domingo, 12 de julho de 2009

O grande voo de Webber


Durante muitos anos, Mark Webber foi um dos pilotos mais odiados pelos brasileiros, principalmente pela transmissão Global (que hoje esteve impagável), por que o australiano cometeu o ‘crime’ de ter derrotado Antonio Pizzonia, o queridinho de todos no começo da década. Webber ficou conhecido como político, anti-ético, antipático e de que era um piloto fraco e que só andava bem nas Classificações, caindo durante as corridas. O tempo passou e Webber foi evoluindo como piloto e até mesmo como pessoa, demonstrando ser um líder entre a desunida classe dos pilotos de F1. Já com 32 anos e vindo de uma recuperação traumática de um atropelamento em um evento promovido por ele mesmo, Webber parecia fadado e ter uma passagem obscura peã F1, mas a Red Bull lhe deu um ótimo carro e Mark superou todos os obstáculos acima, além de um companheiro de equipe do nível de Sebastian Vettel para conseguir sua primeira vitória na F1, 28 anos após o último triunfo de um piloto da Oceania, numa prova em que foi definitivamente o mais rápido.

A corrida de hoje foi, na verdade, um grande jogo de xadrez, com Red Bull e Brawn fazendo seus movimentos na medida em que se preparavam para suas estratégias pré-determinadas. Largando mais leve, a Brawn tinha que largar bem e o fez com Barrichello, proporcionando o único momento discutível de Webber, quando o australiano tocou no carro do brasileiro. Aqui vale um detalhe. Não reclamam tanto que a F1 está sem emoção, então por que punir Webber por um leve toque na lateral de um adversário? Foi perigoso? Bastante, mas toda disputa o é! Enquanto Rubens e Mark disparavam, Kovalainen segurava todo mundo, inclusive Button e Vettel, praticamente os tirando da briga pela vitória. Quando as paradas começaram, ficou claro porquê Adryan Newey tem um dos maiores salários da F1, pois, mesmo com Webber cumprindo uma punição, o australiano nunca saiu da contenda pela vitória e o australiano sempre foi o mais rápido da corrida, apenas esperando que a Brawn completasse as três paradas de Barrichello para completar a segunda dobradinha seguida, desta vez invertida, com um insuperável Mark Webber na ponta da corrida, enquanto um irreconhecível Vettel ficando em segundo. Com esse resultado, a Red Bull entra de vez na briga pelo campeonato e com os dois pilotos da marca austríaca ultrapassando Barrichello, Button terá mesmo que cuidar da ótima fase de ambos, se quiser permanecer na liderança.

O problema crônico da Brawn em aquecer os pneus ficou evidente quando, já no terço final da prova, Barrichello e Button precisaram ficar fazendo zigue-zague durante a reta, para ter os pneus ainda aquecidos. Contudo, uma boa estratégia precisa ajudar nas adversidades e Ross Brawn, cuja fama ficou justamente pela sua genialidade na ora de fazer a estratégia dos seus pilotos, vem pecando exatamente nisso, ao insistir na tática arriscada de três paradas. Quando algo ocorre com um dos seus pilotos à frente, essa tática vai para os ares e foi exatamente o que aconteceu em diferentes momentos com Button e Barrichello. Largando mal, Button ainda ultrapassou rapidamente Massa, mas ficou preso atrás de Kovalainen e quando parou, já estava mais de 10s atrás dos líderes, no caso Barrichello, que tinha feito sua parte na estratégia inicial, que era ultrapassar Webber, mas quando o brasileiro voltou à pista, ele ficou empacado atrás de Massa por várias e várias voltas, sem poder ultrapassar. Por sinal, toda vez que Barrichello tem que ultrapassar para ganhar tempo na estratégia, ele acaba ficando atrás do oponente. Um problema no reabastecimento não ajudou Rubens, que ainda se viu ultrapassado por Button na terceira parada. Com a Red Bull cada vez mais forte, não é de se admirar que a Brawn comece a favorecer Button nas corridas, como aconteceu hoje e Rubens, novamente pensando na equipe, terá que colocar isso na sua cabeça, pois hoje a única vantagem da Brawn em cima da Red Bull é justamente não haver dentro da equipe uma briga mais encarniçada pela primazia do time. Difícil é Rubens compreender isso...

Felipe Massa subiu ao pódio pela primeira vez em 2009 com uma corrida sólida, mas que foi praticamente definida com mais uma bela largada da Ferrari, graças ao Kers, ou, como diria Sebastian Vettel, o ‘botãzinho mágico’. Felipe foi rápido nos momentos certos e, ao contrário do que disse Galvão, não perdeu o segundo lugar por causa de sua parada, mas o terceiro lugar ficou de ótimo tamanho para Massa e a Ferrari, que tenho a impressão, virá fortíssima em 2010. Raikkonen abandonou quando estava logo atrás de Massa, mas sem ameaçar. O finlandês parece cada vez mais “To nem aí” com tudo e é exatamente por isso que a Ferrari está querendo se livrar dele para a entrada de Alonso já no próximo ano. Aqui vale um adendo para a presepada de Galvão Bueno na corrida. Claramente Massa não tinha chance de vencer hoje, apesar do Galvão insistir nisso, mas o pior foi ter dito que o Raikkonen venceu o Mundial de 2007 de forma circunstancial e que Felipe merecia mais aquele título. É por essas e outras que o Galvão é xingado em todos os estádios brasileiros...

Nico Rosberg foi outro destaque positivo da corrida de hoje com a 4º posição após largar em 15º. O alemão fez uma prova discreta, praticamente sem ser notado e quando a TV prestou atenção nele, Rosberg já estava nas primeiras posições, brigando com Massa e a dupla da Brawn. Com a Williams cada vez menor para seu talento, Rosberg deverá aparecer em um cockpit melhor no ano que vem, algo que Nakajima, que não comprometeu, mas também não fez nada demais, não deverá ter. A Renault definitivamente deu um passo à frente neste final de semana e Alonso teve a honra de ter feito a melhor volta da corrida, mesmo com o mico de ter rodado na volta de apresentação. Assim como ocorreu ano passado, não é descartável ver a Renault crescendo na metade final do ano e a forma como Alonso atacou Barrichello no final da corrida prova que o espanhol está com tudo. Nelsinho fez uma corrida decepcionante, em que seu nome não mencionado em nenhum momento e após a péssima largada, nas últimas posições ficou até o fim. Outro que deve estar se despedindo é Sebastien Bourdais, mas o francês parece ter deixado algo melhor para a equipe. Todos da Toro Rosso pareciam tristes com a saída do francês e insisto em dizer que não vimos na F1 o melhor de Sebastien Bourdais, para azar da própria F1.

A McLaren poderia ter um bom final de semana em 2009 finalmente, mas a ótima largada de Hamilton lhe rendeu um pneu traseiro furado na segunda curva e o inglês passou a prova andando em último, enquanto Kovalainen, também largando muito bem, fez a melhor prova dele esse ano, ao ficar muito tempo em terceiro, segurando sem muitas dificuldades a Brawn de Button. Após a sua parada, Kova ficou em oitavo e por lá ficou a prova inteira, marcando mais um pontinho para a McLaren. Surpresa maior do que o bom desempenho da McLaren foi o que fez Adrian Sutil. O jovem alemão fez a corrida da sua vida e chegou a andar em segundo, acompanhando carros de mais grife estando mais pesado, mas Sutil jogou sua corrida fora ao trombar com Raikkonen na saída dos pits, acabando com as chances de marcar pontos. Foi uma pena, mas a Force Índia está numa ótima fase e a prova disso foi as ultrapassagens de Fisichella no pelotão intermediário. A Toyota vem sendo a grande decepção desta metade de temporada, com Trulli rapidamente caindo no pelotão e Glock tendo que fazer uma corrida de recuperação após largar dos boxes. Por sinal, o alemão ainda ficou perto de beliscar um ponto. A BMW continua com seu sofrimento e nem correndo em casa resolveu seus problemas de falta de velocidade crônica, com Heidfeld e Kubica sempre andando nas últimas posições.

Se a corrida de hoje não foi um primor de emoção, pelo menos garantiu alguns indicativos para a segunda metade da temporada. A Brawn não exibe mais a mesma forma de antes e com um orçamento limitado, dificilmente terá como recuperar a exuberâncias das primeiras corridas, apesar do circuito de Hungaroring favorecer a equipe. O que pode ajudar a equipe de Ross Brawn é a subida de rendimento de outras equipes, como Ferrari, McLaren e Renault, além de Nico Rosberg em seu Williams. Se Massa ficou com o pódio hoje para corroborar com a boa fase da Ferrari, a boa Classificação da McLaren e a melhor volta de Alonso podem indicar novos ares para essas equipes. Já a Red Bull tem hoje o melhor carro da F1, mas terá que domar sua dupla, se quiser se aproximar de Jenson Button na briga pelo título. Se inicialmente Vettel era o favorito de todos, Mark Webber provou hoje que pode vencer corridas e brigar por vôos maiores.

Um comentário:

Arthur Simões disse...

"mas o pior foi ter dito que o Raikkonen venceu o Mundial de 2007 de forma circunstancial e que Felipe merecia mais aquele título"
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Cara,essa foi flórida!
O pior é que,a exemplo do meu irmão de 10 anos que estava vendo a corrida comigo,grande parte do povão(leigo) brasileiro acredita nessa bobagens...
Ainda bem que consegui explicar rapidamente a temporada de 2007 para meu irmão.Mas a maioria "cai" nessas abobrinhas.

Se ele falasse que o Hamilton ou o Alonso mereciam mais aquele título que o Kimi seria menos pior,mas o Felipe Massa?!?!?!

E ainda teve suposto complo contra os brasileiros no mapinha do circuito,em que não colocaram a posição do Massa e depois do Rubens no mapa do traçado.

Até bronca do Burti ele levou,quando passava o rádio do Hamilton,com o ingles falando da provável chegada da chuva, e o nosso Galvão reclamando(pra variar) e atrapalhando o entendimento do rádio da McLaren...

Enfim,realmente o Galvão esteve pavoroso nesta manhã...

Ótima análise,em meio a tantas bobagens que tenho lido hoje,parece que voce viu a mesma corrida que eu.

Abraço!!