O circo da F1 chegava à Zanvoort para a reta final da temporada de 1979 com a calculadora na mão e sem entender muito bem como um regulamento poderia punir a equipe Williams e seus pilotos, que haviam vencido as três últimas corridas, e estavam praticamente fora da briga pelo título. Jody Scheckter tinha sido um piloto extremamente regular ao longo do ano e isso praticamente lhe entregava o título daquele ano, pois a Ligier, principal rival da Ferrari no início do ano, tinha sofrido uma queda de desempenho na metade final, enquanto a Williams, a então força dominante na F1, tinha feito uma primeira metade de temporada sofrível. A Ferrari marcou pontos com seus dois pilotos com regularidade em praticamente todas as corridas e Scheckter tinha apenas Gilles Villeneuve como principal rival, sendo que o canadense era claramente o piloto número dois na equipe de Maranello.
Sabendo que precisava vencer para manter suas remotas chances de títulos, Alan Jones mostrava a ótima fase da Williams e brigou contra os Renaults pela pole, mas o turbo acabaria sendo decisivo para os carros franceses na longa reta dos boxes e René Arnoux, já mostrando uma ótima velocidade nos treinos, conseguia sua segunda pole na carreira, com Jones completando a primeira fila. A segunda fila também tinham carros da Williams e da Renault, enquanto a Ferrari ocupava toda a terceira fila, com Laffite corroborando com o declínio da Ligier, ficando apenas em sétimo. Nelson Piquet largava apenas em décimo primeiro.
Grid:
1) Arnoux (Renault) - 1:15.461
2) Jones (Williams) - 1:15.646
3) Regazzoni (Williams) - 1:16.228
4) Jabouille (Renault) - 1:16.304
5) Scheckter (Ferrari) - 1:16.392
6) Villeneuve (Ferrari) - 1:16.939
7) Laffite (Ligier) - 1:17.129
8) Rosberg (Wolf) - 1:17.280
9) Lauda (Brabham) - 1:17.495
10) Pironi (Tyrrell) - 1:17.625
O dia 26 de agosto de 1979 estava claro ao redor das dunas do circuito de Zandvoort e a corrida poderia acontecer sem grandes preocupações com o clima. Logo na largada, Gilles Villeneuve mostrava a que vinha e antes da primeira curva, já vinha lado a lado com Regazzoni, Jabouille e Arnoux, com Jones à frente dos quatro. A reta de Zandvoort era bastante larga, mas o aproximação para a lendária curva Tarzan era estreita e o funil poderia causar problemas. Foi o que aconteceu. Na freada, Regazzoni ficou extremido entre o muro e Arnoux e o toque entre ambos foi inevitável, com o suíço da Williams perdendo a roda dianteira esquerda e Arnoux quebrando sua suspensão traseira. Vindo por fora, Villeneuve pulava de sexto para segundo, colado em Jones!
Com todos esses problemas, Jones liderava à frente de Villeneuve, com ambos já se distanciando de Jabouille e Pironi, que também havia feito uma ótima largada e havia pulado de décimo para quarto na largada. Logo fica claro que a corrida seria decidida entre Jones e Villeneuve, com ambos já se distanciando do 3º colocado Jabouille e os três já bem distantes dos demais. Apesar de Villeneuve ainda estar na sua segunda temporada completa na F1, o franco-canadense já era muito respeitado pelos seus pares e sua agressividade era inerente até mesmo ao truculento Alan Jones, conhecido por sua tenacidade em segurar uma posição, ainda mais a liderança. Talvez por já respeitar o que poderia fazer Villeneuve num daqueles dias, Jones não se arriscou demais quando Villeneuve o atacou na freada para a curva Tarzan no início da volta 12. Obviamente o australiano se manteve por dentro para a curva à direita, mas Villeneuve não se intimidou e mergulhou por fora. Mesmo a ponto de perder sua Ferrari, Villeneuve se segurou e completou uma das ultrapassagens mais audaciosas da história. Começa os motivos dessa corrida ter sido histórica.
Villeneuve tentou abrir uma boa diferença para Jones, mas o australiano usou o equilíbrio do seu Williams e não deixou o ferrarista ir embora. Gilles sabia que essa vitória era importante para se manter na briga pelo título, mas um problema no câmbio começou a afetar a Ferrari de Villeneuve, que se mostrava instável nas freadas, principalmente na curva Tarzan, mas foi na nova chicane na parte de trás do circuito que fez Villeneuve rodar e perder a liderança para Jones na volta 47, quando o australiano já estava colado. No entanto, como já tinha mostrado em Dijon, Villeneuve não era de desistir fácil e o canadense tentou o troco, indo para cima do australiano, mesmo com sua Ferrari toda empenada. Após voltar à pista, Villeneuve teve um pequeno furo em seu pneu traseiro direito e quando se aproximou da curva Tarzan, o canadense rodou novamente.
Fim de corrida? Não para o legendário canadense. A Ferrari de número 12 parecia ter forças especiais e após uma ré, Villeneuve voltou à pista na sua tentativa de se manter na corrida. Com o pneu traseiro totalmente destruído, Gilles tentava chegar aos boxes com três rodas, andando praticamente com a mesma velocidade que andava enquanto liderava e levava o público ao delírio, com suas derrapagens em... três rodas. Todos ficaram boquiabertos com tamanha loucura, mas o canadense só percebeu isso quando a suspensão traseira se quebrou de vez e ele levantou seu braço no final da volta. Mesmo com o carro ainda mais destruído que o normal, os mecânicos da Ferrari não pareciam se importar com a atitude até mesmo inconsequente do seu piloto. Pelo contrário. Os mecânicos comprimentavam Villeneuve por tamanha atitude de coragem e persistência. Com a saída de Villeneuve, Jones vencia pela terceira corrida consecutiva, mas como Scheckter chegou em segundo, após uma ótima corrida de recuperação, o sul-africano tinha o título praticamente nas mãos e a festa era toda da Ferrari. Não por Scheckter, virtual campeão daquela temporada, mas por Gilles Villeneuve e mais uma demonstração de loucura e habilidade. Por isso, trinta anos depois, Villeneuve ainda tem o seu lugar cativo nos corações dos tifosi. Mais atrás, o novato Nelson Piquet marcava seus primeiros pontos na F1 com um quarto lugar. E o lendário Ickx marcava seus últimos pontos.
Chegada:
1) Jones
2) Scheckter
3) Laffite
4) Piquet
5) Ickx
6) Mass
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