Muitas vezes, as vitórias na F1 chegam através da sorte ou da polêmica. O único triunfo de Alessandro Nannini na F1 foi baseada na segunda descrição, mas nem isso impediu que esse italiano simpático e extremamente rápido se tornasse um dos grandes pilotos no final da década de 80 e quando estava se aproximando do auge da carreira, uma tragédia fora das pistas quase põe fim a sua passagem pelas pistas. A mesma tenacidade que mostrou nas pistas, Sandro, como era conhecido, mostrou fora delas ao voltar às corridas um ano depois do seu acidente de helicóptero e se tornou uma estrela das corridas em carros de turismo. Completando cinquenta anos no dia de hoje, iremos conferir a carreira de Nannini.
Alessandro Nannini nasceu no dia 7 de julho de 1959 na cidade de Siena, proveniente de uma família rica, que ganhou dinheiro através das padarias da cidade. A irmã mais velha de Sandro, Gianna Nannini partiu para o mundo musical e se tornou uma estrela de rock na Itália, inclusive cantando a música oficial da Copa do Mundo de 1990. O interesse de Alessandro Nannini pela velocidade começou na metade da década de 70, quando ingressou no motocross e em 1978 partiu para as quatro rodas, mas ainda nas pistas de terra, comprando um Citröen Dyane e competindo no rally. No ano seguinte ele comprou um mais competitivo Lancia Stratos e mesmo conseguindo alguns bons resultados, Sandro decidiu partir para os autódromos em 1980, competindo na Fórmula Itália, onde mostrou um bom resultado em seu ano de estréia, ganhando o campeonato em 1981. Isso chamou a atenção de Giancarlo Minardi, que iria construir pela primeira vez um chassi de F2, após anos correndo com chassis comprados, e este leva Alessandro Nannini para o Europeu de F2 em 1982. O Campeonato Europeu de F2 começava seu declínio e mesmo tendo os potentes motores BMW, a Minardi tinha enormes dificuldades com a confiabilidade, mas Nannini se sobressaía quando tinha oportunidade e conseguiu um segundo lugar em Misano em 1982 e repetiu a posição em Nürburgring, ainda no velho circuito, em 1983.
Enquanto corria na F2, Nannini também iniciava uma boa carreira no Mundial de Esporte-Protótipo, sendo contratado pela equipe Lancia Martini em 1982, estreando com um bom segundo lugar em Mugello, ao lado de Corrado Fabi. Num campeonato dominado pela Porsche, Nannini conseguia apenas resultados regulares, apesar de seu talento ser inerente a todos, como na vitória em Kyalami em 1984, ao lado de Riccardo Patrese. No entanto, a melhor exibição de Nannini com estes carros foi nas 24 Horas de Le Mans de 1982, quando liderou a maior parte da prova, ao lado de Martin Wollek, mas acabou abandonando com problemas de câmbio. Quando Minardi resolve lançar sua equipe na F1 em 1985, a escolha natural recai em Nannini, mas por incrível que pareça, o italiano tem o pedido de Superlicensa caçada e tem que passar a temporada de 1985 toda correndo no Mundial de Esporte-Protótipo e testando os carros da Toleman. Quando finalmente é agraciado com a Superlicensa, Nannini pode finalmente estrear na F1 pela Minardi em 1986, tendo ao seu lado Andrea de Cesaris. Mesmo tendo a mesma idade, De Cesaris era muito mais experiente e apesar de ser temerário atrás do volante, ninguém contestava a velocidade do italiano. Seria um belo teste para Nannini.
Porém, os carros da Minardi ainda sofriam com a pobre confiabilidade, a ponto de Nannini ver a bandeirada de chegada apenas na penúltima corrida, no México, quando terminou a prova em 14º. No entanto, durante as Classificações, Nannini consegue se sobressair a De Cesaris e por isso fica mais um ano na Minardi. De Cesaris saí da equipe e no seu lugar entra o espanhol Adrian Campos, que é facilmente derrotado por Nannini durante o ano, mas o problema de confiabilidade do carro persiste, fazendo com que o italiano só recebesse a bandeirada apenas um vez novamente, em 11º, na Hungria. Porém, Nannini se faz ser notado por boas atuações, como na Alemanha e em Portugal, quando estava em sétimo e oitavo, respectivamente, quando abandonou. A equipe Benetton se tornava uma equipe grande e vendo a habilidade de Nannini, o contrata para 1988. Essa seria a grande chance do italiano!
Tendo ao lado o belga Thierry Boutsen, o contraste de estilo dos pilotos da Benetton fica claro, com Nannini mais agressivo, enquanto Boutsen era bem mais suave. A Benetton tinha um contrato com a Ford, que lhes daria o motor Cosworth aspirado, antes da proibição do turbo em 1989. Contudo, o maior problema da Benetton foi o domínio avassalador da McLaren em 1988, com a equipe conquistando várias dobradinhas ao longo da temporada, sobrando, normalmente, apenas um lugar no pódio. Isso deixava a terceira posição uma briga acirrada entre os pilotos de Ferrari, Williams, Lotus e Benetton. Em comparação a Boutsen, Nannini era mais rápido nas Classificações, mas Boutsen era mais constante em ritmo de corrida. Alessando mostrava que tinha condições de brigar de igual para igual com os grandes pilotos da época, como demonstrou em Ímola, onde marcou seu primeiro ponto com um sexto lugar, mas a Benetton o deixou na mão algumas vezes e sua agressividade custou alguns pontos. Sua melhor exibição foi em Silverstone, onde sobreviveu a uma rodada numa pista muito molhada para conseguir seu primeiro pódio, em terceiro.
Nannini fez algumas corridas positivas no final do ano, inclusive com uma brilhante terceiro lugar em Jerez, numa corrida em que chegou a ultrapassar Ayrton Senna. Para 1989, Nannini seria o primeiro piloto, já que Boutsen tinha se transferido para a Williams, e Johnny Herbert ainda era um novato praticamente desconhecido. Porém, a temporada não começou bem para a Benetton com o atraso dos novos chassis e do novo motor Ford, mas isso não impediu algumas boas exibições do italiano. Após uma corrida discreta no Brasil, Nannini conseguiu um pódio em San Marino em terceiro lugar, o melhor não-McLaren da corrida, e após um oitavo lugar em Mônaco, ele conseguiu um quarto lugar no México. Em Phoenix, Sandro sofreu um forte acidente no warm-up que o fez abandonar a corrida quando estava em 3º e em Montreal ele resolve trocar seus pneus durante a volta de apresentação e quando volta à pista, a largada não tinha sido dada e o italiano acabaria desclassificado por causa da confusão. A volta à Europa e vinda do novo carro faz com que Nannini melhore sua performance, conseguindo pontos de forma regular, inclusive com um terceiro lugar na Inglaterra, imitando o resultado do ano anterior. Após uma corrida decepcionante em Jerez, Nannini vai ao Japão como coadjuvante da emocionante e polêmica disputa entre os pilotos da McLaren.
Senna e Prost duelavam pelo título com direito a diversos truques. Prost tinha sido mais constante durante o ano e era o favorito ao título, mas ninguém poderia duvidar de Senna. A corrida em Suzuka era uma das mais tensas de todos os tempos, já que ambos haviam declarado antes da prova que não aliviariam se ocorresse uma disputa direta. Largando em quarto, Nannini fazia uma prova correta e após uma briga com as Ferraris, ele se encontrou um tranquilo terceiro lugar quando os carros vermelhos abandonaram. Sentindo que era impossível se aproximar das duas McLarens e nem era incomodado por ninguém, Nannini diminuiu o ritmo e apenas esperava pela bandeirada. Quando abria a antepenúltima volta, Nannini se achou em primeiro! Senna e Prost tinham se envolvido na sua famosa colisão, com Prost ficando pelo caminho e Senna voltando à pista como um louco. Num ritmo até 3s mais lento que os líderes, Nannini foi surpreendido por um Senna enlouquecido e foi ultrapassado até com facilidade pelo brasileiro na penúltima volta. Mas havia um problema. Senna tinha cortado a chicane e todos esperavam uma punição e o pódio era atrasado de forma estranha. Minutos depois, Nannini aparece feliz com sua surpreendente e polêmica primeira vitória.
Com um segundo lugar em Adelaide, Nannini acabaria a temporada de 1989 em sexto lugar e a perspectiva para 1990 eram ótimas com as chegadas de John Barnard e Nelson Piquet. Nannini fica muito amigo do tricampeão. Como tinha acontecido no ano anterior, a Benetton atrasou o seu novo carro e Sandro só pontuou na terceira corrida do campeonato, com um terceiro lugar em Ímola, ainda marcando a volta mais rápida da corrida. Nannini lideraria o Grande Prêmio do Canadá, mas um pneu furado pôs tudo a perder. Foi uma primeira metade claudicante, mas em Hockenheim a temporada de Nannini decolou. Largando com os pneus mais duros, Alessandro Nannini partiu para uma estratégia de não parar e por isso liderou a corrida alemã por várias voltas, mesmo sendo pressionado por Senna. Após ser atrapalhado por um retardatário, Sandro é ulrapassado pelo brasileiro, mas termina a prova em segundo. Em Hungaroring, Nannini faz uma ótima corrida, andando por várias voltas em segundo, sempre próximo do líder Boutsen. Senna havia tido um pneu furado e após uma boa corrida de recuperação, pressionava Nannini no final da prova. Numa manobra, no mínimo, otimista, Senna tentou a ultrapassagem em uma chicane e jogou Sandro para fora da corrida de forma até desavergonhada!
Nannini consegue em bom quarto lugar em Spa e quando era um dos mais rápidos em Monza, tem problemas de freios e se envolve numa cena de pastelão com Piquet, com ambos os pilotos da Benetton entrando nos boxes ao mesmo tempo. No GP da Espanha, Nannini retorna ao pódio com um terceiro lugar e com uma folga de três semanas para a corrida no Japão, ele resolve voltar à Itália para descansar. Enquanto se aproximava da fazenda dos pais na pequena cidade de Belriguardo, próximo a Siena, o helicóptero de Nannini sofre uma pane e cai, ferindo outras três pessoas sem gravidade, mas Sandro estava seriamente machucado. Nannini foi submetido a uma microcirurgia para um reimplante de antebraço. Flávio Briatore, na época chefe de equipe de Nannini, ficou chocado, assim como toda a F1. Nannini, segundo especulações, havia acabado de rejeitar uma proposta de US$ 4 milhões para se transferir para a Ferrari, que ainda tentava tirar Alesi da Williams, mas o italiano preferiu trocar o sonho de correr pela Scuderia por um contrato mais longo com Briatore. O dirigente perdeu a sua maior aposta, mas acharia um alemão no ano seguinte. Um tal de Michael Schumacher. Apesar do sucesso na cirurgia de reimplante em seu antebraço, a carreira de Alessandro Nannini na F1. Foram 76 Grandes Prêmios, uma vitória, duas melhores voltas, nove pódios e 65 pontos conquistados.
Após um ano se recuperando do seu acidente, Nannini voltou às pistas no Campeonato Italiano de Superturismo pela equipe oficial da Alfa Romeo e em sua primeira corrida, ele largou em segundo. Nannini ainda venceria três corrida no seu ano de estréia, mas perdeu o campeonato para o seu companheiro de equipe Nicola Larini. Como forma de homenagem a sua força de vontade em voltar a correr, a Ferrari preparou um teste para Nannini no final de 1992, com um carro adaptado as limitações do italiano. Quando a Alfa Romeo se transferiu para o DTM em 1993, Nannini se tornou uma das estrelar do maior campeonato de turismo do mundo na época, mas a Alfa teve que adaptar um câmbio semi-automático para Nannini, que ainda quebrava bastante, impedindo que Sandro conseguisse grandes resultados. Novamente Larini venceu o campeonato, mas Nannini ainda venceu duas corridas e conseguiu várias poles. Sandro tinha tudo para ser o campeão da temporada de 1994 do DTM ao vencer as quatro primeiras corridas do ano, mas quando a Mercedes estreou o novo carro no meio do ano, a marca alemã deu a volta por cima e Nannini ficou para trás. O novo modelo Classe C era tão bom que a Alfa não pôde brigar com a Mercedes em 1995 e Nannini ficou para trás. Em 1996, o DTM acabava para o surgimento do novo ITC. Era um supercampeonato mundial, com Mercedes, Alfa e Opel brigando palmo a palmo pelas melhores posições. Nannini se tornou líder da Alfa contra a Mercedes de Bernd Schneider, que acabaria campeão, e o Opel de Manuel Reuter. Quando a Alfa e a Opel desistiram do campeonato no final de 1996, o ITC foi extinto e Nannini se transfere para a Mercedes para disputar o Campeonato Mundial de FIA-GT, ao lado do alemão Marcel Tiemann. Com problemas no modelo CLK-GTR, Nannini viu Schneider vencer o campeonato, mas o italiano ainda venceria por uma última vez em Suzuka, já no final do ano. Em setembro de 1998, com 39 anos de idade, Alessandro Nannini anunciou sua despedida das pistas. Apesar de todas as limitações que teve na carreira, Nannini sempre encarou a vida com bom humor, o fazendo uma das figuras mais populares do paddock e assim, o italiano é tão admirado dentro, como fora das pistas.
Parabéns!
Alessandro Nannini
2 comentários:
Bela história JC!!!
É um dos meus cinco pilotos favoritos.
Naninni teve a mesma carreira dos outros pilotos italianos da década de 80.Surgiam muito bem,com potencial de campeão,mas nunca brigaram pelo campeonato.(menos o Alboreto que quase ganhou em 85)
Ótimo texto, como de costume, João Carlos. Além disso o Sandro era um tremendo "don Juan", que o diga uma certa brasileirinha amiga minha daquelas épocas....rs
grande sujeito.
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