domingo, 2 de novembro de 2008

HISTÓRICO!!!!!!!!!


Se Alfred Hitchcock e Steven Spielberg se juntassem um dia e dissessem um para o outro "Vamos produzir um final de campeonato de F1?", talvez não conseguissem fazer o que aconteceu agora a pouco. Se qualquer um dos protagonistas vencessem o campeonato, a conquista seria histórica. Felipe Massa, por ter virado um campeonato tão impossível como no ano passado, na frente de sua público, que deu um colorido todo especial a esse final de campeonato. Hamilton, por ser o mais jovem piloto a ser Campeão Mundial e por confirmar um talento que já podia ter se consagrado ano passado. Mas a decisão desse ano foi ainda mais histórico pela forma como Hamilton conquistou o título. 'Sem palvras', disse o primeiro negro a conquistar a F1. E foi um final de campeonato que ficará marcado para sempre nos olhos de quem teve o prazer assistir uma das corridas mais dramáticas da história.

O drama começou ainda com os carros parados, esperando o início da volta de apresentação. Uma pancada de chuva inundou a pista. Quando todos corriam para pegar os pneus para chuva forte, o sol apareceu. O que fazer? Arriscar pneus slicks ou de chuva forte? Os dois postulantes ao título foram na via mais segura e colocaram pneus intermediários, assim como o resto do grid. A largada, atrasada em dez minutos, foi tranqüila, mas a segunda perna do S do Senna marcou a despedida de David Coulthard. Foi a síntese dessa sua última temporada, mas o escocês fez muito mais em sua carreira e falarei sobre isso outro dia. Nelsinho, 99% confirmado com a Renault, também abandonou a prova ao rodar sozinho e se juntou ao escocês como os únicos abandonos desta tarde.

Enquanto Massa disparava, Hamilton perdia seu escudeiro Kovalainen, que tão bem tinha lhe defendido na primeira curva, mas caiu frente aos talentos genuínos de Alonso e Vettel no final da reta oposta. Quando a pista secou de vez e os pilotos trocaram seus pneus, a corrida mudou de quadro e novos protagonistas. Massa ainda liderava, mas tinha Alonso e Vettel fungando no seu cangote. Fisichella, que tinha parado mais cedo, atrapalhava a vida de Hamilton, que estava no perigoso sexto lugar, posição que lhe tiraria o título pela segunda vez consecutiva. Após ultrapassar o italiano de forma agressiva, Hamilton passou a administrar a corrida. Coisa que Massa fazia faz tempo. Ambos faziam o que deviam fazer. Massa vencendo a corrida, Hamilton, administrando o campeonato. Então, a prova se tornou estranhamente monótona, sem disputas ou brigas por posição. A expetativa e a tensão estavam no ar, como se algo pudesse acontecer a qualquer momento. A perspectiva de chuva era crescente na medida em que a corrida se aproximava do final, e as nuvens negras no horizonte prometiam um clímax pouco visto na história da F1.

Como tinha acontecido em Spa, a chuva apareceu no seu finalzinho. Porém, a confusão foi menor. Todos os líderes entraram nos boxes, inclusive Massa e Hamilton. Mas havia um pequeno detalhe. Glock, que chegou a pressionar Hamilton em determinado momento da corrida, resolveu não parar. Hamilton estava no limite do campeonato, na quinta posição, mas tinha Vettel nos seus calcanhares. Faltando duas voltas, Kubica passou os dois e Vettel aproveitou a deixa para deixar Hamilton na ponta do abismo. O sexto lugar lhe tirava o título. Da mesma maneira como tinha acontecido em 2007. A torcida urrou como um gol. Como uma vitória... de Senna! Aquele título de Massa parecia com as inesquecíveis conquistas do eterno ídolo brasileiro. Hamilton tentava, mas Vettel se distanciava. "Come on, baby", gemia sua linda namorada. Mas tudo parecia perdido. No conforto do chão da sala da minha casa, já dizia o "O Massa é campeão!". Porém, havia outro detalhe. Glock, que chegou a ser o mais rápido na pista quando a chuva ainda era tímida, viu a chuva aumentar de intensidade. Enquanto Massa recebia a bandeirada, Hamilton via seu título escorrer por entre seus dedos enquanto mergulhava rumo a Junção. Então vi aquele carro branco e o capacete predominantemente vermelho. Era Glock! Que se arrastava na curva da Junção. Vettel já o tinha deixado para trás, enquanto Hamilton ultrapassou o alemão na última curva, ganhando um campeonato que parecia de Massa 500 metros antes.

Hamilton cruzou a linha de chegada em quinto, conquistando o campeonato e partindo centenas de corações, inclusive de Massa e toda sua família, que chorou muito junto com ele. O momento de sublime alegria virou momento de extrema decepção com as palavras cruéis de um mecânico ferrarista, que já tinha visto pela TV a dura realidade. A família Massa, tão preocupada em vibrar, tirou a atenção da tela da TV e não viu a cena que entrou para a história da F1. Hamilton não foi brilhante hoje e, como disse ontem, nem precisava. O inglês foi o inverso de 2007. Foi calmo nos momento mais complicados, principalmente quando foi ultrapassado por Vettel na penúltima volta. Ao invés de tentar uma manobra maluca, o piloto da McLaren apenas continuou pressionando e teve muito sangue frio ao deixar para trás Glock, de forma limpa, na última curva e conquistar o seu sonhado primeiro título. Que deverá ser o primeiro de muitos. Seus números na F1 impressionam pela precocidade e pela ferocidade com que vem sendo conquistados. Sem o enorme fardo de ter perdido o título como perdeu em 2007, Hamilton virá ainda mais forte em 2009. A McLaren, após dez anos de jejum, desde o título de Mika Hakkinen, que foi comemorado ontem, está ainda mais tranqüila com relação ao ano passado, pois venceu com um piloto nascido em sua manjedoura e afastou a hipotése de que venceria apenas se tivesse um piloto de fora, como foi o caso de Alonso. Se não tem um grande segundo piloto como provou hoje, mais uma vez, Heikki Kovalainen, tem um jovem campeão com um futuro brilhante pela frente.

Felipe Massa fez o que tinha que fazer. E o fez com enorme maestria. Da mesma forma que Hamilton teve a tranqüilidade para se livrar dos momentos mais complicados, Massa também foi sereno e forte quando a corrida podia ter saído das suas mãos. Seja quando choveu, tipo de piso em que conhecidamente não se dá bem, seja na forte pressão de Vettel ou na chuva no final, Massa tinha consciência de que tinha o melhor carro da pista e foi soberano numa pista que mudava de condições a cada pingo de água que caía sobre ela. A vitória de pouco lhe serviu, mas foi o final de campeonato que mostra o quanto Felipe ficou forte após tantas adversidades nesse ano. Após tudo o que passou, perder o campeonato na última curva pode não ser um fator tão determinante assim, mas o seu choro ainda com o capacete, sua emocionante entrevista coletiva e a forma como vibrou com a torcida, o colocou como um dos ídolos da torcida. Não antes, como queria Galvão Bueno...

A corrida teve como um dos principais coadjuvantes, um futuro protagonista. Sebastian Vettel dá mostras quase que mensais, o quanto é um piloto espetacular. No seco ou no molhado, o alemão foi um dos principais destaques dessa corrida e por muito pouco não definiu o campeonato. A sua ultrapassagem em Hamilton poderia ter dado o título a Massa, mas o destino não quis assim, mas o alemão conquistou outro ótimo resultado para sua equipe que, nunca devemos esquecer, era a Minardi a três anos atrás. Bourdais andou bem até ser jogado para fora por um destrambelhado Jarno Trulli no S do Senna. Ao colocar seu carro na grama molhada, o francês pareceu perder o melhor momento e acabou nas últimas posições. Como foi nessa sua primeira temporada, quando tudo parecia ir bem para Bourdais, algo acontece com ele!

Raikkonen fez o chamado dever de casa, chegando à frente de Hamilton, mas esteve longe de ser brilhante, um ano depois de sua consagração. Se não fosse por Vettel, o grande nome dessa corrida seria Fernando Alonso. O espanhol mostra que faz mesmo a diferença e fez uma corrida sensacional hoje, se colocando entre os Ferraris e conquistando mais um pódio nesse seu excepcional final de temporada. Praticamente fechado com a Renault, Alonso deverá ser um dos destaque no ano que vem e, quem sabe, brigando pelo título com os destaques de 2008. Piquet será seu companheiro de equipe, mas precisará de uma temporada bem melhor do que essa, se quiser permanecer na F1 por mais tempo. A Toyota mostrou sua evolução hoje e quase definiu o campeonato, mas a aposta de Glock acabou dando errado quando a chuva aumentou e foi ultrapassado por Hamilton na última curva. No entanto, dá para destacar o crescimento do alemão, superando seu experiente companheiro de equipe Trulli, que mais uma vez demonstra que é um grande piloto em treinos, mas muito irregular em ritmo de corrida. Barrichello, em sua provável última corrida, fez o feijão-com-arroz em seu péssimo carro e chegou no pelotão intermediário. Correndo com o capacete de Ingo Hoffmann, cujas cores imitou em seu início de carreira no kart, Barrichello bem que poderia ter finalizado sua carreira de uma forma bem mais digna.

Como deu para perceber, muitos fatores poderia ter definido o campeonato, como a ultrapassagem da cambaleante BMW de Robert Kubica no final da prova em Hamilton na penúltima volta. Ainda poderia ter acontecido muito mais nesse histórico Grande Prêmio do Brasil de 2008, mas tudo que se passou já entrou para a história da F1. Poucas vezes dá para perceber tão claramente que fizemos parte da história e hoje foi o caso. Não será preciso passar anos para vermos algo tão claro. Hamilton, em sua ultrapassagem consagradora sobre Glock, tirando o título de Felipe Massa na última curva. Simplesmente histórico!

6 comentários:

Speeder76 disse...

Por muitos anos que vivamos, nunca esqueceremos este desfecho. Se o Massa conquistasse o título, diria que seria justo, mas acharia também que seria demasiado cruel para o Hamilton, pois andou quase todo o campeonato na frente.

Mas assim... bolas, tens razão. Nem o Hitchcock, nem o Spielberg imaginariam algo assim. Nunca, em 27 anos de formula 1, fiquei tão nervoso como hoje!

Anônimo disse...

Cara, realmente que corrida!!
Eu tbm tenho um blog e atualmente não estou conseguindo falar de outra coisa que não essa corrida.
Até citei algo que vc escreveu no seu blog (Nem Spilberg e Hitchcock imaginariam algo assim).
Gostei do seu blog, abraços...

RodIshiCi Mobile disse...

No fim, ganhou o piloto mais regular da melhor equipe.
E mostrou ter sorte de campeão, porque o pouco que a McLaren deu de problemas no ano foi com seu companheiro de equipe. Sem falar no próprio fato da chuva ter caido mais forte no final do GP Brasil, ou teria ficado atrás do Glock, depois de não conseguir defender sua posição contra Vettel.

Aliás, fiquei fã desse alemão. Tem provado ter tudo o que compõe um piloto de ponta na F-1, só falta ver o desempenho dele com um carro que esteja no nível dos melhores do ano.
Só não acho que ele esteja fazendo "milagres numa equipe que 3 anos atrás era a Minardi", afinal, tem o mesmo chassi da RBR, fruto de Adrian Newey, usa o potente motor Ferrari, conjunto que o torna talvez até melhor que o da equipe principal. De quebra, tem gente experiente no comando da equipe.
Nisso ele se assemelha mais ao Hamilton, um piloto brilhante que recebeu um bom carro, e por isso pôde fazer o que fez (apesar que considero que Vettel tirou muito mais do carro do que Hamilton fez com seu McLaren).

Se Ferrari e McLaren mantiverem o nível de qualidade atual, mas BMW, Toyota, Renault e RBR conseguirem progredir mais e ficar próximos das duas melhores, ano que vem promete.
Afinal, há uma boa gama de pilotos candidatos a fora-de-série, mas nenhuma sumidade (provavelmente Alonso é o que mais se aproxima disso). Só falta ter um nivelamento em termos de carro.

Ron Groo disse...

O texto está muito bom, mas o titulo definiu tudo.
Abraços Jc!

Autor disse...

Não quis aceitar meu comentario???

João Carlos Viana disse...

Aceitei sim Goitacaze, sem problemas!
Pd comentar a vontade aki!