quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Geraldo


Hoje em dia, os pilotos da F1 seguem um estereótipo de baixinhos e politicamente corretos. Bem ao contrário do aniversariante de hoje. Gerhard Berger foi um dos personagens mais populares do paddock justamente pelo seu bom humor e pela altura, que algumas vezes o atrapalhou por não caber direito dentro do carro. Rápido dentro das pistas, Berger foi o sucessor da linhagem de ouro austríaca que tinha Jochen Rindt e Niki Kauda, mas Berger esteve longe de alcançar o mesmo brilho dos seus antecessores. Extremamente profissional Berger ficou conhecido por suas brincadeiras com Ayrton Senna, com quem formaria uma grande amizade e isso permaneceria forte mesmo após a morte do brasileiro. Completando 50 anos no dia de hoje, vamos conhecer um pouco mais da carreira desse divertido austríaco, que ficou conhecido como Geraldo pelos amigos brasileiros.

Gerhard Berger nasceu no dia 27 de agosto de 1959 na cidade de Wörgl, na Áustria. Filho de um dono de uma grande empresa de caminhões, a Berger Logistik, Gerhard teve uma infância tranqüila e toda a sua vida orbitava em torno da empresa do pai, onde começou a trabalhar como mecânico e depois motorista. Em 1979, Berger se inscreveu juntamente com cinco amigos numa corrida de turismo em Zeltweg e logo em sua estréia, com um Ford Escort, Berger vence e o automobilismo entra de vez na sua vida. Porém, seu pai Hans não admitia ver seu filho como piloto e vislumbrava uma carreira diferente para Gerhard, gerenciando a empresa da família. Ameaçado ter sua ‘mesada’ cortada pelo pai, Gerhard hesitou um pouco em continuar sua nova paixão, mas ele comprou um velho Alfa Sud para participar do Campeonato Europeu da categoria, muito popular no continente na época.

Observando que tinha talento e poderia se desenvolver melhor, Berger parte para os monospostos em meados de 1980 no Campeonato Austríaco de F-Ford 1600 e subindo para a F3 Alemã no ano seguinte. Em 1982 ele foi contratado por Josef Kaufmann para disputar o Campeonato alemão de F3 numa equipe de ponta e mesmo não sendo o mais rápido, Berger foi regular o suficiente para terminar o campeonato em terceiro. Isso chama a atenção do garimpador de jovens talentos Helmut Marko, que o contrata para sua equipe de F3 no Campeonato Europeu, onde Berger termina em sétimo na temporada, com dois segundos lugares como melhores resultados. No final deste ano, ele é convidado a participar do tradicional GP de Macau pela equipe Trivellato, uma dos melhores times de F3 da Europa, e mesmo não estando muito entrosado com a equipe, Berger consegue um bom terceiro lugar, ficando atrás de Ayrton Senna e Roberto Guerrero. A Trivellato fica tão contente com o austríaco que Gerhard é contratado pela equipe para ficar mais um ano no Europeu de F3 em 1984, além de ser convidado a participar do Europeu de Turismo pela BMW, juntamente com Hans-Joachim Stuck, Roberto Ravaglia e Dieter Quester. A ligação entre Berger e a BMW seria duradoura e lhe traria dividendos mais tarde. Berger se torna um dos favoritos no Campeonato Europeu de F3, disputando o campeonato com Ivan Capelli e Johnny Dumfries, mas o austríaco só sentiria o gosto da vitória no certame em Zeltweg, repetindo a dose em Monza. Isso chama a atenção de Günther Schmid, dono da equipe ATS na F1, que o convida para fazer um teste com um dos seus carros. O teste foi marcado no dia 27 e 28 de julho em Zandvoort e mesmo com os bons resultados do austríaco, as ligações entre Berger e a BMW ajudariam na negociação, pois a ATS tinha um contrato com a montadora alemã.
A ATS só tinha um carro para Manfred Winkelhock e mesmo mostrando velocidade (graças aos motores BMW) em muitas oportunidades, o carro da ATS mostrava muito fragilidade e a equipe tinha orçamento pequeno para 1984. Mesmo assim, a equipe se expandiu para dois carros e Gerhard Berger pôde fazer sua estréia na F1 correndo em casa, no Grande Prêmio da Áustria de 1984. Mesmo com inúmeras dificuldades durante o final de semana, Berger conseguiu ir até o final da corrida, cruzando a linha de chegada em 12º, três voltas atrás do vencedor da corrida, Niki Lauda, que vencia pela primeira vez em casa. Após essa etapa em Zeltweg, Berger seguiu na equipe em Monza e numa pista em que a potência conta muito, Gerhard levou, com muito cuidado, seu ATS a um ótimo sexto lugar, mas como ele não estava inscrito no início do ano pela equipe, Berger acabou não levando o pontinho que lhe seria dado pelo 6º posto. Isso fez com que a ATS trocasse Winkelhock por Berger como piloto principal e o austríaco fez todo o resto da temporada sem repetir o bom desempenho de Monza. Quando a ATS perdeu seu contrato com a BMW no final de 1984, a equipe fechou suas portas, mas a montadora bávara não deixaria Berger na mão e o pôs na Arrows, que tinha acabado de conseguir um contrato com a BMW. No entanto, uma tragédia quase pôs tudo a perder. Uma semana após a última corrida na F1, no Estoril, Berger foi a sua casa pegar um macacão e levá-lo ao seu escritório. A distância era tão curta que Gerhard não se lembrou de colocar o cinto de segurança e quando estava cruzando uma ponta com sua BMW, Berger foi atingido por outro carro. A BMW de Berger acabou caindo da ponte e capotando várias vezes e como estava sem cinto, Gerhard acabou sendo jogado para fora do carro pela janela traseira. Berger tinha quebrado duas vértebras em seu pescoço. A sorte do austríaco foi que os primeiros a chegarem ao local do acidente foram dois médicos, que estavam retornando de uma conferência em Munique sobre acidentes automobilísticos e ferimentos no pescoço. Gerhard foi levado ao hospital de helicóptero e lhe foi oferecido duas opções: uma operação altamente perigosa, mas que lhe garantiria total recuperação em alguns meses, ou ficar seis meses com um gesso no pescoço. Berger selecionou a primeira e numa recuperação milagrosa, o austríaco se recuperou a tempo de disputar a primeira corrida da temporada de 1985 pela Arrows.

A equipe Arrows vinha de uma temporada difícil em 1984 e Berger teve muitas dificuldades no início do ano, mas o austríaco foi desenvolvendo sua pilotagem ao carro e ele acabaria marcando seus primeiros pontos na F1 com um quinto lugar no Grande Prêmio da África do Sul, penúltima etapa do ano, conseguindo outro pontinho na corrida seguinte na Austrália. Sentindo que podia dar algo melhor ao seu pupilo, a BMW colocou Berger na Benetton em 1986, uma equipe em ascensão e bem mais estruturada que a Arrows. O austríaco teria como companheiro de equipe o já veterano Téo Fabi, mas o italiano não seria páreo a Berger. Com uma pilotagem agressiva, muitas vezes Gerhard se metia entre os quatro grandes daquela temporada (Prost, Piquet, Mansell e Senna). Após dois 6º lugares nas duas primeiras corridas do ano, Berger conseguiu seu primeiro pódio com um 3º lugar em San Marino. Na etapa seguinte, usando a potência do motor BMW, Berger larga na primeira fila em Spa, perdendo a pole para Piquet após ter dominado o primeiro dia de treinos na pista belga. No entanto, uma largada atrapalhada o fez bater com Prost ainda na primeira curva, acabando com os sonhos de um bom resultado. Correndo em casa, Berger teria, pela primeira vez na carreira, toda a torcida a seu favor, mas fica decepcionado quando perdeu a pole para seu companheiro de equipe Fabi, porém Berger toma a liderança do italiano ainda na primeira volta e a dupla da Benetton dominou a corrida até ambos os carros terem problemas mecânicos. Berger entrou nos boxes na liderança, mas perdeu duas voltas nos pits e acabou em sétimo, ainda tendo tempo de marcar a melhor volta da corrida. Porém, os esforços de Berger seriam recompensados mais tarde.
Gerhard chegou à Cidade do México gripado e como um mero coadjuvante na ferrenha disputa pelo título entre Mansell, Piquet e Prost. Largando na segunda fila, Berger usaria a estratégia para superar seus adversários e com a Pirelli se adaptando maravilhosamente bem ao ondulado circuito Hermano Rodriguez, Gerhard via todos os pilotos à sua frente tendo problemas com os pneus, enquanto ele permanecia na pista sem previsão de parada. Berger assumiu a liderança do Grande Prêmio do México ainda na sua metade e com uma atuação inesquecível, Gerhard vencia sua primeira corrida na F1, dando a Benetton também a sua primeira vitória. Essa conquista colocava Berger definitivamente como um dos grandes pilotos da época e mesmo ainda ligado a BMW, Gerhard procurava oportunidades melhores na carreira. A Ferrari era conhecida pelo seu caos administrativo e Michele Alboreto parecia não ter culhões suficientes para se manter na linha de frente pela batalha por um título, como comprovado em 1985. Como Stefan Johansson tinha sido um piloto apenas regular em 1986, ele seria substituído por Berger a partir de 1987. Última contratação abençoada por Enzo Ferrari, Berger chegou a Fiorano em meados de 1986 escondido para assinar seu contrato com a equipe italiana e conhecer o comendador, na época já bastante doente. Numa ascensão contínua, Berger, em duas temporadas completas, chegava a uma equipe de ponta na F1.

A Ferrari estava confiante para 1987, principalmente com a chegada do projetista John Barnard, pai do McLaren MP4/2 que dominou a F1 nos anos 80. No entanto, demonstrando a crise administrativa da Ferrari naquela época, a equipe de Maranello teve que financiar duas bases, uma na Itália e outro na Inglaterra, já que Barnard declarou que odiava a Itália e preferiu ficar na ilha. A temporada começou com a Ferrari ainda tentando seu “Renascimento”, mas a equipe pecou pela inconfiabilidade e Berger só completou quatro das onze primeiras corridas, terminando em todas as oportunidades em quarto lugar, mas a Ferrari começava a se aproximar de McLaren e Williams, as equipes que dominavam na época, no final da temporada e no Estoril Berger conseguiu sua primeira pole na carreira. Gerhard vinha em ótima fase e liderou a maior parte da corrida portuguesa, mas Alain Prost se aproximou do ferrarista no final da prova e Berger acabou rodando sozinho, sucumbindo a pressão do francês, que conquistava sua 28º vitória na carreira, quebrando o recorde de vitórias na época. Porém, o melhor ainda estava por vir. Com seis corridas consecutivas largando entre os três primeiros, Berger dominou as duas últimas corridas do ano, no Japão e na Austrália, liderando 132 das 133 voltas das duas provas. Essa ótima fase automaticamente tornou Berger um dos favoritos ao título do Mundial de Pilotos em 1988 e os ótimos treinos de inverno da Ferrari fizeram o título do austríaco uma mera formalidade. Pura ilusão. A McLaren constrói um dos melhores carros da história e a Honda tinha o melhor motor da F1. Juntando com o talento de Ayrton Senna e Alain Prost, a equipe de Ron Dennis dominou a temporada vencendo 15 das 16 corridas daquela temporada.

A Ferrari F187/88C se provou problemática e o motor da Ferrari mostrava problemas de consumo. Contudo, Berger se aproveitou do único erro da McLaren naquela temporada e liderou uma emocionante dobradinha em Monza, no Grande Prêmio da Itália, apenas algumas semanas após a morte de Enzo Ferrari. A quebra do motor de Prost e o acidente de besta de Senna com um retardatário faltando duas voltas foram uma prova de que a alma de Enzo estava presente naquele dia, segundo os fanáticos ferraristas. No Grande Prêmio da Austrália, Berger liderava a corrida até atingir a traseira do retardatário René Arnoux. Conta a lenda que Berger e a Ferrari sabiam que não tinham como enfrentar a McLaren e por isso acertaram um carro super rápido para a corrida, mas pouco resistente. Quando Berger ultrapassou Senna e Prost, o próprio austríaco sabia que dificilmente chegaria ao fim, mas quando viu Arnoux, notório piloto difícil de ser ultrapassado, Berger viu uma chance de abandonar a corrida sem uma quebra mecânica e por isso tentou colocar uma volta no francês numa manobra muito otimista, para dizer o mínimo. O resultado foi o toque que tirou ambos da corrida e um Berger tranqüilo demais para quem havia acabado de perder a liderança de uma corrida por um retardatário...

Após duas temporadas ao lado de Michele Alboreto, que já se mostrava decadente no final da década de 80, Berger ganharia um novo companheiro de equipe em 1989: o agressivo Nigel Mansell. O inglês chegava como a estrela da equipe, mas Berger tratava de manter o Leão no seu devido lugar. No Grande Prêmio do Brasil daquele ano, Berger largou à frente de Mansell, mas um famoso acidente na primeira curva com Senna pôs tudo a perder. Na corrida seguinte, Berger vinha em quinto no Grande Prêmio de San Marino quando sofreu o maior susto da sua vida. Na rápida curva Tamburello, Berger saiu reto a mais 280 km/h e bateu de lado no muro, mas com 200l de combustível, a Ferrari rapidamente se tornou uma pira de fogo. Os bombeiros apagaram as chamas em menos de 16s, mas o clima de velório se abateu no circuito de Ímola. Para surpresa de todos, Berger não estava seriamente ferido, apenas com pequenas queimaduras nas mãos e uma costela quebrada. Se aproveitando do revolucionário câmbio semi-automático da Ferrari (sendo usado por todas as equipes nos dias de hoje), Berger perde apenas uma corrida. Porém, o mesmo câmbio que o fez voltar rapidamente às pistas foi o grande calcanhar de Aquiles de Berger, pois a novidade quebrava demais, a ponto de Gerhard ficar as dez primeiras corrida de 1989 sem conseguir completar uma corrida. Apenas em sua segunda prova em que recebeu a bandeirada, Berger consegue sua única vitória naquele ano, no famoso Grande Prêmio de Portugal, onde Senna e Mansell bateram quando o inglês já estava desclassificado por ter dado uma ré nos boxes. Mesmo com esse triunfo, Berger anunciou que estava indo para a McLaren em 1990, no lugar de Alain Prost.
Senna havia mostrado que era um piloto difícil de conviver, mas o extrovertido Gerhard Berger acabou sendo a antítese perfeita entre eles, alimentando uma grande amizade. As brincadeiras entre ambos se tornaram lendárias. Enquanto se aproximavam de Monza de helicóptero, Senna mostrou a Berger sua nova maleta, feito de fibra de carbono e dito pelo próprio Senna como indestrutível. Berger resolveu experimentar se isso era mesmo verdade ao abrir a porta do helicóptero e jogar a mala do amigo. Em outra ocasião, Berger encheu o quarto de hotel de Senna na Austrália de rãs gigantes, ao qual Senna teve que sair catando os bichos por uma hora. Enfurecido, Senna foi atrás de Berger, que saiu com essa. “Você achou a cobra?” No dia seguinte, Senna colocou um queijo francês podre no ar condicionado do austríaco. Essas brincadeiras envolviam até mesmo os amigos de ambos, com Galvão Bueno sendo cúmplice de uma peça de Senna, que encheu os únicos sapatos de Berger com manteiga, com o austríaco tendo que ir a um jantar de luxo de tênis. A retaliação de Berger não seria com Senna e Galvão, vez ou outra, conta isso nas transmissões das corridas de F1 pela Globo. “José Leberer, nutricionista de Berger, me ofereceu um suco de laranja uma hora antes do Grande Prêmio do Japão de 1990, mas desconfiei e não aceitei. Foi minha sorte. Soube depois que Berger esmagou quatro comprimidos para dormir no suco e mandou para mim. Eu iria desmaiar na corrida que daria o segundo título a Senna.” A forte ligação entre Senna e Berger permaneceu além da morte do brasileiro em 1994, com Berger se tornando conselheiro de Bruno Senna, sobrinho do tricampeão, anos mais tarde. Berger nunca esqueceria Senna, se tornando um grande amigo dos brasileiros que freqüentavam o paddock, onde ficou conhecido como Geraldo. Quando lembrava de Senna, Berger costumava falar assim do amigo. “Ele me ensinou muito sobre o nosso esporte e eu lhe ensinei a rir.”
A expectativa de Berger na McLaren era muito boa e logo em sua estréia pela McLaren, o austríaco marcou a pole, superando Senna em algo que o brasileiro era um verdadeiro mestre. Mas provando como seria sua passagem pela equipe de Ron Dennis, Berger erra sozinho e bate no muro, ao apertar o acelerador e o freio ao mesmo. Muito alto para os padrões da F1, Berger reclamava bastante de falta de espaço dentro do carro, mas na verdade ele foi massacrado por Senna. O melhor momento de Berger em 1990 foi no Grande Prêmio do Canadá, quando recebeu a bandeirada primeiro, mas como tinha queimado a largada, ele perdeu um minuto e caiu para quarto. Definitivamente relegado a segundo piloto, Berger foi um coadjuvante na caminhada de Senna rumo ao tricampeonato. Num campeonato cheio de percalços, Gerhard acabou marcando poucos bons resultados em 1991, mas seu esforço em ajudar Senna seria recompensado no Grande Prêmio do Japão daquele ano. Com Senna já com o título nas mãos, Ron Dennis pede ao brasileiro que deixe Berger e vencer aquela corrida. Senna reluta, mas acaba reconhecendo o que Berger havia feito naquele ano e acaba cedendo a vitória para Gerhard na linha de chegada, numa das grandes (e menos faladas) marmeladas da história da F1. Contudo, esse seria o fim do domínio de quase dez anos da McLaren. A Williams já dava mostras ainda em 1991 que era uma séria ameaça para o biênio Senna-McLaren e o modelo FW14, chamado de Senna de “carro de outro planeta”, dominou os próximos dois anos na F1, com a McLaren praticamente impotente vendo seu império cair. Com as atenções totalmente focadas em Senna, Berger tratava de marcar o maior número de pontos possíveis e isso fez com que ele ficasse apenas um ponto atrás de Senna no campeonato de 1992. De forma surpreendente, Berger ainda venceria duas corridas, no Canadá e na Austrália, quando as duas Williams e Senna já haviam abandonado e em ambas as provas, o austríaco teve que enfrentar um jovem chamado Michael Schumacher.

Mesmo sendo amigo de Senna, Berger sabia que dificilmente teria as atenções da McLaren e após o Grande Prêmio da Bélgica de 1992, o austríaco anuncia que ele voltaria a Ferrari em 1993. Na época, foi noticiado que Berger teria o maior salário da F1 e por isso a tarefa de Berger era ingrata, pois teria a missão de derrotar Alesi, o queridinho dos tifosi, e ainda fazer a Ferrari andar novamente bem, pois a última vitória já completava mais de três anos. A suspensão ativa era moda no começo da década de 90 e por isso a Ferrari introduziu a novidade em 1993, mas isso tornou o carro bastante difícil de guiar e Berger passou a maior parte do ano brigando por posições intermediárias. O austríaco ainda se viu envolvido em dois acidentes curiosos. Na primeira curva de Interlagos, Gerhard se estranhou com Michael Andretti e o americano chegou a bater na cabeça de Berger, mas ele não sofreu maiores lesões. Em Portugal, Berger sofre um forte acidente quando... saía dos boxes! Isso mostrava bem como a fase de Berger já não era boa e o cenário não seria muito melhor em 1994. Tendo que enfrentar uma série de tragédias, Berger viu de dentro da pista a morte do compatriota Roland Ratzenberger, com quem iniciava uma boa amizade, a morte do eterno amigo Ayrton Senna e o forte acidente de Karl Wendlinger, cujo pai Berger chegou a correr no final da década de 80. Muitos apontaram que Berger abandonaria a sua carreira, mas uma emocionante entrevista após Ímola/94 pôs fim todas as dúvidas de que isso aconteceria em curto prazo. Provando que ainda tinha lenha para queimar, Berger acabou com o jejum de quatro anos sem vitória da Ferrari no Grande Prêmio da Alemanha de 1994.

Com a F1 sendo dominada pelos motores Renault, tudo o que Berger poderia fazer era tentar conseguir o maior número de pontos possíveis com sua Ferrari e assim o austríaco fez, com seis pódios e vários pontos conquistados no Mundial de 1995. Foi uma temporada forte de Gerhard, mas ele passou longe da disputa pelo título, mas ele sofreria um enorme susto num acidente muito parecido com o de Massa. Durante o Grande Prêmio da Itália, Berger perseguia de perto o seu amigo Jean Alesi quando a micro-câmera que estava na asa traseira do francês se soltou e atingiu a suspensão dianteira do carro de Berger. O austríaco disse que viu a câmera se soltando e esperou pelo pior. Quando Jean Todt entrou na Ferrari no verão de 1993, Berger passou a ser um dos seus maiores apoiadores nos momentos difíceis do novo dirigente, mas o francês não via Berger como um potencial campeão do mundo e iniciou negociações com Michael Schumacher, notadamente o melhor piloto da época. Quando o contrato milionário foi assinado, Berger foi chamado por Todt para ficar na Ferrari, mas Berger não confiava no novo motor V10 e provavelmente sabia que seria apenas o segundo piloto do alemão. Já contando com 36 anos de idade, pouquíssimas pessoas ainda acreditavam que Berger poderia correr em alto nível, por isso foi uma grande surpresa ver o austríaco substituindo o próprio Schumacher na Benetton, equipe na qual obteve um enorme sucesso dez anos antes.

Novamente ao lado de Jean Alesi, Berger teve sua alta estatura como grande obstáculo, com o seu capacete atrapalhando o fluxo para o air box do carro e o austríaco tinha que ficar com a cabeça inclinada nas retas, mas ainda assim ele levava bastante desvantagem para Alesi nas retas. Mesmo com o mesmo motor Renault da campeã Williams, a Benetton esteve longe de brigar pelo título, como nos últimos anos, e Berger ainda teve que aturar as cobranças exageradas de Flavio Briatore. O único bom momento do austríaco em 1996 acabou sendo em Hockenheim, sua pista favorita, quando abandonou a poucas voltas para o final quando liderava. Mesmo com uma temporada relativamente ruim, Berger continuou na F1 em 1997 e a Benetton inicou o ano relativamente bem, com Gerhard conseguindo um segundo lugar no Brasil, mas a equipe perde rendimento e para piorar, Berger tem complicações após uma cirurgia de sinusite e perde algumas corridas no meio da temporada. Poucos dias antes do Grande Prêmio da Alemanha, corrida que marcava sua volta às pistas, Berger recebe com muita tristeza a notícia da morte do seu pai, num acidente de avião. De opositor, Hans Berger se tornou um grande apoiador da carreira do filho e muitos pensaram que Gerhard não correria novamente, mas mostrando muita força de vontade e profissionalismo, Berger não apenas vai a Hockenheim, como domina amplamente o final de semana, conquistando a pole e uma vitória esmagadora. Essa seria sua última grande atuação no ano. Com 38 anos de idade, Berger anuncia um pouco antes da corrida final em Jerez que estava abandonando a F1 no final daquela temporada. Extremamente popular, por muito pouco Berger não ficava conseguia um pódio na linha de chegada, com Jacques Villeneuve, o 3º, já comemorando o título e diminuindo o ritmo, chegando milésimos de segundo à frente de Gerhard. Aquele 4º lugar foram os últimos pontos de Gerhard Berger na F1, que ainda tinha a incrível marca de 210 Grandes Prêmios, 10 vitórias, 12 poles, 21 melhores voltas, 48 pódios e 385 pontos.

Berger ainda recebeu convites para voltar a F1 em 1998, mas ele tinha algo diferente em mente. Desde 1997 a BMW planejava retornar a F1 e voltando aos bons tempos, Berger se juntou a montadora bávara para supervisionar a parceira entre a BMW e a Williams, iniciada no ano 2000. Contudo, alguns atritos com Mario Theissen fizeram com que Berger abandonasse a BMW no final de 2003 sem conquistar o sonhado título, apesar de Gerhard ter chefiado a equipe na famosa vitória da montadora nas 24h de Le Mans de 1999. Sempre presente no paddock da F1, Berger surpreendeu novamente quando adquiriu 50% da Toro Rosso em fevereiro de 2006, com a outra metade ficando com a Red Bull, do seu amigo Dietrich Mateschitz. A equipe nada mais era que a antiga Minardi e as dificuldades iniciais foram enormes, mas Berger teve a sorte de encontrar o fenômeno Sebastian Vettel em 2008 e o resultado foi uma emocionante vitória no Grande Prêmio da Itália. Com a crise mundial, Berger vendeu sua parte novamente a Mateschitz em novembro de 2008 e hoje acompanha de perto a F1 apenas como expectador. Foram 14 temporadas na F1, onde Berger mostrou brilhos fugazes e momentos de pura inanição, onde o austríaco nunca foi o mesmo piloto promissor de antes, principalmente após o seu acidente em 1989, quando se tornou um piloto mais cerebral e menos espetacular. Contudo, Gerhard se mostrou uma figura sensacional fora das pistas e por isso ele nunca será esquecido pelos fãs da F1, seja pelo que fazia dentro das pistas, como fora, principalmente ao lado do eterno parceiro Ayrton Senna.

Parabéns!
Gerhard Berger

Um comentário:

Ron Groo disse...

Se tem um sujeito ao qual nunca prestei atenção e nunca achei nada de mais é o Berger.
Sei lá... É como se nem existisse...