domingo, 30 de maio de 2010

Vamos quebrar tudo...


Lembram daquela musiquinha que aparecia no Programa do Ratinho quando o pau comia no palco? Pois bem, quando Mark Webber chegar para a reunião pós-corrida da Red Bull e o australiano se reencontrar com Sebastian Vettel, bem que essa musiquinha poderia reaparecer e com Christian Horner, com o papel de Ratinho, ficando entre os dois. Raramente se vê um momento tão definitivo na temporada como o entrevero entre Webber e Vettel, quando ambos brigavam pela ponta da corrida, com ambos saindo da pista e entregando a dobradinha para a McLaren, com Hamilton ainda tendo que suportar uma pressão inesperada de Jenson Button para finalmente conquistar sua primeira vitória em 2010.

Assistindo a corrida de hoje, me lembro da gritaria após a corrida no Bahrein, quando muitos assodados clamavam pela volta do reabastecimento para voltar a emoção nas corridas de F1. Só a chuva faz das corridas de hoje ficarem boas, complementavam outros, após as emocionantes corridas na Austrália e na Malásia. Pois bem, na Turquia não houve reabastecimento e a chuva que caiu definitivamente não influiu em nada para uma das melhores corridas dos últimos tempos, com quatro carros andando juntos em três quartos da prova, num nível altíssimo e com brigas que serão lembradas por muito tempo. Por sinal, se houvesse reabastecimento, haveriam as brigas entre Webber-Vettel e Hamilton-Button? Provavelmente eles ficariam comboiando um ao outro, esperando que o pit-stop definisse a fatura nos boxes, não na pista, como vimos. Por sinal, muitas brigas se decidiram na pista, onde se deve haver as trocas de posições. Não houve ultrapassagem em algumas delas? Isso faz parte e nem sempre a ultrapassagem em si é garantia de emoção e o exemplo que sempre lembro é da famosa corrida em que Gilles Villeneuve segurou quatro carros até o fim do Grande Prêmio da Espanha de 1981. Ele não deixou ninguém passar, mas a prova entrou para a história. Como a de hoje.

Como bem falou Jenson Button na entrevista coletiva, ninguém na McLaren esperava estar comemorando uma dobradinha menos de um mês após a dominação da Red Bull em Barcelona, principalmente em Kurtkoy, uma pista que teoricamente favorecia a equipe energética. Porém, a McLaren surpreendeu a Red Bull e andou no mesmo ritmo da equipe austríaca a corrida inteira. Hamilton e Button perderam uma posição cada na largada, mas recuperaram brilhantemente ainda na primeira volta e iniciaram a disputa pela ponta da corrida. Hamilton sempre que podia mostrava o bico para Webber, com Vettel logo atrás assistindo, enquanto Button se aproximava. A parada poderia ser decisiva para Hamilton, mas acabou o prejudicando quando a McLaren se atrapalhou e o inglês acabou ultrapassado por Vettel, que havia feito sua parada na volta anterior. Foi a senha do começo da confusão e da emoção.

Com Button andando muito rápido antes de fazer sua parada, os quatro primeiros colocados estavam colados, andando no mais alto nível, a ponto de Michael Schumacher, 5º colocado, estar virando 1s mais lento. Não haviam trocam de posições, mas a proximidade entre Webber, Vettel, Hamilton e Button, nessa ordem, não permitia sequer um pit-stop no banheiro, pois qualquer coisa poderia acontecer. Até mesmo uma indesejada chuva. Pela primeira vez em anos, muitos torcedores rezavam para não chover e não estragar a bela corrida que se desenrolava. A McLaren era claramente superior em reta, mas a Red Bull era nitidamente mais equilibrada nas curvas rápidas, especialmente a famosa curva 8, ainda não batizada. Porém, a briga pela ponta iria ser decidida entre dois companheiros de equipe, portanto, não indicando muita emoção. Teoricamente. Vettel começava a esboçar um ataque em Webber, enquanto deixava Hamilton um pouco para trás e na volta 41 entrou colado na traseira de Webber na reta oposta. Como todo piloto que defende uma posição, ainda mais a primeira, o australiano foi para dentro e espremeu Vettel, mas ainda lhe deu espaço. Por um motivo que ninguém, a não ser Vettel, o alemão resolveu ir para à direita e o toque foi inevitável. O prejuízo só não foi maior para a Red Bull porque Vettel não veio totalmente para cima de Webber, mas o estrago estava feito. Um pneu furado destruiu a corrida de Vettel, enquanto Webber, com a asa dianteira, via as duas McLarens pronta para uma dobradinha. Ou não?

Faltando pouco mais de quinze voltas era mais do que normal que Hamilton e Button permanecessem nas mesmas posições, mas o atual Campeão mundial partiu para cima e numa manobra de perder o fôlego, ficou roda a roda com o companheiro de equipe e chegou a ultrapassar Hamilton, mas o Campeão Mundial de 2008 não iria desistir fácil e deu o troco ainda na curva seguinte, dando um susto no staff da McLaren. Foi uma manobra histórica e bonita de se ver, algo raro que não acontecia a muitos anos. Mas ao contrário da Red Bull, deu certo, mas Martin Whitmarsh foi cuidadoso e na velha história de conservar o combustível, deu a ordem para que Hamilton e Button ficassem naquelas mesmas posições e conquistassem a segunda dobradinha do ano para a McLaren, enquanto um injuriado Mark Webber completava o pódio, mas como consolação, ao menos liderava o campeonato de forma isolada.

Contudo, o Grande Prêmio da Turquia pode ter significado uma briga entre companheiros de equipe rara de se ver. Em 2007 na McLaren, Hamilton e Alonso soltaram muitas farpas pela imprensa, mas na pista eles foram justos um com outro, com excessão da confusão dos pits na Hungria, mas, ainda assim, num movimento dentro dos boxes. Até mesmo na época entre Senna e Prost na própria McLaren, o momento mais sério entre eles dentro da pista ocorreu já no final da convivência entre eles, quando decidiam um campeonato. Já com Mark Webber e Sebastian Vettel, ainda antes da metade do campeonato em que a Red Bull tem o melhor carro do ano, ambos já estragaram a corrida um do outro numa manobra transloucada do alemão, que ainda quis ter razão quando insinuou que Webber estava louco na briga entre os dois. Ainda no ano passado existiam rumores de que os dois não se gostavam muito e com a presepada de hoje, ficará difícil esconder isso. Nessa hora, Christian Horner terá que mostrar pulso firme para segurar o ímpeto dos seus pilotos e que daqui para frente, eles comecem a se respeitar e que o campeonato, que parecia encaminhado para eles, não seja perdido por causa de erros infantis e individuais. A McLaren só tem a agradecer ao surto de individualismo de Vettel, mas também terá que segurar seus pilotos, pois Button demonstrou hoje que não será um segundo piloto inofensivo frente a Hamilton e sua cara no pódio, parecia de um piloto que tinha condições de ter vencido, mas foi podado pela equipe.

Com tantas emoções na frente, o resto foi, literalmente, o resto. O melhor momento de Michael Schumacher foi mesmo a largada, quando ultrapassou Button, mas o veterano alemão não foi sequer capaz de segurar por muito tempo a 4º posição e foi ultrapassado pelo inglês ainda na primeira volta. E na 5º posição que cruzou a primeira volta, só não cruzou a última porque ganhou um posto pelo abandono de Vettel, logo à frente de Rosberg. A atualização da Mercedes serviu muito mais a Schumacher do que a Rosberg, que vem acusando o golpe e é superado, corrida após corrida, por Schummy. A Renault deu um bom salto de crescimento e já anda no mesmo nível de Mercedes e Ferrari. Kubica passou a corrida inteira atrás de Rosberg e até esboçou alguns ataques ao alemão, mas permaneceu na mesma 6º posição em que largou. Felipe Massa fez uma primeira volta agressiva e chegou a ter um toque perigoso com Kubica numa freada, mas a partir daí se aquietou na posição que estava e por lá terminou. A forma como ficou atrás da Renault mostra que a Ferrari, considerada favorita destacada após a vitória no Bahrein, tem que reagir o mais rápido possível se quiser fazer algo de interessante num campeonato que se desenha numa briga particular entre McLaren e Red Bull. Uma noção do nível atual da Ferrari é que seus dois pilotos não estavam entre as oito melhores voltas da corrida. Um péssimo presente de aniversário de 800 GPs na F1. Para desespero de Massa, Alonso mais uma vez conseguiu chegar logo atrás do brasileiro numa corrida que começou errática desde os treinos no sábado. Alonso chegou a perder uma posição na largada, mas logo ultrapassou De la Rosa e ultrapassou Sutil nos boxes. Com a visão da traseira de Vitaly Petrov a corrida inteira, Alonso partiu para o ataque nas voltas finais e conseguiu uma ultrapassagem agressiva em cima do russo, que acabou tendo um pneu furado e a corrida estragada. Foi uma pena para Petrov, que pela primeira vez no ano andou no mesmo ritmo de Kubica e vendeu caro sua ultrapassagem para Alonso.

Com a Renault se firmando como a quinta força do Mundial e com Petrov saindo da zona de pontuação no final, sobrou o pontinho final para as demais equipes veteranas. Force India, Sauber, Toro Rosso e Williams brigaram pelo ponto final e este acabou com Kobayashi, coroando o bom trabalho do japonês, que passou a corrida inteira sendo pressionado. Primeiro, Koba aguentou bem a pressão de Alonso, mas o espanhol o ultrapassou nos boxes. Depois, Kobayashi foi ultrapassado de forma muito bonita por Adrian Sutil e ficou em 10º a prova inteira. Porém, a Toro Rosso tentou uma estratégia diferente e trocou os pneus novamente de seus pilotos, fazendo com que Jaime Alguersuari voasse na pista, inclusive com o espanhol ficando com a melhor volta da prova nos momentos finais. O espanhol ultrapassou De la Rosa e Hulkenberg e partiu para cima de Kobayashi nas voltas finais, com os quatro protagonizando uma disputa interessante pelo ponto final, que acabou ficando com Kobayashi na última volta. Um prêmio para este japonês que fez duas corridas espetaculares ano passado e que estava devendo em 2010. De la Rosa ficou atrás do seu companheiro de equipe novamente, mas nada que se compare ao banho que Vitantonio Liuzzi vem levando de Adrian Sutil na Force India. Enquanto o alemão se esforçou ao máximo até conseguir chegar a zona de pontos, Liuzzi... ele correu hoje? Barrichello vive sua montanha-russa de ótimas e péssimas largadas e na Turquia foi a vez de uma largada ruim, que adicionada a um péssimo pit-stop, o colocou nas últimas posições e atrás de Hulkenberg. Outro que teve problemas foi Buemi, que teve um pneu furado ainda no início da corrida e só foi visto ultrapassando as novatas, que fizeram seu papel. Levar seus carros até o final da corrida atrapalhando o menos possível os outros. Apenas Glock e Di Grassi conseguiram.

A corrida da Turquia prova que uma corrida não depende apenas de artifícios como o reabastecimento ou a obrigatoriedade de uma segunda parada, como foi dito no início do ano. Se a pista é boa, a corrida tende a ser boa, ainda mais com quatro pilotos como Lewis Hamilton, Jenson Button, Mark Webber e Sebastian Vettel. Eles deram um show na pista de Kurtkoy e por isso que seria uma pena que a pista saía mesma do calendário da F1. Porém, esse show de hoje pode custar caro a ambas as equipes, pois o espírito competitivo de seus pilotos podem atrapalhar os anseios dos times. A Red Bull, antes preocupada com a confiabilidade, agora tem que lidar com seus pilotos, enquanto a McLaren, que corria atrás da Red Bull, não apenas está quase no mesmo nível da equipe austríaca, como também terá que escolher qual dos seus pilotos irá ser o primeiro piloto. Mas quem escolher? Hoje foi um dia marcante para a F1.

Um comentário:

Ron Groo disse...

Eu gostei, independente do resultado, houve competição pelo primeiro lugar.
Há tempos não se discutia uma vitória com tanta força dentro da pista e com tantas possibilidades.

Tomara que a Ferrari aprenda algo com isto e acabe com o "tragam as crianças para casa"