terça-feira, 22 de março de 2011

No meio de dois malucos


Ele foi mais um das fornadas de promissores pilotos brasileiros surgidos em nossas pistas no final da década de 90. E assim como a maioria, acabou não dando certo. Ricardo Zonta apareceu muito bem nas categorias de base e com três títulos em quatro anos chegou a F1 com moral, mas um acidente logo em suas primeiras corridas e várias intrigas fez com que esse paranaense fizesse bem menos do que se esperava dele na F1. Hoje Zonta participa de várias corridas internacionais e brasileiras e completando 35 anos no dia de hoje, iremos conhecer um pouco mais de sua carreira.

Ricardo Luiz Zonta nasceu no dia 23 de março de 1976 na cidade de Curitiba, capital do Paraná. As corridas entraram cedo na vida de Ricardo quando seu pai, Pedro Joanir, começou a correr em provas no Paraná em 1985 e ele sempre ia ver seu pai em todos os treinos e corridas. Quando completou 11 anos, Zonta ganhou seu primeiro kart e iniciou uma carreira vitoriosa nos micro-bólidos, inicialmente em torneios em Curitiba, depois passando a campeonatos nacionais. Em 1993 Ricardo fez o caminho natural de todo piloto brasileiro iniciante naquela época e pulou do kart para a F-Chevrolet, na equipe curitibana da Action Power, da família Marques. Após apenas um ano, Zonta pulou para a então forte F3 Brasileira na tradicional equipe Cesário e terminou o campeonato em 5º, chamando a atenção da Petrobrás, que começava a investir no automobilismo. Ricardo passa a ser apoiado pela estatal brasileira e vence com facilidade o Sul-Americano em 1995, abrindo as portas para a Europa.

Correndo pelo time italiano Draco, Zonta conseguiu uma ótima temporada de estréia na F3000 Internacional e com duas vitórias, terminou o campeonato em 4º. Já sendo claro o quanto Ricardo Zonta era promissor, o brasileiro participou de uma etapa do ITCC como convidado pela Mercedes, iniciando os contatos que o ajudariam a entrar na F1 mais tarde. Ainda na F3000, Zonta se transfere para a equipe Super Nova, uma das melhores de então, e com seus resultados no ano anterior, o paranaense era o favorito para vencer o título de 1997. Porém, o título não veio fácil. Um colombiano atrevido e atirado tinha vindo da F3 Inglesa e chegou cheio de marra na F3000, pilotando para a equipe campeã, a RSM Marko. Juan Pablo Montoya venceu logo em sua segunda corrida da temporada em Pau, mas Zonta tomou o controle do campeonato após uma vitória (pela metade) em Nürburgring. Após não ter pontuado nas três primeiras corridas, Zonta engatou uma espetacular série de bons resultados e com mais duas vitórias (Hockenheim e Mugello), Ricardo conquistou o título da F3000 com uma etapa de antecipação. A F1 já estava de olho em Zonta e o paranaense teve seu primeiro contato com o carro em um teste com a Jordan ainda em 1997, mas o brasileiro buscava vôo maiores.

Naquela época o posto de piloto de testes era bem mais importante do que atualmente, pois os pilotos realmente iam a pista e testavam por até 5.000 km num ano. Zonta chegou a ser convidado pela Ferrari, mas aceitou um convite tentador de Ron Dennis para ser piloto de testes da McLaren-Mercedes em 1998 com possibilidades de ser efetivado como titular em 1999. Zonta estava com uma ótima chance nas mãos e ainda teria a oportunidade de participar de um campeonato forte em 1998. Com apoio da Mercedes, o brasileiro atuou na equipe oficial da montadora no Campeonato de FIA-GT, ao lado do experiente alemão Klaus Ludwig. A Mercedes na época investia em jovens pilotos juntamente com seus pilotos mais tarimbados, tanto que a outra dupla era formada por Bernd Schneider (esse dispensa apresentações...) e o jovem australiano Mark Webber. Mesmo com a presença forte da Porsche, que venceu a edição das 24 Horas de Le Mans daquele ano, a Mercedes dominou o campeonato, com vitórias em todas as etapas. Enquanto a dupla Zonta e Ludwig era mais equilibrada, Schneider mostrava bem mais velocidade do que Webber, inclusive com o australiano chegando a atrapalhar a vida do alemão. E foi numa dessas presepadas de Webber que Zonta acabou campeão naquele ano. Na última etapa em Laguna Seca, Webber não viu uma mancha de óleo e saiu forte da pista enquanto liderava, entregando a vitória e o título de mão beijada para Zonta e Ludwig. Até aquele momento, a vida de Ricardo Zonta era ótima, mas a partir desse momento escolhas erradas acabaram por lhe atrapalhar a carreira.

Com a McLaren campeã em 1998, o time resolveu manter Mika Hakkinen e David Coulthard para 1999, com Zonta ficando outro ano como piloto de testes. Então, a BAR, que surgia naquele ano após a compra da Tyrrell, apareceu na vida de Zonta. A equipe era uma espécie de feudo de Craig Pollock e Jacques Villeneuve, mas havia muito dinheiro envolvido, além de um invejado apoio da Honda. Zonta conseguiu uma liberação de Ron Dennis e pôde estrear na F1 ao lado de Villeneuve. Após uma estréia consistente na Austrália, quando quase pontuou, Ricardo sofreu um sério acidente em Interlagos, local da segunda etapa do campeonato, e acabou quebrando um pé, o deixando três corridas no estaleiro. Mesmo de fora, Zonta via a equipe BAR se complicar. Após iniciar o ano prometendo vitórias, o time de Pollock raramente chegava ao fim das corridas e nem mesmo o talento de Villeneuve, que colocava os carros em boas posições no grid, faziam com que o time marcasse um ponto sequer. No final do ano, Zonta e a BAR estavam zerados no campeonato, mas o brasileiro resolve ficar mais um ano no time, já que não havia perspectiva de mudanças na McLaren e a Honda investiria ainda mais dinheiro na BAR. Foi o começo do inferno para Ricardo Zonta. Villeneuve era um dos sócios da equipe e passou a marcar pontos de forma regular no ano 2000, se tornando um dos principais pilotos da F1 naquele ano, enquanto Zonta se arrastava nas últimas posições, dando a impressão que estava levando um banho do canadense. Para piorar, durante o famoso Grande Prêmio da Alemanha, que deu a primeira vitória a Rubens Barrichello, Zonta e Villeneuve se envolveram em um incidente e o canadense acabou rodando, destruindo sua corrida. Villeneuve ficou uma fera e criticou abertamente Zonta, que praticamente dava adeus ao time após abandonar a prova quando estava em 3º. Por ironia do destino, Zonta marcaria seus primeiros pontos na F1 nas corridas finais daquele ano já sabendo que estava desempregado.

Com sua imagem queimada junto a F1, Zonta não consegue uma renovação nem como piloto de testes da McLaren, tendo que se conformar com esse cargo na equipe Jordan. Porém, na metade do ano Zonta tem uma chance quando Heinz-Harald Frentzen é dispensado pela Jordan e Ricardo é chamado a participar de uma corrida em Hockenheim (Zonta havia substituído Frentzen no Canadá quando o alemão havia se machucado na etapa anterior). Era a chance de ouro para Zonta mostrar que tinha condições de se firmar como titular na F1, seja na Jordan ou em outra equipe, mas o brasileiro fez uma prova pífia e praticamente deu adeus ao sonho de se tornar um piloto de F1 consolidado. Apenas com chances como piloto de testes, Zonta resolve dar uma guinada na sua carreira ao aceitar participar de uma nova categoria se surgia na Europa em 2002: World Series. O certame servia para rivalizar com a F3000 Internacional, mas também abria espaço para pilotos de testes de F1 ou sem chances na categoria e tentando se redimir, como era o caso de Zonta. Com um carro patrocinado pelo Barcelona FC, Zonta dominou o campeonato e conquistou o título com quatro corridas de antecipação. Com essa vitória, Zonta voltava a ver seu nome comentado nas categorias top e em 2003 ele quase acertou com a Newman-Hass na Cart, mas preferiu se manter na Europa como piloto de testes da Toyota. Foram três anos como terceiro piloto no time japonês e até mesmo algumas corridas pela equipe em 2004, em substituição a Cristiano da Matta. Em 2006, com as equipes utilizando seus terceiros pilotos nas sextas-feiras de corrida, o trabalho de Zonta passou a ser bem procurado e em 2006 ele foi contratado pela então campeã Renault para o cargo de piloto de testes, mas para azar de Zonta, o regulamento da F1 foi mudado e os testes foram ficando cada vez mais restritos. Em 2007 o paranaense correu pela última vez na F1. Foi um total de apenas 36 corridas e três pontos na carreira.

Após dez anos na F1, Ricardo Zonta retornou ao Brasil e compete atualmente na Stock Car, inclusive desde 2009 como chefe de equipe, a RZ. Além da Stock, Zonta participa com sucesso da Gran-Am pela equipe Krohn. Ricardo Zonta é um bom piloto, mas teve alguns azares e escolhas erradas na sua carreira que o fizeram não se mostrar um piloto tão efetivo na F1 como foi em todas as outras categorias. Porém, há um momento histórico para Zonta na categoria máxima do automobilismo. No final do Grande Prêmio da Bélgica de 2000, Zonta foi avisado que estava para levar a segunda volta de Michael Schumacher da Ferrari e o brasileiro colocou seu BAR no meio da pista e tirou o pé. Isso foi a deixa para Mika Hakkinen pôr seu McLaren no outro lado e efetuar uma histórica ultrapassagem dupla sobre Schumacher e o retardatário Zonta. Perguntado após a corrida sobre a manobra, Zonta apenas disse: São dois malucos!

Parabéns!
Ricardo Zonta

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