Uma Era que deixou muitas saudades estava terminando em Adelaide em 1988. Os cultuados motores turbo, com sua potência estúpida, principalmente em treinos de Classificação, estavam entrando em extinção na F1 após uma longa briga entre contrutores e a FISA (leia-se Jean-Marie Balestre) que durou todos os anos 80. Desde 1987 os turbos vinham sofrendo restrições para que os motores aspirados voltassem ao topo da F1, mas isso não impediu que a Honda, que já vinha dominando as duas últimas temporadas, impusesse uma humilhante marca aos seus concorrentes. Junto com a organização da McLaren de Ron Dennis e o talento de dois gênios, Senna e Prost, a Honda contava com 14 vitórias em 15 corridas possíveis e já tinha garantido, com sobras, os Mundiais de Piloto e Construtores. Na despedida dos motores turbo, havia uma certa expectativa de quem seria o privilegiado a fechar a Era Turbo.
Provando toda a sua polêmica e o que viria a acontecer no ano seguinte, Balestre começou a jogar nos bastidores da McLaren, insinuando que a Honda tinha dado motores melhores a Senna em detrenimento ao seu amigo, Alain Prost. Ron Dennis ficou furioso e exigiu desculpas públicas do presidente da FISA. Mas sabia ele... Nas pistas, a McLaren colocou seus dois carros na primeira fila, com a habitual formação Senna-Prost. Logo atrás, vinha a dupla da Ferrari em 1989. Após quatro temporadas na Williams, Nigel Mansell se despedia da equipe que o colocou entre os pilotos de ponta na F1 e partia para a Ferrari, onde se juntaria a Gerhard Berger. Nelson Piquet se despedia do número 1 em seu Lotus na quinta posição. Um bom resultado para o péssimo padrão da equipe Lotus em 1988.
Grid:
1) Senna (McLaren) - 1:17.748
2) Prost (McLaren) - 1:17.880
3) Mansell (Williams) - 1:19.427
4) Berger (Ferrari) - 1:19.517
5) Piquet (Lotus) - 1:19.535
6) Patrese (Williams) - 1:19.925
7) Warwick (Arrows) - 1:20.086
8) Nannini (Benetton) - 1:20.486
9) Capelli (March) - 1:20.459
10) Boutsen (Benetton) - 1:20.486
O dia 13 de novembro de 1988 amanheceu carrancudo em Adelaide, mas a pista estava seca e não havia previsão de chuva para aquela tarde. Talvez relaxado com o título conquistado duas semanas antes, Senna fez algo raro em sua carreira: largou mal. Senna sempre dizia que largar na frente o garantia de se livrar dos problemas da segunda fila para trás. Largando na pole, era quase sinônimo de vitória, pois Senna largava como poucos. Pois o piloto da McLaren largou tão mal em Adelaide, que não apenas perdeu a primeira posição para Prost, como quase foi ultrapassado pela Williams de Mansell. Como era comum nos encontros entre Senna e Mansell, quase houve um acidente e o inglês teve que recuar, perdendo duas posições para Berger e Piquet.
Ao contrário do que normalmente acontecia, as duas McLarens não dispararam com relação aos demais. Senna era perseguido ferozmente pela Ferrari de Berger. O austríaco tinha vencido o Grande Prêmio australiano em 1987 e tinha a mão da pista, mas a superioridade da McLaren não havia permitido grandes devaneios das demais equipe e por isso surpreendia a pressão do austríaco. E ficou ainda mais esquisito quando Berger passou Senna ainda na terceira volta! Berger começou a pressionar Prost, enquanto Senna ficava para trás. Era uma cena inacreditável em 1988! Então, na reta Brabham durante a volta 14, Berger colocou de lado e ultrapassou Prost, passando a liderar a corrida! Era a primeira vez na temporada que a McLaren tinha sido afrontada daquela forma, mas havia um porém. Na volta 25, Berger liderava com uma vantagem confortável sobre Prost quando encontrou René Arnoux pela frente.
O pequeno piloto francês não era sombra do piloto veloz do início da década de 80 e era conhecido por ser um retardatário extremamente perigoso. No final da reta Brabham, Berger fez uma manobra audaciosa em cima de Arnoux, mas o francês simplesmente ignorou a presença do líder da corrida e o contato foi inevitável. A McLaren liderava novamente e uma história surgiria mais tarde. Na sua biografia, Berger confidenciou que não tinha carro para chegar até o final daquela corrida e que estava forçando tudo. Quando viu Arnoux, um piloto já conhecido por atrapalhar os líderes quando era retardatário, Berger viu uma oportunidade de sair da corrida de uma forma, digamos, menos chamativa e jogou sua Ferrari em cima da Ligier de Arnoux. Por isso, a calma com que Berger e Arnoux caminharam juntos rumo aos boxes, sem sinal de grandes ressentimentos...
Com isso Prost, liderava com uma bela vantagem sobre Senna, que ainda parecia comemorar seu título. Mais havia outra história a ser contada. Após conquistar o título no Japão, Senna foi comemorar com amigos numa praia no Pacífico e teria confidenciado a eles. "Irei colocar uma volta em Prost na Austrália." Seria um feito e Senna teria que andar muito, mas ele não contava com sua pouca habilidade no futebol. Numa pelada com os amigos, Senna jogou como goleiro e numa bola mal defendida, acabou machucando o pulso e isso foi decisivo para sua corrida menos brilhante na Austrália.
A corrida transcorreu sem maiores sustos após a presepada de Berger e Arnoux e Prost entrou para a história como último piloto a vencer com o motor turbinado. A McLaren conquistava sua décima quinta vitória no ano em dezesseis possíveis e somente a Ferrari em 2004 se igualou em tamanho domínio. Senna chegou em segundo, corroborando com a superioridade da McLaren, com Piquet em terceiro, fazendo um pódio todo da Honda como motor turbo. Sem sombra de dúvidas, um pódio que visualiza bem quem foi os maiores pilotos da Era Turbo na F1.
Chegada:
1) Prost
2) Senna
3) Piquet
4) Patrese
5) Boutsen
6) Capelli
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