Recordo-me das mudanças entre 1997 e 1998, quando uma grande mudança do pacote técnico (carros mais estreitos e pneus com estrias) tentava parar a Williams e o seu domínio. Porém, o que se viu em Melbourne dezesseis anos atrás foi uma passagem de bastão, com o domínio ficando com a McLaren. Em 2014, mesmo a Mercedes não repetindo a dobradinha de Hakkinen e Coulthard, o time germânico mostrou que poderá dominar a F1 em 2014 com uma vitória retumbante de Nico Rosberg, onde o alemão não tomou conhecimento dos ocupantes da primeira fila e passeou em Melbourne, repetindo a vitória do seu pai 29 anos antes (não 30, como repetiu várias vezes Galvão Bueno) e liderando o campeonato da F1 pela primeira vez na carreira. Seus companheiros de pódio debutaram no local com Ricciardo novamente levantando o público e tirando um baita sorriso da Red Bull e Kevin Magnussen estreia na F1 da melhor maneira possível, tirando a McLaren de seu jejum de pódios.
A corrida ficou abaixo das expectativas com poucas ultrapassagens e uma taxa de abandonos aceitável (quatorze carros receberam a bandeirada). Como ninguém sabia ao certo como se comportariam os novos carros, os pilotos claramente pegaram leve, mas Nico Rosberg não quis saber de conservadorismo na largada quando saiu da segunda fila para a primeira posição ainda nos primeiros metros, disparando na ponta a partir de então, controlando o seu ritmo para não ter quaisquer tipos de problemas, seja com o combustível, seja com o pneu. Na relargada após a entrada do safety-car, Nico colocava 1.5s sobre Ricciardo com a facilidade que Vettel fazia isso no passado nessa mesma posição, indicando que os 22s que construiu de vantagem sobre a Red Bull de Ricciardo foi também pela tirada de pé de Rosberg, pois se precisasse, o alemão tinha mais reservas para abrir ainda mais sobre qualquer adversário. Com 25 pontos na mão, Nico coloca ainda mais um problema na difícil cabeça de Hamilton. Com problemas no motor desde o início, não é de se duvidar que Lewis já soubesse que abandonaria quando largou e isso explique a péssima largada do inglês, mas com Rosberg largando nessa temporada em vantagem, em um ano em que a Mercedes está claramente superior aos demais, Hamilton começa o ano com mais grilos do que seu carro mostrou ao longo do final de semana.
O grande sorriso de Daniel Ricciardo no pódio espelha o clima da Red Bull após uma pré-temporada turbulenta, onde a equipe sofreu com os problemas de confiabilidade e desempenho da Renault e havia quem dissesse que os tetracampeões brigariam com as nanicas nas primeiras corridas, mas com um Ricciardo inspirado pela torcida australiana, a equipe deu uma volta por cima clássica e logo na primeira prova tinha um dos seus pilotos no pódio, mostrando que subestimar a Red Bull é um grande erro. Ricciardo também tem vários motivos para comemorar, já que o australiano foi quase que uma imposição de Helmut Marko para justificar à Dietrich Mastechitz o caro programa de jovens pilotos da Red Bull, já que Christian Horner queria Kimi Raikkonen como companheiro de equipe de Vettel. Sem ser um piloto que chamasse tanta atenção na Toro Rosso, havia uma desconfiança em cima de Ricciardo, mas logo em seu primeiro final de semana numa equipe grande, Daniel colocou tempo em Vettel e guiou sem muitos dramas para conseguir um importante segundo lugar, fazendo bem mais do que Webber em vários anos de Red Bull. Pelo menos em Melbourne. Falar da corrida de Vettel resume-se em vários problemas, com o alemão sofrendo um abandono precoce após uma classificação difícil e mostrando uma diferença para os outros anos, pois se antes os problemas aconteciam no carro de Webber, nesse final de semana tudo o que poderia acontecer de ruim no final de semana da Red Bull, recaiu sobre o carro de Vettel. Marko também deve estar sorrindo pela exibição segura de Daniil Kvyat. Muitos acusaram a Red Bull de ter vendido a vaga de sua equipe satélite para Kvyat, mas o russo mostrou uma boa pilotagem e logo em sua estreia pontuou, chegando colado em Vergne, que teve uma corrida errática quando tinha boas chances de marcar bons pontos.
Sete anos depois de estrear muito bem Lewis Hamilton na F1, a McLaren viu Kevin Magnussen repetir o terceiro lugar do inglês com uma corrida segura, onde o dinamarquês chegou a pressionar Ricciardo no final da prova por um lugar melhor do que seu terceiro, mas o receio natural da McLaren com o carro e com o comportamento do seu piloto novato fez com que o danês permanece em um ótimo terceiro lugar, terminando um incômodo jejum de mais de um ano da McLaren. Jenson Button fez uma corrida bem ao seu estilo, onde saiu das posições intermediárias para ler bem a corrida e marcar bons pontos com um quarto lugar, mesmo não tendo incomodado seu jovem companheiro de equipe. Num momento de transição da McLaren, a volta de Ron Dennis poderá levar a tradicional equipe a uma temporada muito boa. Já a Ferrari, cujo presidente disse que um vice-campeonato já era um fracasso, o quinto lugar de Fernando Alonso não é um grande sinal. O espanhol tirou, como fez praticamente desde que chegou à Ferrari, tudo do seu carro e a modesta recompensa foi um tímido quinto lugar, onde Alonso só conseguiu ultrapassar a Force India de Hulkenberg nos boxes. Não há como não admitir a fraca corrida de Raikkonen nessa sua volta à Ferrari. O finlandês teve problemas com os novos freios eletrônicos e fritou seus pneus algumas vezes, saindo rapidamente da pista duas vezes na curva 9. O oitavo posto, para quem venceu no ano passado, é muito pouco para Raikkonen.
A Williams aprendeu que largar bem pode livrar a equipe de confusões do meio do pelotão. Primeiro foi Massa ao ser atropelado pelo nada mito Kobayashi. Depois foi Valtteri Bottas fazer uma bela corrida de recuperação, mas um toque leve no furo furou seu pneu, causou a entrada do único safety-car do dia e fez o finlandês ter que remar tudo outra vez, o que lhe garantiu um bom sexto lugar, mas o ritmo da Williams não era para essa posição. Nico Hulkenberg fez outra prova sensacional e apesar de chegar apenas em sétimo, o alemão reestreou na Force India andando muito tempo na quarta posição e só foi superado por Alonso nos boxes, enquanto Sergio Pérez fez uma prova apagadíssima. A Sauber levou seus dois carros até o final, mesmo que se arrastando e nem Sutil, tampouco Gutierrez, estiveram próximos de pontuar. O fracasso da Sauber só não fica mais evidente pela vergonhosa atuação da Lotus, essa sim brigando de 'igual para igual' com as nanicas. Após um final de ano sensacional, a Lotus sofreu o pão que o diabo amassou nos treinos com um carro lento e sem nenhum acerto. No fim, andando mal e porcamente, os seus dois pilotos abandonaram, sendo que Maldonado, que fez tanta força para sair da Williams e ir para a Lotus, deve estar se perguntando o que fez para merecer tanto castigo. Repito algo que pode incomodar muita gente, mas não vejo Kamui Kobayashi como mito em nenhum momento de sua carreira e sua barbeiragem na primeira curva é mais um exemplo cabal de que, de mito, Koba está mais para Jurandir Mitoso...
A primeira corrida em Melbourne nunca foi parâmetro para o resto da temporada e a corrida do ano passado é mais um exemplo disso, mas está claro que a Mercedes está um degrau acima dos demais, enquanto Williams poderá ser a segunda força quando largar mais à frente, enquanto a confiabilidade dos carros não está tão ruim como o imaginado. Nico Rosberg começou o ano com o pé direito e com o carro que tem e o emotivo companheiro de equipe que tem, o alemão pode estar iniciando uma bela caminhada para uma temporada inesquecível para ele.
3 comentários:
Altera isso ai,João.
Tiraram o 2o lugar do Ricciardo.
Kobayashi estava com problemas nos freios traseiros,como uma inspeção da FIA comprovou depois.
Não vou alterar...
Escrevo essa crônica logo depois da corrida e com o coração. Portanto, desse jeito vai ficar!
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