Antes mesmo de se iniciar as atividades em Suzuka, Fernando
Alonso disse que era um milagre estar na liderança do campeonato a essa altura
do ano com 29 pontos de vantagem. Após a corrida no Japão, o espanhol deve
estar pensando que somente um milagre de proporções bíblicas podem lhe dar o
sonhado tricampeonato. Não apenas pelo abandono ainda na primeira volta, mas
principalmente pelo desempenho de Sebastian Vettel ao longo das 53 voltas em
Suzuka é que devem ter assustado demais Alonso e a Ferrari. O alemão venceu
hoje como vencia no ano passado, quando passou 2011 passeando pelas 19 corridas
do ano. Vettel venceu como e quando quis, abrindo muito para a mais próxima
concorrência que, por sinal, era novidade em 2012. Felipe Massa e Kamui
Kobayashi superaram um ano irregular para conquistar seus primeiros pódios no
ano, sendo que o japonês ainda teve a alegria de fazer isso na frente de sua
enorme torcida, que vibrou como há exatos dez anos atrás, quando Takuma Sato
pontuou em Suzuka.
Suzuka, por sinal, pode ter uma pista espetacular e
apreciada tanto por público e crítica, mas já faz alguns anos que não temos uma
corrida boa no circuito japonês. Em 2012 está se repetindo o que houve no ano
passado, quando a temporada começou com corridas espetaculares, mas no momento
em que os engenheiros pegaram a mão dos pneus, as corridas se tornaram
previsíveis. Assim como é previsível o domínio de Vettel quando este contorna a
primeira curva na frente. Hoje o alemão da Red Bull abusou. A primeira volta em
bandeira verde, Vettel já tinha 2s de vantagem sobre Kobayashi e com um carro
meio segundo mais rápido do que todos, o alemão dominou a corrida como quis,
sendo o carro mais rápido quando era necessário ou simplesmente quando dava na
telha. Dois exemplos deste domínio apareceram quando Massa assumiu a segunda
posição e era fracionalmente mais rápido. Vettel meteu quatro décimos no
ferrarista como se quisesse mostrar quem manda. Outra foi quando o alemão
teimava em marcar a volta mais rápida da corrida, para desespero de sua equipe,
que clamava para Vettel ter cuidado. O que importa com essa vitória, porém, é
que o recado está dado. A Red Bull voltou a ter um carro não apenas melhor, mas
bem superior aos demais e nessa situação, Vettel é imbatível. Apenas quatro
pontos o separando da liderança, ninguém pode questionar a posição de primeiro
piloto do alemão da Red Bull, para desespero de Mark Webber, que não largou bem
e ainda foi atingido pelo destrambelhado Romain Grosjean, que o deixou nas
últimas posições nas primeiras voltas, mas o australiano ainda foi capaz, mesmo
com o escapamento danificado, ser nono, mas ficando a léguas de Vettel tanto na
corrida como no campeonato.
Se em Spa Alonso pôde culpar Grosjean pelo seu zero ponto,
em Suzuka o espanhol não poderá fazer o mesmo com a outra Lotus, a de
Raikkonen. O finlandês teve que botar duas rodas na grama, tamanha a falta de
espaço deixado por Alonso na tomada da primeira curva e o toque foi inevitável,
causando o furo do pneu traseiro direito e fazer Alonso rodar a escapar de um
sério acidente, quando seu carro desgovernado foi em direção a pista, com o
pelotão acelerando. Na hora me lembrei do acidente de Zanardi, mas Alonso teve
mais sorte e não foi atingido por ninguém. Porém, suas chances de título
diminuíram drasticamente, mesmo que o ritmo de Massa durante a prova tenha sido
encorajador. Massa largou bem mais uma vez e teve o mérito de ter se livrado
bem do acidente entre Webber e Grosjean para assumir o quarto lugar saindo de
uma obscura décima posição. O brasileiro perseguiu de perto Kobayashi e Button,
sendo tão rápido quanto eles e quando a velha tática de retardar um pouco a parada
foi posta em prática, o brasileiro teve a sorte de Koba e Button terem voltado
à pista em meio ao tráfego e tratou de acelerar para pular de quarto para
segundo, ficando confortavelmente à frente dos dois e garantir o seu primeiro
pódio em praticamente dois anos. Foi um grande resultado de Massa e sua
renovação de contrato está próxima. Outro milagre na Ferrari, pois isso era
praticamente impossível no começo do ano. A Ferrari ainda viu seus motores
funcionarem muito bem na Sauber, com Kobayashi fazendo a corrida de sua vida em
Suzuka, conseguindo um sólido terceiro lugar, tendo que segurar a pressão de
Button nas últimas voltas, mas sem grandes sobressaltos. Sendo eclipsado o ano
inteiro por Sérgio Pérez, a ponto do mexicano se transferir para a McLaren em
2013, Kobayashi finalmente conseguiu seu primeiro e perseguido pódio, podendo
garanti-lo por mais um ano na F1. Já Pérez fazia uma corrida em ritmo forte,
talvez o mesmo do companheiro de equipe, mas um erro bobo, quando tentou emular
uma ultrapassagem em Hamilton, acabou bobamente sua prova. Erros assim numa
McLaren da vida não trarão apenas justificativas como na Sauber...
Lewis Hamilton simplesmente não se encontrou e já deve estar
sofrendo da síndrome de mudar de equipe em 2013. De frequentador habitual da
primeira fila, Hamilton largou na quinta fila e fez uma corrida onde mais se
defendeu do que atacou. Pensando unicamente em chegar, o inglês ainda foi
quinto, mas muito atrás de Button, que ainda pressionou Kobayashi nas voltas
finais para subir ao terceiro lugar, mas teve que se conformar mesmo com a
quarta posição. A transferência de Hamilton parece ter jogado um balde de água
fria na McLaren, que nem de longe repetiu as últimas ótimas atuações e mostrou
também que Button, apesar de ótimo piloto, não tem o diferencial que o talento
extraordinário de Hamilton. A Lotus caiu do cavalo e vê de longe a briga pela
vitória, ao contrário da primeira parte do campeonato. Raikkonen permanece em
terceiro no campeonato, mas o sexto lugar, pressionado pela Force India de Nico
Hulkenberg, mostra bem onde a Lotus está hoje. Agora o time deveria cobrar a
Total, petrolífera francesa que colocou Grosjean no cockpit aurinegro em 2012,
as besteiras do francês. O erro na largada chegou a ser grosseiro e acabou com
a corrida não apenas de Grosjean, como também de Webber. O stop-and-go de 10s
foi pelo incidente e pelo conjunto da obra no ano. O ruim é que Grosjean é um
ótimo piloto, mas suas besteiras estão começando a pesar.
A Force India confirmou a boa forma com Hulkenberg firme em
sétimo, mesmo com Di Resta fora dos pontos. Parece que os jovens pilotos
combinam para aparecer bem corrida sim, corrida não, enquanto o outro fica para
trás. Pastor Maldonado finalmente saiu da fila e marcou pontos numa corrida
sóbria, onde foi um dos poucos em que usou dois jogos de pneus macios durante a
corrida. Bruno Senna teve um final de semana para esquecer, ao se envolver num
acidente que a TV não mostrou com Rosberg e ser punido com isso. O brasileiro
até que fez uma boa corrida de recuperação, ficando próximo da zona de
pontuação, mas em sua difícil renovação de contrato, Bruno mostrava sua
consistência em comparação a Maldonado. Desta vez, Senna teve um dia de Maldonado
e Pastor teve um dia de Bruno. Daniel Ricciardo marcou pontos pela segunda
corrida consecutiva, tendo que segurar um nitidamente mais rápido Michael
Schumacher nas voltas finais. O australiano sobrejulgou Jean-Eric Vergne com
alguma folga, principalmente nessas últimas provas. Saindo da última fila,
Schumacher fez uma boa corrida de recuperação, chegou a pensar nos pontos, mas
acabou ficando na posição de bobo, apenas uma de pontuar. Heikki Kovalainen
chegou a andar no mesmo ritmo de Toro Rosso e Force India, segurando sem muitos
problemas Vergne e Di Resta no começo da corrida, mas o finlandês foi perdendo
rendimento nas voltas finais e acabou tendo que repetir o que já fez várias
vezes esse ano: ser o melhor dentre as pequenas.
O ritmo de Sebastian Vettel nessa reta final de campeonato
lembra muito a sua primeira conquista em 2010, donde engrenou uma ótima
sequencia nas provas finais para se sagrar campeão. Vettel hoje tem o melhor
carro, enquanto Alonso tem que se virar nas corridas finais com um carro
claramente inferior nas mãos e apenas quatro pontos de vantagem faltando ainda
cinco corridas para o fim. 2012 coroará um novo tricampeão, mas este deverá
falar alemão.
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