Foram cinco anos, após passagem ligeira pelo templo de Indianápolis, longe da América. Mais do que a tradição automobilística americana, foi o potencial mercadológico dos Estados Unidos que fizeram com que a F1 fizesse um esforço descomunal para retornar para o norte do lado de cá do Atlântico num circuito novo em uma cidade com menos de um milhão de habitantes. Porém, Austin viu não apenas o público lotar por inteiro as arquibancadas, ao contrário do que ocorre na Coréia do Sul e China, por exemplo, e viu uma bela corrida hoje, mesmo que no Brasil tivemos que nos contentar com a narração down de Sérgio Maurício (que errou pacas) e Lito Cavalcanti. Contudo, Austin não viu em sua primeira corrida o campeonato ser decidido.
A preocupação com a temida primeira curva foi tal que não houve um incidente qualquer, afora alguns pilotos saindo da pista na espetacular sequencia de esses. Porém, como esperado, quem largou nas posições ímpares levaram vantagem e Hamilton caiu de segundo para terceiro, com Webber fazendo uma dobradinha da Red Bull e um possível domínio de Vettel, que estava em primeiro. Era o seu script. Porém, Hamilton queria deixar a McLaren ao final deste ano com pelo menos mais uma vitória e partiu para cima de Webber, o ultrapassando pouco tempo antes do australiano abandonar. Lewis se aproximou de Vettel e iniciou assim uma luta de gato e rato que caracterizou toda a corrida em Austin, com pegas de tirar o fôlego nas posições intermediárias. A diferença entre Vettel e Hamilton nunca foi superior a 1.5s e mesmo quando o inglês voltou à pista em posição difícil após sua parada, Lewis rapidamente encostou em Vettel. Era uma briga de altíssimo nível, com os dois campeões andando no limite e com dois carros diferentes, andando um ou dois décimos mais do que o outro. Estava na cara que a definição de alguma se daria na zona de acionamento da asa e no momento que Hamilton estivesse muito próximo, a ultrapassagem viria. E ela veio já no final da prova, quando Vettel perdeu marginalmente tempo para um retardatário e ficou a mercê de Hamilton, que ainda levou um susto quando o alemão da Red Bull fez uma manobra brusca e ambos quase tocaram rodas. Hamilton foi até o final da prova com Vettel igualmente 1.5s atrás, mostrando o equilíbrio desta disputa. O abraço afetuoso em Martin Whitmarsh significou o fim da parceria de treze anos de Hamilton e a McLaren e tende a ser danoso a ambos em 2013. O principal piloto da McLaren no próximo ano, Jenson Button, ficou quase um minuto atrás de Hamilton, enquanto Pérez não fez outra corrida boa como no meio da temporada. E olha que Button fez uma bela corrida, saindo de 12º para quinto numa corrida agressiva e usando muito bem os pneus, sua marca registrada. Já Hamilton enxerga uma Mercedes em declínio técnico acentuado. Provavelmente não apreciamos outro feito de Michael Schumacher em suas últimas largadas quando o alemão colocou seu carro em quinto no grid. A forma como a Mercedes perdeu rendimento a partir daí foi impressionante, com Schumacher finalizando em 15º, enquanto Nico Rosberg, que largou apenas em 17º, recebeu a bandeirada duas posições à frente do heptacampeão. Será triste ver o talento de Hamilton perdido na mediocridade atual da Mercedes em 2013.
Enquanto falava com sua equipe, após receber a bandeirada, Vettel disse que tinha feito o que pôde. E ele não mentiu. A McLaren parecia mais no chão do que a Red Bull e o alemão se esforçava para se manter à frente e, após ultrapassado, logo atrás de Hamilton. O campeonato não foi decidido em Austin, mas os treze pontos que Vettel carrega para Interlagos para a próxima semana tende a ser suficientes para que o alemão conquiste o título em uma corrida normal, vide o desempenho apagado da Ferrari, 40s atrás de McLaren e Red Bull. Alonso conseguiu uma largada espetacular ao pular de sétimo para quarto na freada da primeira curva e após o abandono de Webber, ficou com o lugar mais baixo do pódio. Chega a dar pena ver um Alonso impotente frente ao poderio de Vettel e a Red Bull, mas muita gente ficará com o espírito de 'bem-feito' para cima do espanhol e a Ferrari. Em outra manobra polêmica, a Ferrari deliberadamente arrancou o lacre do câmbio de Felipe Massa, que largava à frente de Alonso, para que o brasileiro perdesse cinco posições e Fernando ganhasse uma posição, com o bônus de largar do lado limpo da pista. Muita reclamação antes da corrida, principalmente nas redes sociais, mas muita gente não lembra de um pequeno detalhe: foi o mau desempenho de Massa ao longo da temporada que o colocou nessa situação incômoda. E como Alonso é melhor mesmo do que Massa, isso tende a se repetir outras vezes em 2013...
O começo da corrida foi de espetacular com várias brigas no pelotão intermediário. A Lotus ficou novamente à frente deste pelotão com Raikkonen e Grosjean ficando logo atrás de Red Bull, McLaren e Ferrari. Destaque para a boa corrida de recuperação de Grosjean, que rodou sozinho no início da prova, estragou seus pneus e foi o primeiro a fazer sua única parada. Mesmo com pneus mais gastos do que a maioria, se manteve como um dos mais rápidos a ponto de chegar bastante próximo de Raikkonen, que fez e levou bonitas ultrapassagens durante a corrida. A Force India começou muito bem com Nico Hülkenberg, mas o alemão foi perdendo rendimento na medida que seus pneus perdiam performance e o alemão caiu do ótimo quinto lugar para as últimas posições das zona de pontuação. No final da prova, porém, Hulkenberg teve que aguentar atrás de si as duas Williams, que vinham mais rápidas do que ele e o alemão da Force India segurou com garra o oitavo lugar. Bruno Senna passou a corrida inteira à frente de Maldonado e pressionava Hülkenberg, mas não foi eficaz o suficiente para tomar a posição do alemão e acabou tomando uma ultrapassagem agressiva de Maldonado no final. Isso prova bem por que Maldonado tende a ficar na Williams em 2013 e Bruno, não. Ricciardo esticou o máximo sua parada e chegou a ficar entre os seis primeiros, mas o australiano desapareceu quando fez seu pit-stop, enquanto Vergne foi o outro abandono com a suspensão quebrada após briga com as duas Mercedes. Se houve toque, a TV não mostrou. As pequenas fizeram o seu papel de sempre, sendo que a Marussia ficou à frente da Caterham em alguns momentos e deverá ficar com o sonhado décimo lugar no Mundial de Construtores.
Mostrando bem o valor dos Estados Unidos para a F1, a Pirelli preparou um chapéu texano no lugar dos tradicionais bonés no pódio. Vettel tinha um sorriso amarelo, pois ele deveria estar contando com o título no Texas, com Alonso apenas em sétimo no grid, mas o espanhol teima em se manter na briga pelo campeonato, mesmo com a Ferrari não o ajudando muito e o tricampeonato cada vez mais nas mãos de Vettel. A Red Bull não queria uma disputa pelo título em Interlagos pela aura da pista paulistana de corridas complicadas e clima inconstante. Alonso sabe disso e conta com uma corrida louca para ter chances de tirar a já considerável desvantagem que tem para Vettel semana que vem, pois sua Ferrari, hoje, não é páreo a Red Bull. A F1 está no Texas, mas para este campeonato imprevisível e espetacular (repito, o melhor que eu já vi!) dá para usar uma velha frase de Nevada: Façam suas apostas!
Um comentário:
Ao menos viram um espetáculo de mais qualidade desta vez.
Fora a malandragem da Ferrari, tudo foi pelos conformes.
Postar um comentário