terça-feira, 31 de maio de 2011

História: 30 anos do Grande Prêmio de Mônaco de 1981

A F1 chegava à Monte Carlo para a sua mais glamorosa etapa com a Williams dominando o campeonato de 1981, mesmo com seus dois pilotos brigados pela primazia da escuderia. Quem se aproveitava disso era Nelson Piquet, que estava em segundo no campeonato, separando os dois representantes da Williams, com Reutemann liderando a tábua de pontuação. Até o momento, a Ferrari estava longe de estar competitiva e em Mônaco, as deficiências do chassi ficariam ainda mais claras.

Porém, Gilles Villeneuve conseguia um surpreendente segundo lugar na primeira sessão, muito à frente do seu companheiro de equipe Didier Pironi, que bateu três vezes na quinta-feira, tentando acompanhar o ritmo do canadense. O líder no primeiro dia era Nelson Piquet, mais de 1s à frente de Villeneuve. Conta a lenda que o brasileiro chegou atrasado aos treinos no primeiro dia, pois teria passado a noite com uma das famosas princesas de Mônaco, para desespero de Bernie Ecclestone. Mesmo não melhorando seu tempo, Piquet permaneceu na pole no sábado, com Villeneuve batendo por muito pouco Nigel Mansell na briga pelo 2º lugar. Depois de um mal dia na quinta-feira, Reutemann se recuperou e pulou para o quarto lugar e, melhor na briga interna da Williams, o argentino superava seu companheiro de equipe.

Grid:
1) Piquet (Brabham) – 1:25.710
2) Villeneuve(Ferrari) – 1:25.788
3) Mansell(Lotus) – 1:25.815
4) Reutemann(Williams) – 1:26.010
5) Patrese(Arrows) – 1:26.040
6) De Angelis(Lotus) – 1:26.259
7) Jones(Williams) – 1:26.538
8) Laffite(Ligier) – 1:26.704
9) Prost(Renault) – 1:26.953
10) Watson(McLaren) – 1:27.058

O dia 31 de maio de 1981 estava quente e com clima seco no principado de Monte Carlo, mas um problema inédito atrasou a largada em uma hora. Um incêndio no Hotel Lowes causou um vazamento de água, criando uma verdadeira cachoeira na entrada do túnel, deixando o local bem molhado. Com supervisão pessoal de Ecclestone, as primeiras voltas no túnel teriam bandeira amarela no local, mas a corrida teria seu início normalmente. Assim como também ocorreu normalmente a largada, com Piquet, Villeneuve e Mansell passando pela St. Devote sem maiores problemas. Contudo, mais atrás, Andrea de Cesaris aumentava seu cartel de acidentes no ano quando ele foi tocado e acabou espremendo Mario Andretti no guard-rail, acabando com a corrida de ambos em apenas centenas de metros de corrida.

Após um suspense com a reação dos carros na parte molhada do túnel, ficava claro que Mansell estava segurando todo um pelotão atrás de si, enquanto Piquet e Villeneuve disparavam na frente. Reutemann atacava o piloto da Lotus com tudo, mas a notória dificuldade de se ultrapassar no circuito de rua de Monte Carlo sempre se fez presente e o argentino não conseguia se livrar de Mansell, mesmo sendo claramente mais rápido. Passar em Mônaco sempre foi um exercício perigoso e de audácia, mas com os líderes disparando na frente, Reutemann saiu de suas características mais cautelosas e tentou achar uma brecha na curva Loews, colocando sua Williams por dentro na curva mais lenta da F1. Como aconteceu neste domingo no caso de Hamilton, houve um toque, mas ninguém punido pela direção de prova, porém Reutemann e Mansell acabaram punidos de outra forma. A asa dianteira do argentino quebrou e ele teve que ir aos boxes trocá-lo, enquanto Mansell, com a suspensão quebrada, teve que abandonar. Com isso, Jones, que havia ultrapassado Patrese e De Angelis na largada, assumia o terceiro lugar e rapidamente se aproximava de Villeneuve.

Com problemas em seus freios e sua Ferrari cada vez mais desequilibrada, o canadense não deu muito trabalho a Jones e praticamente deixou o australiano subir para o segundo lugar. Villeneuve traía suas tradições tresloucadas e usava a cabeça para sobreviver no Grande Prêmio de Mônaco, algo que lhe ajudaria bastante mais tarde. E sobrevivência era um fator chave naquele dia, pois os abandonos começaram a aparecer pelas dificuldades inerentes do circuito monegasco, com a saída das duas Arrows por problemas mecânicos, do motor fundido de Elio de Angelis e das duas Renaults. Após despachar Villeneuve, Jones aumentou o seu ritmo e partiu para cima de Piquet, que após a corrida anterior em Zolder, quando foi jogado para fora da pista pelo piloto da Williams, ameaçou Jones de que o colocaria para fora da pista se fosse possível. Quando Jones encostou na traseira da Brabham de Piquet, todos pensavam se Jones seria tão agressivo com o brasileiro como tinha sido duas semanas antes na Bélgica, mas o piloto da Williams resolveu se acalmar e Piquet ainda liderava a prova, quando o inesperado aconteceu.

Na volta 54 Nelson Piquet tinha alguns retardatários a ultrapassar, entre eles, o Ensign de Patrick Tambay. Com Alan Jones próximo, Piquet tentou uma manobra otimista na curva Tabac e acabou por terminar sua corrida no guard-rail. Jones assumia a liderança da corrida com mais de 30s sobre Villeneuve, faltando apenas 22 voltas. O canadense dava um show à parte. Sua Ferrari tinha uma potência estúpida, mas o chassi era terrível e ninguém sabia ao certo como Villeneuve conseguia se manter na pista com um carro que saía de frente e de traseira em praticamente todas as curvas. No entanto, o canadense ia se mantendo em 2º lugar, mas a sua sorte mudou quando faltavam onze voltas para o fim. O motor Ford Cosworth do Williams de Alan Jones falhou e o australiano foi aos boxes para tentar resolver o problema. O carro tinha desenvolvido problemas de alimentação e bolhas de ar impediam a entrada de combustível na câmara de combustão. Sem ter mais o que fazer, Jones foi mandado de volta à pista, mas agora Villeneuve estava apenas 6s atrás. Na volta 72 de um total de 76, Villeneuve colocou sua Ferrari de número 27 por dentro da St. Devote e ultrapassou Jones de forma magnífica. A torcida da Ferrari, grande maioria em Mônaco, foi ao delírio. As últimas voltas daquele Grande Prêmio foram emocionantes, com os urros da torcida e Villeneuve segurando sua Ferrari como um peão de boiadeiro. Quando Villeneuve recebeu a bandeirada, parecia que a Itália tinha ganhado a Copa do Mundo. Mesmo com problemas, Jones ainda terminou em segundo, seguido por um obscuro Laffite, que completou o pódio. Villeneuve foi inteligente e paciente para levar sua inguiável Ferrari rumo a uma vitória que nem nos melhores sonhos de Enzo Ferrari poderia ser concebida. Após anos idolatrando as loucuras de Villeneuve, finalmente os tifosi puderam presenciar seu pequeno gênio fazer loucuras, mas com eficiência.

Chegada:
1) Villeneuve
2) Jones
3) Laffite
4) Pironi
5) Cheever
6) Surer

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