domingo, 4 de novembro de 2012

Habemus corrida

Não há como negar que as últimas corridas da temporada 2012 da F1 tinham deixado a desejar. Foram corridas aborrecidas, em que Vettel dominou e até mesmo as brigas no pelotão intermediário foram escassas. E a perspectiva não era nada melhor, vendo o histórico de corridas monótonas de Abu Dhabi. Porém, assim como aconteceu com Valencia, outro palco de corridas modorrentas, a temporada 2012 nos promoveu novamente uma corrida histórica, cheia de alternativas e grandes exibições de pilotagem ao longo de quase duas horas de altíssimo nível. Após três anos e uma temporada impecável, Kimi Raikkonen venceu  levando a Lotus ao seu primeiro triunfo desde que a Genni assumiu a antiga Renault no final de 2009. Claro que o nome é Lotus, mas não tem nada a ver com a histórica marca de Colin Chapman, mas deverá entrar para a história. O detalhe que essa mesma estrutura, que chegou à F1 em 1981, foi ao pódio se chamando Toleman, Benetton, Renault e Lotus. Na briga pelo campeonato, Vettel fez provavelmente a corrida de sua vida, enquanto Alonso mostrou mais uma vez ser um monstro.

A corrida em Yas Marina já tinha jeito de ser diferente pela confusão armada pela Red Bull quando errou nos cálculos de combustível do carro de Vettel e o alemão largou do pit-lane. Era o que Alonso queria, mas as circunstâncias deste Grande Prêmio acabariam por fazer Vettel fazer uma espetacular corrida de recuperação, diminuindo os danos do campeonato. Já Webber largou novamente mal e permitiu a Kimi Raikkonen assumir o segundo lugar atrás do dominante Lewis Hamilton. Tirando um erro na segunda volta, a corrida estava a feição do inglês da McLaren, que tinha tudo para vencer em sua longa despedida pela McLaren, mas hoje mostrou o motivo de Hamilton, uma das estrelas atuais da F1, não estar mais brigando pelo título, com um problema que o fez abandonar a prova ainda na metade. Com isso, Raikkonen assumiu a ponta da prova e o finlandês se lembrou dos seus velhos e bons tempos, dominando a corrida a seu bel-prazer, chegando a abrir 7s sobre o segundo colocado, mas um safety-car onde seu atrapalhado companheiro de equipe esteve envolvido pôs a vitória de Kimi em risco. Porém, Raikkonen marcou duas voltas mais rápidas na relargada e abriu a vantagem necessária e que se mostraria importantíssima no final. Enquanto Grosjean, mais uma vez envolvido em incidentes quando bons pontos estavam em suas mãos, olhava com cara de tacho dos boxes a vitória de Raikkonen, o 'Homem de Gelo' fazia sua comemoração habitual, sem grandes arroubos de felicidade, ao contrário de toda a equipe Lotus, que quando se chamava Renault e tinha Fernando Alonso na equipe, era uma das mais engraçadas quando as câmeras mostravam os boxes. Após um começo de campeonato excelente, duvidava bastante de um triunfo da Lotus, ainda mais com a subida espetacular da Red Bull no final do campeonato, mas Kimi se sobressaiu quando viu a chance de vitória cair no seu colo e fez Eric Boullier sorrir de orelha a orelha, pois não é segredo que a Lotus está passando por dificuldades financeiras e até por isso Raikkonen só renovou por um ano, mesmo sendo um dos personagens de 2012.

Alonso pode olhar para o resultado desta corrida na história do copo meio vazio ou meio cheio. Se enxergar pelo prisma que estava apenas em sétimo no grid e com Vettel voando em terceiro, mas tudo mudou com o alemão caindo para último, Alonso tem muito o que comemorar a diminuição da desvantagem que tem para Vettel. Porém, se Alonso lembrar que o mesmo Vettel largou em último e estava ao seu lado no pódio, em terceiro, Fernando deve estar pensado que perdeu uma grande oportunidade nesta reta final do campeonato. Pela cara do espanhol no pódio, Alonso deve ter ficado com a última opção. Porém, com o troféu em mãos, Alonso deve ter pensado no corridão que fez hoje, onde claramente tirou tudo e mais alguma coisa não se sabe da onde de sua Ferrari, e vibrou em direção a sua equipe. Estava claro que faltava ritmo ao carro vermelho, mas Alonso se manteve sempre entre os primeiros e ainda teve tempo de partir numa perseguição implacável e emocionante a Kimi Raikkonen nas voltas finais, fazendo todos prenderem a respiração. De quase 4s, Alonso, longe de ter o melhor carro, chegou menos de 1s atrás de Kimi na bandeirada. Na minha opinião, dois títulos não refletem o que Alonso vem fazendo nos últimos anos da F1. Para se ver o nível de pilotagem de Alonso hoje, Massa esteve a quilômetros da exibição do companheiro de equipe, mas não dá para dizer que Felipe fez uma má corrida, a ponto de ter marcado pontos valiosos após ter sido tocado pelo trapalhão-mor da corrida de hoje.

Ontem eu comentava que essa queda para a última posição do grid poderia fazer muito bem a Vettel, pois uma reação espetacular poderá aumentar ainda mais a confiança do alemão da Red Bull. E foi exatamente isso o que aconteceu. Vettel estava radiante com seu terceiro lugar, acho que mais valioso do que 2/3 de suas vitórias ao longo dos últimos quatro anos. Sebastian teve todo tipo de dificuldades hoje, além do fato de ter largado do pit-lane. Um toque em Bruno Senna quebrou a asa dianteira de Sebastian. Durante a primeira entrada do safety-car, por muito pouco Vettel não bateu na traseira de Ricciardo, a ponto do alemão soltar um 'fuck' pelo rádio. Caiu para último novamente para trocar o bico do seu carro. Teve que devolver uma posição ganha em cima de Grosjean, quando fez a mesma manobra que lhe causou uma punição em Hockenheim. Mas Vettel mostrou a tenacidade dos campeões. Mesmo numa pista de ultrapassagens complicadas, passou vários carros. Inclusive o enjoado Grosjean duas vezes! Teve a sorte que também acompanha os campeões quando trocou os pneus apenas duas voltas antes do safety-car, o deixando em condição privilegiada nas voltas finais. E a corrida de Vettel foi coroada com uma ultrapassagem sobre Button nas voltas finais que lhe rendeu um lugar no pódio. Sempre achei que ainda faltava uma recuperação de chamar a atenção para fazer de Vettel um cara na história. Hoje não falta mais. Vettel hoje é completo. Com a exibição de hoje, merece o tricampeonato tanto quanto Alonso e se não vier em 2012, virá nos próximos anos. Já Mark Webber mostrou que a declaração de Christian Horner de ontem, onde praticamente dispensa o australiano após 2013, está certa. Webber poderia ter sido um fator essencial em ajudar Vettel na briga pelo título. Mas falhou e falhou feio. Primeiro ao largar muito mal (novamente) e ser ultrapassado por Alonso. Depois, não se mostrou agressivo na pressão imposta ao espanhol como nas brigas com Maldonado e Massa, que acabou resultando em dois toques. Nada que pudesse punir Mark, mas que o fez perder tempo a ponto de estar envolvido numa briga entre Pérez e Grosjean, dois pilotos reconhecidamente rápidos e agressivos. E várias vezes punidos. O resultado foi fim de prova para Webber e o fim do sonho da Red Bull em conquistar o Mundial de Construtores, fato que deverá ser efetuado na próxima corrida em Austin.

Dizer que Jenson Button não é um piloto genial, não é injusto com o inglês, mas o piloto da McLaren fez um trabalho decente na corrida de hoje em Abu Dhabi, apesar do seu 'cochilo', como falou o engenheiro de Alonso. Button fez uma prova com sua característica. Sem ser espetacular, mas bastante eficaz. Ou seja, Jenson tira unicamente o que lhe é servido. Porém, isso não foi capaz de lhe fazer segurar Vettel nas voltas finais e o tirar do pódio. Porém, a McLaren tinha o melhor carro do pelotão nas mãos de Hamilton, mas a falta de confiabilidade transformou em fracasso uma possibilidade límpida de vitória. E Lewis terá trabalho em 2013, já que a Mercedes continua se arrastando nessas corridas finais. Contudo, outra marca tradicional da F1 fez uma corrida estupenda hoje com a Williams marcando bons pontos com seus dois pilotos. Maldonado largou bem, ficou em terceiro algumas voltas, mas não foi capaz de segurar o rojão chamado Fernando Alonso. Depois, se manteve calmo frente a um destrambelhado Mark Webber e se manteve num ótimo quinto lugar, atrás apenas de campeões mundiais. Se tivesse feito outras corridas como a de hoje, Maldonado estaria numa situação bem melhor no campeonato. Bruno Senna foi outro a fazer uma boa corrida ao cair para último após um toque em Hülkenberg na primeira curva e a partir de então imprimir um ritmo fortíssimo a ponto de chegar na zona de pontuação. Pena que isso não deverá mudar a decisão da Williams em dispensa-lo em 2013 a favor de Valteri Bottas, outro finlandês que parece ser bastante promissor. E vale aqui um pequeno detalhe na transmissão de hoje. Após o toque com Bruno, Galvão passou a atacar Hulkenberg, dizendo que o alemão não é essas coisas todas. Tudo isso por que Nico esteve próximo de tomar o lugar de Massa na Ferrari e que, na minha opinião, seria uma troca válida, pois o alemão, erros aparte, fez uma temporada melhor do que Massa ao longo do ano.

Outro que necessita de boas exibições (e dinheiro) para ficar na F1 em 2013 e fez boa prova foi Kamui Kobayashi, onde numa prova diferente de suas características, foi sexto numa prova sem arroubos espetaculares de ultrapassagens. O japa foi discreto, ao contrário de Pérez, que mostrou seu lado bom e seu lado mal. Tenho certeza que a imprensa italiana deve ter ficado em polvorosa quando o mexicano deixou Massa para trás no começo da corrida. Mas a imprensa brasileira (leia-se a Globo) entrou em júbilo quando Sérgio se meteu na confusão que tirou da prova Grosjean e Webber, restando a Pérez um stop-and-go de 10s, uma punição rara, mas que só ocorre quando algo grave acontece. Pérez tem que botar na cabeça que fazer isso na Sauber não trás grandes problemas, mas na McLaren lhe trará grande pressão. Paul di Resta marcou pontos com a Force India e foi outro a perder tempo na confusão da primeira curva causada por Hülkenberg. O escocês também se envolveu no incidente com Pérez, mas ainda teve tempo de trocar pneus e voltar a zona de pontuação. A Toro Rosso fechou a zona de pontuação com Ricciardo, mas o australiano deve ter ficado assustado em quase ter jogado Vettel para fora da corrida. Helmut Mark demitiu Jaime Alguersuari por muito menos ano passado... As pequenas apareceram mais do que o normal graças a Vettel, mas também pelo momento mais assustados do ano, quando Narain Karthikeyan teve um vazamento no meio de uma curva dupla e perdeu velocidade de forma abrupta, fazendo com que Nico Rosberg o atropelasse. O alemão saiu voando e ainda bateu forte no soft-wall, mas nada sofreu, o mesmo acontecendo com Narain, que viu a Mercedes passar a centímetros de sua cabeça. 

Muitos críticos (para não dizer chatos...) já se vangloriavam pelas últimas corridas ruins e diziam que a temporada 2012 não era isso tudo, que preferiam 1981, 1982 e 1986. Era assodamento, diziam alguns. Grandes temporadas essas citadas, concordo, mas 2012 estará ao lado delas na história da F1 (ao lado de 1951, 1958, 1968, 1974...) e digo, na antepenúltima etapa do ano, que esta é a melhor temporada que eu assisti. Não me lembro de ter visto um campeonato com oito vencedores diferentes, corridas cheias de alternativas e com uma disputa entre dois pilotos e equipes tão antagônicos como Sebastian Vettel (Red Bull) e Fernando Alonso (Ferrari). E pilotos do naipe de Kimi Raikkonen, Lewis Hamilton e Jenson Button como meros coadjuvantes. Este ano já está na história e quem vencer, seja Vettel ou Alonso, pelo que fizeram hoje, irá merecer amplamente. 

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