domingo, 12 de outubro de 2014

Monotonia russa

A dobradinha da Mercedes não veio com a facilidade esperada, mas veio. O Mundial de Construtores, nas mãos da montadora alemã desde praticamente a primeira corrida, foi garantido matematicamente hoje em Sochi. Porém, nem toda a alegria da Mercedes poderá dispersar os longos bocejos dados pela primeira corrida de F1 na Rússia neste domingo. Numa corrida onde praticamente nada de anormal aconteceu, os quatro primeiros do grid de ontem terminaram nas mesmas posições hoje. Hamilton não tem nada com isso e com o triunfo de hoje, empatou com Nigel Mansell como o inglês com o maior número de vitórias na história da F1 e no embalo que Lewis está vindo para as provas finais, Hamilton não apenas desempatará com Nigel, como se garante como grande favorito ao título deste ano.

O momento mais emocionante do domingo na F1 foi justamente antes da largada, com as homenagens dos pilotos à Jules Bianchi numa bela cena em que todos os pilotos do grid, incluindo também os reservas, se abraçaram numa espécia de prece para o francês, que luta pela vida no Japão. Quando as cinco luzes vermelhas apagaram, Hamilton saiu melhor para a freada da curva 2, mas Nico Rosberg sabia que vencer em Sochi seria substancial para o seu campeonato, além de quebrar a longa sequencia de Hamilton nas últimas corridas. Rosberg conseguiu colocar por dentro de Hamilton, que ainda fez uma tardia tentativa de defesa, mas era tarde demais. Rosberg sabia que Hamilton tentaria tudo na freada e por isso deixou para frear no limite do limite da curva. Contudo, as coisas saíram um pouco do controle para o alemão, que fritou praticamente as quatro rodas e ainda saiu da pista, sendo obrigado a ceder a primeira posição para Hamilton, além de ter seu carro vibrando feito um liquidificador devido aos pneus destruídos pela freada forte. Sem ter muito o que fazer, Rosberg foi aos boxes colocar os pneus médios e tentar uma corrida de recuperação onde não pararia mais até o final. Sem seu maior rival no seu espelho retrovisor, Lewis Hamilton fez o que os ingleses chamam de 'sunday drive', onde dominou por completo o Grande Prêmio da Rússia, vencendo com imensa tranquilidade. Já Rosberg completou seu plano com facilidade graças ao pouquíssimo desgaste de pneus em Sochi. Mesmo precisando ultrapassar vários carros, Nico Rosberg não precisou forçar seus pneus no limite e quando os carros do primeiro pelotão foram parando, o alemão foi ganhando as posições correspondentes. Os únicos que saíram à frente de Nico foram Hamilton, este inalcançável, e Bottas. Porém, mesmo com o finlandês com pneus novos, Rosberg não perdeu muito tempo para ultrapassar o piloto da Williams e controlar a sua corrida até o fim, sem sequer perder muito rendimento no final da corrida, algo esperado para quem trocou seus pneus no final da primeira volta. Mesmo com a segunda posição após uma corrida complicada, Rosberg está numa situação delicada no campeonato. Apesar da diferença para Hamilton não ser muito grande, lembrando que a última corrida terá pontuação dobrada, o momento é todo do inglês e mesmo Nico sendo um piloto ardiloso, está difícil quebrar o ótimo ritmo de Hamilton nessa reta final de campeonato.

Bottas fez uma corrida tranquila, onde perdeu o segundo lugar que ocupou a prova praticamente inteira na esperança de Rosberg ficar sem pneus no final da corrida, algo que não aconteceu. Valtteri ainda marcou a volta mais rápida da corrida na última volta, mas não tinha muito o que fazer, mas o finlandês vai ganhando cada vez mais rodagem no pódio e sua presença entre os três primeiros já não é algo anormal. Largando em 18º, Felipe Massa tentou algo diferente e praticamente seguindo Rosberg, trocou o seu pneu médio pelo macio na primeira volta. A primeira parte do plano deu tudo certo. Massa seguiu Rosberg nas ultrapassagens, deixando o alemão da Mercedes sempre à vista, mas quando Felipe encontrou com Sergio Pérez, o plano foi para o espaço. Massa foi o único a fazer duas paradas e para seu azar, Pérez fez seu segundo stint com o mesmo tipo de pneus de Felipe, o deixando facilmente atrás. A progressão de Massa parou aí e para quem pensava em brigar pelo pódio, o brasileiro acabou mesmo fora da zona de pontuação. Button fez uma corrida tranquila, beirando a burocrática, pois o inglês largou bem e somente se segurou na posição em que largou. Quando fez sua parada, Button saiu dos boxes logo atrás de Rosberg, mas como a história da corrida mostrou, mesmo se Jenson tivesse saído antes do alemão da Mercedes, não faria muito diferença, vide o ritmo de Nico. Kevin Magnussen, punido em cinco posição pela troca de câmbio, fez uma largada sensacional e ganhou praticamente todas as posições perdidas pela punição, subindo rapidamente para o quinto lugar, quando ultrapassou a Toro Rosso de Vergne. 

Alonso ficou na mesma região em que largou e mostrou que sua despedida da Ferrari será bem longe das expectativas tanto dele, como da Ferrari, de quando o espanhol chegou no time italiano em 2010. Raikkonen, ainda sem se sentir bem com o seu carro, ficou em nono, longe de acompanhar o ritmo de Alonso. A Red Bull utilizou estratégias distintas com seus dois carros e o resultado entre eles não foi muito diferente. Ricciardo, preso atrás de Vettel, foi o primeiro dos pilotos a fazer sua única parada. Vettel, que fez uma ótima largada e ficou as primeiras voltas à frente do seu companheiro de equipe, foi um dos últimos a fazer sua parada. No fim, ambos os carros da Red Bull ficaram praticamente nas mesmas posições em que estavam antes, com a diferença de Ricciardo está na frente de Vettel. Outro final de semana para esquecer da Red Bull, algo que a Toro Rosso, que tinha a motivação de ter uma das estrelas do final de semana, o local Daniil Kvyat, também sentirá. Com seus dois pilotos entre os dez primeiros no grid e fazendo, ambos, uma boa largada, era esperado que a Toro Rosso marcasse bons pontos, mas com as voltas passando, seus pilotos foram caindo de rendimento e no fim, acabaram fora da zona de pontuação, com Kvyat estragando seus pneus numa disputa com Nico Hulkenberg e forçado a fazer uma segunda parada. A Force India já não mostra a força de outros tempos e teve que se conformar com a décima posição de Sergio Pérez, que segurou muito bem Felipe Massa em praticamente metade da prova e ainda teve que economizar combustível, Hulkenberg, uma estrela ascendente há bem pouco tempo, está ficando cada vez mais esquecido tanto neste temporada, como para as próximas, no agitado mercado de pilotos. A Sauber ainda colocou Esteban Gutierrez na zona de pontos, mas com o mexicano sendo o último a trocar pneus. No fim, a Sauber continua sua via-crucis em 2014, onde está longe de marcar pontos, ficando logo à frente da Lotus, numa temporada terrível, só superando as nanicas.

Com o Mundial de Construtores conquistado, a Mercedes agora poderá respirar aliviada e pensar unicamente no Mundial de Pilotos, que dificilmente sairá do seu box. Hamilton está num momento muito bom e ver o inglês repetir o que fez Vettel no ano passado (nove vitórias nas últimas nove corridas) já não parece tão absurdo, pois o inglês está mostrando sua velocidade habitual, enquanto Nico Rosberg parece um pouco perdido na suas tentativas de se igualar ao 'companheiro' de equipe de outras formas sem ser a velocidade. Na ante-sala do pódio, foi claro para mim que os pilotos da Mercedes não se falam, mas com o título da Mercedes garantido, ambos poderão correr mais aliviados e sem amarras para o título, mas do jeito que está, Lewis Hamilton é o favorito. 

3 comentários:

Ron Groo disse...

Título perfeito.
ô coisa chata esta corrida .

João Carlos Viana disse...

Pensei também em 'O Grande Bocejo da Rússia'

João Carlos Viana disse...

Pensei também em 'O Grande Bocejo da Rússia'