sábado, 21 de dezembro de 2013

Destino cruel

Ele fez parte de um trio de pilotos extremamente promissores que surgiu na F3 Alemã no final da década de 80, onde dois deles (Heinz-Harald Frentzen e Michael Schumacher)  conseguiram sucesso na F1, sendo que Schumacher se tornou um dos maiores pilotos da história da F1. Karl Wendlinger também chegou à F1 e no momento em que seu talento desabrochava, o destino foi bastante cruel com austríaco num dos momentos mais tensos da história da F1. Alto, magro e tímido, Karl Wendlinger deixou sua marca como um dos pilotos onde a palavra 'se' cai muito bem sobre o que seria de sua carreira se não fosse o acidente em Monte Carlo. Completando 45 anos, iremos conhecer um pouco mais de sua carreira.

Karl Wendlinder nasceu no dia 20 de dezembro de 1968 na cidade de Kufestein, uma cidade austríaca na histórica região do Tirol. Filho de um piloto de turismo local, o pequeno Karl cresceu em meio às corridas e os carros, já que seu pai preparava seu carro de corrida na garagem de sua casa. Por isso que não foi surpresa que Wendlinger começasse a correr de kart aos 15 anos, conseguindo duas vitórias logo em seu primeiro ano correndo. Em 1984 Karl consegue o título de campeão austríaco de kart júnior e no ano seguinte se gradua nas categorias de kart, onde participa de alguns campeonato internacionais. Após um vice-campeonato austríaco em 1986, Wendlinger sobe para os monopostos com muito sucesso, pois logo em sua estreia, conquista o campeonato austríaco de F-Ford com seis vitórias, além de terminar o mais competitivo certame alemão em sexto. Isso garante a Wendlinger a ascensão para a F3 no ano seguinte, onde não decepciona ao conquistar o certame austríaco. Ainda em 1988 Karl participa do campeonato alemão sem muito sucesso. Na época, o campeonato tedesco só perdia em importância para o certame inglês no automobilismo mundial e por isso Wendlinger fica mais um ano na F3, agora totalmente focado no campeonato alemão. Correndo pela equipe do ex-piloto Helmut Marko, Wendlinger teria uma companhia pesada naquele ano de 1989, onde vários pilotos se destacariam mais tarde no automobilismo mundial, como Tom Kristensen, Michael Bartels, Frank Biela e Michael Krumm.

Porém, os maiores adversários de Wendlinger eram os alemães Heinz-Harald Frentzen e Michael Schumacher, ambos bastante conhecidos do austríaco desde os tempos do kart. Schumacher corria pela equipe campeã e era um dos favoritos, enquanto Frentzen, considerado um piloto extremamente promissor, chegou a trocar o chassi Dallara pelo Reynard durante o ano, mas seus resultados continuava a aparecer. Correndo por fora, mas igualmente tão promissor como os rivais, Wendlinger protagonizou junto com Frentzen e Schumacher um campeonato histórico de F3, onde derrotou os rivais numa dramática corrida final em Hockenheim, onde Wendlinger teve problemas e Frentzen terminou em segundo, apenas a 2s de tomar o título de Karl. Foi uma demonstração tamanha de talento, que a Mercedes contratou os três para o programa de jovens pilotos da empresa, onde eles participariam do Mundial de Marcas, comandados pelo chefe de equipe Peter Sauber, ao lado dos veteranos Mauro Baldi e Jean-Louis Schlesser. Ao lado de Mass, Wendlinger obtém uma vitória em Spa e fica em segundo lugar em Suzuka e Monza. Fiel a Helmut Marko, Karl participa de algumas corridas na F3000 ainda em 1990, mas seu único resultado de relevo é um quinto lugar em Hockenheim, no que seria seus único pontos na categoria naquele ano de estreia. Farejando o grande talento que tinha em mãos e com o projeto de entrar na F1 em andamento, o chefe esportivo da Mercedes Jochen Neerpasch pensa em dar experiência aos seus jovens pilotos na categoria máxima. Primeiro, conseguiu um lugar para Schumacher na Jordan quando Bertrand Gachot é preso. Quando Schumacher se destaca e quase que imediatamente consegue um lugar na Benetton, o que se dizia na época era que Schumacher correria na equipe italiana até 1995 numa espécie de empréstimo, mas o alemão iria para uma equipe Mercedes logo a seguir. Na prática, Schumacher só assumiria um lugar na Mercedes em 2010...

Já Wendlinger teve que esperar um pouco mais. Enquanto fazia corridas pela Mercedes no Mundial de Marcas, Wendlinger participou de oito corridas na F3000 pela equipe de Helmut Marko e consegue um terceiro lugar em Hockenheim, acabando por terminar a temporada em 11º. Sabendo que a equipe Leyton House sofria com problemas financeiros em meados de 1991, Neerpasch praticamente comprou o lugar de Ivan Capelli nas corridas finais daquele ano e Wendlinger pôde fazer sua estreia na F1 no Grande Prêmio do Japão. Largando apenas em 22º, sem muita experiência no carro, Karl se envolve num múltiplo acidente ainda no começo da prova e a corrida seguinte não seria muito mais longa, pois um temporal desabou sobre Adelaide e apenas quatorze voltas foram dadas. Mesmo sabendo que a Leyton House estava deixando a F1 devido a escândalos financeiros do seu dono, a Mercedes resolve manter Wendlinger na agora equipe March, ao lado do fraquíssimo Paul Belmondo, mais conhecido por ser filho do famoso ator francês. Com sérios problemas financeiros, a March não constrói um novo carro para 1992 e a única modificação é o alargamento do cockpit para acomodar o alto Wendlinger dentro do carro. Logo na primeira corrida em Kyalami Karl consegue o melhor grid da March do ano com um sétimo lugar, mas os problemas financeiros da equipe não permitem maiores voos de Wendlinger. A situação da equipe era tão caótica, que durante os treinos para o Grande Prêmio da Espanha, a March não tinha dinheiro para pagar uma multa por ter trocado os pneus de Wendlinger num momento que não era permitido. Em Montreal, conta a lenda que a equipe chegou a colocar anúncios nos jornais locais procurando algum patrocinador. Por ironia do destino, a prova canadense acabou sendo bastante conturbada e Wendlinger acabou marcando seus primeiros pontos com um quarto lugar.

Todos reconheciam o talento de Karl Wendlinger, mas os vários problemas da March não permitiram que sua velocidade fosse mais aparente e para mostrar o quanto podia fazer, seu antigo companheiro de equipe na Mercedes Michael Schumacher fazia uma ótima primeira temporada completa na F1, onde o alemão conseguiu sua primeira vitória e terminou o campeonato em terceiro lugar, à frente de Ayrton Senna. Paralelo a isso, a Mercedes colocava na pista seu primeiro carro de F1 em mais de quarenta anos e Wendlinger, ainda em 1992, foi o piloto responsável dos primeiros testes do novíssimo Sauber. A nova equipe correria ainda sem o nome Mercedes, mas a Sauber fez sua estreia em 1993 com Wendlinger e o finlandês J.J. Lehto. O bom  trabalho da Mercedes é capaz de levar o belo carro negro a brigar pelas posições na zona de pontuação, com Lehto marcando pontos em duas das quatro primeiras provas. As primeiras corridas de Wendlinger na Sauber são marcadas pelo azar, pois normalmente o austríaco largava entre os dez primeiros, mas acabava por sofrer com problemas nas corridas, particularmente com Michael Andretti. Em Mônaco, Wendlinger e Lehto colidem num erro do finlandês e por coincidência, os resultados de Karl melhoram, conseguindo um sexto lugar em Montreal, um ano após seu resultado miraculoso na mesma pista. No Grande Prêmio da Itália, Wendlinger fazia uma disputa encarniçada com (de novo...) Michael Andretti, mas desta vez o americano se comporta melhor e ambos terminam a prova, com Wendlinger completando a prova em quarto lugar, igualando seu melhor resultado na carreira, enquanto que para alívio de Karl, aquele pódio de Andretti marcou sua última corrida na F1...

Para 1994 a Mercedes finalmente entraria como fornecedora oficial da Sauber e Wendlinger teria como companheiro de equipe um velho conhecido seu: Heinz-Harald Frentzen. Desde os testes de pré-temporada o novato alemão mostrava que seria uma das futuras estrelas da F1, mas Wendlinger sempre andaria no mesmo ritmo e quem ganhava com isso era a própria Sauber. No Brasil, Frentzen fica na frente de Karl no grid, mas o austríaco termina a confusa prova em sexto, enquanto Frentzen abandona, mas em Aida, o alemão vira o jogo quando termina em quinto lugar usando seu conhecimento da pista japonesa dos tempos em que Frentzen participou da F3000 Nipônica, enquanto Wendlinger abandona. Em Ímola, novamente Karl Wendlinger consegue um quarto lugar, mas aquele final de semana seria um dos mais trágicos da história da F1 e além da morte de Senna, uma lenda vida da F1, Wendlinger teve que lhe dar com a morte do compatriota e amigo Roland Ratzenberger. Apenas alguns dias depois de velar o amigo, Wendlinger partiu para o principado de Mônaco, pista onde normalmente se dá bem, mas o clima no paddock era terrível e a tensão era tamanha que quase se podia sentir o cheiro de tragédia no ar. No primeiro treino da quinta-feira, Schumacher marcou o melhor tempo, mas no final do treino seu motor Ford estourou dentro do túnel. Então, um grande estrondo foi ouvido na chicane do porto. Karl Wendlinger perdeu o controle do seu Sauber a 270 km/h na freada da chicane e bateu de lado numa proteção de pneus. A pancada foi fortíssima. Quando os médicos da FIA chegaram rapidamente ao local, Karl estava inconsciente e com traumatismo craniano. A F1 entrou em choque. Imediatamente Wendlinger entrou em coma, mas boatos diziam que o austríaco estava morto e isso seria anunciado após a corrida, para não aumentar ainda mais a propaganda negativa da F1 em meio a tantos acidentes graves e duas mortes menos de quinze dias antes.

A verdade é que a carreira de Karl Wendlinger na F1 acabou naquele momento. O austríaco ficou três semanas em coma, mas acabaria se recuperando a ponto de quase participar do Grande Prêmio do Japão, no final de 1994. Falou-se que seu preparo físico ainda não estava ok, mas a verdade era que a velocidade promissora de Karl Wendlinger pareceu ter ficado naquele guard-rail em Mônaco. Os testes de pré-temporada mostraram isso, mas Peter Sauber, em consideração a Wendlinger, o deixou sob contrato para 1995, onde a Sauber ainda teria Frentzen e os novos motores Ford V8, já que a Mercedes tinha assinado um contrato de longa duração com a McLaren. Ao lado de um piloto muito rápido e querendo muito aparecer como era o caso de Frentzen, os resultados ruins de Wendlinger ficaram aparentes demais. Enquanto o alemão conseguia resultados entre os dez primeiros no grid, Wendlinger não conseguia sequer um top-20. Após as quatro primeiras provas do ano, Sauber diminuiu o sofrimento do seu pupilo e o substituiu pelo então campeão da F3000 Jean-Christophe Boullion. O francês, que seria destaque no turismo nos anos seguintes, também não conseguiu acompanhar o ritmo de Frentzen e acabou sacado no final do ano. Em consideração ao esforço de Wendlinger, Sauber o deixou fazer as duas últimas corridas de 1995, mas Karl já não era mais o mesmo e ele abandonou a última corrida por problemas físicos. Foi sua última corrida na F1. Foram 41 Grandes Prêmios e apenas 14 pontos marcados.

Após seus anos na F1, Karl Wendlinger investiu forte nas categorias de turismo e GT. Em 1996 ele conseguiu um segundo lugar nas 24 Horas de Le Mans e em 1997 ele participou do inesquecível Campeonato Italiano de Superturismo com a Audi. Karl participou nos quatro anos seguintes do Mundial de FIA GT pela equipe Oreca Chrysler, onde foi campeão em 1999. Após dois anos no DTM no biênio 2002-03, Wendlinger voltou aos GTs, onde corre até hoje. É difícil especular do que seria a carreira de Karl Wendlinger se não fosse seu sério acidente em Mônaco, mas pela forma como seus dois rivais da F3 alemã se comportaram ao longo de suas carreiras na F1, podia-se esperar vitórias do austríaco e, por que não?, até brigar por eventual título na F1 se ele estivesse no lugar certo ou na hora certa, como aconteceu com Schumacher e não aconteceu com Frentzen, mesmo o alemão também ter sido uma estrela na F1 na virada do século. Porém, Wendlinger não pode reclamar, pois hoje é um sólido piloto de GT e participar ativamente até hoje de campeonatos fortes pelo mundo.

Parabéns!
Karl Wendlinger 

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