domingo, 7 de outubro de 2012

Milagres


Antes mesmo de se iniciar as atividades em Suzuka, Fernando Alonso disse que era um milagre estar na liderança do campeonato a essa altura do ano com 29 pontos de vantagem. Após a corrida no Japão, o espanhol deve estar pensando que somente um milagre de proporções bíblicas podem lhe dar o sonhado tricampeonato. Não apenas pelo abandono ainda na primeira volta, mas principalmente pelo desempenho de Sebastian Vettel ao longo das 53 voltas em Suzuka é que devem ter assustado demais Alonso e a Ferrari. O alemão venceu hoje como vencia no ano passado, quando passou 2011 passeando pelas 19 corridas do ano. Vettel venceu como e quando quis, abrindo muito para a mais próxima concorrência que, por sinal, era novidade em 2012. Felipe Massa e Kamui Kobayashi superaram um ano irregular para conquistar seus primeiros pódios no ano, sendo que o japonês ainda teve a alegria de fazer isso na frente de sua enorme torcida, que vibrou como há exatos dez anos atrás, quando Takuma Sato pontuou em Suzuka.

Suzuka, por sinal, pode ter uma pista espetacular e apreciada tanto por público e crítica, mas já faz alguns anos que não temos uma corrida boa no circuito japonês. Em 2012 está se repetindo o que houve no ano passado, quando a temporada começou com corridas espetaculares, mas no momento em que os engenheiros pegaram a mão dos pneus, as corridas se tornaram previsíveis. Assim como é previsível o domínio de Vettel quando este contorna a primeira curva na frente. Hoje o alemão da Red Bull abusou. A primeira volta em bandeira verde, Vettel já tinha 2s de vantagem sobre Kobayashi e com um carro meio segundo mais rápido do que todos, o alemão dominou a corrida como quis, sendo o carro mais rápido quando era necessário ou simplesmente quando dava na telha. Dois exemplos deste domínio apareceram quando Massa assumiu a segunda posição e era fracionalmente mais rápido. Vettel meteu quatro décimos no ferrarista como se quisesse mostrar quem manda. Outra foi quando o alemão teimava em marcar a volta mais rápida da corrida, para desespero de sua equipe, que clamava para Vettel ter cuidado. O que importa com essa vitória, porém, é que o recado está dado. A Red Bull voltou a ter um carro não apenas melhor, mas bem superior aos demais e nessa situação, Vettel é imbatível. Apenas quatro pontos o separando da liderança, ninguém pode questionar a posição de primeiro piloto do alemão da Red Bull, para desespero de Mark Webber, que não largou bem e ainda foi atingido pelo destrambelhado Romain Grosjean, que o deixou nas últimas posições nas primeiras voltas, mas o australiano ainda foi capaz, mesmo com o escapamento danificado, ser nono, mas ficando a léguas de Vettel tanto na corrida como no campeonato.

Se em Spa Alonso pôde culpar Grosjean pelo seu zero ponto, em Suzuka o espanhol não poderá fazer o mesmo com a outra Lotus, a de Raikkonen. O finlandês teve que botar duas rodas na grama, tamanha a falta de espaço deixado por Alonso na tomada da primeira curva e o toque foi inevitável, causando o furo do pneu traseiro direito e fazer Alonso rodar a escapar de um sério acidente, quando seu carro desgovernado foi em direção a pista, com o pelotão acelerando. Na hora me lembrei do acidente de Zanardi, mas Alonso teve mais sorte e não foi atingido por ninguém. Porém, suas chances de título diminuíram drasticamente, mesmo que o ritmo de Massa durante a prova tenha sido encorajador. Massa largou bem mais uma vez e teve o mérito de ter se livrado bem do acidente entre Webber e Grosjean para assumir o quarto lugar saindo de uma obscura décima posição. O brasileiro perseguiu de perto Kobayashi e Button, sendo tão rápido quanto eles e quando a velha tática de retardar um pouco a parada foi posta em prática, o brasileiro teve a sorte de Koba e Button terem voltado à pista em meio ao tráfego e tratou de acelerar para pular de quarto para segundo, ficando confortavelmente à frente dos dois e garantir o seu primeiro pódio em praticamente dois anos. Foi um grande resultado de Massa e sua renovação de contrato está próxima. Outro milagre na Ferrari, pois isso era praticamente impossível no começo do ano. A Ferrari ainda viu seus motores funcionarem muito bem na Sauber, com Kobayashi fazendo a corrida de sua vida em Suzuka, conseguindo um sólido terceiro lugar, tendo que segurar a pressão de Button nas últimas voltas, mas sem grandes sobressaltos. Sendo eclipsado o ano inteiro por Sérgio Pérez, a ponto do mexicano se transferir para a McLaren em 2013, Kobayashi finalmente conseguiu seu primeiro e perseguido pódio, podendo garanti-lo por mais um ano na F1. Já Pérez fazia uma corrida em ritmo forte, talvez o mesmo do companheiro de equipe, mas um erro bobo, quando tentou emular uma ultrapassagem em Hamilton, acabou bobamente sua prova. Erros assim numa McLaren da vida não trarão apenas justificativas como na Sauber...

Lewis Hamilton simplesmente não se encontrou e já deve estar sofrendo da síndrome de mudar de equipe em 2013. De frequentador habitual da primeira fila, Hamilton largou na quinta fila e fez uma corrida onde mais se defendeu do que atacou. Pensando unicamente em chegar, o inglês ainda foi quinto, mas muito atrás de Button, que ainda pressionou Kobayashi nas voltas finais para subir ao terceiro lugar, mas teve que se conformar mesmo com a quarta posição. A transferência de Hamilton parece ter jogado um balde de água fria na McLaren, que nem de longe repetiu as últimas ótimas atuações e mostrou também que Button, apesar de ótimo piloto, não tem o diferencial que o talento extraordinário de Hamilton. A Lotus caiu do cavalo e vê de longe a briga pela vitória, ao contrário da primeira parte do campeonato. Raikkonen permanece em terceiro no campeonato, mas o sexto lugar, pressionado pela Force India de Nico Hulkenberg, mostra bem onde a Lotus está hoje. Agora o time deveria cobrar a Total, petrolífera francesa que colocou Grosjean no cockpit aurinegro em 2012, as besteiras do francês. O erro na largada chegou a ser grosseiro e acabou com a corrida não apenas de Grosjean, como também de Webber. O stop-and-go de 10s foi pelo incidente e pelo conjunto da obra no ano. O ruim é que Grosjean é um ótimo piloto, mas suas besteiras estão começando a pesar.

A Force India confirmou a boa forma com Hulkenberg firme em sétimo, mesmo com Di Resta fora dos pontos. Parece que os jovens pilotos combinam para aparecer bem corrida sim, corrida não, enquanto o outro fica para trás. Pastor Maldonado finalmente saiu da fila e marcou pontos numa corrida sóbria, onde foi um dos poucos em que usou dois jogos de pneus macios durante a corrida. Bruno Senna teve um final de semana para esquecer, ao se envolver num acidente que a TV não mostrou com Rosberg e ser punido com isso. O brasileiro até que fez uma boa corrida de recuperação, ficando próximo da zona de pontuação, mas em sua difícil renovação de contrato, Bruno mostrava sua consistência em comparação a Maldonado. Desta vez, Senna teve um dia de Maldonado e Pastor teve um dia de Bruno. Daniel Ricciardo marcou pontos pela segunda corrida consecutiva, tendo que segurar um nitidamente mais rápido Michael Schumacher nas voltas finais. O australiano sobrejulgou Jean-Eric Vergne com alguma folga, principalmente nessas últimas provas. Saindo da última fila, Schumacher fez uma boa corrida de recuperação, chegou a pensar nos pontos, mas acabou ficando na posição de bobo, apenas uma de pontuar. Heikki Kovalainen chegou a andar no mesmo ritmo de Toro Rosso e Force India, segurando sem muitos problemas Vergne e Di Resta no começo da corrida, mas o finlandês foi perdendo rendimento nas voltas finais e acabou tendo que repetir o que já fez várias vezes esse ano: ser o melhor dentre as pequenas.

O ritmo de Sebastian Vettel nessa reta final de campeonato lembra muito a sua primeira conquista em 2010, donde engrenou uma ótima sequencia nas provas finais para se sagrar campeão. Vettel hoje tem o melhor carro, enquanto Alonso tem que se virar nas corridas finais com um carro claramente inferior nas mãos e apenas quatro pontos de vantagem faltando ainda cinco corridas para o fim. 2012 coroará um novo tricampeão, mas este deverá falar alemão.

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