quarta-feira, 10 de agosto de 2011

História: 25 anos do Grande Prêmio da Hungria de 1986

Desde o começo da década de 80 Bernie Ecclestone insistia em levar para o mundo comunista o mais capitalista dos esportes, a F1. Primeiramente negociou seriamente com os soviéticos para uma prova nas ruas de Moscou, mas o acordo acabou não dando certo e a Hungria se tornou uma segunda opção interessante. Primeiramente se tentou um circuito de rua em Budapeste, inclusive com a etapa entrando no calendário de 1985, mas resolveu-se construir um novíssimo autódromo próximo a Budapeste. O circuito de Hungaroring foi feito em tempo recorde, mas a pista era claramente travada e lenta. Conta a lenda que o projeto original tinha uma curva muito rápida e atraente, mas no meio das obras, descobriu-se um poço de águas naturais e resolveu-se construir mais uma chicane para não atrasar as obras.

De qualquer forma, a pista estava pronta para receber a F1 no começo de agosto de 1986. Na época, foi um encontro de dois mundos diferentes quando a glamorosa F1 chegou a sisuda Hungria. Contudo, não faltaram críticas ao novo circuito com seu traçado lento e estreito. Além de sujo. ‘É Monte Carlo sem os muros e os prédios bonitos’, sintetizou muito bem Martin Brundle. Nigel Mansell foi o mais rápido no primeiro dia com 1:30.516, colocando quase 1s sobre Nelson Piquet, enquanto Ayrton Senna, com cinco poles em dez corridas até então, era o terceiro colocado. Já no sábado Senna mostrou que era o ás da Classificação ao melhorar 2.8s seu tempo e ficar com a pole, trazendo Piquet consigo e fazendo uma primeira fila toda brasileira. Mansell melhora apenas meio segundo com relação ao seu tempo e fica em quarto, atrás de Prost, que melhorou impressionantes 3s com relação ao seu tempo de sexta-feira.

Grid:
1) Senna(Lotus) – 1:29.450
2) Piquet(Williams) – 1:29.785
3) Prost(McLaren) – 1:29.945
4) Mansell(Williams) – 1:30.072
5) Rosberg(Williams) – 1:30.628
6) Tambay(Lola) – 1:31.725
7) Johansson(Ferrari) – 1:31.850
8) Dumfries(Lotus) – 1:31.886
9) Arnoux(Ligier) – 1:31.970
10) Jones(Lola) – 1:32.401

O dia 10 de agosto de 1986 amanheceu com o céu limpo e mais de 200.000 pessoas lotaram o novo autódromo de Hungaroring. Era um recorde de público e os comunistas teriam uma rara chance o quanto os rivais capitalistas investiam em tecnologia automobilística. Porém, nem só de tecnologia vive a F1 e dois grandes talentos da história da categoria dariam um show inesquecível para todos que tiveram a grande oportunidade de ver a corrida inaugural atrás da cortina de ferro. Senna se mantém na frente na largada, com Nelson Piquet logo atrás e todo o longo pelotão atrás dos brasileiros. Eles seriam apenas coadjuvantes nesse dia.

Senna consegue criar uma pequena diferença nas primeiras voltas de 3s, mas logo Piquet contra-ataca e na volta 8 já estava colado na traseira da Lotus do compatriota. Nas quatro voltas seguintes, Piquet tentou ultrapassar Senna várias vezes, mas não conseguiu seu objetivo por causa do circuito apertado. Na décima segunda volta Piquet acha um pequeno espaço por dentro no final da reta dos boxes e consegue a ultrapassagem, subindo para a ponta da prova, mas Senna não desiste e fica sempre por perto. Na verdade, os húngaros estavam sendo presenteados com uma bela exibição e o terceiro colocado Mansell já estava longe dos ponteiros. Na volta 18 Senna comete um erro e perde 3s com relação a Piquet, mas o piloto da Lotus começa a marcar várias voltas rápidas para se reaproximar do rival e trás a diferença de 8 para 3s, mas logo Piquet dá o troco e a diferença sobe para 7s. Mais atrás, Prost se envolve num sórdido acidente com o eterno rival René Arnoux e acaba abandonando a corrida, o que aumentaria seu déficit no campeonato.

Lá na frente, com Piquet e Senna andando sempre muito forte, não foi surpresa vê-los indos aos boxes quando a corrida chegava a metade. Na volta 35 Piquet vai trocar seus pneus e com Senna apenas 5s atrás, o piloto da Lotus aproveitou as últimas voltas antes de fazer sua parada e disparou a fazer voltas velocíssimas, no intuito de voltar a frente de Piquet. Essa estratégia é tão antiga na F1 quanto a própria categoria, mas só passou a ser criticada na época áurea de Schumacher. Sete voltas depois de Piquet ir fazer sua parada, Senna foi aos pits e mesmo a Lotus sendo ligeiramente mais lenta que a Williams, Senna mostrou que fez o seu serviço bem feito dentro da pista e voltou 7s à frente de Piquet. Porém, Senna não voltou à pista com o carro 100% com os novos pneus e Piquet rapidamente encostou no rival. Começaria uma batalha frenética e histórica pela primeira posição na corrida inaugural húngara.

Rapidamente Piquet estava procurando uma chance de ultrapassar Senna, mas o piloto da Lotus sabia que o único local possível de se ultrapassar era no final da reta dos boxes, onde Piquet já tinha feito a ultrapassagem no começo da corrida. Piquet também sabia que só podia passar naquele local e teria que forçar a ultrapassagem se quisesse vencer seu rival, já declarado na época. Na volta 47 Piquet colocou por dentro de Senna no final da reta, mas Ayrton desta vez fecha a porta e o piloto da Williams tem que frear no limite e na sujeira, fazendo com que Piquet perdesse a tangência da curva e levasse o xis na mesma curva. Piquet fica furioso. Ele sabia que Senna era capaz de repetir esta manobra quantas vezes fossem possíveis e teria que mudar sua estratégia. Na volta 56, Piquet sai mais forte na entrada da reta dos boxes e claramente indicava que iria por dentro na curva 1. Como era esperado, Senna foi para dentro, mas numa manobra inesquecível, Piquet foi repentinamente para a esquerda e freou no limite do limite. O Williams entrou na curva de lado, enquanto Piquet controlava sua máquina, contornando o carro de um surpreendido Senna. Por isso, é bastante complicado Piquet ter feito tudo isso e ainda ter mostrado o dedo do meio para Senna no meio da manobra... O que importava era que Piquet havia completado o que para muitos é a ultrapassagem mais bonita da história da F1 e a corrida, por causa disso, já estava na história. Senna tentou ainda tirar o máximo de sua Lotus e forçou o ritmo no final, mas Piquet tinha tudo sobre controle e com três voltas para o fim, marcou a volta mais rápida da corrida. Com o limite estourado de duas horas, a primeira corrida na Hungria teve seu fim glorioso com os dois brasileiros recebendo a bandeirada. A F1 estava aceita entre os comunistas e uma das corridas mais espetaculares estava funda com a certeza que, quando dois tricampeões se encontram na pista, com uma vontade incrível de ganhar, podemos esperar somente coisas boas!

Chegada:
1) Piquet
2) Senna
3) Mansell
4) Johansson
5) Dumfries
6) Brundle

Um comentário:

Anônimo disse...

A ultrapassagem por fora de Piquet sobre Senna no final da reta dos boxes é inesquecível e fantástica na História do Automobilismo Mundial!!!