sábado, 31 de janeiro de 2009

Mauro


Muitos pilotos passam pela F1 quase que desapercebidos, mas sua carreira em outras categorias o fazem um piloto bastante especial e esse foi o caso de Mauro Baldi. Esse italiano chegou à F1 após uma excepcional carreira na F3, mas, mesmo tendo preciosos patrocínios por trás, Baldi sucumbiu a ruindade de suas equipes e acabou indo para o Mundial de Esporte-Protótipo, onde se reencontrou com as vitórias e o sucesso. Completando 55 anos no dia de hoje, iremos conhecer mais sobre esse piloto da bota.

Mauro Baldi nasceu em 31 de janeiro de 1954 em Reggio Emilia. Ao contrário do que normalmente acontece, Baldi não iniciou sua carreira muito cedo no kart, mas quando completou 18 anos e nos rallys italianos. Somente três anos depois é que Mauro corre pela primeira vez no asfalto no Campeonato Italiano de Renault 5, onde consegue destaque quase que imediatamente. Logo em seu primeiro ano, Baldi conquista a Copa Européia de Renault 5 em 1975, se torna campeão italiano em 1977 e fica em quarto lugar no Campeonato Europeu de 1979. Foi exatamente nessa época que Mauro decide mudar os rumos de sua carreira e foca nos monopostos, indo direto para a F3 Italiana. Assim como tinha no Renault 5, Baldi consegue sucesso quase que imediato na F3, se tornando um dos grandes pilotos do continente europeu.

Logo na sua primeira temporada, Baldi vence a tradicional corrida de F3 em Mônaco e no ano seguinte ele se transfere para a equipe Euroracing, que tinha dado o título europeu a outro italiano que se destacava no começo da década de 80: Michele Alboreto. Correspondendo a todas as expectativas, Baldi faz um campeonato impecável em 1981 e se torna campeão europeu com o recorde de oito vitórias, mais quatro segundos lugares em quinze provas. Na época, Baldi tinha o precioso patrocínio da Marlboro e seus resultados na F3 tinha chamado a atenção dos chefes de equipe da F1. Graças ao seu patrocinador, Baldi é inscrito pela Alfa Romeo para o Grande Prêmio da Itália de 1981, mas Mauro não chega a participar. O Europeu de F3 já tinha revelado Alain Prost e Michele Alboreto em anos consecutivos e, no início, parecia que Mauro Baldi seria um promissor piloto de ponta na F1. Ao invés de ficar um ano na F2, Baldi pula direto para a F1 pela equipe Arrows.

A equipe tinha feito um ótimo início de temporada em 1981 com Riccardo Patrese, mas erros estratégicos fizeram com que a equipe acabasse perdendo rendimento e Patrese. Outro fato claro dentro da Arrows era que a equipe só tinha condições de dar apenas um carro realmente competitivo para um dos seus pilotos e Baldi teria ao seu lado o suíço Marc Surer, na época considerado um piloto muito rápido e promissor, mas que não havia tido uma chance realmente boa dentro da F1. Como era apenas um novato, Baldi se conteve em ser o segundo piloto da Arrows, sendo que em 1982, a equipe não tinha iniciado a temporada como no ano anterior e várias vezes Baldi não conseguiu tempo para se classificar. Mauro só faria sua estréia na F1 na segunda etapa do ano no Brasil, quando conseguiu levar seu carro a um respeitável décimo lugar. Ao contrário do que ocorria em sua carreira, Mauro teve que se acostumar a andar lá atrás. Isso quando conseguia largar. Quando conseguia um lugar no grid, Baldi dificilmente completava a prova, como na França, quando se envolveu num grave acidente com Jochen Mass, causando a aposentadoria do alemão, mas em Zandvoort, Mauro não apenas conseguiu terminar sua segunda prova na F1, como marcou seu primeiro ponto na categoria. A Arrows consegue uma leve melhora na segunda metade do campeonato e Baldi consegue outro pontinho em Zeltweg, mas a equipe ainda usava motores aspirados e não havia conseguido um motor turbo para 1983.

Cansado de andar lá atrás, Baldi procura a Marlboro para conseguir um cockpit melhor para 1983. De preferência, com motor turbo. A Alfa tinha perdido Bruno Giacomelli no final de 1982 e tinha o desastrado Andrea de Cesaris como piloto principal. Protegido da Marlboro, De Cesaris era extremamente rápido, tanto nas corridas, como em arranjar confusões. Como também era patrocinado pela tabaqueira e era italiano, algo importante para a tradicional equipe, Baldi foi contratado para 1983. Baldi e De Cesaris tinham sido companheiros de equipe em 1980 na F3, mas, ao contrário do equilíbrio na categoria de base, Andrea fez uma temporada muito boa em 1983, a melhor em sua longa carreira na F1 e suplantou Baldi de forma até humilhante. O italiano era sempre superado nas Classificações por De Cesaris e pouco mostrou ao longo do ano, com apenas um sexto lugar em Mônaco (quando apenas sete carros terminaram...) e foi quinto lugar em Zandvoort, seu melhor resultado na F1 numa pista que já se mostrava especial para o italiano. Porém, a equipe Alfa Romeo sofria mudanças importantes para a temporada seguinte. Paolo Pavanello estaria assumindo a equipe a partir de 1984 trazendo consigo o patrocínio da Benetton e os pilotos Riccardo Patrese e Eddie Cheever. Mesmo sendo italiano, Baldi foi despedido da equipe e como não tinha mostrado grandes resultados, nenhuma equipe, sequer mediana, mostrou interesse por ele.

Querendo ficar na F1 de qualquer maneira, Baldi aceita o convite da Spirit. A equipe tinha sido usada como laboratório pela Honda para testar seu novo motor turbo, mas quando a montadora japonesa acertou com a Williams, a Spirit ficou na rua da amargura, tendo que utilizar o motor turbo do independente Brian Hart. Apesar de ter o conceituado projetista Gordon Coppuck no comando, a equipe sofria de sérios problemas financeiros e Baldi pouco podia fazer a não ser fechar o grid em quase todas as corridas. Com pouco dinheiro, a Spirit teve que substituir Baldi no meio da temporada pelo holandês Hubb Rothengatter, que era mais conhecido pelos fartos patrocínios. Apesar de ter sido preterido pela equipe no meio de 1984, Baldi iniciou 1985 novamente pela Spirit, mas após três corridas o dono da equipe, John Wickham, fechou a Spirit e Mauro nunca mais participaria de uma corrida F1. Foram 36 Grandes Prêmios e cinco pontos.

Com todas as equipes na F1 com seus postos ocupados, Baldi partiu para a segunda categoria mais popular no mundo na época: o Mundial de Esporte-Protótipos. Mauro tinha feito algumas corridas esporádicas pelo campeonato nas duas últimas temporadas e como não tinha muita chance na Spirit, ele tinha assinado, ainda em 1984, com a Lancia, no famoso carro patrocinado pela Martini. No entanto, a Lancia se dividia entre o Mundial de Esporte-Protótipo e o Mundial de Rally, tendo mais sucesso no segundo. Sem chance na F1, Baldi se concentrou unicamente na Lancia em 1985 e, aos poucos, retornava aos bons tempos e as vitórias, vencendo os 1000 km de Spa. Em 1986 ele se transferiu para uma equipe particular que usava o Porsche 962 e venceu os 1000 km de Brands Hatch, terminando o campeonato em oitavo. Após duas temporadas penando numa equipe sem muitos recursos, finalmente Mauro iria ter a chance que precisava. A Mercedes, capitaneada por Peter Sauber, traria o italiano para sua equipe em 1988. Foram anos em que Baldi era um piloto de ponta, culminando com o título Mundial de 1990, ao lado do francês Jean-Louis Schlesser. Quando a Mercedes abandona o Mundial no final desta temporada, Baldi é contratado pela Peugeot e continua conseguindo vitórias.

Mauro Baldi tinha uma carreira estabelecida no Mundial de Esporte-Protótipo, mas ele ainda voltaria a se envolver com a F1. Em 1986, ele é o piloto da obscura equipe Ekström, chegando a se inscrver para o Grande Prêmio de San Marino daquele ano, mas o carro nunca chegou a participar de um treino oficial. No início dos anos 90, Baldi é piloto de teste do programa da Lamborghini na F1, mas nunca fez parte de uma corrida pela famosa marca italiana, que cedeu motores a equipes pequenas na primeira metade dos anos 90. Mesmo sendo um excelente piloto de endurance, Baldi não era fã de corridas de 24 horas, mas em 1994, a bordo de um Porsche 962 e ao lado de Yannick Dalmas e Hurley Haywood, Mauro venceu as tradicionais 24 Horas de Le Mans, colocando seu nome de vez na galeria dos grandes pilotos da história das corridas de Protótipos. No final da década passada, Baldi vai para os Estados Unidos e no famoso Ferrari 333, vence as 24 Horas de Daytona e as 12 Horas de Sebring em 1998 ao lado de Arie Luyendyk e Didier Theys. Hoje, Mauro Baldi participa de várias corridas históricas, andando nos carros que lhe deram mais alegrias ao longo de sua longa carreira.

Parabéns!
Mauro Baldi

3 comentários:

Ron Groo disse...

Mais um grande piloto que não foi bem na F1, mas teve ótimos anos em outras categorias.
E o sobrenome é bem pratico pra piadinhas né?

Arthur Simões disse...

Belo texto JC!!

Nunca entendi muito bem essa história da sueca Ekstrom.

Além do Baldi,muitos outros pilotos não fizeram nada na F1 mas arrebentaram no turismo:
Tarquini,o própio Dalmas,Sarrazin,Schneider,Veidler ,E.Pirro...esse só de cabeça.

Anônimo disse...

É, são coisas do automobilismo. Mauro Baldi eu conhecia de nome, nãos abia que tinha tanta história em outras categorias. Bela matéria!