Após duas corridas na América do Sul, uma valendo
(Argentina) e outra para homologação (Brasil), a F1 mandava sua enorme bagagem
para Kyalami e seu espetacular circuito de alta velocidade na segregacionista África
do Sul. Ninguém imaginaria que Emerson Fittipaldi, apenas em sua segunda
temporada completa na F1, pudesse fazer frente a Jackie Stewart, vencedor na
Argentina, e Denny Hulme, mas o brasileiro da Lotus mostrava que sua pilotagem
cerebral combinava com o belo Lotus 72D e fazia boas corridas naquela temporada
que se iniciava. Emerson abandonou o GP da Argentina quando estava em segundo
lugar, próximo a Stewart e em Interlagos, circuito que conhecia muito bem,
Fittipaldi liderou a maior parte da prova quando a suspensão traseira de sua
Lotus quebrou no momento em que o carro se aproximava da linha de
largada/chegada e completaria mais uma volta. Bem na frente da torcida que
lotou Interlagos naquela tarde de muito calor em São Paulo, Emerson Fittipaldi
fez toda a reta dos boxes de marcha ré, freando próximo de bater no muro de
proteção. Foi um susto enorme que proporcionou a Carlos Reutemann vencer em
Interlagos e começar uma boa relação com o circuito paulistano.
Em Kyalami, Emerson teria outro susto enorme durante os
treinos quando uma roda de sua Lotus saiu voando do seu carro repentinamente,
mas o brasileiro escapou sem maiores apuros. Aquilo mostrava o quanto a F1
ainda era extremamente perigosa naquele início de anos 70. Apesar do susto,
Fittipaldi largaria na primeira fila em terceiro, atrás de Stewart e Regazzoni.
Não devemos nos esquecer, que naquela época o grid da F1 obedecia uma ordem
diferente (3-2-3). Mais atrás, José Carlos Pace fazia sua estréia na F1 pela
pequena equipe de Frank Williams com um March alugado e largaria em 24º. Um
problema na bomba de gasolina fez Pace largar com duas voltas de desvantagem e
mesmo com um carro claramente ruim, o brasileiro completou a prova e deixando
Tio Frank bastante satisfeito.
Grid:
1) Stewart
(Tyrrell) – 1:17.0
2) Regazzoni
(Ferrari) – 1:17.3
3) Fittipaldi
(Lotus) – 1:17.4
4) Hailwood
(Surtees) – 1:17.4
5) Hulme
(McLaren) – 1:17.4
6) Andretti
(Ferrari) – 1:17.5
7) Ickx
(Ferrari) – 1:17.7
8) Cevert
(Tyrrell) – 1:17.8
9) Peterson
(March) – 1:17.8
10) Schenken (Surtess)
– 1:17.8
O dia 4 de março de 1972 estava quente e ensolarado na região
de Johanesburgo, o que poderia trazer muitas dificuldades para os pilotos na
corrida a seguir, por causa do desgaste de pneus e do próprio carro. Todos os
pilotos alinharam seus carros para o grid em Kyalami e como sensores eletrônicos
para detectar queima de largada era mera ficção científica, Denny Hulme deu uma
baita largada, deixando Stewart e Emerson para trás. Enquanto os carros se
aproximavam a toda velocidade da curva 1, uma pessoa não identificada cruzava a
larga pista de Kyalami, por um motivo que ninguém que sabe, mas que, com
certeza, não valia a pena se arriscar um atropelamento a mais de 200 km/h. Eram,
definitivamente, outros tempos!
Hulme ainda liderava logo à frente de Stewart e Emerson, que
já se distanciava do quarto colocado, o americano Peter Revson. Quando os três carros
cruzaram em frente aos boxes pela primeira vez, Stewart pegou o vácuo da
McLaren de Hulme e efetuou a ultrapassagem no final da grande reta. Denny Hulme
havia acertado sua McLaren para ir melhorando durante a corrida, com seu carro
saindo muito de frente com tanque cheio. Isso significava Stewart disparando na
frente, com o neozelandês prendendo toda uma fila de carros, com Emerson Fittipaldi
tendo que se preocupar agora com as investidas de Mike Hailwood, que fazia uma
boa estréia na Surtees. Apenas na volta 17 Emerson conseguiu deixar Hulme para
trás no final da reta dos boxes e partiu em perseguição a Stewart, que vinha
perdendo rendimento. Na volta seguinte, Hailwood ultrapassou Hulme e partiu
para cima de Emerson. O inglês conhecido como Mike ‘the bike’ fazia uma
excelente corrida e cinco voltas depois ultrapassou a Lotus, que já se
aproximava de Stewart. Os três carros andavam próximos quando Hailwood teve a
suspensão traseira quebrada bem na metade das 80 voltas da corrida, fazendo com
que Emerson tivesse que frear para não bater no Surtees e dar um respiro a
Stewart.
Porém, Emerson passou a conviver a perda de equilíbrio de
sua Lotus e seu carro começava a tender a sair de traseira. Entretanto, os
problemas de Stewart eram piores. A embreagem do Tyrrell do escocês piorava
desde o início da prova, quando Stewart forçou muito na largada e na volta 44, Stewart
não conseguiu engatar marcha nenhuma no meio da reta e teve que abandonar a
corrida, dando a Fittipaldi a liderança momentânea da corrida. Isso porque
Hulme estava em segundo lugar, mas tirando em média 1s por volta. A tática do
Campeão Mundial de 1967 estava dando certo e com seu carro se comportando cada
vez melhor no decorrer da prova, ao contrário do que vinha acontecendo com
Emerson, Hulme assumiu a liderança na volta 57 para não mais perde-la. Emerson
permaneceu em segundo, mas ainda teve tempo de sofrer uma pressão da segunda
McLaren de Revson, que teve problemas na primeira volta e conseguiu uma ótima
corrida de recuperação. A prova mostrou uma McLaren forte, mas Emerson
Fittipaldi iniciava bem sua caminhada rumo ao título.
Chegada:
1) Hulme
2) Fittipaldi
3) Revson
4) Andretti
5) Peterson
6) Hill
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