sábado, 7 de novembro de 2009

Até onde ele teria chegado?


Quando um piloto vai do automobilismo americano rumo a F1, a expectativa fica em cima de que lado ele vai ficar. No sucesso, imitando Mario Andretti e Jacques Villeneuve, ou no fracasso, emulando Michael Andretti e Alessandro Zanardi. No final da década de 90, houve um canadense com cara de intelectual e extremamente rápido que cativou o público de todo o mundo e que pela sua versatilidade, fatalmente faria sucesso na F1, se lá chegasse. Greg Moore foi um dos pilotos mais carismáticos e agressivos da história do automobilismo, fazendo com que sua rápida passagem entre nós se tornasse marcante para todos que o acompanharam. Morto há dez anos no circuito de Fontana, agora iremos conhecer um pouco mais sobre Moore.

Gregory William Moore nasceu no dia 22 de abril de 1975 na cidade de New Westminster, no Canadá. Desde cedo, o pequeno Greg gostou de corridas e via pela TV seu grande ídolo, Ayrton Senna, se destacar em sua Lotus preta e dourada, o influenciando a iniciar sua carreira no kart quando tinha 10 anos de idade. Desde sempre, Moore usou o número 99 que caracterizaria toda sua carreira, mas erroneamente todos pensaram que isso tinha a ver com sua outra paixão. Como todo bom canadense, Greg era fissurado em hóquei sobre gelo e, por conseqüência, pelo canadense Wayne Gretzky, uma espécie de Pelé do Hóquei de Gelo, que sempre usou a camisa 99, mas Greg usou esse número simplesmente porque o inscreveram com o kart 99 em sua primeira corrida e assim permaneceu por todo o resto de sua vida. Rapidamente Moore passou a fazer sucesso não apenas no kartismo canadense, como também nos Estados Unidos, onde foi contratado pelas principais equipes da categoria, onde se tornou bicampeão americano de kart em 1989-90.

Seguindo o caminho natural dos grandes kartistas, Greg Moore estréia no automobilismo com apenas 15 anos na F-Ford americana 1600 em 1991, onde consegue o conceituado título de Rookie of the year da categoria, além de uma vitória. Mesmo muito jovem Moore sobe de categoria no ano seguinte, para disputar a F-Ford 2000 nos Estados Unidos, onde consegue ainda mais sucesso, obtendo quatro vitórias, quatro poles, além do título da conferência oeste. Moore começa a chamar a atenção de todos, mas isso não lhe garante uma equipe forte para sua nova empreitada. Contando com apenas 17 anos de idade, Greg estréia na fortíssima F-Indy Lights, o último degrau rumo a F-Indy. Sem grandes recursos financeiros, a sua família cria a Greg Moore Motorsports, apenas para que ele corresse. E o canadense não decepciona. O adolescente consegue uma incrível quinta posição na sua primeira corrida em Phoenix, terminando o certame em nono. Ainda com sua equipe própria, Moore faz mais um ano na sua equipe na Indy Lights em 1994 e logo na abertura do campeonato, em Phoenix, Moore se torna o piloto mais jovem a vencer uma corrida na categoria com apenas 18 anos e entrava definitivamente na mira das grandes equipes. A Penske se interessou no canadense, mas foi Gerald Forsythe que chegou primeiro e o contratou a peso de ouro, com o apoio da tabaqueira Player’s. Pelo resto de sua vida, Greg Moore correria com as cores azuis da Player’s.

Após terminar o campeonato de 1994 em terceiro, Moore entrou em sua terceira temporada na Indy Lights como franco favorito, já que agora correria com apoio oficial da Forsythe, que voltava a F-Indy após dez anos e apostava fortemente em Moore. Greg não decepciona as expectativas colocadas nele e conquista o título da Indy Lights com uma atuação assombrosa, vencendo dez das doze corridas da temporada de 1995, sendo que cinco de forma consecutiva (Miami, Phoenix, Long Beach, Nazareth e Milwaukee). A vantagem de Greg Moore foi tão grande, que ele tinha quase o dobro de pontos do vice-campeão Robbie Buhl. Com tamanho desempenho, não foi surpresa ver Greg Moore subir para a F-Indy em 1996 como piloto único da Forysthe, além das inevitáveis comparações. Correndo com o mesmo carro azul, o mesmo patrocinador e usando óculos, todos começaram a compará-lo a Jacques Villeneuve, que tinha acabado de conquistar o título da Indy e se transferido para a F1. Porém, Moore era muito mais simpático e como a agressividade era sua maior atratividade até então, não faltaram quem comparasse Greg ao pai de Jacques...

Com apenas 20 anos de idade, Moore era um dos pilotos mais jovens a estrear na Indy e nem por isso ele mostrou respeito com os mais ‘velhos’. Estreando no oval de Homestead, ele larga em sexto e termina em sétimo, enquanto liderava suas primeiras voltas na Indy no Rio de Janeiro, na sua segunda prova na categoria! Já em Surfers Paradise, Moore surpreendia ainda mais e conseguia seu primeiro pódio, com o terceiro lugar. Contudo, a agressividade e a falta de experiência de Greg começariam a atrapalhá-lo. Em Long Beach, ele tenta uma ultrapassagem impossível em cima de Christian Fittipaldi e os dois acabam fora da corrida, com Moore quase apanhando do sobrinho do Emerson. Por sinal, a temporada de 1996 é marcada justamente pelo forte acidente de Emerson Fittipaldi, que acabou com sua carreira, em Michigan, causado por Greg Moore. Pela primeira vez na carreira, Moore não fica com o título de Novato do Ano, quando é superado por Alessando Zanardi, terminando o campeonato em nono. Porém, todos ficam com uma ótima impressão de Moore, apenas com o jovem canadense precisando ganhar experiência para confirmas as ótimas expectativas sobre ele.

Com o sucesso de Jacques Villeneuve na F1, a Mercedes pensa em Moore como um substituto natural do canadense e passa a apoiá-lo em 1997. A potência do motor alemão passa a fazer de Moore como um dos vários candidatos ao título da temporada daquele ano da Indy. Era o auge da categoria, chamada de F-Mundial no Brasil e que tinha várias estrelas no seu plantel, como Zanardi, Jimmy Vasser, Michael Andretti, Gil de Ferran e outras feras. Ainda correndo sozinho pela equipe Forsythe, Greg faz um bom início de campeonato, onde termina a prova de Surfers Paradise, 2º no ano, colado no vencedor Scott Pruett. No Rio, Moore fica novamente próximo da vitória com outra segunda posição, mas seu primeiro triunfo não demoraria a acontecer. No oval de uma milha de Milwakee, Moore supera o especialista na pista Michael Andretti por apenas 1s e entrava para a história ao se tornar o mais jovem vencedor da Indy com apenas 22 anos. Uma semana depois, em Detroit, Moore consegue sua segunda vitória consecutiva de forma dramática, onde iniciou a última volta em terceiro, mas com os dois pilotos da PacWest, Mark Blundell e Maurício Gugelmin, economizando combustível. Porém, os esforços dos dois pilotos com passagens na F1 foram insuficientes e ambos ficaram pelo caminho nas curvas finais, entregando o triunfo para Greg. Essas duas conquistas davam a Greg Moore a liderança do campeonato e mostrava a grande versatilidade do canadense, pois ele venceu, dentro de uma semana, num circuito oval curto e num circuito de rua. Porém, a Forsythe entra numa má fase técnica e Greg só veria a bandeirada duas vezes nas nove corridas seguintes, terminando o campeonato num desapontador sétimo lugar. Demonstrando o apoio que dava ao canadense, a Mercedes convidou Greg Moore a participar de uma corrida na FIA-GT pela equipe oficial da montadora em Laguna Seca.

Uma novidade para 1998 para Moore era a chegada de um companheiro de equipe, o primeiro desde os tempos de Indy Lights. O canadense Patrick Carpentier tinha se destacado na F-Atlantic e era efetivado a Indy como uma nova esperança canadense, mesmo sendo mais velho que Moore. O que poderia ser um problema, pois para quem estava acostumado a ter todas as atenções de uma equipe nunca se acostuma a dividir as atenções, se torna uma grande ajuda quando Moore e Carpentier passam a se dar muito bem. Por sinal, essa era uma característica do jovem piloto. Mesmo com todos os problemas que teve pelo seu início agressivo na Indy, Moore tinha um relacionamento extraordinário com os demais pilotos, se tornando amigo até mesmo de piloto notoriamente antipáticos, como era o caso do seu compatriota Paul Tracy. Após toda a confusão em Long Beach, Christian Fittipaldi se torna um grande amigo de Moore, assim como todo o contingente brasileiro da categoria. Dario Franchitti chegou a afirmar que Moore tinha sido o seu melhor amigo que já conhecera e homenageou o cupido que o fez conhecer sua futura esposa Ashley Judd quando foi campeão da Indy em 2007.

A ajuda da Mercedes e o contínuo crescimento da Forsythe faz com que Greg Moore consiga ótimos resultados nas primeiras corridas de 1998, inclusive uma memorável vitória no Brasil, onde conseguiu uma audaciosa ultrapassagem sobre Alessandro Zanardi na última volta da corrida, quando se aproximaram do retardatário Arnd Meier. Após um terceiro lugar em Gateway na sexta etapa do campeonato, Moore liderava o campeonato, mas o canadense não suportou o crescimento da Ganassi e de Alessandro Zanardi. Como tinha acontecido no ano anterior, a Fortyshe passou a sofrer com a confiabilidade no final da temporada e Moore viu poucas vezes a bandeirada, mas em Michigan, Greg fez uma de suas melhores corridas e venceu de forma categórica as 500 Milhas com uma dupla ultrapassagem dupla por fora em cima dos pilotos da Chip Ganassi, Jimmy Vasser e Alex Zanardi, também nas últimas voltas. Moore terminava o ano num promissor quinto lugar e tudo levava a crer que ele finalmente conquistaria seu sonhado título. Zanardi, que havia dominado os dois anos anteriores na CART, estava de mudança para a F1 e Moore evoluía a olhos vistos, se tornando um piloto completo e amadurecido, mesmo sendo bem jovem. Ele estava preparado para o título, como ficou provado com sua esmagadora vitória na corrida de estréia da temporada 1999 em Homestead.

Porém, esse foi seu único momento de glória naquele ano. A Mercedes já investia seu tempo e sua atenção no programa de F1 e Moore se sente abandonado pela montadora que parecia querer investir nele. A Forsythe não continua em sua fase ascendente e Greg passa a ter resultados regulares, se destacando mais em circuitos ovais. Pensando em mudar de ares, Greg Moore passa a negociar com a Penske no verão de 1999 e em meados de julho a equipe de Roger Penske anuncia a contratação de Greg e Gil de Ferran para o ano 2000, além da completa mudança no pacote da equipe, que deixava de lado a construção do seu próprio chassi, o defasado motor Mercedes e o decante pneu Goodyear, para se juntar a combinação vencedora de Reynard-Honda-Firestone, que vinha garantindo as vitórias para a Chip Ganassi nos últimos anos. A expectativa para o ano seguinte era enorme e Moore se sentia valorizado em fazer parte importante da reestruturação de uma equipe da tradição da Penske. As últimas corridas pela Forsythe foram cercadas de decepção, mas Moore queria retribuir todos os bons momentos vividos com a equipe que sempre o apoiou e partiu para Fontana determinado em conseguir um bom resultado. Porém, isso se torna mais complicado quando Greg é atropelado por uma caminhonete na sexta-feira anterior a prova, lhe causando uma luxação no pulso e quinze pontos na mão direita.

Roberto Moreno foi chamado para substituir Moore na corrida californiana, mas Greg chega no domingo determinado a correr de qualquer forma. Os médicos Steve Olvey e Terry Trummell, o mesmo que salvou os pés de Nelson Piquet em 1992, fizeram um teste com Moore e o liberaram para participar das 500 Milhas de Fontana. A Forsythe fez uma adaptação de última hora no volante para não exigir demais a mão ferida de Greg e o canadense vai para a corrida largando da última posição, após não participar da Classificação no sábado. A corrida se inicia de forma truncada, com uma bandeira amarela provocada por Richie Hearn ainda na terceira volta. Quando a bandeira verde é acionada, todas as atenções ficam voltadas na emocionante briga pelo título entre Juan Pablo Montoya e Dario Franchitti, que se digladiavam nas primeiras posições, quando as câmeras mostraram um carro azul capotando infield do circuito de Fontana. O momento seguinte é brutal. A mais de 320 km/h, o carro de Greg Moore se espatifa contra o muro de forma que a cabeça do piloto parece ter sido a principal parte do corpo atingida. O veículo se desfaz por inteiro, com os braços de Moore ficando para o lado de fora e quase nada sobrando do carro. Para quem assistia aquilo, não imaginava como Greg Moore pudesse sobreviver aquilo. Os médicos chegaram rapidamente ao local do acidente e logo ficou claro a gravidade da situação. Moore foi levado imediatamente ao Loma Linda University Medical Center, mas uma hora depois, ele foi declarado morto com maciças lesões cerebrais, no pescoço e hemorragia interna. Greg Moore tinha apenas 24 anos.

Logo quando foi anunciada a morte de Moore no circuito de Fontana, todas as bandeiras foram colocadas a meio mastro e a equipe Forsythe, em estado de choque, abandonou a corrida ao tirar Patrick Carpentier da prova. Afora Carpentier, nenhum outro piloto ficou sabendo da tragédia e a corrida teve sua continuidade até o final, com vitória para Adrian Fernandez e o título ficando com Montoya. Porém, logo que souberam da notícia, todos os pilotos baixaram a cabeça e choraram a perda de Moore. Semanas mais tarde, o número 99 foi aposentado da CART em homenagem ao canadense. Várias homenagens foram feitas no Canadá e o efeito da morte de Greg Moore no país só pode ser comparada quando Ayrton Senna morreu e o Brasil parou. Apesar de lamentar profundamente a morte do seu piloto, Penske não perdeu tempo e contratou Helio Castroneves para o lugar de Moore e muitas questões podem ser levantadas. Greg Moore era muito mais piloto que Castroneves e ainda assim o brasileiro conquistou vários resultados expressivos, como as três vitórias em Indianápolis. Será que Moore faria o mesmo? Ou até mais? Como seria a disputa com Gil de Ferran, campeão da CART em 2000 e 2001? Será que Moore iria mesmo para a F1, como todos esperavam? Nunca saberemos essas respostas ao certo, mas ninguém consegue esquecer, mesmo que uma década já tenha se passado, o talento, a agressividade e a vontade de vencer de Greg Moore, além do seu jeito alegre e divertido de tratar a todos a seu redor. Para reverenciar o seu legado, Ric Moore, pai de Greg, criou a Greg Moore Fondation. Uma homenagem digna a um homem que nos deixou cedo demais.

6 comentários:

Unknown disse...

Poderia até ter chego na Formula 1, mas nao sei se iria se dar bem por lá. Há várias histórias de pilotos da Indy, que não se adaptaram ao estilo de pilotagem da f1, vide o caso do Michael Andretti. De qualquer forma teria uma carreira fantástica na Indy, onde axo q ganharia os títulos de 2000 e 2001 q o Gil conquistou, ja que considero o Greg mais piloto do q ele.
No mais parabéns pelo Blog e força pro seu Vozão. Sou coxa-branca mais to torcendo pra vcs subirem

Arthur Simões disse...

Lembro dessa,

na época,era um dos meus pilotos favoritos da Indy...

Acho que não chegaria a F1 pq naquela época(2000-01)a categoriajá estava meio fechada para contratações de pilotos vindos da Indy.(fora Montoya).

Se fosse na década de 90,talvez entrasse.

João Carlos Viana disse...

Obrigado pelo Força Vozão!

Valeu Arthur, como sempre, comentando quando pode!

Sidney Andreato disse...

Esse é um cara que gostaria de ver na F1.

De Gennaro Motors disse...

me lembro do acidente dele....ate hoje...impressionante!

Tod disse...

Assistia a corrida no dia e quando vi o acidente infelizmente já tinha certeza que ele não voltaria. Fiquei muito triste mas depois da morte do Senna descobri uma coisa: todo piloto de formula (principalmente) são suicidas!
Adoro corridas e assisto todas (F1, Moto GP, Nascar, Stock, Truck, Indy, Le Mans, etc).
Parabéns pela matéria e também acho que o menino tinha um futuro muito promissor. Inté mais.