quarta-feira, 23 de março de 2011

História: 25 anos do Grande Prêmio do Brasil de 1986


Após dois anos dominadores, a pergunta era quem poderia parar a McLaren. O time de Ron Dennis vinha de dois títulos incontestáveis e mesmo com a aposentadoria de Niki Lauda no final de 1986, o time havia trazido Keke Rosberg, mostrando que o nível da equipe não iria diminuir, apesar de que Alain Prost ainda era o queridinho da escuderia. A Williams havia se mostrado forte no final de 1985 com três vitórias nas quatro últimas corridas da temporada e a chegada do bicampeão Nelson Piquet parecia ser a combinação perfeita. Porém, uma tragédia se abateu com o time antes mesmo da temporada se iniciar. Após um teste em Paul Ricard, Frank Williams sofre um gravíssimo acidente de carro numa auto-estrada que o deixa paraplégico e fora de todas as decisões do time por praticamente um ano, deixando esse cargo com o seu sócio, Patrick Head. Quando foi para a Williams, Nelson Piquet havia negociado com Frank Williams para ser o piloto número 1, mas com o dono da equipe lutando contra a morte numa cama de hospital, isso acabaria selando o destino de Piquet na equipe Williams.

Ayrton Senna reinava soberano na Lotus a ponto de ajudar a enxotar Elio de Angelis da equipe após o italiano ter se dedicado por seis temporadas ao time inglês. A John Player Special, principal patrocinadora da equipe, exigiu um piloto inglês como companheiro de equipe de Senna e indica Derek Warwick, até então o piloto britânico número da F1 e desempregado após o fim da equipe Renault no final de 1985. Senna resolve dar um piti e diz que a Lotus não tinha condições de dar dois carros bons e veta Warwick, deixando a imprensa inglesa irada, enquanto Warwick teria que procurar emprego no Mundial de Esporte-Prtótipo. A JPS ainda impõe suas condições (apesar de Senna ter indicado seu amigo Maurício Gugelmin) e traz o opaco escocês Johnny Dumfries como segundo piloto da equipe, mas conhecido por fazer parte da família real britânica. Com o fim da Renault, boa parte dos técnicos franceses se mudam para a Ligier, que teria a dupla de pilotos mais experientes do ano: Laffite (41 anos) e Arnoux (37 anos). A Ferrari permanecia com a mesma dupla que enfrentou até certo ponto a McLaren em 1985, enquanto a Brabham trazia um inovador carro, o BT55, bem mais baixo que os demais. Gordon Murray estava à frente do seu tempo (talvez até demais...) e por isso Elio de Angelis e Ricardo Patrese sofreriam em 1986.

O final de semana estava muito quente no Rio de Janeiro e Nelson Piquet ficou com a pole provisória na sexta-feira. O brasileiro parecia que estava em casa com o seu novo carro, mas a sua falta de intimidade com o bólido o fez bater e abandonar mais cedo nos treinos de sábado. Isso deu a chance para Ayrton Senna sair com seu Lotus com motor especial de Classificação da Renault. Senna consegue mais uma pole em seu crescente cartel, sendo seguido pelas Williams.

Grid:
1) Senna (Lotus) - 1:25.501
2) Piquet (Williams) - 1:26.266
3) Mansell (Williams) - 1:26.749
4) Arnoux (Ligier) - 1:27.133
5) Laffite (Ligier) - 1:27.190
6) Alboreto (Ferrari) - 1:27.485
7) Rosberg (McLaren) - 1:27.705
8) Johansson (Ferrari) - 1:27.711
9) Prost (McLaren) - 1:28.099
10) Patrese (Brabham) - 1:29.294

O dia 23 de março de 1986 estava extremamente quente no Rio de Janeiro e o autódromo de Jacarepaguá estava lotado, com uma disputa, ainda pequena, entre sennistas e piquetistas. Quem era o melhor? Com os dois na primeira fila, era uma boa perpectiva a largada dos dois brasileiros, mas na luz verde quem sai muito bem é Mansell, que pula à frente de Piquet, mas não conseguindo ultrapassar Senna. Ainda naquelas primeiras curvas, era claro o quanto o Williams era mais equilibrado que a linda Lotus preto e dourada, mas Senna era conhecido como o piloto mais duro de ser ultrapassado e ele não permitiria a manobra em frente as arquibancadas lotadas de seus compatriotas. Na reta oposta, Mansell coloca de lado, mas Senna resiste. O impacto é inevitável. Os dois tocam, Senna balança, mas é o inglês quem se dá pior e vai direto para o guard-rail. Pela segunda corrida consecutiva, Mansell era colocado para fora da pista por Senna na luta pela liderança ainda na primeira volta, deixando o inglês contrariado.

Senna liderava ao final da primeira volta à frente de Piquet, Arnoux, Alboreto, Rosberg e Johansson. Na segunda volta, Piquet tenta ultrapassar Senna no final da reta oposta, mas tendo visto o problema com Mansell de camarote, Piquet foi cuidadoso e recua, mas na volta seguinte, no mesmo local, Piquet usa a potência do seu Honda V6 turbo e deixa Senna sem possibilidades de defesa. O público delira! O Brasil estava na ponta e com dobradinha, não importando a ordem. Piquet começa a disparar, enquanto um resignado Senna se mantém confortavelmente em 2º. Rosberg abandona cedo, enquanto Alboreto toma o 3º lugar de Arnoux. Falando em Rosberg, a McLaren vinha num final de semana até mesmo apagado, sem aparecer muito, mas Prost começava a mostrar as garras do atual campeão. O francês havia largado mal, caído de 9º para 13º, mas o piloto da McLaren inicia uma tremenda recuperação, ultrapassando praticamente um piloto por volta. Seus críticos diziam que ele só havia conquistado o título de 1985 por ter o melhor carro, mas Prost mostrava com sua pilotagem suave, ao mesmo tempo rápida, que era, sim, um dos melhores pilotos do mundo.

A evolução de Prost, que de tão delicado ao volante parecia estar lento, quando era o mais rápido na pista, o colocou rapidamente em 5º lugar, atrás do seu desafeto Arnoux. Como era de costume, Arnoux dificultou um pouco a ultrapassagem, mas em três voltas Prost estava perseguindo Alboreto, chegando ao 3º lugar na volta 16. Na volta 19, Piquet entra nos boxes para a sua primeira parada nos boxes, enquanto que quase ao mesmo tempo, Prost cola em Senna. O público sente um calafrio na espinha quando vê a soberania brasileira ser ameaçada e para desespero geral da nação, Prost assume a liderança na 20º volta e começa a abrir. O francês já começava a ser chamado de Rei do Rio, com três vitórias nas quatro últimas corridas em Jacarepaguá, mas Piquet vinha voando mais atrás. O piloto da Williams só demora três voltas para alcançar e ultrapassar Senna. Prost se mantém à frente de Piquet algumas voltas, mas era claro a superioridade da Williams e o bicampeão deixa o francês para trás na entrada da curva 1. Para melhorar a situação, Prost dava a impressão que faria seu pit-stop, mas a verdade era que o motor TAG-Porsche havia estourado. Era o fim da bela corrida do Professor.

Piquet e Senna fazem suas segunda parada de forma tranquila e a dobradinha brasileira se forma para delírio do público que lotou Jacarepaguá naquele dia. Vem na memória imediatamenteas cenas de onze anos atrás com a dobradinha de Pace e Emerson Fittipaldi no pódio em Interlagos, enquanto Piquet e Senna dividem uma bandeira brasileira no alto do pódio carioca. Ao lado deles, Laffite, que havia ultrapassado Arnoux nas voltas finais e mostrava a força da Ligier. Mesmo com o triunfo de Piquet, ficava claro que Mansell não seria apenas um dócil segundo piloto e quanto Alain Prost era um oponente perigoso, além do atrevimento de Senna, um piloto extremamente rápido, talvez o mais rápido de então, mas não, ainda, um piloto completo. Tão completo quanto Piquet. Era o início para o que muitos consideram a melhor temporada da F1 em todos os tempos.

Chegada:
1) Piquet
2) Senna
3) Laffite
4) Arnoux
5) Brundle
6) Berger

Um comentário:

Anônimo disse...

O resultado da dobradinha brasileira na prova foi o que valeu naquela tarde de domingo, 23 de Março de 1986.