quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

História: 30 anos do Grande Prêmio do Brasil de 1980


Antes da corrida em Interlagos, havia uma enorme expectativa de que se a corrida em solo brasileiro realmente aconteceria. A pista paulistana recebia severas críticas pelas suas ondulações e pela falta de organização do seu pessoal. Jody Scheckter chegou a criticar Interlagos e sua segurança, mas foi preciso que Bernie Ecclestone colocasse um ponto final nas especulações e a prova brasileira seria realizada em Interlagos no final de janeiro, como tradicionalmente ocorria. Na verdade, era uma espécie de teste 'tudo ou nada' para a organização em Interlagos.

Após um desempenho medíocre na Argentina, a Renault chegava a uma pista que lhe seria claramente favorável por causa do turbo. Numa pista com retas longas e, principalmente, em alta altitude, a equipe francesa mostrou, pela primeira vez, a força do turbo em determinadas situações e a prova disso foi a pole, a segunda na carreira, de Jean-Pierre Jabouille. Em 1979 a Ligier havia dominado em Interlagos e em 1980 a equipe mantinha a boa fase com o novo piloto da equipe, Didier Pironi, ficando à frente de Laffite. Na Ferrari, Villeneuve continuava colocando tempo no campeão Scheckter e espantava a forma como o sul-africano aceitava a situação passivamente, chegando a declarar a imprensa achar natural de que a Ferrari preferisse Villeneuve. Com três vitórias no Brasil, Carlos Reutemann passou por cima de Alan Jones, enquanto alguns problemas com o pescador de combustível fez com que Nelson Piquet, principal esperança brasileira de vitória, ficasse apenas em nono. Na equipe Fittipaldi, os problemas apenas continuavam. Keke Rosberg constrangia o dono da equipe ao colocar 2s em cima de Emerson, enquanto a equipe fez um treinamento de pit-stops na sexta-feira. Foram tantos erros primários, que Peter Warr cancelou o teste na segunda tentativa. Era um amostra de que a Fittipaldi começava a bater cabeça e culminaria no resultado que todos conhecemos.

Grid:
1) Jabouille (Renault) - 2:21.40
2) Pironi (Ligier) - 2:21.65
3) Villeneuve (Ferrari) - 2:22.17
4) Reutemann (Williams) - 2:22.26
5) Laffite (Ligier) - 2:22.30
6) Arnoux (Renault) - 2:22.31
7) De Angelis (Lotus) - 2:22.40
8) Scheckter (Ferrari) - 2:23.02
9) Piquet (Brabham) - 2:23.16
10) Jones (Williams) - 2:23.38

O dia 27 de janeiro de 1980 estava quente e abafado, mas sem sol. Isso amenizaria o forte desgaste físico dos pilotos durante uma prova considerada longa e quente. Apesar da força do turbo, a Renault sofria de um problema crônico de retardo no turbo na largada e isso fazia com que seus pilotos se atrasassem muitas vezes na largada, os obrigando a uma prova de recuperação. Como esperado, Jabouille larga mal, mas quem se aproveita não é seu parceiro na primeira fila Pironi, mas sim Villeneuve, que faz mais uma largada-relampago e se coloca entre os dois carros da primeira fila para assumir a liderança ainda antes da primeira curva, numa manobra bonita e arriscada. Típico de Gilles.

Villeneuve completou a primeira volta pressionado por uma legião francesa, que vinha, na ordem, com Jabouille, Pironi, Laffite e Arnoux. Claramente andando mais do que o carro, Gilles acabaria por forçar demais seus pneus e mesmo com toda a sua genialidade, ele não foi capaz de segurar Renaults e Ligiers, caindo para quinto ao final da segunda volta. A pista de Interlagos tinha mais de sete quilometros de extensão na época. Ainda nas duas primeiras voltas, Carlos Reutemann frustra a grande torcida argentina que foi a São Paulo vê-lo e o argentino acabou por abandonar ainda na primeira volta, com o semi-eixo de seu Williams quebrado. Na volta seguinte, Mario Andretti destruía sua Lotus na Curva 2, enquanto Elio de Angelis, novato de apenas 21 anos de idade, se mantinha num impressionante 6º lugar. Enquanto isso, Jabouille disparava na frente e abria vantagem sobre os seus compatriotas, mas logo a festa francesa acabaria tendo um desfalque quando Pironi tem um pneu furado e tem que fazer um pit-stop. Lembrando que naquela época não existiam pit-stops programados e a operação acabaria sendo um ato amador. O francês voltaria nas últimas posições, mas não demoraria a aparecer.

Mais atrás, Piquet e Fittipaldi faziam a alegria da enorme torcida brasileira que compareceu a Interlagos quando começaram a prova de forma agressiva, mas, infelizmente para os presentes, durou pouco. Na volta 13, Emerson estava a ponto de ultrapassar John Watson, com Rosberg apenas na espreita. Na curva 3, Fittipaldi colocou por dentro da McLaren, mas ambos deram muito espaço e Rosberg aproveitou o momento e fez uma linda ultrapassagem dupla, mas no final da manobra, o finlandês acabou de bater de leve na lateral do carro de Emerson. Com a aerodinâmica prejudicada, o brasileiro acabaria indo para os boxes, mas terminaria a corrida em último. Terminada a prova, Fittpaldi fez uma reunião de emergência e acusou Rosberg de imprudente, causando um grande mal-estar dentro da equipe. Anos depois, Rosberg disse que não entendia os palavrões em português, mas sabia que seu patrão não estava nada satisfeito com ele... Quando ocupava a 6º posição, Nelson Piquet passou reto na curva do Lago, com a suspensão de sua Brabham quebrada. A participação brasileira praticamente acabava na volta 14.

A França fazia a festa na ponta da corrida, mas a Renault logo seria a única a sorrir quando o 2º colocado Laffite tem o motor quebrado na volta 14 e a equipe francesa fazia uma dobradinha, com Jabouille à frente de Arnoux. Com Elio de Angelis em um distante 3º lugar, parecia pouco provável que algo atrapalhasse a festa da Renault. Porém, a estrela da corrida brasileira não tinha um carro amarelo. Após seu pit-stop forçado, Didier Pironi realizou uma estupenda corrida de recuperação e na volta 21, dezenove após sua parada, já aparecia em sexto! Porém, a posição de Pironi e de todos os demais não permaneceriam as mesmas. Na volta 24, com 10s de vantagem sobre Arnoux, o motor turbo de Jabouille começou a falhar e na volta seguinte seu turbo acabaria por estragar a prova de Jean-Pierre.

Arnoux assumia a liderança com enorme vantagem sobre De Angelis, que fazia uma super prova e estava distante de um opaco Alan Jones, talvez mais preocupado em marcar pontos para o campeonato. Pironi acabaria por ultrapassar Patrese e deixava o italiano na alça de mira de outro francês. Alain Prost fazia sua segunda corrida na F1 e começava a pressionar Patrese, numa emocionante disputa entre os dois jovens pilotos que levantou a torcida. Nas voltas finais, Prost conseguiria uma bela ultrapassagem sobre Patrese na curva da Junção, marcando seu terceiro ponto na F1 em sua segunda prova na categoria, começando a chamar a atenção dos chefes de equipe. Porém, no presente, quem venceria, pela primeirz vez na F1, seria Arnoux. O francês fica tão emocionado que foi ao pódio antes dos demais e estoura o champanhe sem a presença de De Angelis (que comemorou muito, junto com Colin Chapman) e Jones. Porém, essa seria a última vez que o velho circuito de Interlagos veria a F1. A organização da prova foi um fracasso e pedras furaram vários pneus durante a prova. Mesmo tendo um dos circuitos mais espetaculares da história da F1, Interlagos passou dez anos fora do calendário da categoria, voltando apenas quando seu circuito foi desfigurado, com o traçado atual.

Chegada:
1) Arnoux
2) De Angelis
3) Jones
4) Pironi
5) Prost
6) Patrese

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