quinta-feira, 12 de abril de 2012

História: 25 anos do Grande Prêmio do Brasil de 1987


A F1 iniciava sua temporada de 1987 bem mais tarde do que o normal, lembrando-se que não fazia muito tempo, as primeiras provas da temporada, na América do Sul, eram realizadas ainda em janeiro. Durante o inverno, a troca de projetistas agitou mais os bastidores da F1 do que as trocas de pilotos, que, por sinal, foram poucas. A Ferrari havia agitado o mercado com a contratação de John Barnard ainda na metade de 1986 e o inglês chegou tentando mudar a forma de trabalhar dos italianos. Por sinal, Barnard exigiu um escritório na Inglaterra, pois não gostava da Itália! Para compensar a enorme perda de Barnard, com o qual conquistou todos os seus títulos na década de 80, a McLaren trouxe Gordon Murray da Brabham, demonstrando a queda do time de Bernie Ecclestone desde a saída de Piquet no final de 1985 e que nunca mais tinha brigado por vitórias desde então.

Falando em Piquet, o brasileiro continuaria na Williams mesmo com a encarniçada briga com Nigel Mansell, onde o time de Frank Williams viveu um clima de guerra civil pela enorme rivalidade criada entre os dois pilotos em 1986. O grande beneficiado pela rixa foi o então campeão Alain Prost, que conquistou de forma dramática seu segundo título consecutivo e teria um companheiro de equipe menos perigoso do que o aposentado Keke Rosberg na figura de Stefan Johansson, que fracassou na Ferrari como possível salvador da pátria na desorganizada escuderia. Os italianos trouxeram a revelação Gerhard Berger, com o austríaco tendo uma ótima temporada em 1986 com a Benetton e chegava ao time de Maranello com fome de sobrepujar Michele Alboreto e se aproveitar dos conhecimentos de Barnard. Ayrton Senna já era considerado um dos grandes da F1, mas diziam que ainda lhe faltava experiência para levar a Lotus rumo ao título mundial, mesmo sua equipe agora tendo os desejados motores Honda, trazidos por causa do talento de Senna, mas a Lotus teve que engolir a entrada de Satoru Nakajima no time em troca do motor. Falando em troca de motores, a Ligier acabou sofrendo uma reviravolta ainda antes da temporada. O time francês tinha um contrato com a Alfa Romeo para 1987, mas os italianos foram comprados pela Fiat no início daquele ano e a montadora italiana, que já investia na Ferrari, não quis duas marcas suas na F1 e obrigou a Alfa abandonar a F1, após anos de glória nos anos 50. O problema foi que a Ligier já tinha projetado o carro com o motor Alfa e com a saída dos italianos, teve que fazer um ‘arranjo técnico’ para colocar os motores da Megatron, uma preparadora que utilizava antigos motores BMW turbo. A Ligier não participou da primeira corrida em Jacarepaguá e não viu a primeira corrida do Troféu Jim Clark e Colin 
Chapman, reservado apenas aos pilotos e equipes com motores aspirados.

Mesmo com a FISA fazendo de tudo para acabar com a vantagem dos motores turbo, como a válvula pop-off para limitar a pressão dos turbo, foram os carros com motores turbo que dominaram a Classificação em Jacarepaguá, com Mansell tomando o primeiro lugar de Piquet, mostrando que a briga iniciada em 1986 continuaria em 1987. A diferença entre os dois carros da Williams e o primeiro carro não-Williams, Senna, era superior a 2s, mostrando a superioridade dos carros ingleses. A Benetton surpreendia ao colocar bem seus dois carros entre os dez primeiros, inclusive seu novo contratado Thierry Boutsen.

Grid:
     1)      Mansell (Williams) – 1:26.128
     2)      Piquet (Williams) – 1:26.567
     3)      Senna (Lotus) – 1:28.408
     4)      Fabi (Benetton) – 1:28.417
     5)      Prost (McLaren) – 1:29.175 
     6)      Boutsen (Benetton) – 1:29.450
     7)      Berger (Ferrari) – 1:30.357
     8)      Warwick (Arrows) – 1:30.467
     9)      Alboreto (Ferrari) – 1:30.468
   10)   Johansson (McLaren) – 1:30.476

O dia 12 de abril de 1987 estava quente e ensolarado em Jacarapaguá, um belo dia de praia no Rio de Janeiro, mas milhares de torcedores foram ao circuito para torcer por seus compatriotas com cartazes ‘Acelera Piquet!’ e ‘Dá-lhe Senna’. E foram os dois brasileiros que largaram melhor, com Nigel Mansell perdendo muito tempo na largada e caindo para quinto, atrás das duas Benetton. Piquet e Senna dispararam na frente, com o piloto da Williams logo abrindo vantagem sobre o rival, enquanto Mansell aproveitava a potência do motor Honda turbo para ultrapassar o quarto colocar Thierry Boutsen ainda na segunda volta no meio da reta oposta.

Com o calor carioca, o desgaste dos pneus seria um fator essencial para a corrida e se tinha alguém que sabia dosar bem esse quesito era Alain Prost que, além disso, venceu em Jacarepaguá em 1984 e 1985. Ele vinha em sexto, com seu novo McLaren bico de pato com uma tocada bem dosada, sem forçar demais. Isso acabaria lhe rendendo dividendos mais tarde. Com Mansell ultrapassando Fabi na terceira volta e Prost fazendo o mesmo com Boutsen no mesmo local, o ritmo da corrida era forte. Ainda na sétima volta, Piquet surpreendeu a todos ao ir aos boxes devido à torcida. Isso mesmo. A eufórica torcida brasileira torcia tanto pelos compatriotas que acabaram jogando muitos papeis na pista e esses detritos acabaram enchendo os radiadores da Williams de Piquet, que teve que ir aos boxes tirar os papeis que superaqueciam o motor Honda e trocar seus pneus, caindo para 11º. Senna assumiu a liderança, mas com Mansell bastante próximo da Williams, enquanto Prost assumia o terceiro posto ao ultrapassar a Benetton de Fabi. Prost crescia a olhos vistos.

Para desespero de Mansell, os mesmos papeis que atrapalharam Piquet também fizeram o motor do Williams-Honda do inglês superaquecer e Mansell perdeu terreno frente a Senna. Antes de entrar nos boxes na 11º volta, o piloto da Williams foi ultrapassado por Prost na reta oposta, bem na frente da torcida carioca, que vibrou como um gol. Com a briga entre Mansell e Piquet em 1986, o inglês passou a ser o vilão para os brasileiros. Contudo, a alegria brasileira só durou até a volta seguinte. Com os pneus desgastados, Senna teve que ir aos boxes trocar sua borracha da Goodyear, entregando a liderança para Prost, que postergou sua parada por três voltas. Todas essas paradas fizeram com que Piquet voltasse a liderança, tendo que ultrapassar Boutsen antes de completar a 18º volta. Porém, de forma surpreendente, Piquet retornou aos boxes na volta 20 com os pneus desgastados. A corrida nem havia chegado a metade e muita coisa já havia acontecido! A prova lembrava um pouco o caos que foi o Grande Prêmio do México de 1986, onde os pilotos desgastavam seus pneus e rapidamente voltas aos boxes para trocá-los.

Na primeira rodada de paradas, Mansell e Prost levaram vantagem sobre Senna, mas o francês da McLaren estava colado na traseira da Williams de Mansell e o ultrapassou na 21º volta. Para não mais perde-la. Com os pneus desgastados, Mansell e Senna parariam mais vez logo em seguida, enquanto Prost disparava na ponta. O francês havia largado com os pneus duros, bem mais resistentes do que os moles escolhidos pelos seus rivais. Até mesmo Johansson surpreendia. Com a mesma tática de pneus de Prost, o sueco só fez sua parada na volta 34 de 61 programadas e estava completando uma dobradinha da McLaren no momento em que foi aos boxes. Piquet vinha num distante segundo lugar, enquanto Senna e Mansell tinham dificuldades. O inglês teve que fazer uma terceira parada por causa de um pneu traseiro esquerdo furado e voltaria apenas em nono, iniciando uma corrida de recuperação que o colocou ainda em sexto no final. Pior sorte teve Senna, que viu o tão desejado motor Honda lhe deixar na mão bem na frente dos boxes quando faltavam dez voltas para o fim. Confirmando o quão anda bem em Jacarepaguá, Prost ganhou com mais de 40s de vantagem sobre Piquet, que ainda sorriu no pódio após uma corrida muito complicada em casa. A McLaren mostrava força ao colocar Johansson no pódio, mas quem não tinha do que reclamar era Prost. Com uma estratégia inteligente, Alain Prost iniciava a defesa do seu título da melhor forma possível.

Chegada:
     1)      Prost
     2)      Piquet
     3)      Johansson
     4)      Berger
     5)      Boutsen
     6)      Mansell

Um comentário:

Anônimo disse...

A torcida brasileira "tirou" a vitória de Piquet no Brasil (Jacarepaguá, Rio de Janeiro).