sábado, 14 de abril de 2012

Sorrisos contidos

Quando um piloto consegue algum dos seus objetivos de carreira pela primeira vez, a alegria pela meta alcançada contagia a todos e emociona todo o paddock. Contudo, os sorrisos brandos de Nico Rosberg pela sua primeira pole-position na F1 não teve de arrogância ou prepotência, mas conhecimento das limitações do seu carro em ritmo de corrida, ao contrário do que ocorre em ritmo de classificação, onde a Mercedes mostra ter um dos melhores carros em uma única volta rápida. Além do fato de Nico Rosberg ter conquistado sua primeira pole, a Mercedes saiu de um jejum que durava desde 1955, ainda com Juan Manuel Fangio, e ajudado pela punição a Lewis Hamilton, o time prateado conseguiu a primeira fila completa com Michael Schumacher.

Os treinos em Xangai teve suas surpresas e a maior delas foi Sebastian Vettel, recordista de poles numa única temporada na história da F1, ficado apenas em 11º e fora do Q3. Isso não acontecia desde 2009 e o alemão, que parece nervoso com a situação atual de não mais dominar a F1, vide o entrevero que teve com Narain Karthikeyan na Malásia, pode ficar ainda mais estressado. Logo atrás de Vettel, ficou Felipe Massa, mas o brasileiro ter ficado no Q2 não chega a ser nenhuma novidade. Mark Webber mais uma vez superou Vettel e foi ao Q3, mas não ameaçou os pilotos com motores Mercedes, que dominaram o Q3. Porém, Hamilton largará apenas em sétimo pela troca do câmbio de sua McLaren, mas foi impressionante o quanto Jenson Button não acompanhou o ritmo do companheiro de equipe. Da mesma forma de Mercedes e McLaren, a Sauber colocou seus dois carros no Q3 e Kobayashi conseguiu a proeza de largar em terceiro, à frente da Lotus de Raikkonen. O japonês começava a ser questionado após o estrondoso sucesso de Sérgio Pérez na corrida anterior e Koba deu uma baita resposta a quem começava critica-lo.

Olhando as duas primeiras filas com o prisma de 2011, a formação Rosberg-Schumacher-Kobayashi-Raikkonen é de assustar qualquer um. O grande problemas é o ritmo de corrida. A Mercedes não trata muito bem dos pneus, enquanto Kobayashi nunca largou tão a frente e Raikkonen ainda não mostrou seu virtuosismo de outros anos. Com Alonso apenas em nono e esperando por um milagre vindos dos céus chineses, a corrida pode ser uma briga McLaren-Red Bull novamente.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

História: 25 anos do Grande Prêmio do Brasil de 1987


A F1 iniciava sua temporada de 1987 bem mais tarde do que o normal, lembrando-se que não fazia muito tempo, as primeiras provas da temporada, na América do Sul, eram realizadas ainda em janeiro. Durante o inverno, a troca de projetistas agitou mais os bastidores da F1 do que as trocas de pilotos, que, por sinal, foram poucas. A Ferrari havia agitado o mercado com a contratação de John Barnard ainda na metade de 1986 e o inglês chegou tentando mudar a forma de trabalhar dos italianos. Por sinal, Barnard exigiu um escritório na Inglaterra, pois não gostava da Itália! Para compensar a enorme perda de Barnard, com o qual conquistou todos os seus títulos na década de 80, a McLaren trouxe Gordon Murray da Brabham, demonstrando a queda do time de Bernie Ecclestone desde a saída de Piquet no final de 1985 e que nunca mais tinha brigado por vitórias desde então.

Falando em Piquet, o brasileiro continuaria na Williams mesmo com a encarniçada briga com Nigel Mansell, onde o time de Frank Williams viveu um clima de guerra civil pela enorme rivalidade criada entre os dois pilotos em 1986. O grande beneficiado pela rixa foi o então campeão Alain Prost, que conquistou de forma dramática seu segundo título consecutivo e teria um companheiro de equipe menos perigoso do que o aposentado Keke Rosberg na figura de Stefan Johansson, que fracassou na Ferrari como possível salvador da pátria na desorganizada escuderia. Os italianos trouxeram a revelação Gerhard Berger, com o austríaco tendo uma ótima temporada em 1986 com a Benetton e chegava ao time de Maranello com fome de sobrepujar Michele Alboreto e se aproveitar dos conhecimentos de Barnard. Ayrton Senna já era considerado um dos grandes da F1, mas diziam que ainda lhe faltava experiência para levar a Lotus rumo ao título mundial, mesmo sua equipe agora tendo os desejados motores Honda, trazidos por causa do talento de Senna, mas a Lotus teve que engolir a entrada de Satoru Nakajima no time em troca do motor. Falando em troca de motores, a Ligier acabou sofrendo uma reviravolta ainda antes da temporada. O time francês tinha um contrato com a Alfa Romeo para 1987, mas os italianos foram comprados pela Fiat no início daquele ano e a montadora italiana, que já investia na Ferrari, não quis duas marcas suas na F1 e obrigou a Alfa abandonar a F1, após anos de glória nos anos 50. O problema foi que a Ligier já tinha projetado o carro com o motor Alfa e com a saída dos italianos, teve que fazer um ‘arranjo técnico’ para colocar os motores da Megatron, uma preparadora que utilizava antigos motores BMW turbo. A Ligier não participou da primeira corrida em Jacarepaguá e não viu a primeira corrida do Troféu Jim Clark e Colin 
Chapman, reservado apenas aos pilotos e equipes com motores aspirados.

Mesmo com a FISA fazendo de tudo para acabar com a vantagem dos motores turbo, como a válvula pop-off para limitar a pressão dos turbo, foram os carros com motores turbo que dominaram a Classificação em Jacarepaguá, com Mansell tomando o primeiro lugar de Piquet, mostrando que a briga iniciada em 1986 continuaria em 1987. A diferença entre os dois carros da Williams e o primeiro carro não-Williams, Senna, era superior a 2s, mostrando a superioridade dos carros ingleses. A Benetton surpreendia ao colocar bem seus dois carros entre os dez primeiros, inclusive seu novo contratado Thierry Boutsen.

Grid:
     1)      Mansell (Williams) – 1:26.128
     2)      Piquet (Williams) – 1:26.567
     3)      Senna (Lotus) – 1:28.408
     4)      Fabi (Benetton) – 1:28.417
     5)      Prost (McLaren) – 1:29.175 
     6)      Boutsen (Benetton) – 1:29.450
     7)      Berger (Ferrari) – 1:30.357
     8)      Warwick (Arrows) – 1:30.467
     9)      Alboreto (Ferrari) – 1:30.468
   10)   Johansson (McLaren) – 1:30.476

O dia 12 de abril de 1987 estava quente e ensolarado em Jacarapaguá, um belo dia de praia no Rio de Janeiro, mas milhares de torcedores foram ao circuito para torcer por seus compatriotas com cartazes ‘Acelera Piquet!’ e ‘Dá-lhe Senna’. E foram os dois brasileiros que largaram melhor, com Nigel Mansell perdendo muito tempo na largada e caindo para quinto, atrás das duas Benetton. Piquet e Senna dispararam na frente, com o piloto da Williams logo abrindo vantagem sobre o rival, enquanto Mansell aproveitava a potência do motor Honda turbo para ultrapassar o quarto colocar Thierry Boutsen ainda na segunda volta no meio da reta oposta.

Com o calor carioca, o desgaste dos pneus seria um fator essencial para a corrida e se tinha alguém que sabia dosar bem esse quesito era Alain Prost que, além disso, venceu em Jacarepaguá em 1984 e 1985. Ele vinha em sexto, com seu novo McLaren bico de pato com uma tocada bem dosada, sem forçar demais. Isso acabaria lhe rendendo dividendos mais tarde. Com Mansell ultrapassando Fabi na terceira volta e Prost fazendo o mesmo com Boutsen no mesmo local, o ritmo da corrida era forte. Ainda na sétima volta, Piquet surpreendeu a todos ao ir aos boxes devido à torcida. Isso mesmo. A eufórica torcida brasileira torcia tanto pelos compatriotas que acabaram jogando muitos papeis na pista e esses detritos acabaram enchendo os radiadores da Williams de Piquet, que teve que ir aos boxes tirar os papeis que superaqueciam o motor Honda e trocar seus pneus, caindo para 11º. Senna assumiu a liderança, mas com Mansell bastante próximo da Williams, enquanto Prost assumia o terceiro posto ao ultrapassar a Benetton de Fabi. Prost crescia a olhos vistos.

Para desespero de Mansell, os mesmos papeis que atrapalharam Piquet também fizeram o motor do Williams-Honda do inglês superaquecer e Mansell perdeu terreno frente a Senna. Antes de entrar nos boxes na 11º volta, o piloto da Williams foi ultrapassado por Prost na reta oposta, bem na frente da torcida carioca, que vibrou como um gol. Com a briga entre Mansell e Piquet em 1986, o inglês passou a ser o vilão para os brasileiros. Contudo, a alegria brasileira só durou até a volta seguinte. Com os pneus desgastados, Senna teve que ir aos boxes trocar sua borracha da Goodyear, entregando a liderança para Prost, que postergou sua parada por três voltas. Todas essas paradas fizeram com que Piquet voltasse a liderança, tendo que ultrapassar Boutsen antes de completar a 18º volta. Porém, de forma surpreendente, Piquet retornou aos boxes na volta 20 com os pneus desgastados. A corrida nem havia chegado a metade e muita coisa já havia acontecido! A prova lembrava um pouco o caos que foi o Grande Prêmio do México de 1986, onde os pilotos desgastavam seus pneus e rapidamente voltas aos boxes para trocá-los.

Na primeira rodada de paradas, Mansell e Prost levaram vantagem sobre Senna, mas o francês da McLaren estava colado na traseira da Williams de Mansell e o ultrapassou na 21º volta. Para não mais perde-la. Com os pneus desgastados, Mansell e Senna parariam mais vez logo em seguida, enquanto Prost disparava na ponta. O francês havia largado com os pneus duros, bem mais resistentes do que os moles escolhidos pelos seus rivais. Até mesmo Johansson surpreendia. Com a mesma tática de pneus de Prost, o sueco só fez sua parada na volta 34 de 61 programadas e estava completando uma dobradinha da McLaren no momento em que foi aos boxes. Piquet vinha num distante segundo lugar, enquanto Senna e Mansell tinham dificuldades. O inglês teve que fazer uma terceira parada por causa de um pneu traseiro esquerdo furado e voltaria apenas em nono, iniciando uma corrida de recuperação que o colocou ainda em sexto no final. Pior sorte teve Senna, que viu o tão desejado motor Honda lhe deixar na mão bem na frente dos boxes quando faltavam dez voltas para o fim. Confirmando o quão anda bem em Jacarepaguá, Prost ganhou com mais de 40s de vantagem sobre Piquet, que ainda sorriu no pódio após uma corrida muito complicada em casa. A McLaren mostrava força ao colocar Johansson no pódio, mas quem não tinha do que reclamar era Prost. Com uma estratégia inteligente, Alain Prost iniciava a defesa do seu título da melhor forma possível.

Chegada:
     1)      Prost
     2)      Piquet
     3)      Johansson
     4)      Berger
     5)      Boutsen
     6)      Mansell

domingo, 8 de abril de 2012

A carga de Jorge

O catalão pode ser arrogante e nada simpático, mas não há como não admirar Jorge Lorenzo. O piloto da Yamaha conseguiu o vice-campeonato na temporada passada mesmo com todo o domínio da Honda de Casey Stoner e na primeira corrida de 2012, Lorenzo conseguiu a pole e se aproveitou do desgaste dos pneus de Stoner para começar este ano com o pé direito.

Lorenzo é do tipo de piloto que lembra um pouco seu conterrâneo Fernando Alonso, que tira tudo de sua máquina e consegue resultados superiores ao real potencial do seu equipamento. A Honda ainda tem uma moto melhor do que a Yamaha mesmo com a mudança de 800cc para 1000cc neste ano, mas Lorenzo não ligou muito para essa desvantagem para conseguir uma vitória categórica, derrotando os dois pilotos da Repsol Honda. Logo na largada Lorenzo, Stoner e Daniel Pedrosa dispararam na ponta e passaram a prova inteira andando próximos uns dos outros, com uma vantagem inicial de Lorenzo, mas Stoner logo tomou a ponta. Todos lembraram de como isso acontecia em 2011 e o final era uma vitória tranquila de Stoner. Porém, o australiano nunca teve uma vantagem superior a 2s sobre Lorenzo, que era pressionado por Pedrosa.

O diferencial deste ano para a temporada anterior são os novos pneus Bridgestone, projetados para aquecer mais rápido e diminuir o número de quedas por falta de aderência devido a problemas de pneus frios, ainda pelos reflexos da morte de Marco Simoncelli. Isso teria uma contraindicação e foi o desgaste dos pneus. E foi exatamente isso que aconteceu. Stoner perdeu rendimento de forma repentina nas voltas finais e foi superados pelos dois espanhóis de forma inapelável, não tendo como se defender. Após a corrida, Stoner não escondia seu descontentamento. Ao contrário de Lorenzo, que parecia mais feliz do que em outras vitórias e ainda foi cumprimentado pelo seu arquirrival Daniel Pedrosa antes do pódio.

Com o trio se destacando, os outros pilotos se tornaram coadjuvantes. Cal Cruthlow, que conseguiu um surpreendente terceiro lugar, largou mal e passou a corrida inteira pressionando seu companheiro de equipe Andrea Doviziozo, só conseguindo o quarto lugar nas voltas finais. Stefan Bradl, que estreava na MotoGP após seu triunfo na Moto2, fez uma boa corrida, mas teve problemas parecidos com o de Stoner e foi engolido por Nicky Hayden e Alvaro Bautista. O americano foi amplamente superior a Valentino Rossi em todo o final de semana, já levantando debates da real motivação de Rossi na MotoGP, ainda mais com a iminente venda da Ducati. A performance de Rossi só não foi mais constrangedora do que Ben Spies, companheiro de equipe de Lorenzo, mas levando quase um minuto do espanhol, sendo o último dos pilotos com motos protótipos, ficando poucos segundos da primeira CRT do veterano Colin Edwards.

Ao contrário das provas da Moto2 e Moto3, que estreou este ano com vitória do maior favorito desse ano, Maverick Viñalez, a MotoGP teve uma prova sem tantas emoções, mas nem por isso sem um final empolgante, com a queda de rendimento de Stoner. A Honda deve começar a pensar em como lidar com o desgaste de pneus, já que Bradl também teve o mesmo problema, enquanto Pedrosa só se salvou pelo pouco peso que tem. Jorge Lorenzo soube manter um ritmo forte e ainda assim se manter perto das Hondas e se sobressaiu a Pedrosa e um decepcionado Stoner. Pode ser o início da briga de um homem (Lorenzo) contra a máquina (Honda). E essa briga promete!

quinta-feira, 5 de abril de 2012

História: 30 anos do Grande Prêmio dos Estados Unidos-Oeste de 1982


Um pouco antes do Grande Prêmio dos Estados Unidos-Oeste, em Long Beach, Carlos Reutemann chocou o mundo da F1 dizendo que estava se aposentando após sua corrida maluca em Jacarepaguá, quando bateu em Niki Lauda e René Arnoux em duas disputas por posição distintas, como se estivesse querendo demonstrar uma garra que não mostrou nos momentos decisivos de 1981, onde perdeu o título para Nelson Piquet. Muitas teorias foram levantadas dos verdadeiros motivos da saída de Reutemann. Até mesmo um protesto em favor da Argentina durante a Guerra das Malvinas foi levantado, mas conta-se que Reutemann fez aquilo apenas para prejudicar a Williams, numa espécie de vingança. Quando perdeu o título para Piquet no final de 1981, o argentino surpreendeu ao sinalizar que ficaria mais um ano na Williams, mesmo o time tendo se voltado contra ele durante a temporada. Reutemann fez todos os testes e até conseguiu um pódio em Kyalami, mas fez isso apenas para Frank Williams não conseguir um piloto de ponta para a temporada 1982 e deixar o time órfão naquele momento. O que Reutemann não sabia era que ele mudaria a história daquela temporada por causa de sua decisão, pois a Williams resolveu apostar em Keke Rosberg, um piloto considerado apenas esforçado e longe de ser uma estrela no paddock. Algo que mudaria dramaticamente oito meses depois...

Desesperada por um piloto e estando nos Estados Unidos, a Williams trouxe Mario Andretti de volta de sua aposentadoria sem o experiente piloto sequer testar o carro. Porém, as surpresas não parariam por aí. Ainda revoltada pelos acontecimentos em Jacarepaguá, a Ferrari chegou em Long Beach com uma asa traseira completamente diferente do normal. O time italiano alegou que apenas interpretou o regulamento ao seu modo, dizendo que as regras só falavam no tamanho das asas, não sua quantidade. Os próprios pilotos ferraristas diziam que aquilo não ajudava em nada no desempenho, mas estava na cara que os carros vermelhos seriam desclassificados. Como realmente seriam no final da prova. No entanto, a maior surpresa ficou para Andrea de Cesaris, que conseguiu sua primeira pole na carreira e a primeira da Alfa Romeo em sua volta a F1. Ao seu lado, estaria Niki Lauda, mostrando aos 33 anos que estava mais do que em forma. Nelson Piquet sofreu um forte acidente nos treinos e estreava um novo freio de carbono, mas sem o acerto ideal, largaria apenas em sexto.

Grid:
       1)      De Cesaris (Alfa Romeo) – 1:27.316
       2)      Lauda (McLaren) – 1:27.436
       3)      Arnoux (Renault) – 1:27.763
       4)      Prost (Renault) – 1:27.979
       5)      Giacomelli (Alfa Romeo) – 1:28.087
       6)      Piquet (Brabham) – 1:2.276
       7)      Villeneuve (Ferrari) – 1:28.476
       8)      Rosberg (Williams) – 1:28.576
       9)      Pironi (Ferrari) – 1:28.680
     10)   Jarier (Osella) – 1:28.708

O dia 4 de abril de 1982 estava quente e ensolarado, como normalmente acontecia em Long Beach em todas as edições que sediou o Grande Prêmio dos Estados Unidos-Oeste. Todos conheciam a velocidade e talento de Andrea de Cesaris, assim como sua fama em se meter em encrencas dentro da pista. Porém, ninguém sabia como o italiano de apenas 22 anos se comportaria na ponta de uma corrida e na sua primeira prova, De Cesaris passou com louvor, largando bem e mantendo a ponta sem maiores problemas na apertada primeira curva. Ao contrário do que se imaginaria, foi o experiente Lauda que não largou tão bem e acabou ultrapassado por Arnoux na entrada para a primeira curva. Giacomelli e Villeneuve, com sua asa traseira dupla, também deixaram Prost para trás e a primeira volta transcorreu de forma tranqüila.

Com um bom acerto para o apertado circuito de Long Beach, De Cesaris se distanciava de Arnoux, que corria absolutamente no limite com seu Renault turbo, claramente segurando Lauda e Giacomelli. Mais atrás, Villeneuve fazia o mesmo com Prost, Rosberg e Piquet. Definitivamente, Long Beach não era o habitat natural dos motores turbo. Na sexta volta, com Arnoux se segurando como podia, Bruno Giacomelli perde a paciência e saindo mais forte do que Lauda deixa a McLaren para trás na saída de curva e imediatamente cola na Renault de Arnoux. Mesmo não tendo a mesma fama do seu companheiro de equipe, Giacomelli também era conhecido por não ser um dos pilotos mais cerebrais e logo após deixar Lauda para trás, erra a freada e acerta a traseira da Renault de Arnoux, fazendo com que o francês bata no muro e ambos abandonassem, abrindo espaço para Lauda.

Num ritmo fortíssimo, Lauda se aproximou rapidamente de De Cesaris e o italiano teria outra prova do seu talento, tendo que segurar um bicampeão mundial atrás de si. Com carros idênticos (ambos patrocinados pela Marlboro), Lauda e De Cesaris andavam bastante próximos, mas o italiano da Alfa Romeo se comportava exemplarmente, não dando espaços para Lauda atacar. Contudo, o austríaco estava mais rápido e não demoraria para a velha raposa dar o bote no momento correto. No final da 13º volta, De Cesaris encontra o retardatário Raul Boesel na chicane que antecede a reta dos boxes. Era uma seção apertada do circuito, mas não querendo perder tempo, o piloto da Alfa tentou a ultrapassagem de qualquer maneira, fazendo com que Lauda se aproximasse. Sem espaço, De Cesaris só efetuou a ultrapassagem quando entraram na reta, não se esquecendo de levantar o braço e reclamar de Boesel, enquanto saindo mais rápido, Lauda colocou de lado e ultrapassou o italiano. Indo embora. Sem chances de acompanhar Lauda, Andrea de Cesaris ficou em segundo, mas andando muito forte. Forte demais. Na 33º volta, o italiano acabaria rodando e batendo no muro, num acidente nunca mostrado, mas esse chassi destruído não renderia críticas a De Cesaris, bastante elogiado pelo seu desempenho naquele dia de abril de 1982.

Com a briga pela primeira posição definida, uma espetacular briga começava mais atrás. John Watson usou sua experiência para ultrapassar Piquet e Rosberg até finalmente deixar Villeneve para trás. Como era de sua natureza, Gilles Villeneuve andava num ritmo nitidamente superior ao do seu carro e ainda segurava Rosberg, repetindo a bela briga ocorrida em Jacarepaguá. Sabendo da agressividade dos dois pilotos, iniciou-se uma espetacular batalha entre Villeneuve e Rosberg, que entrou para a história da F1 e é facilmente encontrada no youtube. Rosberg se sobressaiu finalmente na volta 25, após muitas trocas de posição e quando Villeneuve perdeu a freada no final da reta dos boxes, perdendo tempo com relação ao finlandês da Williams. Uma volta depois, os novos freios de Piquet falharam e o brasileiro, que apesar de ter conquistado sua primeira vitória na F1 em Long Beach não gostava do circuito, bateu no muro e abandonou. Com Watson tendo problemas, Rosberg assumiu a segunda posição e se viu com 45s de desvantagem para Lauda. Vinte voltas depois, o piloto da Williams havia descontado 23s, dando a sensação que poderia ameaçar Lauda, mas o austríaco da McLaren mostrou toda a sua categoria ao controlar a vantagem para Rosberg e conseguir sua primeira vitória após sua volta a F1. Muitos acusaram Lauda ter voltado a F1 apenas para ganhar dinheiro, mas o piloto da McLaren mostrou que voltou para vencer, como nos velhos tempos.

Chegada:
      1)      Lauda
      2)      Rosberg
      3)      Patrese
      4)      Alboreto
      5)      De Angelis
      6)      Watson

quarta-feira, 4 de abril de 2012

História: 35 anos do Grande Prêmio dos Estados Unidos-Leste de 1977


A F1 passava por uma fase negra quando aportou na Califórnia para o segundo Grande Prêmio nas ruas de Long Beach. Além da terrível morte de Tom Pryce, a F1 viu outro piloto promissor nos deixar de forma trágica, mas não nas pistas. Enquanto James Hunt vencia a Corrida dos Campeões, naquele mesmo domingo José Carlos Pace descansava em São Paulo e viajava para o interior quando o seu avião, pilotado por Marivaldo Fernandes, bateu na Serra da Cantareira e o Brasil ficava órfão de um dos seus grandes pilotos da história. A Brabham colocou Hans-Joachim Stuck em seu lugar, mas o time de Bernie Ecclestone só se recuperaria nos anos 80.

Voltando à Califórnia, a F1 vivia um campeonato emocionante, com a Ferrari não dominando como em 1975-76, a Lotus numa crescente e a Wolf querendo mostrar que sua vitória na Argentina não era apenas um incidente isolado. No primeiro treino, Scheckter consegue um leve predomínio em seu Wolf, com Lauda, Reuteman e Andretti o seguindo, enquanto Emerson Fittipaldi surpreendia com um quinto lugar. No sábado, Lauda e Andretti pulam na frente, deixando Scheckter na segunda fila, por que o sul-africano testou, sem sucesso, pneus traseiros mais largos. Mostrando a força da Brabham, Watson pulou na frente de Emerson, trazendo consigo Jacques Laffite. Stuck, substituto de Pace, ficou apenas em 17º, mostrando o quanto a Brabham perdera com a morte do brasileiro.

Grid:
      1)      Lauda (Ferrari) – 1:21.630
      2)      Andretti (Lotus) – 1:21.868
      3)      Scheckter (Wolf) – 1:21.887
      4)      Reutemann (Ferrari) – 1:22.260
      5)      Laffite (Ligier) – 1:22.296
      6)      Watson (Brabham) – 1:22.372
      7)      Fittipaldi (Copersucar) – 1:22.382
      8)      Hunt (McLaren) – 1:22.529
      9)      Jarier (Penske) – 1:22.611
    10)   Peterson (Tyrrell) – 1:22.655

O dia 3 de abril de 1977 estava quente e ensolarado na Califórnia, condições mais do que normais para uma corrida de Formula 1. Com uma curva de baixa velocidade logo após a largada, esperavam-se acidentes logo na primeira volta. E foi exatamente o que aconteceu. Jody Scheckter consegue uma largada de sonho, saindo da segunda fila rumo a primeira posição. Andretti não larga tão bem, atrasando Reutemann e Hunt. Isso fez com que Vittorio Brambilla, o italiano da March que largava em 11º, se animar com uma brecha e acaba acertando a traseira da McLaren de Hunt, fazendo o inglês sair da pista. Carlos Reutemann consegue dar a volta no carro de Hunt, mas quando retornava à pista, acabou batendo na March de Alex Dias Ribeiro e o argentino teve que abandonar naquele momento.

Essa confusão logo na primeira curva praticamente decidiu os rumos da prova. Apesar de ter largado mal, Andretti permaneceu no primeiro pelotão e durante a primeira volta, conseguiu ultrapassar Lauda, subindo para segundo. Scheckter assumia a primeira posição, enquanto Andretti e Lauda vinham logo a seguir. Os demais, atrasados pelo incidente de Hunt, foram meros coadjuvantes. Foi uma exibição de gala desses três pilotos que, não sendo nenhuma coincidência, conseguiram pelo menos um título mundial em suas carreiras. Todos os três tinham algo a provar naquele dia. Lauda ainda precisava confirmar que estava mesmo recuperado do seu acidente em Nürburgring e retomar definitivamente o cargo de primeiro piloto da Ferrari. Scheckter, por sua vez, queria sepultar o troglodita que um dia foi chamado pela imprensa italiana e tratava muito bem seu surpreendente Wolf. Já Andretti, correndo em casa, mostrava o crescimento da Lotus. Mais atrás, Alan Jones substituía bem Tom Pryce na Shadow e era sexto colocado quando abandonou. Emerson Fittipaldi tinha as esperanças renovadas com o seu novo carro e terminou a prova num bom quinto lugar, logo atrás de Patrick Depailler, que levou seu Tyrrell de seis rodas num bom quarto lugar, depois de problemas nos treinos e se aproveitar de um problema que atrasou definitivamente Jacques Laffite nas voltas finais.

Lá na frente, Scheckter, Andretti e Lauda faziam uma corrida de altíssimo nível, levantando os americanos das arquibancadas improvisadas de Long Beach. Guiando no limite, eles bateram sucessivamente o recorde da pista, andando muitos próximos uns dos outros. Porém, na 77º volta de 80, o líder Scheckter dá uma atravessada numa freada. O piloto da Wolf olha no seu retrovisor e vê seu pneu traseiro côncavo, completamente murcho. Scheckter pensa em fazer uma parada de emergência, mas como o problema não tinha piorado tanto, o sul-africano resolve permanecer na pista. Porém, tendo que ter muito cuidado nas freadas, Scheckter não resiste a Andretti, que o ultrapassou tranquilamente e logo depois foi a vez de Lauda fazer a mesma manobra. Mesmo com pneu murcho, Scheckter não desgrudou do pelotão da frente e recebeu a bandeirada de terceiro colocado menos de 5s depois de um felicíssimo Andretti. Foi uma vitória de sorte para o ítalo-americano, mas sua vitória em Long Beach foi bastante popular. Lauda alcançava Scheckter na liderança do campeonato e partia impávido rumo ao bicampeonato.
Chegada: 
      1)      Andretti
      2)      Lauda
      3)      Scheckter
      4)      Depailler
      5)      Fittipaldi
      6)      Watson

domingo, 1 de abril de 2012

A volta do todo poderoso

É difícil encontrar adversário do nível de Will Power na Formula Indy nos dias de hoje, no quesito circuitos misto. Apesar da vitória de Castroneves semana passada, o australiano da Penske tinha sido o mais rápido nos treinos e acabou perdendo a prova na Flórida por causa de uma estratégia errada. No Alabama, Power viu seu final de semana virar de cabeça para baixo, com um erro nos treinos, mas garantindo a vitória por causa da estratégia.

A pista de Barber é o típico circuito no qual os pilotos gostam, mas que não proporcionam corridas emocionantes. Com suas subidas e descidas, esses de alta, entrecortadas por retas curtas, Barber parece ser a típica pista boa de se correr, mas terrível de se ultrapassar e foi o que vimos hoje à tarde, com a vitória de Power se caracterizando por uma estratégia acertada e não grande ultrapassagens, vindo de trás. Largando em nono, Power foi um dos mais rápidos durante a corrida e se aproveitou quando estava na frente para não perder mais a ponta. Power é uma baita piloto em circuitos mistos, mas ainda precisa dosar seu má sorte, como aconteceu na corrida em St. Petersburg e nos treinos de ontem, quando era o mais rápido, mas teve sua volta anulada por causa de uma bandeira vermelha.

Outro que provou ser de uma categoria diferente é Sebastien Bourdais. O francês corre com o fraquíssimo motor Lotus e mesmo assim chegou entre os dez numa exibição primorosa, mostrando que para Bourdais, só lhe basta um melhor equipamento para brigar mais na frente. Rubens Barrichello teve uma estratégia parecido com a de Power e por isso subiu de uma corrida praticamente anônima para um bom oitavo lugar, enquanto Tony Kanaan sofre com azares mecânicos e abandonou quando estava entre o top-10.

Hélio Castroneves conseguiu manter a ponta no campeonato com um suado terceiro lugar, mas o melhor piloto da Penske já mostrou ás caras. Num campeonato com mais circuitos mistos, a chance de Power pede ter finalmente chegado.

sexta-feira, 30 de março de 2012

História: 15 anos do Grande Prêmio do Brasil de 1997

Duas semanas após a surpreendente abertura de campeonato em Melbourne, todos esperavam por uma corrida mais normal em Interlagos, uma pista convencional. O problema era que em São Paulo, na época da Páscoa, uma chuva não seria surpresa e isso acabou até afetando o público, bem menor do que os últimos anos. Jacques Villeneuve, o grande favorito ao título da temporada, queria uma recuperação urgente em Interlagos e para isso ele não deveria imitar o que aconteceu com ele em 1996, quando rodou sozinho quando estava em segundo lugar na encharcada curva do lago.

O canadense mostrou a força da Williams, mas Villeneuve não se viu livre de problemas em seu carro na classificação, tendo que utilizar o bólido reserva que estava acertado para Frentzen,que por sinal, não conseguiu acompanhar o ritmo do companheiro de equipe. Michael Schumacher ficaria ao lado de Villeneuve na primeira fila, enquanto Berger mostrava uma recuperação da Benetton, ficando em terceiro. Depois de sua brilhante vitória na Austrália, Coulthard esteve apagado, enquanto a Bridgestone mostrava melhora em ritmo de classificação colocando Panis na quinta posição. Os brasileiros ficaram fora do top-10, enquanto que para Ricardo Rosset a sua corrida caseira era ainda mais decepcionante, com sua equipe, a Lola, fechando as portas antes mesmo de ir às pistas. A guerra dos pneus fez do grid para o Grande Prêmio do Brasil bem mais apertado, com 14 pilotos separados por 1.7s, enquanto que em 1996, 11 pilotos estavam separados por 1.9s.

Grid:
       1)      Villeneuve (Williams) – 1:16.004
       2)      M.Schumacher (Ferrari) – 1:16.594
       3)      Berger (Benetton) – 1:16.644
       4)      Hakkinen (McLaren) – 1:16.692
       5)      Panis (Prost) – 1:16.756
       6)      Alesi (Benetton) – 1:16.757
       7)      Fisichella (Jordan) – 1:16.912
       8)      Frentzen (Williams) – 1:16.971
       9)      Hill (Arrows) – 1:17.090
     10)   R.Schumacher (Jordan) – 1:17.175

O dia 30 de março de 1997 estava muito nublado em São Paulo e muitos se lembraram do aguaceiro que marcou o começo da corrida de 1996, mas a previsão era de que não chovesse ao longo do dia, algo que seria confirmado mais tarde. Essas condições eram propícias para quem havia escolhido os pneus moles, como era o caso de Villeneuve. E não era o caso de Schumacher. Porém, quando as cinco luzes apagaram, Schumacher largou muito bem e chegou na entrada do S do Senna ao lado de Villeneuve. Precisando de uma recuperação e na vã esperança de manter a ponta, o piloto da Williams forçou por fora e acabou indo para a grama. Parecia outra largada perdida para Villeneuve, que surpreendeu em 1996 pelas boas largadas após anos largando em movimento. Contudo, em Interlagos seria diferente.

Vários acidentes aconteciam no pelotão intermediário e duas coincidências aconteceram. Primeiro, Irvine e Herbert bateram na primeira curva como havia acontecido em Melbourne e para evitar a confusão, que ainda envolveu Damon Hill e Giancarlo Fisichella, Frentzen saiu da pista, ficando bem atrás de Villeneuve, como se ambos tivesse combinando de sair da pista naquele momento. Porém, o motivo da bandeira vermelha foi o carro parado no grid de Barrichello, que teve problemas no seu acelerador e o carro ficou travado no meio da reta dos boxes. Isso fez com que tudo fosse reiniciado e uma cena cômica acontecesse na Ferrari. Com seu carro titular danificado, Irvine partiu para o carro reserva, que era por contrato de Schumacher. Mais alto do que Schummy, Irvine teve que fazer uma parada insólita nos boxes ainda nas primeiras voltas, pois o cinto de segurança estava apertando suas partes baixas e o pobre do mecânico da Ferrari teve que meter a mão no saco de Irvine para consertar o problema! Se Irvine não teve tanta sorte, Villeneuve vibrou com a decisão da prova, que permitiu uma nova tentativa do canadense, mas o piloto da Williams largou mal mais uma vez, porém Villeneuve foi mais cauteloso na primeira curva e ficou em segundo. Por pouco tempo.

Mostrando a superioridade da Williams, Villeneuve não deixou Schumacher liderar nem a volta de abertura, deixando a Ferrari para trás no final da primeira volta (por 0.001s) e assumindo a liderança para não mais perde-la.  Villeneuve tinha um ritmo 1s mais rápido do que Schumacher, que não conseguia extrair um bom ritmo de sua Ferrari por causa dos pneus e na volta 11 seria ultrapassado por Berger. O austríaco até fazia tempos parecidos com o de Villeneuve, mas a diferença entre os dois era superior a 10s. Na 16º volta, Barrichello e Diniz abandonavam a corrida com o mesmo problema, na suspensão, e deixava a torcida brasileira torcendo apenas por uma boa corrida. Mostrando a evolução dos novos pneus Bridgestone, Panis tentava uma estratégia de uma parada e ficava em segundo, enquanto a maioria dos front-runners estava numa estratégia de duas paradas.

Após a primeira rodada de paradas, Schumacher tinha sua quarta posição sob ameaça da Benetton de Alesi, quando os veteranos encontraram o 11º colocado, Damon Hill. Como estivesse se vingando de todas as presepadas aprontadas por Schumacher nos anos anteriores, o campeão de 1996 segurou o alemão como pôde, atrapalhando Schumacher na sua briga com Alesi. Após a segunda rodada de paradas, Villeneuve ainda estava na frente de Berger, com Panis num ótimo terceiro lugar, mas os freios, que tanta dor de cabeça trouxe para a Williams em Melbourne, voltaram a se manifestar em Interlagos, forçando Villeneuve a diminuir seu ritmo e Berger encostou para perigosos 4s, mas Villeneuve garantiu manter sua diferença e conseguiu sua primeira vitória em 1997. O canadense conseguia colocar a Williams no topo, seu habitat natural, mas a Bridgestone começava a mostrar que não estava para brincadeira e conseguia seu primeiro pódio na F1 com Panis. O primeiro de muitos.
Chegada:
1     1)      Villeneuve
2     2)      Berger
3     3)      Panis
4     4)      Hakkinen
5     5)      M.Schumacher
6     6)      Alesi