Os países andinos não são considerados um celeiro de grandes pilotos e história provou que, afora o colombiano Juan Pablo Montoya, pouquíssimos pilotos vindos dessa parte do globo conseguiram sucesso nas pistas internacionais. Um dos que tentaram chegar ao estrelato na F1 foi Roberto Guerrero, um colombiano que impressionou por sua velocidade no final da década de 70 nas pistas da Inglaterra, mas só passou por dificuldades quando chegou à F1. Cruzando o Atlântico, Guerrero finalmente conseguiu algum sucesso, mas um forte acidente em Indianápolis pôs sua vida em risco. Porém, o que todos nos lembramos desse simpático colombiano em Indianápolis foi uma das maiores presepadas da história do esporte a motor. Completando 50 anos no dia de hoje, iremos conhecer um pouco mais sobre Roberto Guerrero.
José Roberto Guerrero Isaza nasceu no dia 16 de Novembro de 1958 na cidade de Medelín e desde cedo teve o esporte dentro de casa. Seu pai foi um grande ciclista, esporte muito popular na Colômbia, e chegou a participar dos Jogos Olímpicos. Porém, o pequeno Roberto necessitava de um pouco mais de velocidade e aos dez anos teve o primeiro contato com o kart, que foi construído pelo próprio pai. Contudo, somente em 1972 Guerrero começou a participar de campeonatos oficiais de kart e dominou o cenário colombiano com dois títulos nacionais e foi terceiro no Campeonato Pan-Americano de 1975. Sentindo que a Colômbia estava pequena demais para o sue talento, Guerrero resolvei seguir o caminho de Emerson Fittipaldi e Carlos Reutemann no início da década de 70 e partiu para a Inglaterra em 1977. Inicialmente, Roberto iria estudar, mas a escola em que ele mais se interessou foi o famoso centro de pilotagem Jim Russell, onde venceu cinco das seis corridas preparatórias.
Sentindo-se preparado para os monopostos, Guerrero iniciou sua carreira em 1978 no Campeonato Britânico de Fórmula Ford 1600, vencendo oito provas, mas ficando apenas em quinto lugar no campeonato. Foi uma boa demonstração de velocidade, mas Roberto ainda batia muito. Porém, o colombiano mostrou seu valor e no seguinte se transferiu para a F3, donde participaria dos Campeonatos inglês e europeu. Como não tinha se destacado a ponto de ser chamado por uma equipe de ponta, seu primeiro ano da F3 foi com Argo-Toyota, um chassi que não tinha condições de o levar ao título, como prova o nono lugar no campeonato, ficando logo à frente de um tal de Eddie Jordan. Sentindo que precisava de mais experiência, Guerrero ficou mais um ano na F3 e mesmo tendo ainda a disposição o mesmo chassi, Guerrero se sobressaiu e conseguiu cinco vitórias (Thruxton (duas vezes), Cadwell Park, Brands Hatch e Oulton Park) durante o ano, terminando o campeonato em segundo lugar, empatado com Kenny Acheson, dois pontos atrás do campeão Stefan Johansson. Isso lhe garantiu até um teste com a McLaren, no seu primeiro contato com a F1.
Esse resultado o levou a F2 Européia pela equipe de Willy Maurer, que na época fabricava seu próprio chassi projetado por Gustav Brunner. Guerrero impressionou a todos na terceira etapa em Thruxton, ao vencer com uma esmagadora diferença de 41s sobre Ricardo Paletti e Johnny Cecotto. No entanto, o colombiano nunca pode repetir esse resultado e terminou o campeonato na sétima posição, enquanto seu companheiro de equipe Geoff Less se tornava campeão. Estava claro que Roberto Guerrero era talentoso e era favorito a vencer a F2 em 1982, mas Morris Nunn, chefe da equipe Ensign, se interessou por Guerrero e ofereceu uma vaga em sua equipe para 1982. Roberto aceitou a proposta, mas Willy Maurer entrou na justiça para que o contrato não fosse quebrado. Após um acordo, Guerrero foi liberado para correr pela Ensign em 1982 e faria sua estréia no Grande Prêmio do Brasil. Faria. O carro da Ensing não era nada competitivo e Guerrero não conseguiu tempo para largar, apesar de ter ficado à frente de pilotos reconhecidamente rápidos, como Brian Henton, Derek Warwick e Riccardo Paletti. Sua primeira corrida foi em Long Beach, terceira etapa do Mundial, mas a corrida do colombiano terminou na volta 27 quando ele bateu no muro.
Naquele momento, a Ensign se debatia com problemas financeiros que se agravaram quando a fabricante de pneus Avon decidiu abandonar a F1 no meio da temporada. Sem ter o que fazer, a equipe disputou os treinos para o Grande Prêmio de Mônaco com pneus velhos e Guerrero não se classificou para essa corrida. Para o novo Grande Prêmio de Detroit, a equipe tinha fechado com a Pirelli e o desempenho melhorou consideravelmente, com Guerrero conseguindo largar em décimo primeiro, à frente de Jacques Laffite, Riccardo Patrese, René Arnoux e Michele Alboreto. Pena que essa boa posição no grid não lhe proporcionou um final tão bom, pois ele se envolveu num acidente com Elio de Angelis na sexta volta e colombiano teve que abandonar, fazendo com que a corrida fosse interrompida. Após duas corridas apagadas em Brands Hatch e Paul Ricard, Guerrero consegue seu melhor resultado em 1982 com um oitavo lugar em Hockenheim, uma volta à frente de Nigel Mansell. Porém, esse foi o último resultado de relevo para a Ensign e Roberto Guerrero.
A equipe estava se desfazendo e como forma de sobrevivência, se fundiu com a também pequena Theodore. Não restam dúvidas que a junção das equipes melhorou o desempenho de Guerrero, que ainda ganhou a companhia de outro piloto andino, que estreava na F1: Johnny Cecotto. O novo Theodore N183 mostrou potencial no Brasil com Guerreiro ficando em 14º no grid e quinto em um treino livre. Porém, a melhor corrida de Guerrero viria na prova seguinte, em Long Beach. Largando no final do pelotão, próximo a dupla da McLaren, John Watson e Niki Lauda, Guerrero fazia uma grande corrida de recuperação, sempre próximo da dupla da McLaren, trazendo consigo Cecotto. Porém, na volta 24, o colombiano sentiu problemas de câmbio e teve que abandonar tristemente algumas passagens depois. Levando-se em conta que Watson e Lauda fizeram uma inesquecível dobradinha e Cecotto marcou um ponto, Guerrero tinha perdido a melhor oportunidade de pontuar na F1. Após outro problema com pneus em Mônaco, Guerrero passou a ter vários problemas de confiabilidade com seu carro, enquanto o motor Ford Cosworth V8 aspirado era engolido pelos motores turbinados que começavam a inundar o grid da F1. Mesmo tendo repetido sua melhor posição de grid em Detroit, décimo primeiro, Guerrero pouco podia fazer pela equipe, que começava a sofrer novamente com problemas financeiros. A partir do Grande Prêmio da Inglaterra, a Theodore inscreveu somente o carro de Guerrero e após o Grande Prêmio da Europa, em Brands Hatch, a equipe resolveu fechar as portas e Guerrero terminava sua passagem na F1 com 21 Grandes Prêmios e nenhum pontos.
Guerrero ainda procurou outras equipe de F1, mas via com atenção o crescimento da F-Indy, que ficava cada vez mais internacional. Com os Estados Unidos a apenas três horas da Colômbia e vendo seu ótimo desempenho nos circuitos de rua americanos, onde tinha conseguido seus melhores resultados, Roberto aceitou o convite da equipe Bignotti-Cotter e participou de toda a temporada da Cart. A equipe era considerada média, mas já naquela época a categoria era marcada pela competitividade e colombiano beliscava bons resultados. No final do ano, ele conseguiu a décima primeira posição no campeonato e venceu o prestigiado prêmio de rookie of the year. Porém, o maior destaque de Guerrero foi ter chegado em segundo em sua primeira 500 Milhas de Indianápolis, logo atrás da lenda Rick Mears. Guerrero passou a ser considerado um piloto extremamente promissor e ele permaneceu na mesma equipe em 1985, mas os bons resultados em treinos sempre acabavam em abandonos e o colombiano terminou em 17º no campeonato. Porém, a Bignotti-Cotter melhorou seu rendimento em 1986 e Guerrero começava a andar no pelotão da frente. Após conseguir sua primeira pole em Miami, Guerrero liderou a prova inteira até ficar sem combustível no final da prova, entregando a vitória certa para Al Unser Jr. Isso chamou a atenção das equipes maiores e Guerrero se mudou para a equipe de Vince Granatelli, onde finalmente passou a ser um piloto de ponta.
Guerrero largava normalmente nas primeiras filas e a primeira vitória estava próxima. Nas 500 Milhas, Guerrero liderava quando entrou para o seu último Pit-stop, mas a embreagem do seu carro quebrou e ele perdeu a chance de colocar seu nome na história de Indianápolis. Após uma sucessão de bons resultados, a primeira vitória estava amadurecendo e ela veio em Mid-Ohio. Guerrero brigava pelo campeonato, quando o pior momento da sua carreira aconteceu. Num teste em Indianápolis, Guerrero bateu forte na curva 2 e o pneu dianteiro direito veio com tudo em direção a sua cabeça. Guerrero ficou entre a vida e a morte, passando 17 dias em coma. O colombiano conseguiu seu melhor desempenho na F-Indy naquela temporada, mas naquele momento ele lutava apenas para voltar a correr. Foi o início do longo declínio de Roberto Guerrero. Ele estava pronto para correr na primeira etapa de 1988 com a mesma equipe, mas ele não era o mesmo piloto de antes. O colombiano passou a ser um piloto inconstante, ora conseguindo bons resultados, ora ficando de fora da corrida por ser muito lento...
Para piorar, Guerrero mudou de equipe para 1989 e entrou na barca furada que era a equipe Alex Morales, com o novo motor Alfa Romeo. Mesmo sendo comandado novamente por Morris Nunn, o motor italiano foi um rotundo fracasso e no ano seguinte Guerrero se mudou para a equipe Patrick, onde os resultados teimavam em não aparecer. Após temporadas quase que no anonimato, Guerrero surpreendeu o mundo ao conquistar a pole para as 500 Milhas de Indianápolis de 1992. Ainda lembro-me do enorme sorriso do colombiano antes da largada e de sua animada entrevista a TV Bandeirantes antes de entrar no carro. Tudo isso para rodar... na volta de apresentação! Foi um dos momentos mais bizarros da história do automobilismo e aquilo foi o último suspiro da carreira de Guerrero, que saiu de cena humilhado por tamanha presepada! A partir de então, Guerrero perambulou por equipes pequenas, conseguindo bons resultados esporádicos, mas muito longe de sua forma antes do acidente em 1987. Quando houve a famosa cisão entre CART e IRL, Guerrero optou em seguir a última. No começo, a IRL era uma categoria que usava carros antigos, com equipes de segunda linha e pilotos semi-aposentados ou ruins mesmo! Isso permitiu a Guerrero andar novamente no pelotão da frente, juntamente com celebridades como Eliseo Salazar e Alessandro Zampedri...
Em 1997, Guerrero passou a usar o tradicional carro amarelo da Pennzoil e definitivamente era um piloto do pelotão da frente, apesar de não conquistar nenhuma vitória na IRL. No início de 1998, Guerrero se envolveu em fortes acidentes e isso parece ter mexido em sua motivação. Já contando com 40 anos, o colombiano foi demitido da sua equipe no meio da temporada e passou a correr em equipes pequenas dentro da antiga IRL. Ou seja, equipes praticamente fundo-de-quintal! No ano 2000, Guerrero teve uma pequena experiência na NASCAR, mas a ruindade do carro o fez sair de cena após apenas um teste e um acidente. Após falhar em se classificar para as 500 Milhas por duas vezes seguidas, Guerrero encerrou a carreira em 2001, no solo sagrado que quase o matou,lhe trouxe uma fama indesejada de barbeiro, mas que também amou. Após se naturalizar americano no final dos anos 90, hoje Guerrero mora em San Juan Capistrano, Califonia, junto com sua esposa Katie, que conheceu durante o Grande Prêmio de Mônaco de 1983, e seus três filhos. Perguntado se teve falta de sorte em sua carreira, Guerrero respondeu com sua simpatia de sempre. “Não acredito em má sorte. Você faz sua própria sorte. Sou saudável, fiz o que gostava... isso é azar?”
Parabéns!
Roberto Guerrero
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