sábado, 21 de novembro de 2009

Um ano de lembranças. Boas e más.


Quando os livros sobre a história da F1 lembrar de 2009, eles terão que abrir um capítulo todo especial a respeito desta temporada e mostrar uma série de fatos que mudarão a face da categoria nos anos seguintes. A abertura e o fim de uma era. A Fórmula 1 de cinco anos atrás definitivamente não será a mesma daqui a cinco anos, quando havia dinheiro, poder e luxo na categoria e hoje há mais dúvidas, problemas e humildade. Lembro que a CART, após a saída da Penske no final de 2001, entrou em uma série de mudanças de regulamento e reviravoltas a cada temporada. O final, todos sabemos. Num ano de transição fora das pistas, claro que isso acabaria refletindo no que ocorria dentro delas e o que vimos foi um campeonato esquisito, cheio de surpresas positivas e negativas. Button, Brawn, Barrichello, Vettel, Red Bull, derrocada de Ferrari e McLaren... Não falta do que falar sobre o que aconteceu em 2009!

Quando a Honda anunciou sua saída de forma repentina da F1, a estrutura de Brackley parecia fadada ao abandono e centenas de pessoas estariam desempregadas, inclusive pessoas brilhantes como Ross Brawn, Jenson Button e Rubens Barrichello. Brawn, ainda diretor técnico da Honda, era também o diretor técnico da FOTA e por isso, conhecia como ninguém as grandes mudanças nos carros para 2009. A volta dos pneus slicks era o grande chamariz, mas aerodinamicamente as coisas iriam mudar ainda mais. Brawn fez o Honda-2009 pensando em todos os pormenores do regulamento e sabia que o carro seria extremamente competitivo e apostou alto. Juntamente com Nicky Fry, ele comprou a Honda numa operação chamada Management Buy-out e transformou a Honda em Brawn. Inicialmente, todas as nove demais equipes apoiaram a Brawn para que o time iniciasse suas atividades. Na verdade, todos pensavam sadicamente em se livrar do último lugar do Mundial de Construtores, pois a lógica indicava que uma equipe recém formada, com pouco dinheiro e histórico péssimo nas duas últimas temporadas estava fadado aos últimos postos. Todos pensavam assim e inclusive eu escrevi isso. Todos escreveram isso. Button e Barrichello foram contratados mais para dar uma visibilidade maior a ambos para tentarem algo melhor para 2010. Os primeiros testes em Barcelona mostraram um carro fantasticamente rápido e todos ainda tinham um pé atrás. Estão atrás de patrocínio para estampar alguma marca no carro imaculadamente branco. O tempo passou, a Brawn não saía dos primeiros lugares, Button e Barrichello cada vez mais animados e as adversárias cada vez mais assustadas. Seria possível um conto de fadas na cientifica F1? Uma equipe iniciada três meses antes seria capaz de derrotar Ferrari e McLaren? Em Melbourne, Button consegue uma vitória esmagadora e inicia uma sequencia de triunfos que lhe daria o título no final da temporada, com o gostinho do título também do Mundial de Construtores. A Brawn passou de coitadinha do grid a campeã mundial em menos de dez meses! Porém, a equipe ainda não tinha patrocínios para 2010 e um sonho como foi 2009 parecia impossível sem dinheiro. Ross Brawn tinha conseguido o motor Mercedes, mais tarde reconhecido como o melhor motor da F1 atual, no início da temporada, iniciando um namoro que daria num surpreendente casamento. A Mercedes via na Brawn a possibilidade real de ter uma equipe totalmente sua depois de 55 anos e Brawn precisava de dinheiro para correr de forma competitiva em 2010. Nessa semana, a Mercedes anunciou a compra da Brawn e a partir do próximo ano, teremos novamente a Mercedes GP na F1. Hoje, Ross Brawn pode se orgulhar de sua aposta no início do ano e que transformou uma equipe falida em campeã mundial, praticamente de graça, vendeu a estrutura por muito dinheiro e ainda será o chefe de equipe. Enquanto isso, em Tóquio, os acionistas da Honda devem estar pensando num hara-kiri menos doloroso...

Outro grande nome dessa aventura da Brawn em 2009 foi Jenson Button. O inglês de 29 anos era um piloto em vias de ser aposentado antes de completar 30 anos e via a sua torcida se virar Hamilton, então campeão mundial. Sempre comparei a história de Button a garotas solteiras de sua idade. Apesar de bonitas, elas ainda não haviam achado seu príncipe encantado e estavam loucas para casar. Para piorar chegou uma vizinha tão bonita quanto e casou bem mais nova do que ela. Substitua as palavras ‘bonitas’ com ‘talentoso’, ‘casar’ com ‘Campeão Mundial’ e você a história de Button e Hamilton, ‘a vizinha mais nova’. Jenson sempre foi considerado um talento, mas que dificilmente seria campeão e sua maior virtude era trazer de volta ao circo os famosos playboys, tão comuns na década de 70. Sempre com namoradas bonitas e carrões milionários, Button era mais lembrado pelo que trazia fora das pistas do que fazia dentro delas. Mas havia talento naquele garoto que chegou na F1 arrasando com apenas 20 anos de idade há quase dez anos atrás. A torcida inglesa já estava apaixonada por Hamilton e Button sofria com a Honda, algo que deve ter sido extremamente doloroso para ele. Jenson nunca tinha sentado num grande carro em sua carreira na F1 e a Brawn não seria o cockpit dos sonhos de um dos pilotos mais bem pagos da F1, mesmo com apenas uma vitória. Se todos sabiam o que Button era capaz de fazer com um carro mediano, em 2009 passamos a conhecer o que Jenson é capaz de fazer com um carro vitorioso. O inglês da Brawn dominou a F1 de forma poucas vezes vistas na primeira metade do ano. Foram vitórias arrasadoras e sem erros, fazendo com que o título fosse questão de tempo. Porém, ninguém conhecia como era Button administrando um campeonato ganho e foi nesse momento que vimos um piloto comedido, com medo de arriscar e extremamente pressionado. A partir de sua corrida caseira, em Silverstone, Button passou por um momento delicado, onde não mais venceu na temporada e viu a aproximação do seu companheiro de box e das demais equipes que tinham sido humilhadas por ele. Aquele Button forte e campeão do início do ano parecia um gatinho assustado no terço final do ano. Resultados pífios pareciam nos fazer crer que o seu título certo iria para o ralo. Em Interlagos, lugar onde marcou pontos pela primeira vez na carreira em 2000, Button voltou a fazer uma corrida digna de Campeão Mundial, saindo da 14º posição a 4º com ultrapassagens audaciosas e emocionantes, conquistando seu até o momento único título na carreira. Foi tudo alegria para o inglês, mas havia ainda mais tensão fora das pistas. Para correr em 2009, Button passou a ganhar bem menos do que antes e com o título na mão, exigiu de Ross Brawn uma quantia que ele achava razoável para um Campeão Mundial. As negociações se arrastavam e quando a Mercedes comprou a Brawn, a McLaren se vingou de sua antiga parceira com a contratação de Button. Agora, Jenson dividirá o box da McLaren com sua ‘vizinha mais nova’. A convivência de Button e Hamilton, apesar de ambos campeões mundiais, tende a ser tranqüila no que se refere a brigas internas, já que ambos parecem se dar bem, mas Jenson será testado até o limite ao ter ao lado um piloto nitidamente melhor do que ele. Dentro da McLaren, como Alonso provou em 2007, Hamilton tem a total preferência, mas Jenson parece ter a preferência da torcida. Ele parece um cara normal, como vários britânicos bem-sucedidos que moram na ilha, ao contrário de Hamilton, que mais parece um robô programado para ganhar. Nisso, Jenson Button pode se orgulhar neste ano, fora o título, claro. A reconquista da torcida inglesa.

Rubens Barrichello era um piloto aposentado no final de 2008. A Honda testava dois pilotos brasileiros para substituí-lo antes de anunciar sua saída da F1. Ninguém estava interessada no piloto com mais corridas na história da F1, mas Ross Brawn precisava de um piloto experiente e bom suficiente para conseguir algumas vitórias e pontos no Mundial de Construtores. Barrichello era o nome certo para isso e foi contratado. A grande dor de cabeça de Ross acabou sendo que Rubens precisava saber seu papel na equipe. Tudo o que esperava do brasileiro, Brawn viu com Rubinho conquistando pontos e completando dobradinhas com Button. Porém, o gênio complicado de Barrichello, sempre se superestimando demais, acabou por pesar no clima da equipe no início do ano. Na verdade, Barrichello nunca se conformou muito em ser um ótimo piloto e acertador de carros, mas não em um piloto a se apostar para ser Campeão Mundial. O box da Brawn nunca esteve 100% feliz por causa de declarações desastrosas de Barrichello após as corridas, notadamente em Barcelona e Nürburgring. Na verdade, Brawn queria de Barrichello o mesmo papel que fez na Ferrari, algo que Rubens fez muito bem na primeira metade do ano, mas o paulistano queria mais. Uma vitória em Valencia, a centésima do Brasil na F1, e em Monza, a 3º do brasileiro na tradicional pista italiano, fizeram com que Barrichello sonhasse com o título. Na verdade, o sonho de Barrichello era mais matemática do que real, apesar do estardalhaço proporcionado pela imprensa ufanista brasileira, principalmente no Grande Prêmio do Brasil. O que se viu nas primeiras horas do dia da corrida em Interlagos pela TV Globo foi altamente constrangedor, causando até mesmo uma torcida contra o próprio Rubinho, que perdeu o título em casa, além de ainda ter caído para terceiro no Mundial. Porém, o ano foi extremamente positivo para Barrichello. Um ano depois de ter sido aposentado por todos, Rubens tem um contrato sólido com a Williams para 2010 e corre serelepe para o Grande Prêmio de número 300 na carreira ainda em forma, pronto para ser competitivo e brigar com piloto até quinze anos mais jovem do que ele. Só basta Rubinho não falar tanta besteira, como já falou quando disse que finalmente teria um carro competitivo nas mãos. E Ferrari e Brawn?

Falando em Ferrari, a equipe italiana viveu um ano complicado nesse 2009. Outra grande novidade para esse ano foi o Kers, um mecanismo novo e complexo, que aumentaria a potência do carro em alguns segundos, assim como aumentaria consideravelmente o peso do carro. A equipe de Maranello foi uma das únicas a usar o aparelho e construiu o carro em cima de se aproveitar o Kers o máximo possível. Foi um fracasso retumbante. Raikkonen e Massa tiveram a ‘honra’ de ocuparam os dois últimos lugares da sexta-feira no Bahrein e nunca brigaram pelo título, o que para Massa acabaria por ser dramático, vide a expectativa que tinha em recuperar o título que lhe escapou por muito pouco em 2008. Para piorar, Felipe protagonizou o momento mais angustiante dos últimos tempos da F1. Durante a Classificação para o Grande Prêmio da Hungria, Massa vinha em volta de desaceleração quando uma mola se soltou do carro de Barrichello que vinha bem à sua frente. A mola parecia inocente, quicando no asfalto húngaro, mas bem no momento em que Massa ia cruzar com a peça, a mola criou impulso suficiente para ficar na altura do capacete do brasileiro e atingir em cheio a testa de Massa. Desmaiado na hora, Massa bateu forte contra uma barreira de pneus. Primeiramente, sem ainda ver a cena, todos ficaram mais preocupados com a saída de pista do ferrarista ter estragado o seu final de semana. Quando as imagens vieram, a angústia aumentava e as informações eram desencontradas. Ele corria risco de morte, foi feita uma cirurgia, ele estava fora de perigo, ele estava em coma, ele respondia bem aos estímulos, ele podia perder a visão. Tudo acontecia com Felipe Massa, mas quase uma semana após seu sério acidente, ele deu uma entrevista a TV Ferrari, ainda com olho inchado, tranquilizando a todos. Começou uma campanha para que ele voltasse rapidamente ao cockpit da Ferrari, mas o bom senso prevaleceu e ele só conhecerá seu novo companheiro de equipe em 2010. Raikkonen estava melhor do que Massa até o acidente do brasileiro, mas ninguém via futuro na Ferrari para o finlandês. Nem mesmo a vitória em Spa, a única da Ferrari neste ano, fazia com que as especulações da saída de Kimi diminuíssem. Antes do final do ano, a Ferrari anunciou a saída de Raikkonen. Kimi procurou abrigo na sua antiga equipe, a McLaren, mas esta estava mais ocupada em brigar com a Mercedes e trouxe Button. Com a notícia, Raikkonen simplesmente anunciou que não correrá em 2010. Simples assim. A Mercedes ainda o quer, mas Kimi quer correr de rally num futuro próximo. Ainda com 30 anos, o antes garoto gelado vindo da Finlândia parece ter se enchido da F1 e agora quer viver ainda mais vida, o que significa mais farras regadas a vodka. Apesar do seu jeito deslocado, Kimi tem um carisma que fará falta a F1. Isso se a Mercedes não convencê-lo a correr em 2010.

Após anos de especulação, Fernando Alonso correrá na Ferrari em 2010. Era o sonho de Nano, mas também era o sonho de Alonsito correr na McLaren quando lá chegou em 2007. A ida de Alonso para a Ferrari faz com que sua carreira fique ainda mais parecida com Michael Schumacher. Após dois títulos sobre a batuta de Flavio Briatore, Alonso chega a Ferrari com o status de piloto favorito ao título. A diferença é que Alonso encontrará um piloto forte e estabelecido na Ferrari, com o espanhol tendo que ter muito cuidado em lhe dar com Felipe Massa, com quem já discutiu asperamente em 2007. Apesar de recuperado aparentemente, ninguém sabe ao certo como estará Massa após seu terrível acidente. Alonso poderá combater seu maior rival e companheiro de equipe justamente nesses pontos fracos. Porém, Alonso tem tudo para ter ano mais tranqüilo e competitivo na Ferrari do que teve na Renault. O ano começou com um carro extremamente ruim e Alonso, mesmo utilizando o Kers, não conseguia tirar desempenho do carro. Porém, mais atrás, o momento decisivo da Renault ia se estabelecendo com a péssima performance de Nelsinho Piquet. Após ter seu contrato renovado a fórceps para 2009, o brasileiro conseguia uma temporada ainda pior do que a anterior, com sua demissão acontecendo no meio da temporada. Um mês depois, durante a transmissão da Globo, Reginaldo Leme anunciou em primeira mão que uma bomba estava prestes a explodir e que a Renault iria ser investigada pelo acidente de Piquetzinho em Cingapura em 2008. Ninguém, nem mesmo Galvão Bueno, sabia o que acontecia. Os dias seguintes provariam tão ruins como os dias posteriores a 13 de maio de 2002, na famosa troca de posição entre Schumacher e Barrichello na Áustria. Após a demissão do filho, Nelson Piquet denunciou a armação protagonizada pela Renault para a FIA, em que Briatore tinha pedido a Nelsinho que batesse de forma deliberada no muro para ajudar Alonso, na base da estratégia, a conquistar a vitória no novo circuito de rua. Era asqueroso demais para acreditar, mas as investigações posteriores provaram que isso tudo era verdade. Após tentar processar a família Piquet, a Renault demitiu Briatore e Pat Symons, outro envolvido no caso. A FIA abriu um julgamento e baniu para sempre Briatore das competições da FIA, além de suspender Symons por cinco anos. Para a Renault, ficou a promessa de punição semelhante se algo parecido acontecesse e Nelsinho acabou ganhando uma absolvição por delação premiada. O que acabou sendo pior para o brasileiro. Apesar de livre para correr, Nelsinho Piquet será para sempre marcado pelo o que fez em Cingapura e ninguém, seja patrocinadores ou equipes, querem associar seu nome a um piloto capaz tanto de fazer o que fez, assim como entregar seus antigos empregadores. Com esse turbilhão acontecendo, a própria equipe Renault foi se desfazendo em resultados pífios e acabou apenas em oitavo no Mundial de Construtores. O carro era tão ruim que Alonso ainda conseguiu um pódio, ironicamente, na pista de rua de Cingapura, enquanto o substituto de Piquet, Romain Grosjean, se mostrou um piloto imaturo demais para correr em alto nível. Hoje a própria sobrevivência da equipe Renault está em xeque.

Se a Renault realmente ir embora, será a quarta montadora a anunciar isso em um ano. Após a Honda, BMW e Toyota também o fizeram. Após um ótimo ano em 2008, a BMW vinha com a certeza de brigar pelo título em 2009 e apostou forte no Kers, sendo a única equipe a bater o pé e investir no equipamento. Foi um erro estratégico e fatal. O carro era extremamente ruim e Kubica e Heidfeld chegaram a fechar o grid em Mônaco. No entanto, a súbita saída da marca bávara foi uma surpresa para todos, pois uma marca tradicional como a BMW podia passar tranquilamente por um ano ruim e voltar com força em 2010. Os acionistas de Munique não pensaram assim. Assim, o ótimo Robert Kubica ficou no mercado e se transferiu para a Renault. Que também pode acabar! Coitado do polonês... Já a Toyota sempre esteve ameaçada de sair da F1 pelos resultados obtidos nunca terem sido condizentes com o que a montadora investia. Foram anos trocando chefias e engenheiros, enquanto não se trocava o essencial: os pilotos. Com um cheque branco em mãos, nunca se pensou em se trazer um piloto realmente de ponta, como Schumacher, Raikkonen ou Alonso. Apenas pilotos já decadentes, como o próprio Jarno Trulli, que passou cinco anos ruminando na F1 pela Toyota, fazendo ótimos treinos e segurando todas na corrida até seu primeiro e prematura pit-stop. Glock era uma promessa e a boa temporada da Toyota fazia com que seus pilotos ficassem próximos da sonhada primeira vitória da equipe, chegando a ocupar a primeira fila no Bahrein e isso fazia crer até que a montadora ficasse, mas os prejuízos da Toyota neste ano fizeram com que ela decidisse sair da F1 após oito temporadas pífias. Impressionante que ninguém parece muito descontente com a saída da Toyota. Parece até que os japoneses eram um corpo estranho na F1, principalmente para os torcedores, que só lamentaram a saída de Kamui Kobayashi. O japonês substituiu Glock no Grande Prêmio do Brasil e fez uma estréia memorável, dificultando e muito a vida de Jenson Button na corrida em Interlagos, chamando a atenção de todos. Com outra chance no chato GP de Abu Dhabi, Kobayashi marcou seus primeiros pontos e virou o queridinho da mídia. Hoje, com apenas duas corridas, todos parecem sentir mais falta de Kobayashi do que a Toyota e suas centenas de provas.

Outra equipe em crise foi a McLaren, que se viu envolvida em polêmica logo na primeira corrida, na famosa mentira de Lewis Hamilton na Austrália, quando disse que não deixou Trulli passá-lo sobre bandeira amarela. Logo de cara a McLaren teve que enfrentar um tribunal e o resultado foi a demissão de um funcionário com 35 anos de casa e a saída de Ron Dennis. Para piorar, o carro era muito ruim pelo mesmo motivo que a Ferrari: o Kers. Porém, a McLaren continuou a apostar no aparato e os resultados foram vistos na segunda metade do campeonato, quando Hamilton conquistou duas vitórias e alguns pódios, se tornando o campeão do ‘segundo turno’. Porém, a Mercedes nunca tinha engolido o episódio da espionagem em 2007 e a confusão em Melboune parecia a gota d’água, juntamente com o mal desempenho nas pistas. Enquanto apoiava oficialmente a McLaren, a Mercedes via seu motor equipar o time que dominava a F1 e a montadora da estrela de três pontas ainda sonhava com uma equipe própria. Como a Brawn estava sem dinheiro, a Mercedes comprou a equipe e deixou a McLaren a própria sorte. Antes que alguém tenha pena deles, o time chefiado por Martin Whitmarsh trouxe Jenson Button para a equipe e formou um dream team britânico. Esse é o objetivo da McLaren a médio prazo. Um time totalmente inglês, uma espécie de Ferrari britânica, construindo tudo na F1 e ainda vendendo carros esportivos carismáticos para endinheirados. Isso será possível? Só o tempo dirá.

Quando a Red Bull tirou Adryan Newey da McLaren em 2005, ela esperava um projetista campeão construir um carro campeão. Porém, Newey não assina um carro campeão desde 1999. O salário alto do engenheiro começava a se mostrar difícil de ser explicado, quando uma mudança radical de regulamento faz com que os projetistas mais espertos tenham mais espaço do que o normal. Newey ainda não tinha os famosos difusores duplos em seu papel branco, mas seus carros andavam colados nos carros equipados com o dispositivo. A vitória na terceira corrida provava que o carro era bom, mas ainda precisava de um ajuste fino. Com uma dupla de pilotos forte como Vettel e Webber, a equipe foi crescendo a ponto de conquistar vitórias dominantes na Inglaterra e na Alemanha, com Webber vencendo pela primeira vez em terras germânicas. Porém, Vettel era a estrela. O alemãozinho de 21 anos era simpático e extremamente rápido, fazendo com que todos prestassem atenção nele. Batendo impiedosamente o antigo leão-de-treino Mark Webber, Vettel brigou pelo título até a penúltima etapa e ainda teve fôlego para tirar o vice-campeonato de Barrichello, conquistando outro recorde de precocidade na carreira. Hoje, a questão nem se Vettel será campeão, mas quando ele será campeão. A Red Bull terminou o ano com duas vitórias nas duas últimas etapas, fazendo com que se tornasse uma força em 2010 e com uma dupla forte e ao mesmo tempo antagônica (a impetuosidade de Vettel e a regularidade de Webber), a equipe dos energéticos tem tudo para dar trabalho na próxima temporada, principalmente com Newey acertando novamente. A prova cabal do talento de Vettel foi a queda forte da Toro Rosso. A equipe júnior da Red Bull tinha terminado em alta em 2008 quando ainda tinha Vettel nas suas fileiras, com a saída do alemão, a equipe voltou aos últimos lugares do grid. Bourdais nunca se adaptou totalmente a F1 e acabou demitido no meio da temporada quando não conseguiu se impor frente ao estreante Sebastien Buemi, que terminou o ano muito bem. O único momento de destaque neste ano no time italiano foi a estréia de Jaime Alguersuari. Com 19 anos de idade, o espanhol se tornou o piloto mais jovem a correr na F1 e mesmo não cometendo erros importantes, também não mostrou que pode ser um substituto de Vettel. E dificilmente alguém o será!
Fisichella teve um ano estranho no que pode ser seu último ano na F1. O veterano italiano vinha fazendo uma temporada medonha na Force Índia, constantemente superado por Adrian Sutil, quando a F1 chegou a Spa. Numa pista rápida e sem muita pressão aerodinâmica, a FI mudou da água para o vinho e das últimas posições pulou para as primeiras, com Fisichella conquistando uma inacreditável pole e chegando em segundo, colado no vencedor Kimi Raikkonen, da Ferrari. A equipe italiana estava sofrendo com o desempenho ridículo de Luca Badoer, que substituía pessimamente Felipe Massa até Spa. Pensando em ter um piloto italiano correndo de Ferrari em Monza, e ainda por cima em alta, a Ferrari trouxe Fisichella para a equipe. Físico teria seu sonho realizado, mas o sonho foi se tornando um pesadelo com o fim do desenvolvimento da Ferrari no modelo de 2009 e a equipe ficando para trás. Giancarlo largou duas vezes em último, enquanto via a Force Índia, ainda em Monza, conquistar um 4º lugar com Sutil. O alemão se mostrou rápido e era até cotado para ir para a McLaren se juntar com seu amigo Hamilton, mas os acidentes proporcionados por Sutil maculou um pouco sua campanha em 2009, principalmente quando quase apanhou do nanico Jarno Trulli em Interlagos. A Williams teve mais um ano de poucos investimentos e carros bons e confiáveis. Porém, serviu para mostrar como uma comparação entre pilotos pode ser cruel. Enquanto Nico Rosberg brilhava e se tornava num dos destaques do campeonato pela pilotagem sólida que tinha, Kazuki Nakajima se mostrava num dos piores pilotos que já apareceram nos últimos tempos na F1, não marcando nenhum ponto ao longo do campeonato e ainda sendo abandonado pela Toyota. Os dois acabaram por sair da Williams, com Rosberg crescendo na equipe oficial da Mercedes e Nakajima fazendo crescer a fila dos desempregados. Com a recente compra de ações de um empresário austríaco, a Williams mostra que o real motivo de não ter chances de título, algo comum nos anos áureos da equipe, é mais por falta de recursos do que por falta de fosfato.

Essa foi a F1 dentro da pista, mas a maior parte do tempo os noticiários da categoria mostravam o que acontecia fora das pistas. A FIA proporcionou um campeonato confuso em termos de regras e decisões. Podemos enumerar as confusões dos difusores traseiros, que algumas equipes pediram para usar e a FIA aceitou, enquanto outras a entidade simplesmente vetou. Apenas para a FIA aceitar durante o campeonato. Isso custou uma fortuna para o time, que sofreram amargamente com a crise econômica mundial e a FIA, falsamente, combatia. Mudar de regras, para fabricar novos carros fazem com que as escuderias gastem ainda mais dinheiros para um projeto partindo do zero, enquanto não se podia tirar nada do projeto anterior. O Kers foi um claro exemplo de dinheiro jogado fora com a interferência da FIA. No ano que vem, ninguém usará o Kers. Por essas e outras, a FOTA chegou a anunciar o rompimento com a FIA no meio do ano, quando na verdade queria a cabeça de Max Mosley, conseguida semanas depois. Porém, Mosley queria vingança e cortou a cabeça de Briatore mais tarde no escândalo de Cingapura/2008. Até a escolha das novas equipes para 2009 teve polemica, com as equipes deixadas de fora reclamando de corrupção nessa eleição sem nenhuma transparência. Foi um ano que teve mais perdas do que ganhos na F1, com três montadoras abandonando o campeonato (podendo ser quatro) e uma ferida aberta entre os dirigentes que dificilmente será cicatrizada. Jean Todt, novo presidente da FIA, tem a missão clara de conseguir um equilíbrio com a FOTA e conseguir que a F1 seja mais vista dentro das pistas do que fora. Os novos regulamentos contribuem para isso, com as corrida tendendo a ser decididas dentro da pista, nao na base da estratégia com o fim do reabatecimento. E o próximo ano promete com pelo menos quatro equipes fortes (Mercedes, Red Bull, McLaren e Ferrari) para brigar pelo título. Tomara que Button, Hamilton, Vettel, Webber, Rosberg, Alonso e Massa sejam os protagonistas de 2010.

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