sábado, 12 de dezembro de 2009

História: 50 anos do Grande Prêmio dos Estados Unidos de 1959


Para a decisão do emocionante Campeonato Mundial de 1959, a F1 faria sua 'estréia' nos Estados Unidos. Aqui, vale uma pequena explicação. Para tentar validar a alcunha de 'Campeonato Mundial', a CIA, braço sportivo da FISA, incluiu no calendário da F1 desde sua primeira temporada em 1950 as 500 Milhas de Indianápolis como o Grande Prêmio dos Estados Unidos, mas nenhuma equipe de F1 se aventurava no famoso oval, com excessão de Alberto Ascari e sua Ferrari em 1952, e nem os pilotos americanos sabiam que tinham marcado pontos em um Campeonato Mundial. A F1 era um típico campeonato europeu, mas ainda nos anos 50 a categoria passou a fazer corridas em outros continentes e se globalizava aos poucos. O russo naturalizado americano Alec Ulmann planejava trazer a F1 literalmente para os Estados Unidos e escolheu o tradicional circuito de Sebring, que recebia a famosa corrida de 12h com Carros Esporte, para ser sede do verdadeiro Grande Prêmio dos Estados Unidos. Inicialmente marcado para o início do ano e ser realizado logo após a corrida de endurance, a prova em Sebring acabou sendo a última da temporada. Para sorte dos americanos.

Pela primeira vez na história da F1, um campeonato seria decidido entre três pilotos na última corrida do ano. Jack Brabham, Tony Brooks e Stirling Moss foram os protagonistas da temporada, com o australiano validando a grande novidade da F1 no momento: o carro com motor traseiro. Com seu pequeno Cooper com motor atrás do seu cockpit, Brabham tinha conseguido duas vitórias, mesmo número de triunfos do inglês Tony Brooks e sua pesada Ferrari de motor dianteiro. Brooks era considerado um dos grandes pilotos ingleses de então, mas Moss mostra sua velha classe que tinha lhe dado quatro vice-campeonatos seguidos nas quatro últimas temporadas e com duas vitórias nas duas últimas provas, entrava na briga pelo campeonato.

Para tornar a decisão do campeonato ainda mais emocionante, ao final da sessão classificatória de sábado os três postulantes ao título completavam a primeira fila, com vantagem para Moss, que usava um Cooper privado de Rob Walker. Porém, no sábado a noite, descobriu-se o tempo de 3:05.2 do americano Harry Schell, que tirava Brooks da primeira fila do grid. A Ferrari protestou junto a organização sobre a validade do tempo do piloto da Cooper, mas nada foi feito. Tempos depois, descobriu-se que Schell, grande conhecedor da pista americana pelos seus anos correndo nas 12h de Sebring, tinha cortado caminho e ganho 6s com relação ao seu verdadeiro tempo. Eram outros tempos...

Grid:
1) Moss (Cooper) - 3:00.0
2) Brabham (Cooper) - 3:03.0
3) Schell (Cooper) - 3:05.2
4) Brooks (Ferrari) - 3:05.9
5) Trintignant (Cooper) - 3:06.0
6) Von Trips (Ferrari) - 3:06.2
7) Allison (Ferrari) - 3:06.9
8) P.Hill (Ferrari) - 3:07.2
9) Ireland (Lotus) - 3:08.2
10) McLaren (Cooper) - 3:08.6

O dia 12 de dezembro de 1959 tinha um sol típico da Flórida numa época dessa do ano e o tempo estava perfeito para uma corrida de F1, apesar do calor relativamente forte. Por causa da regra dos descartes, mesmo com Brabham tendo oito pontos devantagem sobre o terceiro colocado no campeonato Brooks (31x23), quem vencesse a corrida dos três postulantes ao campeonato seria declarado campeão ao final do dia. Mesmo tendo seu companheiro de equipe Schell ao seu lado, Brabham partiu para cima de Moss na primeira curva e assumiu a ponta da largada. Muito pelo contrário, Brooks não larga tão bem e ainda é atingido na traseira pelo seu companheiro de equipe Wolfgang von Trips. Ainda na primeira volta, Moss ultrapassa Brabham e Brooks vai aos boxes verificar possíveis estragos em sua Ferrari. Após dois minutos de minuciosa averiguação, a Ferrari mandou Brooks de volta à pista, em último. Conta a lenda que Brooks, de tão nervoso e cuidadoso que era, se assustara em demasia com o toque e preferiu ter certeza de que nada tinha acontecido com seu carro, quando na verdade não tinha havido nenhum problema. Tendo perdido dois minutos nos boxes, Brooks praticamente perdeu suas chances de título ali e como sairia da Ferrari no final do ano, entraria na obscuridade, apesar de ter sido um grande piloto da época romântica da F1.

Moss aproveitava a sua boa fase no final do campeonato e tentando repetir as duas vitórias na Alemanha e na Itália, começa a abrir uma boa vantagem sobre Brabham, que tinha seu jovem companheiro de equipe Bruce McLaren, que tinha feito uma ótima largada, em terceiro. Provando que nada valia a astúcia na F1, Schell fechou a primeira volta apenas em oitavo, mostrando que o americano realmente não tinha carro para acompanhar os líderes. McLaren tinha recebido a missão de proteger Brabham toda a corrida e o neo-zelandês ficou a maior parte da prova próximo ao primeiro piloto da Cooper, primeiramente se preocupando com as Ferraris de Phil Hill e Chris Allison, que vinham em 4º e 5º. Porém, o grande problema da Cooper era justamente com Moss, que se distanciava volta após volta de Brabham. Após quatro vice-campeonatos consecutivos, parecia que finalmente Moss veria a sorte lhe sorrir, mas o destino faria o inglês entrar para a história como o maior piloto não-campeão da história da F1. Ainda na quinta volta, Moss encostou seu robusto Cooper no acostamento com o câmbio quebrado. Era o fim da corrida e do sonho de título para Moss.

Assim, Brabham assumia a liderança da corrida e tinha uma posição bastante confortável com relação ao campeonato, já que tinha McLaren em segundo funcionando como escudeiro, enquanto Brooks, único piloto que ainda podia lhe ameaçar tirar o título, fazia uma corrida espetacular de recuperação, mas ainda aparecia em 6º. A Ferrari de Cliff Allison passou boa parte da corrida em 3º, mas problemas de embreagem fizeram com o inglês abandonasse, fazendo com que Maurice Trintignant, companheiro de Moss na equipe Rob Walker, ficasse atrás da dupla oficial da Cooper, com Brooks já aparecendo em 4º. A equipe Cooper mantinha Brabham constantemente informado sobre o andamento da corrida e o australiano não se preocupou com Trintignant se aproximando rapidamente de McLaren. Na verdade, a equipe Cooper pediu para que Brabham diminuísse o seu ritmo para permitir a chegada de McLaren e fazer uma chegada cinematográfica, com os dois recebendo a bandeirada juntos. Seria o início de um drama literalmente cinematográfico.

Brabham estava tão preocupado com o ritmo forte de Moss, que mandou a equipe não encher seu tanque de gasolina, pois com um carro mais leve ele poderia acompanhar o inglês. Na última volta, com toda a equipe Cooper esperando sua dupla de pilotos receberem a bandeirada, Brabham diminui a velocidade quando faltavam 300m para a chegada. McLaren, surpreso ao ver a desaceleração Brabham, levantou o pé e diminuiu também. Brabham acenou-lhe freneticamente para que continuasse e na confusão McLaren quase perde a vitória para Trintignant, que tinha feito a volta mais rápida da corrida na tentativa de encostar na dupla da Cooper. McLaren cruzou a linha de chegada 0.6s à frente de Trintignant e se tornou, com 22 anos e 104 dias, por muitos anos o piloto mais jovem a ter vencido um Grande Prêmio, recorde que só foi superado por Fernando Alonso em 2003. Porém, atrás deles um drama se desenrolava. Vendo seu sonho se esvaindo pelos dedos, Brabham não teve dúvidas e começou a empurrar seu Cooper. Se recebesse qualquer tipo de ajuda, o australiano seria desclassificado e por isso Brabham recusou o apoio das pessoas que tentaram ajudá-lo. Quando viu Brooks receber a bandeirada em 3º, isso apenas deu forças ao australiano para continuar empurrando seu carro deibaixo do forte calor que fazia naquele dia e cruzar a linha de chegada em 4º lugar, posição suficiente para lhe dar seu primeiro título na F1. Após receber a bandeirada, Brabham desmaiou de tanto cansaço e emoção. Foi um título histórico não apenas pela forma como Brabham venceu, mas também foi o primeiro triunfo de um carro com motor traseiro, iniciando uma nova era da F1. No final de semana passado, Jack Brabham, aos 83 anos de idade e com problemas de saúde, Campeão Mundial de F1 mais velho ainda vivo, foi homenageado de forma emocionante pelos australianos numa corrida de turismo Supercars V8 em virtude dos 50 anos do seu cativante primeiro título. Uma reverência mais do que merecida para um piloto muitas pouco citado como um dos grandes da F1.

Chegada:
1) McLaren
2) Trintignant
3) Brooks
4) Brabham
5) Ireland

Um comentário:

Unknown disse...

Essa é umas das mais lindas, entre tantas belas historias do automobilismo.