primeiros carros britânicos com motor traseiro. O modelo de Chapman foi um dos últimos como motor dianteiro e, mesmo rápido, era bastante frágil, garantindo várias quebras nas corridas iniciais. A primeira vez em que Hill vê a bandeirada é em Monza, na sua sétima prova na F1. As duas primeiras temporadas de Graham são marcadas por várias quebras mecânicas e nenhum ponto marcado. Hill fica desiludido com a Lotus e no final de 1959 é convidado para correr na BRM ao lado de Dan Gurney e Jo Bonnier. Apesar de ser amigo de Chapman, Graham estava cansado de acabar suas corridas no acostamento e saí da equipe, o que acabaria sendo uma ironia, pois Chapman produz o ótimo Lotus 18 para 1960, garantindo suas primeiras vitórias na F1. A primeira corrida de Graham na BRM foi na Argentina, ainda com o modelo com motor dianteiro, mas até o momento em que a temporada europeia começou, o novo modelo com motor traseiro estava pronto. Apenas na segunda corrida do modelo, Graham marcou o seu primeiro pódio ao terminar o Grande Prêmio da Holanda em terceiro. Após dois abandonos seguidos na Bélgica e na França, veio a corrida em que Graham Hill passou a ser conhecido dentro da F1.

O Grande Prêmio da Inglaterra seria realizado em Silverstone e Graham largaria em sua melhor posição até aquele momento, em segundo, mas tudo foi para os ares quando o inglês da BRM deixou seu BRM morrer na largada. Foi quando os demais carros estavam na Becketts, Hill conseguiu fazer seu carro funcionar. Foi o sinal de uma espetacular recuperação. Em seis voltas ele já estava no décimo primeiro lugar, pressionando Masten Gregory. Duas voltas mais tarde ele estava em sétimo lugar, tendo passado o Cooper de Gregory, as Ferraris de von Trips e Phil Hill e seu companheiro de equipe, Gurney, que tinha problemas no câmbio. Brabham liderava à frente das Lotus de Clark, Surtees e Ireland. Na volta 19, Hill ultrapassou seu companheiro de equipe Bonnier e Bruce McLaren, que estava com problemas. Ele já estava em quarto lugar e seis voltas depois se aproximou de Surtees e Clark, enquanto Ireland começava a pressionar Brabham pela liderança. Na volta 30 Graham tinha deixado o duo da Lotus para trás e ganhando rapidamente terreno sobre a Ireland, que ele ultrapassou tão facilmente como os suas colegas de equipe. Sete segundos atrás de Brabham, Hill lentamente se aproximava do atual campeão para deleite do público em Silverstone. Na volta 53 Hill colou no Cooper do australiano, efetuando a ultrapassagem duas voltas depois, mas Brabham não desistiu da briga e dois fizeram uma ótima batalha pela liderança. No entanto, os freios do BRM tinham sido levados ao limite e Graham começava a ter problemas de dirigibilidade. Quando tentava colocar uma volta num retardatário, Hill perdeu o ponto de freada e acabou batendo, terminando sua corrida, mas enquanto voltava tristemente para os boxes, Graham foi aplaudido de pé pelo público presente.

No entanto, o resto da temporada foi decepcionante e 1961 foi ainda pior. O novo motor BRM V8 não estava pronto e, como as demais equipes inglesas, a equipe de Hill usou o velho e confiável motor Climax de quatro cilindros em linha. Mas era muito pouco para enfrentar a potência da Ferrari, que dominou como quis aquele campeonato, dando o título a Phil Hill, que não tem nenhum parentesco com Graham. Após uma temporada em que marcou apenas dois pontos com Hill no GP dos Estados Unidos, o dono da BRM, Sir. Alfred Owen, avisa a equipe: ou vencia em 1962, ou a equipe seria fechada! O recado tinha sido dado e o novo BRM P57 estava pronto para uma ótima pré-temporada em 1962, onde Graham pôde vencer várias corridas. No International Trophy em Silverstone, Hill derrotou na linha de chegada aquele que seria seu maior adversário no ano: Jim Clark. Em Zandvoort, primeira etapa do Mundial, Hill consegue sua primeira vitória oficial na F1, mas só conseguiu isso após Clark abandonar com seu novo Lotus 25. O carro de Chapman era revolucionário e era o maior obstáculo para a própria existência da equipe BRM e da continuidade da carreira de Hill. Ao longo da temporada, o duelo entre o BRM de Hill e o Lotus de Clark iria dominar o Campeonato Mundial e na próxima corrida em Mónaco, Graham estava com a corrida na mão quando teve que abandonar no final. A primeira vitória no principado não demoraria a acontecer.

Em seguida, Clark ganhou na Bélgica, com Hill num distante segundo lugar. A França deu a Dan Gurney uma surpreendente vitória com a Porsche e na Grã-Bretanha Clark venceu com Hill em quarto. Graham, em seguida, teve uma magnífica vitória na Alemanha, depois de uma longa batalha na chuva com Surtees e Gurney e a BRM conseguiu uma categórica dobradinha em Monza, com Hill vencendo por meio minuto Ginther, que por sua vez estava quase meio minuto à frente do resto do pelotão. Jimmy venceu nos Estados Unidos com Graham apenas alguns segundos atrás e então o campeonato seria decidido na África do Sul, em East London, no dia 27 de dezembro de 1962. Mostrando o potencial do Lotus 25, Clark largada na pole e tentando acompanhar o seu rival, Hill convence a BRM diminuir o máximo possível do peso do carro, para completar a primeira fila. Clark tinha de ganhar a corrida para conquistar o título e ele rapidamente construiu uma grande liderança, mas os mecânicos da Lotus esqueceram de apertar uma arruela de um parafuso que segurava o eixo do motor e o óleo do motor Climax se esvaiu no circuito africano juntamente com os sonhos de Clark e Graham conquistou a vitória e o Campeonato Mundial, apenas sete meses após a sua primeira vitória.

Para os próximos três anos Graham Hill foi um fator cada vez mais presente na Fórmula 1, sempre competitivo, lutando com os campeões do período, Clark (63 e 65) e Surtees (64), com Graham sendo vice-campeão nessas três temporadas. Foi nessa época que Hill começou a se tornar uma lenda em Mônaco, vencendo sua primeira corrida no principado em 1963, repetindo a dose em 1964. Se não teve chance de conquistar o título em 1963 frente ao domínio da Lotus de Clark, Hill tinha todas as condições de conquistar o bicampeonato em 1964, chegando à última corrida daquele temporada, no México, na liderança do campeonato. O inglês brigava com a Ferrari de Surtees e a Lotus de Clark, mas Hill era o maior favorito ao título. No entanto, Hill tinha a Ferrari do segundo piloto Lorenzo Bandini logo atrás e numa manobra altamente discutível, o italiano jogou seu carro em cima da BRM de Hill. Graham levou seu carro aos boxes, mas não havia o que ser feito e tudo que Hill podia fazer era esperar por um milagre. Clark liderava com facilidade e com esse resultado conquistaria o bicampeonato, mas, novamente, um vazamento de óleo pôs tudo a perder, sendo que desta vez foi de forma ainda mais crúel com Clark, com o problema se manifestando na penúltima volta. Com isso, Hill era novamente campeão, pois Surtees era terceiro colocado, mas Bandini estava em segundo e a Ferrari não teve pudor para pedir que o italiano praticamente encostasse seu carro na última volta para que Surtees assumisse o segundo posto e conquistasse aquele título. Hill nunca perdoou Bandini, mas não perdeu o humor. No natal daquele ano, Graham mandou a Bandini um pequeno presente. Um livro ensinando "Como dirigir de forma segura". Mais ironia, impossível...

No final de 1964, o americano Richie Ginther recebeu um convite da Honda e dexou a BRM após três temporadas. Hill teria um novo companheiro de equipe para a temporada seguinte e o substituto seria uma jovem revelação escocesa chamado Jackie Stewart, que tinha rejeitado um lugar na Lotus. A equipe de Chapman tinha construído o novo Lotus 33 e o carro se mostrava tão bom, ou melhor, do que o modelo 25. Mas Clark estava ocupado demais no dia 30 de maio de 1965, vencendo as 500 Milhas de Indianápolis, e o Grande Prêmio de Mônaco não teria a presença do maior favorito ao título. Hill se tornava o favorito para a corrida, mas na volta 25 o inglês errou na chicane ao ver o retardatário Bob Anderson e acabou numa das poucas áreas de escape do circuito de rua. Graham saiu do carro, empurrou seu BRM rumo à pista e estava de volta à corrida em quinto, mais de 30s atrás do líder da corrida, Stewart. Quando o prodígio escocês tem problemas e cai para quarto, se torna a primeira vítima de Graham e, em seguida, encostou em Surtees e Bandini. Quando o então líder Brabham abandona, Bandini assume a liderança, com Hill logo atrás. Sem querer vingança com relação ao México, Graham espera doze voltas até ultrapassar o italiano no grampo do Gasometro e ser pressionado por Surtees até a última volta, quando o piloto da Ferrari acabou sem combustível. O ritmo de Hill naquele dia foi tão alucinante, que sua melhor volta naquele dia foi 0.8s melhor que a sua pole e sua velocidade média na corrida o colocaria na oitava posição no grid!

Na metade dos anos 60, Graham Hill participou de vários tipos de corrida. Esporte Protótipos, F2, Tasman Series... Hill era a maior estrela do automobilismo inglês e mundial, sempre recebendo convites para correr nas grandes corridas do mundo. Em 1966, ele e seu companheiro de equipe Jackie Stewart foram convidados a participar das 500 Milhas de Indianápolis daquele ano. Era a época da chamada "invasão britânica" na mítica corrida americana e Hill usaria um Lola-Ford três anos após seu primeito contato com o oval, quando achou o carro muito inseguro. Graham largou apenas em décimo quinto, mas foi por isso que ele escapou do famoso acidente na largada que envolveu onze carros. Clark e Stewart chegaram a liderar a prova, mas foi Hill que levou seu carro a Victory Lane e bebeu o leite do vencedor. Muito se falou em um erro da cronometragem e que o real vencedor da corrida seria Clark, mas Graham entrou para a história ao ser o primeiro novato a vencer em Indianápolis desde 1926 com Frank Lockhart, fato repetido apenas no ano 2000 com Juan Pablo Montoya.

No entanto, as coisas não estavam boas na F1 com a chegada dos novos motores 3 litros. A BRM não tinha um motor nessa configuração até a metade da temporada e o novo motor H16 se mostrou um retumbante fracasso. Após sete anos na BRM, Hill recebeu uma proposta de Chapman para voltar a equipe Lotus em 1967 e formar um "Dream Team" com Clark. Mesmo sabendo que o seu amigo Jim Clark seria o primeiro piloto, Hill aceita o convite e começa o desenvolvimento do novo Lotus 49 com motor Ford Cosworth DFV. Quando o carro estréia no Grande Prêmio da Holanda, Hill consegue a pole, mas a vitória acabaria nas mãos de Clark. O carro era tão superior aos demais, que, conta a lenda, Hill e Clark combinavam entre eles qual dos dois seria o vencedor da corrida, mas normalmente essa tática não dava certo, pois o novo carro ainda quebrava demais. Em Indiánapolis, agora correndo pela Lotus com patrocínio da STP, Hill não pôde defender seu título ao abandonar cedo com problemas no motor. Na Tasman Series, a Lotus mostra o quanto o Lotus 49 era superior, com Clark e Hill conseguindo duas vitórias cada na Oceania, enquanto a equipe mudava de cor e iniciava uma nova era na F1. Ao invés do tradicional carro verde com uma faixa amarela, a Lotus estava correndo de vermelho e branco do patrocínio da tabaqueira Gold Leaf. O favoritismo do duo Lotus-Clark se confirma com a vitória na África do Sul, mas em abril de 1968, a tragédia se abate na Lotus.

Clark e Hill vão a Hockenheim para uma corrida de F2. O clima estava chuvoso e na sexta volta, aparentemente por um furo lento, o Lotus de Clark vai em direção as árvores e morre quase que instantaneamente. Um arrasado Graham Hill vai ao local do acidente averiguar o que tinha sobrado do carro do seu grande amigo Jim Clark. No mês seguinte, a Lotus chega em Indianápolis com um carro revolucionário. Ao invés de um motor Ford V8, Chapman coloca no Lotus 56 um motor Pratt & Whitney de helicoptéro. No entanto, durante os treinos, Mike Spence, que estava substituindo Clark, sofre um acidente na curva 2 e o pneu vai em direção a sua cabeça, o matando poucas horas depois. Com duas mortes em dois meses, Chapman pensa seriamente em parar de competir, mas Hill junta os cacos da equipe Lotus na tentativa de conquistar um título que deveria ter sido de Clark. De forma surpreendente, Hill vence as duas primeiras provas após o inferno astral da Lotus, no GP da Espanha em Jarama e sua quarta vitória em Mônaco. No entanto, 1968 foi mais apertado do que o esperado e os principais rivais de Hill naquele ano seriam seu ex-companheiro de equipe Jackie Stewart, agora na Matra, e o atual campeão Denny Hulme, da McLaren. O campeonato seria decidido pelos três no México, com Hill vencendo a corrida após uma dura batalha com Jackie Stewart. Era o bicampeonato do inglês em um ano que tudo estava contra a sua equipe.

Para 1969, Hill teria como companheiro de equipe o jovem Jochen Rindt. O austríaco era conhecido pela sua grande velocidade e pelo azar até o momento na F1. Finalmente Rindt teria a chance que todos diziam que ele merecia e Hill, já com 40 anos de idade, estava na mesma situação de 1965 e 1966, quando teve o intrépido Stewart ao seu lado. A F1, através da Lotus, iniciava os seus primeiros experimentos com a aerodinâmica e as grandes asas, altas e desengonçadas, era a moda em 1969. Graham começou a defesa do seu segundo título com um segundo lugar na África do Sul, mas na corrida seguinte, no Grande Prêmio da Espanha em Montjuich, a Lotus teve problemas com suas asas traseiras, com Hill batendo nas barreiras após o aerofólio se partir e Rindt tendo o mesmo destino na volta seguinte. O austríaco ficou preso dentro do carro e da mesma forma como tinha feito com Stewart no Grande Prêmio da Bélgica de 1966, Hill tirou seu jovem companheiro de equipe de dentro do carro. A CSI, órgão que controlava o regulamento na época, impõe várias regras com relação as asas traseiras e em Mônaco, todos estavam usando asas traseiras mais sólidas e baixas. Mesmo após o susto na corrida anterior, Hill consegue sua quinta vitória em Monte Carlo após ver o líder Stewart abandonar na volta 23 com o semi-eixo quebrado. Era a consagração definitiva de Hill em Mônaco, onde passou a ser conhecido por Mr. Monaco. Vinte e três anos depois seu recorde seria igualado por Ayrton Senna e em 1993 seria batido pelo brasileiro. Em 2001, Michael Schumacher se igualava a Hill, mas nenhuma dos dois ficou tão marcado em Monte Carlo como Graham Hill.

Após a vitória em Mônaco, a temporada de 1969 foi decepcionante para a Lotus e Hill. Chapman erra a mão pela primeira vez em anos com o Lotus 63 com tração nas quatro rodas e a equipe perde o foco, prejudicando Hill e Rindt na luta com Stewart pelo campeonato. Para completar, em Watkins Glen, penúltima etapa do ano, Hill sofreria o pior acidente de sua carreira. Após rodar no óleo de outro carro, Hill saí do cockpit, empurra seu carro e volta à corrida. No entanto, ele não amarra o cinto de segurança e duas voltas depois o carro saí da pista novamente, só que à alta velocidade, voa e se espatifa num barranco. Como estava sem o cinto de segurança, Hill é arremessado do carro antes de bater e fica a vinte metros de distância do Lotus, com as duas pernas quebradas. Chegou-se a conclusão que Graham acabou tendo sorte, pois se estivesse preso ao cinto, provavelmente teria morrido no impacto com o barranco. Poucos dias depois do seu acidente, Graham tinha declarado a sua intenção de estar apto para a primeira corrida da nova temporada, na África do Sul, em 7 de março de 1970, apenas cinco meses depois. Apesar de ser incapaz de andar sem o auxílio de muletas e ter de ser levado para dentro e para fora do cockpit, ele não apenas correu em Kyalami, como terminou a prova em sexto lugar! Mesmo estando fora da equipe oficial da Lotus, Chapman sempre chamava Hill para testar o novo Lotus 72, que ficaria pronto durante 1970. Hill estava na equipe de Rob Walker e quando finalmente teria o modelo 72 a disposição em Monza, Rindt feleceria nos treinos. Walker estava se juntando com John Surtees em 1971 e assim Graham se mudou para a Brabham, para substituir seu fundador e piloto Jack Brabham.

Mesmo não sendo um carro de ponta, Hill conseguiu sua última vitória na F1 com um Brabham BT34 em Silverstone, numa corrida fora do campeonato. A equipe passava por um momento de transição com a venda da equipe de Ron Tauranac para Bernie Ecclestone. Hill teve que enfrentar os jovens Carlos Reutemann e Wilson Fittipaldi em 1972 e só conseguiu quatro pontos no Campeonato Mundial. Nesse mesmo ano, Hill começava a se aventurar como chefe de equipe ao abrir uma equipe de Fórmula 2 e Graham conseguiu uma vitória em Monza, provando que ele podia "derrotar os jovens pilotos". Mas se na F1, 1972 foi um ano para esquecer, Hill conseguiu uma das maiores proezas de sua carreira nesse ano. Após ter disputado as 24 Horas de Le Mans no início dos anos 60 sem muito sucesso, Hill foi convidado pela Matra para disputar a mítica corrida francesa ao lado de Henri Pescarolo em 1972. Graham não participava das 24 Horas desde 1966, mas mostrando a velha categoria, Hill conquistou a vitória, dando a Henri Pescarolo a honra de ser o primeiro francês a vencer com um carro francês desde Louis Rosier em 1950, com um Talbot. Com essa conquista, Hill entrava definitivamente na história. Muitos discutem do que se trata a "Trípice Coroa". Seria a vitória no Grande Prêmio de Mônaco, nas 500 Milhas de Indianápolis e as 24 Horas de Le Mans ou o Campeonato Mundial de F1, as 500 Milhas e o triunfo em Le Mans? De qualquer maneira, Hill conseguiu vencer de ambas formas, se tornando, até o momento, o único piloto a ter esse feito no currículo.

Para 1973, Graham consegue o patrocínio da tabaqueira Embassy e forma sua equipe de F1, andando com os carros da Shadow. Tanto a equipe como o chassi eram novos e Graham teve enormes dificuldades durante o ano e pela primeira vez desde 1959, ele não marcou pontos no Mundial. Para 1974, Hill trocou de carro e usaria o novo Lola T370, que era confiável, mas muito lento, porém, Hill marcou um ponto com um sexto lugar na Suécia. Graham resolve construir seu próprio carro e no Grande Prêmio da Espanha de 1975, faz uma boa estréia com Rolf Stommelen liderando a prova até a asa traseira sair voando, como tinha acontecido com Hill seis anos antes, mas de forma mais trágica desta vez. Stommelen sofreu várias fraturas, mas quatro pessoas tinham morrido quando o carro bateu num guard-rail mal fixado e invadiu o local onde ficava o público. Voltando ao cockpit, Graham Hill tentou se classificar para o Grande Prêmio de Mônaco, local de suas maiores glórias, mas para tristeza dos fãs do automobilismo, Hill não conseguiu tempo para conquistar um lugar no grid e encerrou sua carreira ali. Em 18 temporadas completas, Graham Hill participou de 176 Grandes Prêmios, conquistou os títulos de 1962 e 1968, 14 vitórias, 13 poles, 10 melhores voltas, 36 pódios e 289 pontos. Por muitos anos, Hill foi recordista de corridas, até ser igualado por Jacques Laffite no Grande Prêmio da Inglaterra de 1986.

Hill fez uma despedida oficial durante o Grande Prêmio da Inglaterra de 1975, onde deu uma volta em Silverstone com sua carro durante os treinos, aplaudido de pé pelo público. Neste final de semana, ele anunciou a contratação da jovem revelação Tony Brise, que havia conquistado dois títulos ingleses de F3 em 1973 e era a esperança inglesa no momento. Brise estreou pela equipe Hill ainda em 1975 conquistando resultados impressionantes pela limitação do carro e ainda venceu o Campeonato de Fórmula Atlantic de 1975. Após um teste em Paul Ricard, Hill pilotava seu avião Piper Aztec sobre condições ruins naquele 29 de novembro de 1975. Perto das quatro da manhã, o avião caiu sobre o campo de golfe Arkley, matando todos os tripulantes na hora, inclusive Graham Hill, Tony Brise e toda a cúpula da equipe Hill, que acabou naquele mesmo dia. Foi nessa época que se soube que Hill estava passando dificuldades financeiras e nem seu avião tinha seguro e por isso a família Hill teve que arcar com todo o processo movido pelas famílias dos demais integrantes. Bette teve que cuidar sozinha das duas filhas, Brigitte e Samantha, e um filho, Damon. Assim como o pai, Damon demorou muito para ingressar nas corridas e entrou na F1 tardiamente, quando já tinha 32 anos. Primeiro rival de Michael Schumacher na F1, Damon Hill venceu o Campeonato Mundial de 1996 e se tornou o primeiro filho de campeão a repetir o feito do pai.

Quando Hill foi velado na abadia St. Albans, toda uma nação estava chocada. Não apenas a F1, mas a Inglaterra inteira tinha perdido um ídolo que divertiu e entreteu o mundo com seu jeito espirituoso de encarar a vida. Nas pistas, Hill recebeu várias homenagens, tendo seu nome batizando várias curvas em pistas na Inglaterra. Durante todos os anos em que passou na F1, Hill fez várias amizades, lutou por mais segurança e foi uma espécie de elo entre a F1 mais romântica dos anos 50 e a F1 mais profissional dos anos 70. Hill andou em vários tipos de carros, seja na F1, seja em outras categorias. Sobrevivente em dezoito temporadas onde viu vários amigos morrerem, Graham Hill encarava a velocidade, sua grande paixão, na forma desta frase. "Se um homem não conseguir olhar para o perigo e enfrentá-lo, deixa de viver. Se o pior acontecer, é porque o chamaram para pagar o preço da felicidade da vida".

6 comentários:

Anônimo disse...

Olá João

Parabéns pelo texto! Só gostaria de fazer uma observação: no texto do Hill e do Surtees, está escrito que Hill jamais desculpou Bandini pelo que havia acontecido em 1964. Porém, eu já ouvi uma versão diferente, que fala que o inglês entendeu o que havia acontecido e até declarou que foi uma coisa "de corrida".

Mas o que eu sei é que, em 1964, o Graham NÂO Hill. hehe

Ron Groo disse...

Cavalheiro e dono de um bom humor sensacional... vi varias fotos dele vestido de mulher, muito engraçado.

Arthur Simões disse...

Po.Muito bom.

Me arisco a dizer que foi um dos melhores textos(junto como do Pierluigi Martini é claro,hahahah).

Parabéns JC!!!

João Carlos Viana disse...

Obrigado a todos os comentários até agora, até mesmo ajudando, no caso do Sidney. Mas Arthur, não lembro de ter falado do Martini...

Abraços a todos!

Arthur Simões disse...

Que isso?!?!?!?!?!?!?!?!

Então eu fiquei maluquinho!!!!!

Caramba cara,eu confundi Martini com Morbidelli!!!hahahahahaha
Erro meu.

Mas de qualquer forma.Daria uma ótimo texto!!O maior piloto da maior equipe da F1(Minardi).

Valeu JC.

Ylan Marcel disse...

Olá, JC. Analisando bem seu site, notei que vc destina espaço a alguns blogs de leitores. Gostaria de pedir o favor de, se possível, incluir o meu nessa lista: www.motorizado.wordpress.com

O Motorizado não tem dois meses de divulgação, mas conta com conteúdo variado: fotos, vídeos, análises e opiniões, além de enquetes e uma cobertura das princiapis categorias do automobilismo nacional e internacional. É um projeto que vem sendo tocado por mim, exclusivamente.
Sou jornalista e já trabalhei no F1naWeb. Um grande abraço, espero manter contato!