domingo, 6 de novembro de 2011

Aos 45 do 2º tempo



Depois de corridas chatas e uma trágica e traumatizante morte, a MotoGP encerrou a temporada de 2011 com uma de suas melhores corridas nos últimos tempos, mas com o mesmo resultado que caracterizou esse ano: vitória de Casey Stoner. Como não poderia deixar de ser, muitas homenagens a Marco Simoncelli foram feitas por parte de todos os pilotos das três categorias que fizeram parte do final de semana em Valencia, mas o choro de Fausto Gresini, após a vitória do seu piloto Michele Pirro na Moto2, foi a cena mais comovente destes dias em que o Mundial de Motovelocidade se lembrou e sempre lembrará de Marco Simoncelli.

A corrida deste domingo sempre teve a chuva à espreita, mas tirando alguns pingos, o asfalto do circuito Ricardo Tormo não ficou molhado o suficiente para que os pilotos tivessem que usar pneus para chuva. Porém, a corrida começou com um grande susto quando Álvaro Bautista freou forte para não bater em Andrea Doviziozo na primeira curva e o espanhol da Suzuki acabou perdendo o controle da sua moto, levando consigo Valentino Rossi, Nicky Hayden e Randy de Puniet. Logo de cara, quatro motos a menos e apenas doze receberiam a bandeirada, mostrando o quão raquítico está o grid da MotoGP. Um fato chamou a atenção nesse incidente foi o quanto as corridas de moto podem ocasionar fatalidades como a de Simoncelli quinze dias atrás. Enquanto deslizava rumo a brita, Bautista escapou por pouco de ser atropelado por Toni Elias, com o espanhol tendo que frear forte para não acertar o compatriota. Um ou dois segundos antes, Elias não teria o que fazer...

Logo de cara Stoner disparou na ponta e parecia que não seria mais alcançado, repetindo suas vitórias ao longo de 2011. Ainda mais com Doviziozo, Daniel Pedrosa e Ben Spies brigando pela segunda posição. Faltando duas corridas por estar machucado, Spies andava claramente mais do que a moto, pois a vantagem das Hondas de Doviziozo e Pedrosa, principalmente nas retas, era gritante. Porém, Doviziozo queria acabar bem seu contrato com a Honda, enquanto Pedrosa queria fazer bonito em frente a sua torcida. E tome os dois companheiros de equipe brigarem, com Spies à espreita. Com pneus mais moles, Pedrosa perdeu rendimento e Spies se animou a atacar Doviziozo, ultrapassando-o quando faltavam poucas voltas. As câmeras focalizaram tanto a briga pela segunda posição que se ‘esqueceram’ de mostrar o quanto Stoner perdia rendimento e quando Spies despachou Doviziozo, já estava com o australiano na alça de mira. Correndo com muito cuidado, já que a neblina estava um pouco mais forte, Stoner acabou errando e Spies assumiu surpreendentemente a liderança. Porém, não abriu muito. Stoner permanecia à espreita e Spies parecia assustado, sempre que podia olhando para trás, vendo onde estava Stoner. Parecia estar adivinhando. Na reta final, Stoner usou a potência do motor Honda para ultrapassar Spies na bandeirada de chegada e conquistar uma bela vitória. Talvez a mais bela vitória de 2011!

O triunfo na última etapa coroou a temporada intocável que fez Stoner em 2011. O australiano chegou a Honda com a missão de reconquistar o título para a empresa que mais investe na MotoGP e mesmo tendo como adversário Daniel Pedrosa, cria da Honda desde adolescente, Stoner tomou as rédeas da equipe e foi o mais rápido dos pilotos Honda (e da MotoGP) desde os primeiros treinos, culminando com corridas sem erros e uma tocada espetacular, mas ao mesmo tempo consistente. Stoner jantou todos seus adversários e mereceu o bicampeonato. Com a força da Honda nos próximos anos, a MotoGP corre o risco de ver uma Era Stoner nos próximos anos. Pedrosa, mesmo com a queda em Le Mans, começa a ser questionado dentro da Honda, pois os títulos esperados pelo espanhol não vieram e Dani foi massacrado com certa facilidade por Stoner ao longo do ano. Parece faltar um algo a mais a Pedrosa, mas tendo completado seis temporadas na Repsol Honda, a paciência da montadora deve estar se acabando, como provou ao demitir Andrea Doviziozo, mesmo o italiano tendo mostrando muita velocidade ao longo do ano e ter terminado o campeonato em terceiro. A Yamaha tem mesmo dois ótimos pilotos, capazes de dar sempre o máximo potencial da moto, mas Jorge Lorenzo e Ben Spies ficaram sem um equipamento à altura em vários momentos, mesmo com o espanhol conseguindo duas vitórias e ter liderado o campeonato por alguns instantes, usando unicamente seu talento. A Ducati fracassou de forma retumbante e nem a genialidade de Valentino Rossi foi capaz de fazer a moto italiana enfrentar as rivais japonesas e o próprio Rossi não esteve num bom ano, com sua queda logo na primeira curva de hoje sendo um exemplo de quanto foi ruim seu ano. Como toda última corrida, sempre há despedidas e a de hoje foi de Lóris Capirossi. Veteraníssimo tricampeão mundial nas categorias menores da motovelocidade, Capirossi não repetiu o mesmo sucesso na categoria rainha (seja 500cc, seja MotoGP), mas conseguiu um terceiro lugar como melhor resultado e ao longo das últimas doze temporadas, sempre foi muito simpático e Capirossi deixará saudades.

E assim terminou mais uma temporada do Mundial de Motovelocidade. Ao contrário do ano passado, não houve um domínio espanhol. Apenas Nicolas Terol venceu nas 125cc, se tornando o último campeão da categoria, que será substituída em 2012 pela Moto3. Na Moto2, Bradl fez uma temporada regular, mas teve a sorte de Marc Márquez ter sofrido um acidente e não corrido as últimas provas, interrompendo uma sequencia sensacional do espanhol na metade final da temporada. E na MotoGP, Stoner nadou de braçada e mereceu o bicampeonato, mas para sempre 2011 será lembrado pela perda de Marco Simoncelli.

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