Por muitos anos, ele foi o inimigo público número um do Brasil. Nem em seu país ele foi o piloto mais popular. Porém, Alain Prost foi a concretização de um projeto da Elf de ver um piloto francês se tornar Campeão do Mundo de F1, mas esse francês baixinho fez muito mais do que isso. Com sua destreza ao volante, Alain Prost foi um dos melhores pilotos da história do automobilismo mundial, mesmo com uma carreira cheia de polêmicas e contradições. Da mesma forma que era rápido na pista, Prost era extremamente político fora delas e com isso conquistou tantas inimizades quanto vitórias na F1. A sua consistência e a condução suave fez de Prost um mestre em conservar seus pneus, fazendo com que a tática entrasse de vez dentro das corridas de F1. E muitas vezes o francês ganhava as corridas assim. Além disso, Alain tinha uma pilotagem limpa e raramente errava, fazendo com que ganhasse o apelido de Professor. Dentre os grandes pilotos que rivalizou ao longo dos anos 1980, como Nelson Piquet e Nigel Mansell, foi sua grande disputa contra Ayrton Senna que o fez entrar definitivamente na história da F1, trazendo o melhor (e o pior...) desses dois gênios do automobilismo com o objetivo de derrotar seu maior rival. Completando 55 anos no dia de hoje, iremos conhecer um pouco mais da fantástica carreira de Alain Prost.
Alain Marie Pascal Prost nasceu no dia 24 de fevereiro de 1955 na pequena cidade de Chevalier, próximo de Saint-Chamond, lugar onde cresceu. Filho de André Prost, um comerciante de móveis, e Marie-Rosie Karatchian, nascidos na França, mas de ascendência armênia, o pequeno Alain sempre foi muito interessado em esportes, juntamente com seu irmão mais velho, Daniel, e mesmo com sua baixa estatura, participou de torneios de futebol, patinação e até mesmo na luta Greco-romana, onde quebrou o nariz algumas vezes e produziu aquela obra-prima nasal que todos conhecem. Na adolescência, Alain era um aluno médio e tinha o sonho de se tornar jogador de futebol profissional, mas sua família se mudou para a cidade de Cannes e com a proximidade de Monte Carlo, Alain e seu pai foram ao Grande Premio de Mônaco de 1970 e Prost ficou encantado com o que viu. No final deste ano, durante as férias da família em Cote d’Azur, Alain e Daniel foram a um parque de diversões, onde havia uma pequena pista de karts e os mini-carros eram alugados para algumas voltas. Como não tinha 16 anos, idade mínima para se correr de kart, Prost teve que obter uma autorização escrita dos pais para dar suas primeiras voltas num kart. Foi o início de uma das trajetórias mais vitoriosas da história do automobilismo mundial.
Enquanto jogou futebol até os 17 anos, Prost também se apaixona pelas corridas e quando entra na faculdade, começa a trabalhar na loja do seu pai para ganhar dinheiro e comprar seu kart. Em 1974, Alain deixa a faculdade para se tornar piloto em tempo integral, onde tirava dinheiro vendendo karts, além de preparar motores para terceiros, sendo que muitos eram seus próprios adversários. Como o dinheiro era curto, Prost só utilizava karts ultrapassados e passava mais tempo na preparação dos bólidos, fazendo com que seu talento não ficasse aparente logo. Mas quando teve a oportunidade de ter um bom kart nas mãos em uma corrida perto da sua cidade, Alain agarrou a oportunidade e venceu a prova, iniciando a campanha que lhe daria o Campeonato Francês de kart de 1974, conquistando o bicampeonato no ano seguinte. Como fazia a maioria dos jovens pilotos franceses na década de 1970, Alain Prost se inscreveu na famosa escola de pilotagem Winfield, no circuito de Magny-Cours, no final de 1975 e venceu o torneio ‘Pilote Elf’, lhe garantindo um lugar na Fórmula Renault Francesa em 1976, onde destruiu a oposição quando conquistou doze vitórias em treze corridas, sendo campeão logo em sua primeira temporada no automobilismo. Prost sobe de categoria e participa do Campeonato Europeu de Fórmula Super Renault, onde se sagra campeão, fazendo com que estreasse na F3 Européia em 1978. Porém, Prost teve o primeiro ano ruim no esporte a motor quando tem que correr, por obrigações contratuais, na equipe Martini, onde teve um ano pífio. Porém, o francês descontaria em 1979, onde não apenas vence o Campeonato francês e europeu de F3, como também vence a tradicional corrida de Mônaco da categoria, verdadeira vitrine para quem quisesse chegar na F1. Prost passa a ser assediado por várias equipes e após um teste em Paul Ricard, o francês assina com a McLaren para 1980, mas surpreende ao não aceitar correr pela equipe na última prova de 1979 com um terceiro carro, em Watkins Glen, pois não se sentia preparado o suficiente.
Com 25 anos de idade e apenas quatro de automobilismo, Alain Prost estrearia na F1, mas a McLaren tinha feito uma péssima temporada em 1979 e passava por sérias dificuldades financeiras, a ponto de Teddy Mayer estar negociando a venda do time para a Project Four, encabeçado por Ron Dennis, negócio que acabaria fechado em setembro de 1980. Tal como tinha acontecido com várias equipes, a McLaren estava correndo atrás dos carros-asas da Lotus e parecia sempre estar um passo atrás das adversárias. O M29 tinha se mostrado um carro difícil de se guiar e Prost teria como primeiro companheiro de equipe o experiente John Watson. Apesar das adversidades, Alain mostrou suas credenciais logo em sua estréia, ao ser muito mais rápido do que Watson na Classificação e fazendo uma corrida de paciência, Prost chegou em 6º e marcou seu primeiro ponto na sua estréia, algo extremamente raro na história da F1. Na prova seguinte, em Interlagos, em outra pista desconhecida, Prost fez outra prova memorável e após uma briga sensacional com Riccardo Patrese, conseguiu a 5º posição e a segunda corrida consecutiva nos pontos. Com tamanho talento, a F1 passou a ver no francês uma estrela em potencial, mas Alain foi lembrado que estava numa equipe em decadência e nos treinos para o Grande Prêmio da África do Sul, no rapidíssimo circuito de Kyalami, sofreu um forte acidente quando a suspensão do seu carro quebrou e o francês acabou tendo o pulso fraturado. Prost perdeu a corrida africana e a etapa seguinte em Long Brach, retornando na Bélgica. O piloto da McLaren ainda marcaria pontos na Inglaterra e na Holanda, mas nas últimas etapas do campeonato Prost sofreria duas quebras de suspensão em seu carro (uma delas, quando estava em 3º lugar no Canadá) e isso irritou profundamente o francês, que quebrou o seu contrato de dois anos com a McLaren acusando a equipe de estar lhe entregando um carro frágil e perigoso. A Renault estava interessada em sangue novo e via em Prost um piloto ideal para o seu futuro: bom e francês. Mesmo com o motor turbo ainda engatinhando, a equipe francesa investia fortemente na F1 e teria chances maiores de conseguir algo de bom. E assim, Alain Prost substituiu o veterano Jean-Pierre Jabouille na equipe Renault para 1981.
Prost teria como companheiro de equipe o compatriota René Arnoux, um piloto extremamente rápido e popular, mesmo que muito inconstante, principalmente em ritmo de corrida. Logo de cara, Prost foi mais rápido do que Arnoux, que já tinha três temporadas na F1, e isso causou ciúmes no piloto que tinha mais tempo de casa, além de que, Prost começava a usar uma de suas táticas no qual ficaria conhecido no futuro: a política na equipe. Enquanto era mais rápido do que Arnoux dentro das pistas, Prost também fazia pressão entre os diretores da Renault, deixando Arnoux ainda mais furioso. Eles nunca se dariam bem. Prost não termina as duas primeiras corridas de 1981, batendo em Long Beach e em Jacarepaguá, mas o francês acabaria conquistando seu primeiro pódio na F1 com um 3º lugar no Grande Prêmio da Argentina. Após um meio de temporada sem muitos resultados, Prost vai a Dijon-Prenois, lugar dos testes da Renault, e o francês usa bem a tática para vencer sua primeira corrida. Prost estava em 2º na corrida, bem longe de Nelson Piquet, quando começou a chover. Foi uma chuva forte e passageira, mas Prost coloca os pneus certos no recomeço da corrida e vence com facilidade. “Antes, eu pensava se eu pudesse fazer isso (vencer). Agora eu sei que posso!” E podia mesmo. Era a primeira de 51 vitórias na F1, que faz de Prost ser até hoje o segundo piloto a ter mais triunfos na categoria. Prost ainda conseguiria sua primeira pole na Alemanha, mais duas vitórias no ano (Holanda e Itália) e terminaria o campeonato em 5º lugar, apenas sete pontos atrás do campeão e seu primeiro grande rival na F1: Nelson Piquet.
Com uma ótima segunda metade de temporada em 1981, Alain iniciava 1982 como um dos favoritos ao título e suas duas vitórias nas duas primeiras corridas praticamente confirmavam tudo o que se esperava dele (apesar da vitória no Grande Prêmio do Brasil só viesse após as desclassificações de Piquet e Keke Rosberg), mas então a Renault entrou numa espiral de inconfiabilidade e o francês ficou várias provas sem pontuar, o mesmo acontecendo com Arnoux. Porém, o campeonato de 1982 foi um dos mais disputados de todos os tempos e mesmo com apenas 18 pontos das suas duas vitórias iniciais, Prost ainda era 4º colocado no Mundial de Pilotos quando chegou ao Grande Prêmio da França, em Paul Ricard, já na metade da temporada. A rápida pista francesa era o quintal da Renault e também praticamente a última chance de Prost de almejar o título daquela temporada. Por isso, segundo Alain, foi feito um acordo antes da prova de que se o francês seria o beneficiado se os dois carros da Renault sobrevivessem até o final da corrida (algo que pouco acontecia no momento...). Arnoux e Prost fizeram uma dobradinha no grid, mas Piquet, inaugurando os pit-stops modernos e muito mais leve que os dois Renault, largou na frente dos dois franceses até quebrar o motor. Isso era a senha para que Prost passasse à frente de Arnoux e vencesse a prova. Pura ilusão. Arnoux não havia esquecido as políticas efetuadas por Prost nos bastidores da equipe e venceu a corrida, contra a vontade da Renault. Prost ficou irritadíssimo com o companheiro de equipe, pois o 2º lugar não lhe adiantou muita coisa na briga pelo campeonato e o francês acabaria em quarto lugar no campeonato, sem conquistar mais nenhuma vitória no ano. Arnoux ficou marginalizado dentro da Renault e acabaria acertando com a Ferrari, mas apesar da confusão, o público e a imprensa francesa se mantiveram fieis a Arnoux, deixando Prost ainda mais frustrado. “Quando vim para a Renault, a imprensa escrevia coisas boas sobre mim, mas em 1982 me tornei o vilão. Acho que eu cometi o erro de ganhar! O francês não gosta de vencedores.” Prost se mudou da França para Suíça no final de 1982, mas outro fato marcante ocorrido nesse ano marcaria para sempre a carreira de Prost. O francês era conhecido nas categorias de base como um ótimo piloto em corridas debaixo de chuva, inclusive se caracterizando por isso. Porém, durante os treinos para o Grande Prêmio da Alemanha, em Hockenheim, Prost levava seu Renault de volta aos boxes lentamente, até por que chovia bastante na ocasião. Mais atrás, Didier Pironi, líder do campeonato no momento, vinha cego pelo spray do carro de Derek Daly e não viu o carro de Prost, se chocando violentamente na traseira da Renault do francês. Pironi ficou seriamente ferido e nunca mais pode correr, mas isso também traumatizou Prost. “Quando está chovendo e olho pelos retrovisores, sempre vejo o carro de Didier voando”, diria mais tarde Prost. A partir desse incidente, iniciou-se um bloqueio em Prost nas corridas debaixo de chuva, fazendo com que Alain nunca mais mostrasse seu talento em pista molhada e fosse humilhado na comparação com Senna nessas condições.
Sem Arnoux como companheiro de equipe, Prost exigiu que a Renault contratasse um piloto não tão forte para 1983 e a escolha recaiu no americano Eddie Cheever, que além de não ser tão rápido quanto Arnoux, ainda seria visto como um intruso numa equipe que sempre tinha contratado pilotos franceses ao longo de sua existência. Prost seria o principal piloto da equipe e após um início claudicante de campeonato com o carro de 1982, Prost mostrou o potencial do novo modelo RE40 na estréia do carro, no Grande Prêmio da França, quando dominou a corrida. Alain chegaria em 2º em Spa, e venceria em Silverstone e Zeltweg, abrindo uma boa vantagem na liderança do campeonato sobre Piquet, Arnoux e Patrick Tambay. Porém, a Brabham tinha feito uma evolução do seu carro e Piquet cresceu no campeonato no seu terço final. Em Zandvoort, Piquet liderava a corrida seguido de perto de Prost, quando ambos sofreram um acidente na curva Tarzan (causado por Prost), acabando com a corrida de ambos, mas Piquet venceria as duas corridas seguintes (Monza e Brands Hatch), culminando para um final de campeonato imprevisível em Kyalami. Prost ainda liderava o campeonato por dois pontos, mas Piquet vinha em um melhor momento. Arnoux ainda tinha chances matemáticas, que caíram ainda mais quando o francês conseguiu a proeza de ser atropelado pelo próprio carro durantes os treinos. Piquet utiliza a tática para vencer Prost e dispara na liderança, enquanto Prost era segurado pelo companheiro de equipe do brasileiro, Ricardo Patrese. Quando Piquet faz seu primeiro pit-stop, ele retorna bem à frente de Patrese, enquanto Prost perdia a 3º posição para Lauda, que fazia uma corrida surpreendente pela McLaren. Porém, ainda antes da metade da prova, Prost entra lentamente nos boxes e apesar de Galvão Bueno, numa de suas mais famosas mancadas ao vivo, dizia que a Renault estava se atrapalhando no pit-stop, a verdade era que Prost estava abandonando a corrida com problemas de turbo. Alain foi ao muro dos boxes secar Piquet, mas na medida em que o brasileiro passava à sua frente, suas esperanças se esvaiam e o piloto da Brabham acabaria bicampeão mundial, com apenas um ponto de vantagem sobre Prost. O francês ficou arrasado e ainda na África do Sul, começaram as confusões com a equipe Renault. Prost tinha ficado irritado com a falta de desenvolvimento do seu carro durante a temporada e passou isso na cara de Gérard Larrousse, chefe da equipe, com o crescimento da Brabham no final do ano e o título de Piquet. Para completar, não faltaram boatos dizendo que Alain estava de saída da equipe e durante o Grande Prêmio da Itália chegou a ser noticiado que o francês estava se transferindo para a Ferrari. A Renault, por sua parte, acusou Prost de ser o causador dos problemas internos da equipe e a torcida francesa, ansiosa por um piloto gaulês Campeão Mundial, lembrou da briga entre Alain e Arnoux, na época, o piloto mais popular da França. Dois dias depois da decisão em Kyalami, Prost reincidiu contrato com a Renault. Além dos problemas dentro das pistas, haviam outros particularidades entre os protagonistas da briga. Mesmo casado com Anne-Marie, segundo as más línguas Prost estaria tendo um rumoroso caso com a esposa de Larrousse e isso teria sido um fator fundamental na rescisão de contrato. Por sinal, mesmo feio pra caramba, Prost fazia suas estripulias fora do casamento e ele também teria tido um caso com a esposa de Pironi e Jacques Laffite. Com esse último, por sinal, houve muita confusão, pois Laffite foi um dos principais incentivadores de Prost no início da carreira deste.
Sendo uma das estrelas da F1, não demorou muito para Prost conseguir um bom lugar na F1. Ajudado por seu patrocinador pessoal (Marlboro), Prost entrou em contato com a McLaren, que tinha uma vaga em aberto com a aposentadoria de John Watson no final de 1983. Nesta época, a McLaren já era gerida por Ron Dennis e os carros projetados por John Barnard evoluíam a olhos vistos, com todos ficando impressionados com a ótima corrida de Lauda em Kyalami. Juntamente com o novo motor TAG Porsche turbo, era um carro a ser observado em 1984 e Prost percebe isso, retornando a equipe na qual estreou quatro anos antes. Ao seu lado, Prost teria um dos seus ídolos na adolescência: Niki Lauda. Apesar de não ter feito uma temporada boa em 1983, a McLaren chegou com força total em 1984 e Prost venceu logo em sua reestréia pela McLaren, em Jacarepaguá. Na verdade, a equipe de Ron Dennis venceria 12 das 16 corridas do campeonato, com Prost vencendo sete, enquanto Lauda vencia cinco. Porém, o austríaco usou toda a sua astúcia para derrotar o francês, que ora vencia, ora abandonava. Porém, um fator marcante para Prost aconteceria em Monte Carlo. Debaixo de muita chuva, Prost liderava com folga quando começou a ter problema de freios. Mais atrás, um jovem brasileiro vinha surpreendentemente em segundo e começou a se aproximar de Prost a uma taxa impressionante. Ayrton Senna era um prodígio nas categorias de base e aquela corrida vinha sendo sua amostra do que poderia fazer na F1. O que pouca gente sabe ou não quer enxergar, era que Stefan Bellof, outro jovem novato na F1, vinha em 3º, com o único carro aspirado do grid, mais de 1s mais rápido do que Senna. Quando o brasileiro estava prestes a ultrapassar Prost, a corrida foi interrompida e os pontos foram dados pela metade. O francês ficou com os 4,5 pontos referentes a vitória e como perdeu o campeonato por meio ponto, a menor diferença entre campeão e vice da história, ficou para os fãs que se Prost não fizesse tanta pressão para que a corrida foi paralisada e fosse ultrapassado por Senna, o segundo lugar lhe daria o título mais tarde. Mas será que foi tão simples assim? O que importava era que esse havia sido o primeiro encontro entre Prost e Senna nas pistas. O primeiro de muitos. Apesar do título, Lauda tinha ficado insatisfeito com a política imposta por Prost nos bastidores da McLaren e chegou a pensar em abandonar a equipe no final de 1984. O austríaco resolveu ficar, mas Prost tomou para si as rédeas da equipe. Lauda abandonaria a carreira no final do ano, após uma temporada triste, bem ao contrário de Prost. O francês vence pela terceira vez o Grande Prêmio do Brasil e com outra vitória em Mônaco, liderava o campeonato com folga, mas vê o crescimento da Ferrari de Michele Alboreto e o italiano chegou a tomar a ponta do campeonato de Prost. Após vencer na Inglaterra e na Áustria, Prost chegou ao Grande Prêmio da Itália na liderança, mas parecia que todo o país se dirigiu a Monza para torcer para Alboreto, ainda colado em Prost no campeonato. Porém, Alain mostrou toda a sua categoria e para desgosto dos tifosi, venceu a corrida e, se não foi matematicamente, o francês venceu o campeonato psicologicamente naquele momento. Na verdade, Prost esperou duas corridas para se tornar o primeiro piloto francês a ser Campeão Mundial de F1, apenas dez anos após estrear no automobilismo e com a maior diferença para o segundo colocado do campeonato desde Jim Clark, em 1963.
Alain Prost já tinha números impressionantes, mas muitos diziam que ele só havia guiado carros bons e que o mérito de suas vitórias provinha dos carros que tinha em mãos. Por isso, Prost ainda tinha que provar algo em 1986. A Williams-Honda tinha vencido as três últimas corridas de 1985 e ainda teria o reforço de Nelson Piquet na equipe. Porém, o crescimento da equipe foi estancado pelo acidente de Frank Williams que o deixou numa cadeira de rodas. Nigel Mansell era um piloto secundário até então e todos apostavam que Piquet seria o primeiro piloto da equipe, mas o inglês mostrou uma velocidade exuberante nesse ano e surpreendeu a todos, inclusive Piquet. Para o lugar de Lauda, a McLaren trouxe Keke Rosberg, porém o finlandês de 37 anos não foi capaz de se acostumar com um carro que tinha sido construído para servir ao estilo de pilotagem de Prost. O francês continuaria como piloto número um da equipe. Contudo, além dos pilotos da Williams, Prost teria que encarar Senna em seu segundo ano na Lotus e cada vez mais forte. Essa salada toda transformou a temporada de 1986, para muitos, no melhor campeonato de todos os tempos da F1. Nelson Piquet mostra força ao vencer em sua estréia pela Williams, mas Senna assume a liderança do campeonato ao vencer por 14 milésimos de segundo a prova seguinte em Jerez. Já havia quem dissesse que Prost não teria chances para enfrentar as Williams e Senna, mas o francês vence de forma dramática em Ímola. Após dominar toda a corrida, Prost fica sem combustível quando faltavam apenas três curvas. Desesperado, Alain começou a ziguezaguear o carro, para que o pescador de combustível ainda sugasse alguma gasolina e de forma emocionante, Prost cruzou a linha de chegada e parou o seu carro 300 metros depois. Na Alemanha, o francês passou por momento parecido, mas desta vez o seu McLaren parou na última curva. Tentando conseguir mais alguns pontos, Prost sai do carro e começa a empurrá-lo, para delírio do público, que assistia ao esforço do campeão em receber a bandeirada. Porém, Prost acabou desistindo a poucos metros da bandeirada, mas ainda marcou um ponto. Durante o campeonato, Prost só venceria mais uma corrida na Áustria, enquanto Mansell e Piquet dividiam entre si as vitórias e a equipe, que tinha que domar duas personalidades fortes. Quando a F1 chegou a última corrida de 1986, na Austrália, Mansell só precisava de um 3º lugar para ser campeão e ainda largaria na pole. Para Prost e Piquet, só a vitória interessava. A Goodyear, que equipava McLaren e Williams, tinha sido derrotada pela Pirelli na prova anterior no México quando Berger completou a corrida sem trocar os pneus e venceu. Os americanos queriam fazer a mesma coisa e entrou com um pneu duro o suficiente para agüentar as 82 voltas do Grande Prêmio da Austrália. Em teoria. Nitidamente com um carro inferior, Prost só podia torcer que a crescente rivalidade entre Piquet e Mansell pudesse atrapalhá-los na briga pelo título. Numa corrida que entrou para a história, Mansell usou a cabeça e preferiu deixar Rosberg, que estava abandonando a carreira em Adelaide, ultrapassá-lo nas primeiras curvas e ficar em 4º lugar, atrás de Prost e Piquet. A McLaren estava usando Keke como coelho, na tentativa de enervar Mansell, mas o inglês estava fazendo uma corrida inteligente até aquele momento. Por volta da 20º passagem, tudo levava a crer que o título acabaria com Mansell quando Piquet roda bem à sua frente e Prost tem um pneu furado bem no momento em que se aproximava da entrada dos boxes. Aquele pit-stop acabaria sendo crucial para o francês. Rosberg liderava com folga, com Mansell em um confortável 3º lugar, entre Piquet e Prost. Então, nas voltas finais, os planos da Goodyear foram por água abaixo quando Rosberg tem seu pneu estourado e os pilotos que usavam Goodyear começaram a reclamar de fortes vibrações vindas dos pneus. Imediatamente os americanos sugeriram as equipes que chamassem seus pilotos para trocar os pneus, mas Mansell ficou na pista e o resultado foi uma das imagens mais famosas da F1 com seu pneu estourando espetacularmente no meio da reta oposta. Com receio de acontecer o mesmo, o líder (e campeão naquele momento) Piquet faz seu pit-stop e volta atrás de Prost. O francês tinha trocado de pneus no começo da corrida e ainda tinha reserva para receber a bandeirada em primeiro e conquistar um sensacional bicampeonato. E já sofrendo com as vibrações nos pneus! Quando recebeu a bandeirada, Prost parou logo depois, saiu do carro e pôs as mãos na cabeça. Nem ele podia acreditar! Prost entrava definitivamente na história como um dos grandes da F1.
Porém, a Williams-Honda ainda era o melhor carro da F1 e isso ficou provado em 1987, quando o time venceu nove vezes e Nelson Piquet se sagrou tricampeão mundial. Prost ainda venceu três durante o ano ficou em 4º no Mundial de Pilotos, mas houve duas vitórias marcantes para o francês. A Williams havia dominado os treinos para o Grande Prêmio do Brasil de 1987 e Prost havia ficado apenas em 5º, mas o francês pensou em todo momento no acerto para a corrida e enquanto os demais pilotos preferiram um setup com alto downforce, o francês preferiu um carro com menos asa, que desgastaria menos os pneus por causa da menor velocidade nas curvas e ainda seria extremamente rápido nas retas. Prost acertou na mosca! Enquanto seus rivais pararam no mínimo duas vezes nos boxes, Alain cuidou melhor dos seus pneus e com apenas uma parada, venceu a corrida com mais 40s de vantagem sobre Piquet. Prost considera esta sua melhor corrida na carreira. Com mais uma vitória na Bélgica, Prost se igualou a Jackie Stewart como o piloto mais vitórias na história da F1 (27) e todos esperavam quando o francês superaria o recorde do escocês. Em Portugal, a Ferrari mostrou força e Berger liderava com folga, mas problemas nos freios fizeram com que o austríaco diminuísse o ritmo e Prost começou a se aproximar nas voltas finais. Normalmente comedido nas corridas, Prost colocou a faca entre os dentes e partiu para cima de Berger, quebrando o recorde do circuito do Estoril a cada volta, mas o francês nem precisou disputar freadas com a Ferrari. Nervoso e vendo seus problemas piorarem, Berger acabou rodando e entregou de bandeja a vitória e o recorde para Alain Prost. Mesmo com a marca histórica, Prost queria mais e sabia que para voltar aos títulos, teria que ter o motor Honda, já que a TAG Porsche iria abandonar a F1 no final de 1987. Mas como fazer isso? Alain conversou com Ron Dennis e disse que contratar Ayrton Senna era uma boa forma de atrair os japoneses. O brasileiro, mesmo usando motores Honda, estava insatisfeito com a Lotus e sabia que a organização da McLaren era capaz de lhe dar o tão sonhado título. Enquanto Dennis conversava com Senna, a Honda, cansada das brigas entre Piquet e Mansell, resolveu abandonar a Williams e foi para a McLaren, acompanhando Senna. Era o início de uma das maiores rivalidades da história da F1.
Ayrton Senna era considerado o melhor piloto da F1 no final dos anos 80, mesmo nunca tendo disputado o titulo de forma mais incisiva até então. Num primeiro momento, a relação entre Senna e Prost foi extremamente cordial e não faltaram elogios de parte a parte. O modelo MP4/4 ficou pronto tarde e os pilotos só puderam experimentá-lo em Ímola, nos últimos testes antes da primeira corrida em Jacarepaguá. Quem estava na Itália naquele dia ficou assustado com Senna colocando 1.5s em todo mundo. As expectativas foram confirmadas no Brasil, com a McLaren dominando o final de semana e Prost vencendo novamente na pista carioca. Ficou nítido para todos que o campeonato seria decidido no seio da McLaren, mas quem seria o vencedor? A velocidade estonteante de Senna, principalmente nos treinos, exigiu uma abordagem diferente de Prost, que precisava de todos os seus recursos para vencer um piloto tão rápido quanto o brasileiro. Se não podia superá-lo em velocidade pura, o Professor, como já era chamado, tinha que empreender um ritmo de corrida mais conservador, onde economizaria freios e pneus, tendo carro para atacar no final das corridas. Assim era Alain Prost na sua forma mais pura e para vencer Senna, que forçava em todas as voltas, seja em treino ou corrida, o francês tinha que elevar ainda mais essas suas características. Foi uma disputa histórica. Em 16 corridas em 1988, a McLaren venceu 15, com Senna conquistando oito triunfos, ante sete de Alain, porém, o francês tinha sido muito mais regular e conseguira vários 2º lugares, mas como o regulamento só contemplava os onze melhores resultados do ano, Prost perdeu o campeonato para o brasileiro mesmo tendo conquistado mais pontos. Durante o ano, Senna e Prost continuaram cordiais fora das pistas, mas o francês começava a se incomodar com o estilo agressivo de Senna. Durante o Grande Prêmio de Portugal, Prost atacou Senna para assumir a liderança, mas o brasileiro jogou seu carro para cima do companheiro de equipe, espremendo Prost junto ao pit-wall. Alain completou a ultrapassagem, mas ele não escondeu sua irritação com a manobra do brasileiro. Prost ainda entraria na história da F1 quando conseguiu a vitória no Grande Prêmio da Austrália de 1988 e se tornou o último vencedor da Era turbo. A FISA, preocupada com os 1.500cv que os motores turbo geravam em determinadas ocasiões, determinou a volta dos motores aspirados a partir de 1989 e essas era a esperança das demais equipes em equilibrar as coisas com a McLaren-Honda. Prost sabia que teria que enfrentar um Ayrton Senna ainda mais forte dentro da McLaren e por isso teria que tentar algo para superar o brasileiro. Porém, quem cedeu as balas para o início da guerra foi o próprio Senna. Na McLaren, existia uma regra em que seus pilotos não atacariam seus companheiros de equipe na primeira volta, algo que Senna e Prost sabiam e obedeceram em todo o ano de 1988. Durante o Grande Prêmio de San Marino de 1989, Senna ficou à frente de Prost na largada e assim estavam até Berger bater forte na Tamburello e a prova ser interrompida. Na relargada, Prost foi mais rápido e sabendo do acordo que tinha com Senna, não se preocupou em se fazer uma linha defensiva na Curva Tosa, primeira freada forte após rápido complexo da reta dos boxes-Tamburello. Porém, Senna colocou o bico de sua McLaren por dentro e efetuou a ultrapassagem sobre um estupefato Prost, acabando por vencer a corrida. Era o início da Guerra Fria, como ficou chamada a briga entre Prost e Senna.
O francês não escondeu de ninguém sua irritação e deixou claro nas entrevistas que Senna havia sido sujo com ele. “Sempre houve esse acordo com Lauda e Rosberg. Ano passado também aconteceu, mas quando ele me passou... Eu nem sei a palavra certa para explicar o que senti, principalmente no lado moral.” Prost passou a reclamar que a Honda dava os melhores motores a Senna e os japoneses passaram a fazer sorteios dentro dos boxes da McLaren. Prost e Senna não se falavam e as entrevistas pós-corridas eram cheias de ironias e acidez com o adversário. Porém, na pista eles ainda se respeitavam e até o momento não houvera nenhum entrevero mais forte. Prost usava a regularidade para superar a agressividade de Senna e enquanto o brasileiro abandonou várias corridas, o francês sempre marcava o maior número de pontos possíveis. Alain chegou a ter 20 pontos de vantagem sobre o rival no campeonato e quando circo da F1 chegou a Suzuka, Senna tinha uma missão muito difícil, mas possível, se quisesse ficar com título: ele precisava conquistar duas vitórias, independentemente do que Prost fizesse. Porém, Prost avisou a todos que o campeonato acabaria em Suzuka e que não abriria a porta para o brasileiro. Não importava a situação. Isso fez do Grande Prêmio do Japão de 1989 uma das corridas mais tensas, emocionantes e dramáticas da história da F1. Mesmo com carros iguais, Prost reclamava da falta de atenção da equipe e resolveu usar um acerto diferente do brasileiro, onde seria mais rápido nas retas, enquanto Senna era mais rápido nas curvas. Largando na pole, Senna perdeu a ponta da corrida para Prost e o francês era mais rápido no primeiro stint de corrida. Quando ambos foram trocar seus pneus, Senna virou o jogou e partiu para cima do rival. Na volta 46, menos de sete para o final, o brasileiro forçou a ultrapassagem sobre Prost na chicane e, como havia prometido, o francês fechou a porta. O choque foi inevitável. As imagens on-board do carro de Prost mostravam claramente o francês virando o volante antes da curva. Rapidamente o francês saiu do seu carro, mas Senna, enquanto gesticulava furioso para Prost, pedia para ser empurrado (de forma irregular...) e voltar a corrida. Numa atuação magistral, Senna ainda se recuperou para receber a bandeirada em primeiro, mas quando as câmeras mostraram o staff da McLaren, Ron Dennis parecia preocupado. Todos sabiam que a manobra de Senna tinha sido irregular. A cerimônia do pódio demorou a começar e o motivo ficou claro quando Senna não estava nela. O brasileiro fora desclassificado e Prost era tricampeão mundial de F1. “Eu sabia que o campeonato terminaria desse jeito. Ficou impossível trabalhar junto com Ayrton. O problema não é a forma como ele pilota, que é incrivelmente rápido, mas ele força demais. Várias vezes eu abri a porta para ele no passado para evitar acidentes, mas tinha avisado que não abriria hoje.” Mostrando o quanto Prost estava marginalizado dentro da McLaren, o time resolveu apelar da decisão e o julgamento acabou sendo ainda pior para Senna, que foi multado em 100.000 dólares e suspenso por seis meses, revertido mais tarde com um pedido de desculpas do brasileiro. Senna acusou Jean-Marie Balestre a favorecer Prost, mas a verdade era que o francês tinha razão quando disse que ficara impossível permanecer na mesma equipe de Senna e transferiu para a Ferrari em 1990.
Chegando na equipe italiana, Prost teria que enfrentar outro piloto de personalidade forte e extremamente rápido: Nigel Mansell. Porém, Nigel tinha uma desvantagem com relação a Senna que Alain usou na disputa entre eles: a inteligência. O francês negociou tudo com a Ferrari, ficando sempre com o privilégio de ter o carro reserva, entre outras coisas. Como levou o número 1 para a Ferrari, Prost também queria ser o primeiro piloto da equipe e usou suas táticas extra-pista para deixar Mansell por baixo. Como falava muito bem italiano, Prost se comunicava dessa forma nas reuniões técnicas, enquanto Mansell, que não entendia nada da língua de Michelangelo, ficava boiando. O novo modelo 641 foi muito rápido nos testes de pré-temporada, mas a McLaren de Senna começou o ano de forma espetacular, mesmo com Prost conseguindo sua sexta vitória no Grande Prêmio do Brasil, segunda etapa do certame. Com a sua finesse, Prost foi evoluindo o carro e, pouco a pouco, foi se aproximando da McLaren. No Grande Prêmio do México, o francês largaria em 13º e numa prova sensacional, acabou vencendo ao ultrapassar Senna nas voltas finais. Com outras duas vitórias nas duas provas seguintes, Prost encostou de vez no brasileiro, mas Mansell passou a ser um fator decisivo a favor... de Senna. Em Silverstone, o inglês ficou furioso quando descobriu que a Ferrari tinha dado seu carro, melhor acertado, para Prost sem ele saber e após a corrida chegou a anunciar que abandonaria as corridas no final do ano, tirando o foco da equipe. Em Portugal, largando na pole, Mansell jogou seu carro para cima de Prost, permitindo a Senna a tomar a liderança antes da primeira curva. Prost venceria a prova seguinte em Jerez e chegaria a Suzuka em situação inversa do ano anterior, pois precisava de uma vitória para se manter vivo no campeonato. Senna nunca havia engolido a decisão de 1989 e via no Grande Prêmio do Japão de 1990 uma chance única para se vingar. E o brasileiro tratou de fazê-lo logo. Prost larga melhor do que Senna e quando se preparava para contornar a primeira curva, o brasileiro atinge com força a traseira de sua Ferrari. Novamente ambos estavam fora da corrida, mas quem levava vantagem desta vez era Senna, que conquistava seu bicampeonato. Prost ficou louco da vida! Se em 1989 a batida aconteceu a 80 km/h, Senna bateu a 260 km/h e Alain não poupou críticas quanto ao comportamento do brasileiro. “O que ele fez foi nojento. Ele é um homem sem valor.” Mas será que Prost tinha moral para falar assim do rival?
Mansell desfaz a promessa de se aposentar e vai para a Williams em 1991, enquanto Prost teria como companheiro de equipe o promissor Jean Alesi. O jovem francês via Prost como ídolo e isso significava que, dentro da equipe, Alain não teria problemas. Na verdade, o problema estava fora. A McLaren continuava sua constante evolução e Senna vence as quatro primeiras corridas do ano, mas ao contrário do esperado, a principal rival da McLaren não é a Ferrari de Prost, mas a Williams-Renault de Mansell. A Ferrari tem um ano confuso, em que o chefe de equipe Cesare Fiori, com quem Prost tinha se desentendido, fora demitido no meio da temporada e o carro simplesmente não conseguia acompanhar McLarens e Williams. Prost fica frustrado e começa a criticar a equipe e pela primeira vez em dez anos, não consegue uma vitória numa temporada. Após ficar mais de um minuto e meio atrás das McLaren em Suzuka, Prost declara que a Ferrari parecia um caminhão e isso foi a gota d’água. A Ferrari nem espera a temporada terminar e antes da última corrida na Austrália demite Prost. O francês se vê sem equipe para 1992 e decide ter um ano sabático, enquanto passa o ano como comentarista da TF1. No início do ano ele faz um teste com o Ligier-Renault, mas na verdade a intenção de Prost não era com a Ligier, mas com a Renault. Alain tinha ficado impressionado com a Williams em 1991 e começara uma reaproximação com a Renault após quase dez anos, para defender as cores da equipe inglesa em 1993. Quando Mansell conquista o Mundial de Pilotos de 1992 de forma arrasadora, ele não consegue a renovação com a Williams e vai tentar a sorte na Formula Indy. Com a certeza de que não correria ao lado de um dos seus desafetos, Prost precisava se livrar de outro. Senna estava louco para correr pela Williams, chegando a se oferecer de graça para ter a oportunidade de correr com o que ele chamava de “carro de outro planeta”. Porém, Prost coloca uma cláusula em seu contrato que impedia que Senna se juntasse a Williams em 1993. Ao saber disso, Senna chamou Prost de covarde em uma conferência de imprensa em Portugal. Como Patrese também não ficaria ao lado de Prost, a Williams teve que promover seu piloto de testes, Damon Hill, a segundo piloto da equipe. Sem nenhum adversário mais forte dentro da equipe e com um carro nitidamente superior, Prost era o favorito destacado no ano, mas ainda restava ver como o francês se sairia após uma temporada fora da F1. No Grande Prêmio da África do Sul de 1993, Prost teve sua prova de fogo quando teve que enfrentar não apenas Senna, mas um alemão que estava iniciando sua carreira na F1: Michael Schumacher. Os três protagonizaram uma disputa ferrenha pela ponta, mas Prost soube usar a superioridade do seu carro para vencer novamente. No auge da briga com Senna, Prost precisou de escolta policial para chegar a Interlagos e ainda foi humilhado quando rodou enquanto liderava, debaixo de uma chuva torrencial. Senna ainda o bateria em outra corrida histórica em Donington Park, mas não demorou para Prost, usando sua astúcia, a vencer em série. Na verdade, com um carro muito melhor do que os outros, Alain usou sua maestria para conquistar o tetracampeonato mundial de F1, sempre parecendo estar correndo abaixo do real potencial do carro. Prost fazia isso de propósito, pois sabia que tinha reservas para superar seus adversários quando quisesse. Já com o título garantido, Prost anunciou antes do Grande Prêmio de Portugal de 1993 que estava se aposentando da F1, dando a Senna a chance de substituí-lo na Williams. Na sua última corrida pela F1, em Adelaide, Prost chegou em segundo e pela primeira vez em anos foi cumprimentado por Senna na ante-sala do pódio. Porém, em público, o brasileiro surpreendeu quando puxou Prost ao degrau mais alto e o abraçou. Aquilo marcou o fim das hostilidades com o brasileiro e também da carreira de Prost na F1. Os números de Alain Prost o colocam facilmente como um dos maiores pilotos que a F1 já viu e realmente impressionam. Foram 199 Grandes Prêmios, 51 vitórias (Prost ficou 14 anos com o recorde de mais vitórias na F1, superado por Schumacher em 2001), 33 poles, 41 melhores voltas, 106 pódios, 798,5 pontos e quatro títulos mundiais (1985, 86, 89 e 93).
Imediatamente após sua aposentadoria, Prost voltou a TF1 e se tornou comentarista da TV francesa, acompanhando de perto a F1. No início de 1994, ele teve muito contato com Senna e antes do fatídico Grande Prêmio de San Marino, ele recebeu um recado emocionado do brasileiro, numa entrevista antes da largada. “Eu gostaria de dizer ao meu amigo Alain que todos estão sentindo a sua falta!” Prost ficou tocado com a homenagem, porém minutos depois Senna acabaria morrendo na curva Tamburello. “Parte de mim também morreu naquele dia”, falaria Prost anos depois, pois sabia que sua carreira estaria para sempre atrelada a Senna. Para surpresa de todos, Alain veio ao Brasil para o enterro de Senna e ao contrário do ano anterior, foi homenageado pela torcida brasileira. Em 1995, Prost passa a ser consultor técnico da McLaren e quando Mika Hakkinen se acidentou gravemente no final do ano, foi especulado que Prost poderia substituir o francês nas primeiras corridas de 1996. Algo que nunca aconteceu, até por que Alain já estava com a cabeça em outros projetos. O francês sempre sonhou em ter uma equipe de F1 e em 1989 ele cogitou essa possibilidade no auge da sua briga com Senna. No dia 13 de fevereiro de 1997, Prost comprou a Ligier de Flavio Briatore e a equipe passou a se chamar Prost Grand Prix. Tentando fazer da sua equipe 100% francesa, ele assinou contrato com a Peugeot para 1998, mas ainda estava sob contrato com a Mugen Honda para 1997. Olivier Panis continuaria como principal piloto e na verdade a melhor temporada da Prost GP foi exatamente a de estréia, quando Panis se aproveitou dos bons pneus Bridgestone para conseguir dois pódios surpreendentes, mas o francês acabaria quebrando a perna num acidente durante o Grande Prêmio do Canadá. Para o lugar de Panis veio o promissor italiano Jarno Trulli, que conseguiu a proeza de liderar o Grande Prêmio da Áustria até ter problemas. A expectativa para 1998, com a chegada da Peugeot, era ótima, mas a Prost só marca um ponto com Trulli, enquanto Panis, recuperado do seu acidente, passa o ano em branco. Alain traz de volta John Barnard, projetista do carro que foi campeão em 85 e 86, mas o motor Peugeot se mostra pesado e confiável, resultando em outra decepção. Prost troca a sua dupla de pilotos para a temporada 2000, trazendo seu amigo Jean Alesi como piloto principal, além da promessa Nick Heidfeld, que acabara de conquistar o Europeu de F3000. Porém, Prost continuava as turras com a Peugeot, o que acabaria resultando na rescisão de contrato da equipe, enquanto Alesi e Heidfeld batiam entre si em duas corridas. Sem o apoio de uma montadora, Prost assinava a morte de sua equipe e mesmo com a melhora com a chegada dos motores Ferrari e a venda de parte da equipe para Pedro Paulo Diniz, isso não melhorou a situação da equipe. Mesmo conquistando alguns pontos no meio da temporada 2001 e ter comemorado bastante o feito, Alesi abandonou a equipe antes do final do ano acusando Prost de estar lhe devendo salários atrasados e no início de 2002 Alain Prost anunciou o fim de sua equipe.
Após essa decepção, Alain Prost de afastou mais da F1, preferindo matar a saudade das corridas em corridas na neve (Troféu Andros) e corridas eventuais do Campeonato Francês de GT. Seu filho mais velho, Nicolas Prost, entrou no automobilismo, mas nem de longe mostrou o talento do pai e hoje corre em carros protótipos. Alain Prost foi protagonista de uma geração que entrou para a história da F1 e juntamente com Nelson Piquet, Nigel Mansell e, principalmente, Ayrton Senna, marcou época no automobilismo mundial. Sua pilotagem cerebral e sem erros trouxe um novo padrão para a F1 e mesmo longe de ser o mais popular entre os fãs de automobilismo, Prost é uma das pessoas mais respeitadas do automobilismo mundial. Sua disputa com Senna o tornou uma espécie de persona non grata no Brasil, mas o próprio ídolo brasileiro dizia que uma de suas motivações eram suas brigas com Prost e, aos poucos, os brasileiros passaram a olhar com menos rancor para Alain. Rápido, talentoso e polêmico, Prost fracassou como chefe de equipe, mas todos preferem olhar para o lado positivo da sua carreira.
Parabéns!
Alain Prost
Alain Marie Pascal Prost nasceu no dia 24 de fevereiro de 1955 na pequena cidade de Chevalier, próximo de Saint-Chamond, lugar onde cresceu. Filho de André Prost, um comerciante de móveis, e Marie-Rosie Karatchian, nascidos na França, mas de ascendência armênia, o pequeno Alain sempre foi muito interessado em esportes, juntamente com seu irmão mais velho, Daniel, e mesmo com sua baixa estatura, participou de torneios de futebol, patinação e até mesmo na luta Greco-romana, onde quebrou o nariz algumas vezes e produziu aquela obra-prima nasal que todos conhecem. Na adolescência, Alain era um aluno médio e tinha o sonho de se tornar jogador de futebol profissional, mas sua família se mudou para a cidade de Cannes e com a proximidade de Monte Carlo, Alain e seu pai foram ao Grande Premio de Mônaco de 1970 e Prost ficou encantado com o que viu. No final deste ano, durante as férias da família em Cote d’Azur, Alain e Daniel foram a um parque de diversões, onde havia uma pequena pista de karts e os mini-carros eram alugados para algumas voltas. Como não tinha 16 anos, idade mínima para se correr de kart, Prost teve que obter uma autorização escrita dos pais para dar suas primeiras voltas num kart. Foi o início de uma das trajetórias mais vitoriosas da história do automobilismo mundial.
Enquanto jogou futebol até os 17 anos, Prost também se apaixona pelas corridas e quando entra na faculdade, começa a trabalhar na loja do seu pai para ganhar dinheiro e comprar seu kart. Em 1974, Alain deixa a faculdade para se tornar piloto em tempo integral, onde tirava dinheiro vendendo karts, além de preparar motores para terceiros, sendo que muitos eram seus próprios adversários. Como o dinheiro era curto, Prost só utilizava karts ultrapassados e passava mais tempo na preparação dos bólidos, fazendo com que seu talento não ficasse aparente logo. Mas quando teve a oportunidade de ter um bom kart nas mãos em uma corrida perto da sua cidade, Alain agarrou a oportunidade e venceu a prova, iniciando a campanha que lhe daria o Campeonato Francês de kart de 1974, conquistando o bicampeonato no ano seguinte. Como fazia a maioria dos jovens pilotos franceses na década de 1970, Alain Prost se inscreveu na famosa escola de pilotagem Winfield, no circuito de Magny-Cours, no final de 1975 e venceu o torneio ‘Pilote Elf’, lhe garantindo um lugar na Fórmula Renault Francesa em 1976, onde destruiu a oposição quando conquistou doze vitórias em treze corridas, sendo campeão logo em sua primeira temporada no automobilismo. Prost sobe de categoria e participa do Campeonato Europeu de Fórmula Super Renault, onde se sagra campeão, fazendo com que estreasse na F3 Européia em 1978. Porém, Prost teve o primeiro ano ruim no esporte a motor quando tem que correr, por obrigações contratuais, na equipe Martini, onde teve um ano pífio. Porém, o francês descontaria em 1979, onde não apenas vence o Campeonato francês e europeu de F3, como também vence a tradicional corrida de Mônaco da categoria, verdadeira vitrine para quem quisesse chegar na F1. Prost passa a ser assediado por várias equipes e após um teste em Paul Ricard, o francês assina com a McLaren para 1980, mas surpreende ao não aceitar correr pela equipe na última prova de 1979 com um terceiro carro, em Watkins Glen, pois não se sentia preparado o suficiente.
Com 25 anos de idade e apenas quatro de automobilismo, Alain Prost estrearia na F1, mas a McLaren tinha feito uma péssima temporada em 1979 e passava por sérias dificuldades financeiras, a ponto de Teddy Mayer estar negociando a venda do time para a Project Four, encabeçado por Ron Dennis, negócio que acabaria fechado em setembro de 1980. Tal como tinha acontecido com várias equipes, a McLaren estava correndo atrás dos carros-asas da Lotus e parecia sempre estar um passo atrás das adversárias. O M29 tinha se mostrado um carro difícil de se guiar e Prost teria como primeiro companheiro de equipe o experiente John Watson. Apesar das adversidades, Alain mostrou suas credenciais logo em sua estréia, ao ser muito mais rápido do que Watson na Classificação e fazendo uma corrida de paciência, Prost chegou em 6º e marcou seu primeiro ponto na sua estréia, algo extremamente raro na história da F1. Na prova seguinte, em Interlagos, em outra pista desconhecida, Prost fez outra prova memorável e após uma briga sensacional com Riccardo Patrese, conseguiu a 5º posição e a segunda corrida consecutiva nos pontos. Com tamanho talento, a F1 passou a ver no francês uma estrela em potencial, mas Alain foi lembrado que estava numa equipe em decadência e nos treinos para o Grande Prêmio da África do Sul, no rapidíssimo circuito de Kyalami, sofreu um forte acidente quando a suspensão do seu carro quebrou e o francês acabou tendo o pulso fraturado. Prost perdeu a corrida africana e a etapa seguinte em Long Brach, retornando na Bélgica. O piloto da McLaren ainda marcaria pontos na Inglaterra e na Holanda, mas nas últimas etapas do campeonato Prost sofreria duas quebras de suspensão em seu carro (uma delas, quando estava em 3º lugar no Canadá) e isso irritou profundamente o francês, que quebrou o seu contrato de dois anos com a McLaren acusando a equipe de estar lhe entregando um carro frágil e perigoso. A Renault estava interessada em sangue novo e via em Prost um piloto ideal para o seu futuro: bom e francês. Mesmo com o motor turbo ainda engatinhando, a equipe francesa investia fortemente na F1 e teria chances maiores de conseguir algo de bom. E assim, Alain Prost substituiu o veterano Jean-Pierre Jabouille na equipe Renault para 1981.
Prost teria como companheiro de equipe o compatriota René Arnoux, um piloto extremamente rápido e popular, mesmo que muito inconstante, principalmente em ritmo de corrida. Logo de cara, Prost foi mais rápido do que Arnoux, que já tinha três temporadas na F1, e isso causou ciúmes no piloto que tinha mais tempo de casa, além de que, Prost começava a usar uma de suas táticas no qual ficaria conhecido no futuro: a política na equipe. Enquanto era mais rápido do que Arnoux dentro das pistas, Prost também fazia pressão entre os diretores da Renault, deixando Arnoux ainda mais furioso. Eles nunca se dariam bem. Prost não termina as duas primeiras corridas de 1981, batendo em Long Beach e em Jacarepaguá, mas o francês acabaria conquistando seu primeiro pódio na F1 com um 3º lugar no Grande Prêmio da Argentina. Após um meio de temporada sem muitos resultados, Prost vai a Dijon-Prenois, lugar dos testes da Renault, e o francês usa bem a tática para vencer sua primeira corrida. Prost estava em 2º na corrida, bem longe de Nelson Piquet, quando começou a chover. Foi uma chuva forte e passageira, mas Prost coloca os pneus certos no recomeço da corrida e vence com facilidade. “Antes, eu pensava se eu pudesse fazer isso (vencer). Agora eu sei que posso!” E podia mesmo. Era a primeira de 51 vitórias na F1, que faz de Prost ser até hoje o segundo piloto a ter mais triunfos na categoria. Prost ainda conseguiria sua primeira pole na Alemanha, mais duas vitórias no ano (Holanda e Itália) e terminaria o campeonato em 5º lugar, apenas sete pontos atrás do campeão e seu primeiro grande rival na F1: Nelson Piquet.
Com uma ótima segunda metade de temporada em 1981, Alain iniciava 1982 como um dos favoritos ao título e suas duas vitórias nas duas primeiras corridas praticamente confirmavam tudo o que se esperava dele (apesar da vitória no Grande Prêmio do Brasil só viesse após as desclassificações de Piquet e Keke Rosberg), mas então a Renault entrou numa espiral de inconfiabilidade e o francês ficou várias provas sem pontuar, o mesmo acontecendo com Arnoux. Porém, o campeonato de 1982 foi um dos mais disputados de todos os tempos e mesmo com apenas 18 pontos das suas duas vitórias iniciais, Prost ainda era 4º colocado no Mundial de Pilotos quando chegou ao Grande Prêmio da França, em Paul Ricard, já na metade da temporada. A rápida pista francesa era o quintal da Renault e também praticamente a última chance de Prost de almejar o título daquela temporada. Por isso, segundo Alain, foi feito um acordo antes da prova de que se o francês seria o beneficiado se os dois carros da Renault sobrevivessem até o final da corrida (algo que pouco acontecia no momento...). Arnoux e Prost fizeram uma dobradinha no grid, mas Piquet, inaugurando os pit-stops modernos e muito mais leve que os dois Renault, largou na frente dos dois franceses até quebrar o motor. Isso era a senha para que Prost passasse à frente de Arnoux e vencesse a prova. Pura ilusão. Arnoux não havia esquecido as políticas efetuadas por Prost nos bastidores da equipe e venceu a corrida, contra a vontade da Renault. Prost ficou irritadíssimo com o companheiro de equipe, pois o 2º lugar não lhe adiantou muita coisa na briga pelo campeonato e o francês acabaria em quarto lugar no campeonato, sem conquistar mais nenhuma vitória no ano. Arnoux ficou marginalizado dentro da Renault e acabaria acertando com a Ferrari, mas apesar da confusão, o público e a imprensa francesa se mantiveram fieis a Arnoux, deixando Prost ainda mais frustrado. “Quando vim para a Renault, a imprensa escrevia coisas boas sobre mim, mas em 1982 me tornei o vilão. Acho que eu cometi o erro de ganhar! O francês não gosta de vencedores.” Prost se mudou da França para Suíça no final de 1982, mas outro fato marcante ocorrido nesse ano marcaria para sempre a carreira de Prost. O francês era conhecido nas categorias de base como um ótimo piloto em corridas debaixo de chuva, inclusive se caracterizando por isso. Porém, durante os treinos para o Grande Prêmio da Alemanha, em Hockenheim, Prost levava seu Renault de volta aos boxes lentamente, até por que chovia bastante na ocasião. Mais atrás, Didier Pironi, líder do campeonato no momento, vinha cego pelo spray do carro de Derek Daly e não viu o carro de Prost, se chocando violentamente na traseira da Renault do francês. Pironi ficou seriamente ferido e nunca mais pode correr, mas isso também traumatizou Prost. “Quando está chovendo e olho pelos retrovisores, sempre vejo o carro de Didier voando”, diria mais tarde Prost. A partir desse incidente, iniciou-se um bloqueio em Prost nas corridas debaixo de chuva, fazendo com que Alain nunca mais mostrasse seu talento em pista molhada e fosse humilhado na comparação com Senna nessas condições.
Sem Arnoux como companheiro de equipe, Prost exigiu que a Renault contratasse um piloto não tão forte para 1983 e a escolha recaiu no americano Eddie Cheever, que além de não ser tão rápido quanto Arnoux, ainda seria visto como um intruso numa equipe que sempre tinha contratado pilotos franceses ao longo de sua existência. Prost seria o principal piloto da equipe e após um início claudicante de campeonato com o carro de 1982, Prost mostrou o potencial do novo modelo RE40 na estréia do carro, no Grande Prêmio da França, quando dominou a corrida. Alain chegaria em 2º em Spa, e venceria em Silverstone e Zeltweg, abrindo uma boa vantagem na liderança do campeonato sobre Piquet, Arnoux e Patrick Tambay. Porém, a Brabham tinha feito uma evolução do seu carro e Piquet cresceu no campeonato no seu terço final. Em Zandvoort, Piquet liderava a corrida seguido de perto de Prost, quando ambos sofreram um acidente na curva Tarzan (causado por Prost), acabando com a corrida de ambos, mas Piquet venceria as duas corridas seguintes (Monza e Brands Hatch), culminando para um final de campeonato imprevisível em Kyalami. Prost ainda liderava o campeonato por dois pontos, mas Piquet vinha em um melhor momento. Arnoux ainda tinha chances matemáticas, que caíram ainda mais quando o francês conseguiu a proeza de ser atropelado pelo próprio carro durantes os treinos. Piquet utiliza a tática para vencer Prost e dispara na liderança, enquanto Prost era segurado pelo companheiro de equipe do brasileiro, Ricardo Patrese. Quando Piquet faz seu primeiro pit-stop, ele retorna bem à frente de Patrese, enquanto Prost perdia a 3º posição para Lauda, que fazia uma corrida surpreendente pela McLaren. Porém, ainda antes da metade da prova, Prost entra lentamente nos boxes e apesar de Galvão Bueno, numa de suas mais famosas mancadas ao vivo, dizia que a Renault estava se atrapalhando no pit-stop, a verdade era que Prost estava abandonando a corrida com problemas de turbo. Alain foi ao muro dos boxes secar Piquet, mas na medida em que o brasileiro passava à sua frente, suas esperanças se esvaiam e o piloto da Brabham acabaria bicampeão mundial, com apenas um ponto de vantagem sobre Prost. O francês ficou arrasado e ainda na África do Sul, começaram as confusões com a equipe Renault. Prost tinha ficado irritado com a falta de desenvolvimento do seu carro durante a temporada e passou isso na cara de Gérard Larrousse, chefe da equipe, com o crescimento da Brabham no final do ano e o título de Piquet. Para completar, não faltaram boatos dizendo que Alain estava de saída da equipe e durante o Grande Prêmio da Itália chegou a ser noticiado que o francês estava se transferindo para a Ferrari. A Renault, por sua parte, acusou Prost de ser o causador dos problemas internos da equipe e a torcida francesa, ansiosa por um piloto gaulês Campeão Mundial, lembrou da briga entre Alain e Arnoux, na época, o piloto mais popular da França. Dois dias depois da decisão em Kyalami, Prost reincidiu contrato com a Renault. Além dos problemas dentro das pistas, haviam outros particularidades entre os protagonistas da briga. Mesmo casado com Anne-Marie, segundo as más línguas Prost estaria tendo um rumoroso caso com a esposa de Larrousse e isso teria sido um fator fundamental na rescisão de contrato. Por sinal, mesmo feio pra caramba, Prost fazia suas estripulias fora do casamento e ele também teria tido um caso com a esposa de Pironi e Jacques Laffite. Com esse último, por sinal, houve muita confusão, pois Laffite foi um dos principais incentivadores de Prost no início da carreira deste.
Sendo uma das estrelas da F1, não demorou muito para Prost conseguir um bom lugar na F1. Ajudado por seu patrocinador pessoal (Marlboro), Prost entrou em contato com a McLaren, que tinha uma vaga em aberto com a aposentadoria de John Watson no final de 1983. Nesta época, a McLaren já era gerida por Ron Dennis e os carros projetados por John Barnard evoluíam a olhos vistos, com todos ficando impressionados com a ótima corrida de Lauda em Kyalami. Juntamente com o novo motor TAG Porsche turbo, era um carro a ser observado em 1984 e Prost percebe isso, retornando a equipe na qual estreou quatro anos antes. Ao seu lado, Prost teria um dos seus ídolos na adolescência: Niki Lauda. Apesar de não ter feito uma temporada boa em 1983, a McLaren chegou com força total em 1984 e Prost venceu logo em sua reestréia pela McLaren, em Jacarepaguá. Na verdade, a equipe de Ron Dennis venceria 12 das 16 corridas do campeonato, com Prost vencendo sete, enquanto Lauda vencia cinco. Porém, o austríaco usou toda a sua astúcia para derrotar o francês, que ora vencia, ora abandonava. Porém, um fator marcante para Prost aconteceria em Monte Carlo. Debaixo de muita chuva, Prost liderava com folga quando começou a ter problema de freios. Mais atrás, um jovem brasileiro vinha surpreendentemente em segundo e começou a se aproximar de Prost a uma taxa impressionante. Ayrton Senna era um prodígio nas categorias de base e aquela corrida vinha sendo sua amostra do que poderia fazer na F1. O que pouca gente sabe ou não quer enxergar, era que Stefan Bellof, outro jovem novato na F1, vinha em 3º, com o único carro aspirado do grid, mais de 1s mais rápido do que Senna. Quando o brasileiro estava prestes a ultrapassar Prost, a corrida foi interrompida e os pontos foram dados pela metade. O francês ficou com os 4,5 pontos referentes a vitória e como perdeu o campeonato por meio ponto, a menor diferença entre campeão e vice da história, ficou para os fãs que se Prost não fizesse tanta pressão para que a corrida foi paralisada e fosse ultrapassado por Senna, o segundo lugar lhe daria o título mais tarde. Mas será que foi tão simples assim? O que importava era que esse havia sido o primeiro encontro entre Prost e Senna nas pistas. O primeiro de muitos. Apesar do título, Lauda tinha ficado insatisfeito com a política imposta por Prost nos bastidores da McLaren e chegou a pensar em abandonar a equipe no final de 1984. O austríaco resolveu ficar, mas Prost tomou para si as rédeas da equipe. Lauda abandonaria a carreira no final do ano, após uma temporada triste, bem ao contrário de Prost. O francês vence pela terceira vez o Grande Prêmio do Brasil e com outra vitória em Mônaco, liderava o campeonato com folga, mas vê o crescimento da Ferrari de Michele Alboreto e o italiano chegou a tomar a ponta do campeonato de Prost. Após vencer na Inglaterra e na Áustria, Prost chegou ao Grande Prêmio da Itália na liderança, mas parecia que todo o país se dirigiu a Monza para torcer para Alboreto, ainda colado em Prost no campeonato. Porém, Alain mostrou toda a sua categoria e para desgosto dos tifosi, venceu a corrida e, se não foi matematicamente, o francês venceu o campeonato psicologicamente naquele momento. Na verdade, Prost esperou duas corridas para se tornar o primeiro piloto francês a ser Campeão Mundial de F1, apenas dez anos após estrear no automobilismo e com a maior diferença para o segundo colocado do campeonato desde Jim Clark, em 1963.
Alain Prost já tinha números impressionantes, mas muitos diziam que ele só havia guiado carros bons e que o mérito de suas vitórias provinha dos carros que tinha em mãos. Por isso, Prost ainda tinha que provar algo em 1986. A Williams-Honda tinha vencido as três últimas corridas de 1985 e ainda teria o reforço de Nelson Piquet na equipe. Porém, o crescimento da equipe foi estancado pelo acidente de Frank Williams que o deixou numa cadeira de rodas. Nigel Mansell era um piloto secundário até então e todos apostavam que Piquet seria o primeiro piloto da equipe, mas o inglês mostrou uma velocidade exuberante nesse ano e surpreendeu a todos, inclusive Piquet. Para o lugar de Lauda, a McLaren trouxe Keke Rosberg, porém o finlandês de 37 anos não foi capaz de se acostumar com um carro que tinha sido construído para servir ao estilo de pilotagem de Prost. O francês continuaria como piloto número um da equipe. Contudo, além dos pilotos da Williams, Prost teria que encarar Senna em seu segundo ano na Lotus e cada vez mais forte. Essa salada toda transformou a temporada de 1986, para muitos, no melhor campeonato de todos os tempos da F1. Nelson Piquet mostra força ao vencer em sua estréia pela Williams, mas Senna assume a liderança do campeonato ao vencer por 14 milésimos de segundo a prova seguinte em Jerez. Já havia quem dissesse que Prost não teria chances para enfrentar as Williams e Senna, mas o francês vence de forma dramática em Ímola. Após dominar toda a corrida, Prost fica sem combustível quando faltavam apenas três curvas. Desesperado, Alain começou a ziguezaguear o carro, para que o pescador de combustível ainda sugasse alguma gasolina e de forma emocionante, Prost cruzou a linha de chegada e parou o seu carro 300 metros depois. Na Alemanha, o francês passou por momento parecido, mas desta vez o seu McLaren parou na última curva. Tentando conseguir mais alguns pontos, Prost sai do carro e começa a empurrá-lo, para delírio do público, que assistia ao esforço do campeão em receber a bandeirada. Porém, Prost acabou desistindo a poucos metros da bandeirada, mas ainda marcou um ponto. Durante o campeonato, Prost só venceria mais uma corrida na Áustria, enquanto Mansell e Piquet dividiam entre si as vitórias e a equipe, que tinha que domar duas personalidades fortes. Quando a F1 chegou a última corrida de 1986, na Austrália, Mansell só precisava de um 3º lugar para ser campeão e ainda largaria na pole. Para Prost e Piquet, só a vitória interessava. A Goodyear, que equipava McLaren e Williams, tinha sido derrotada pela Pirelli na prova anterior no México quando Berger completou a corrida sem trocar os pneus e venceu. Os americanos queriam fazer a mesma coisa e entrou com um pneu duro o suficiente para agüentar as 82 voltas do Grande Prêmio da Austrália. Em teoria. Nitidamente com um carro inferior, Prost só podia torcer que a crescente rivalidade entre Piquet e Mansell pudesse atrapalhá-los na briga pelo título. Numa corrida que entrou para a história, Mansell usou a cabeça e preferiu deixar Rosberg, que estava abandonando a carreira em Adelaide, ultrapassá-lo nas primeiras curvas e ficar em 4º lugar, atrás de Prost e Piquet. A McLaren estava usando Keke como coelho, na tentativa de enervar Mansell, mas o inglês estava fazendo uma corrida inteligente até aquele momento. Por volta da 20º passagem, tudo levava a crer que o título acabaria com Mansell quando Piquet roda bem à sua frente e Prost tem um pneu furado bem no momento em que se aproximava da entrada dos boxes. Aquele pit-stop acabaria sendo crucial para o francês. Rosberg liderava com folga, com Mansell em um confortável 3º lugar, entre Piquet e Prost. Então, nas voltas finais, os planos da Goodyear foram por água abaixo quando Rosberg tem seu pneu estourado e os pilotos que usavam Goodyear começaram a reclamar de fortes vibrações vindas dos pneus. Imediatamente os americanos sugeriram as equipes que chamassem seus pilotos para trocar os pneus, mas Mansell ficou na pista e o resultado foi uma das imagens mais famosas da F1 com seu pneu estourando espetacularmente no meio da reta oposta. Com receio de acontecer o mesmo, o líder (e campeão naquele momento) Piquet faz seu pit-stop e volta atrás de Prost. O francês tinha trocado de pneus no começo da corrida e ainda tinha reserva para receber a bandeirada em primeiro e conquistar um sensacional bicampeonato. E já sofrendo com as vibrações nos pneus! Quando recebeu a bandeirada, Prost parou logo depois, saiu do carro e pôs as mãos na cabeça. Nem ele podia acreditar! Prost entrava definitivamente na história como um dos grandes da F1.
Porém, a Williams-Honda ainda era o melhor carro da F1 e isso ficou provado em 1987, quando o time venceu nove vezes e Nelson Piquet se sagrou tricampeão mundial. Prost ainda venceu três durante o ano ficou em 4º no Mundial de Pilotos, mas houve duas vitórias marcantes para o francês. A Williams havia dominado os treinos para o Grande Prêmio do Brasil de 1987 e Prost havia ficado apenas em 5º, mas o francês pensou em todo momento no acerto para a corrida e enquanto os demais pilotos preferiram um setup com alto downforce, o francês preferiu um carro com menos asa, que desgastaria menos os pneus por causa da menor velocidade nas curvas e ainda seria extremamente rápido nas retas. Prost acertou na mosca! Enquanto seus rivais pararam no mínimo duas vezes nos boxes, Alain cuidou melhor dos seus pneus e com apenas uma parada, venceu a corrida com mais 40s de vantagem sobre Piquet. Prost considera esta sua melhor corrida na carreira. Com mais uma vitória na Bélgica, Prost se igualou a Jackie Stewart como o piloto mais vitórias na história da F1 (27) e todos esperavam quando o francês superaria o recorde do escocês. Em Portugal, a Ferrari mostrou força e Berger liderava com folga, mas problemas nos freios fizeram com que o austríaco diminuísse o ritmo e Prost começou a se aproximar nas voltas finais. Normalmente comedido nas corridas, Prost colocou a faca entre os dentes e partiu para cima de Berger, quebrando o recorde do circuito do Estoril a cada volta, mas o francês nem precisou disputar freadas com a Ferrari. Nervoso e vendo seus problemas piorarem, Berger acabou rodando e entregou de bandeja a vitória e o recorde para Alain Prost. Mesmo com a marca histórica, Prost queria mais e sabia que para voltar aos títulos, teria que ter o motor Honda, já que a TAG Porsche iria abandonar a F1 no final de 1987. Mas como fazer isso? Alain conversou com Ron Dennis e disse que contratar Ayrton Senna era uma boa forma de atrair os japoneses. O brasileiro, mesmo usando motores Honda, estava insatisfeito com a Lotus e sabia que a organização da McLaren era capaz de lhe dar o tão sonhado título. Enquanto Dennis conversava com Senna, a Honda, cansada das brigas entre Piquet e Mansell, resolveu abandonar a Williams e foi para a McLaren, acompanhando Senna. Era o início de uma das maiores rivalidades da história da F1.
Ayrton Senna era considerado o melhor piloto da F1 no final dos anos 80, mesmo nunca tendo disputado o titulo de forma mais incisiva até então. Num primeiro momento, a relação entre Senna e Prost foi extremamente cordial e não faltaram elogios de parte a parte. O modelo MP4/4 ficou pronto tarde e os pilotos só puderam experimentá-lo em Ímola, nos últimos testes antes da primeira corrida em Jacarepaguá. Quem estava na Itália naquele dia ficou assustado com Senna colocando 1.5s em todo mundo. As expectativas foram confirmadas no Brasil, com a McLaren dominando o final de semana e Prost vencendo novamente na pista carioca. Ficou nítido para todos que o campeonato seria decidido no seio da McLaren, mas quem seria o vencedor? A velocidade estonteante de Senna, principalmente nos treinos, exigiu uma abordagem diferente de Prost, que precisava de todos os seus recursos para vencer um piloto tão rápido quanto o brasileiro. Se não podia superá-lo em velocidade pura, o Professor, como já era chamado, tinha que empreender um ritmo de corrida mais conservador, onde economizaria freios e pneus, tendo carro para atacar no final das corridas. Assim era Alain Prost na sua forma mais pura e para vencer Senna, que forçava em todas as voltas, seja em treino ou corrida, o francês tinha que elevar ainda mais essas suas características. Foi uma disputa histórica. Em 16 corridas em 1988, a McLaren venceu 15, com Senna conquistando oito triunfos, ante sete de Alain, porém, o francês tinha sido muito mais regular e conseguira vários 2º lugares, mas como o regulamento só contemplava os onze melhores resultados do ano, Prost perdeu o campeonato para o brasileiro mesmo tendo conquistado mais pontos. Durante o ano, Senna e Prost continuaram cordiais fora das pistas, mas o francês começava a se incomodar com o estilo agressivo de Senna. Durante o Grande Prêmio de Portugal, Prost atacou Senna para assumir a liderança, mas o brasileiro jogou seu carro para cima do companheiro de equipe, espremendo Prost junto ao pit-wall. Alain completou a ultrapassagem, mas ele não escondeu sua irritação com a manobra do brasileiro. Prost ainda entraria na história da F1 quando conseguiu a vitória no Grande Prêmio da Austrália de 1988 e se tornou o último vencedor da Era turbo. A FISA, preocupada com os 1.500cv que os motores turbo geravam em determinadas ocasiões, determinou a volta dos motores aspirados a partir de 1989 e essas era a esperança das demais equipes em equilibrar as coisas com a McLaren-Honda. Prost sabia que teria que enfrentar um Ayrton Senna ainda mais forte dentro da McLaren e por isso teria que tentar algo para superar o brasileiro. Porém, quem cedeu as balas para o início da guerra foi o próprio Senna. Na McLaren, existia uma regra em que seus pilotos não atacariam seus companheiros de equipe na primeira volta, algo que Senna e Prost sabiam e obedeceram em todo o ano de 1988. Durante o Grande Prêmio de San Marino de 1989, Senna ficou à frente de Prost na largada e assim estavam até Berger bater forte na Tamburello e a prova ser interrompida. Na relargada, Prost foi mais rápido e sabendo do acordo que tinha com Senna, não se preocupou em se fazer uma linha defensiva na Curva Tosa, primeira freada forte após rápido complexo da reta dos boxes-Tamburello. Porém, Senna colocou o bico de sua McLaren por dentro e efetuou a ultrapassagem sobre um estupefato Prost, acabando por vencer a corrida. Era o início da Guerra Fria, como ficou chamada a briga entre Prost e Senna.
O francês não escondeu de ninguém sua irritação e deixou claro nas entrevistas que Senna havia sido sujo com ele. “Sempre houve esse acordo com Lauda e Rosberg. Ano passado também aconteceu, mas quando ele me passou... Eu nem sei a palavra certa para explicar o que senti, principalmente no lado moral.” Prost passou a reclamar que a Honda dava os melhores motores a Senna e os japoneses passaram a fazer sorteios dentro dos boxes da McLaren. Prost e Senna não se falavam e as entrevistas pós-corridas eram cheias de ironias e acidez com o adversário. Porém, na pista eles ainda se respeitavam e até o momento não houvera nenhum entrevero mais forte. Prost usava a regularidade para superar a agressividade de Senna e enquanto o brasileiro abandonou várias corridas, o francês sempre marcava o maior número de pontos possíveis. Alain chegou a ter 20 pontos de vantagem sobre o rival no campeonato e quando circo da F1 chegou a Suzuka, Senna tinha uma missão muito difícil, mas possível, se quisesse ficar com título: ele precisava conquistar duas vitórias, independentemente do que Prost fizesse. Porém, Prost avisou a todos que o campeonato acabaria em Suzuka e que não abriria a porta para o brasileiro. Não importava a situação. Isso fez do Grande Prêmio do Japão de 1989 uma das corridas mais tensas, emocionantes e dramáticas da história da F1. Mesmo com carros iguais, Prost reclamava da falta de atenção da equipe e resolveu usar um acerto diferente do brasileiro, onde seria mais rápido nas retas, enquanto Senna era mais rápido nas curvas. Largando na pole, Senna perdeu a ponta da corrida para Prost e o francês era mais rápido no primeiro stint de corrida. Quando ambos foram trocar seus pneus, Senna virou o jogou e partiu para cima do rival. Na volta 46, menos de sete para o final, o brasileiro forçou a ultrapassagem sobre Prost na chicane e, como havia prometido, o francês fechou a porta. O choque foi inevitável. As imagens on-board do carro de Prost mostravam claramente o francês virando o volante antes da curva. Rapidamente o francês saiu do seu carro, mas Senna, enquanto gesticulava furioso para Prost, pedia para ser empurrado (de forma irregular...) e voltar a corrida. Numa atuação magistral, Senna ainda se recuperou para receber a bandeirada em primeiro, mas quando as câmeras mostraram o staff da McLaren, Ron Dennis parecia preocupado. Todos sabiam que a manobra de Senna tinha sido irregular. A cerimônia do pódio demorou a começar e o motivo ficou claro quando Senna não estava nela. O brasileiro fora desclassificado e Prost era tricampeão mundial de F1. “Eu sabia que o campeonato terminaria desse jeito. Ficou impossível trabalhar junto com Ayrton. O problema não é a forma como ele pilota, que é incrivelmente rápido, mas ele força demais. Várias vezes eu abri a porta para ele no passado para evitar acidentes, mas tinha avisado que não abriria hoje.” Mostrando o quanto Prost estava marginalizado dentro da McLaren, o time resolveu apelar da decisão e o julgamento acabou sendo ainda pior para Senna, que foi multado em 100.000 dólares e suspenso por seis meses, revertido mais tarde com um pedido de desculpas do brasileiro. Senna acusou Jean-Marie Balestre a favorecer Prost, mas a verdade era que o francês tinha razão quando disse que ficara impossível permanecer na mesma equipe de Senna e transferiu para a Ferrari em 1990.
Chegando na equipe italiana, Prost teria que enfrentar outro piloto de personalidade forte e extremamente rápido: Nigel Mansell. Porém, Nigel tinha uma desvantagem com relação a Senna que Alain usou na disputa entre eles: a inteligência. O francês negociou tudo com a Ferrari, ficando sempre com o privilégio de ter o carro reserva, entre outras coisas. Como levou o número 1 para a Ferrari, Prost também queria ser o primeiro piloto da equipe e usou suas táticas extra-pista para deixar Mansell por baixo. Como falava muito bem italiano, Prost se comunicava dessa forma nas reuniões técnicas, enquanto Mansell, que não entendia nada da língua de Michelangelo, ficava boiando. O novo modelo 641 foi muito rápido nos testes de pré-temporada, mas a McLaren de Senna começou o ano de forma espetacular, mesmo com Prost conseguindo sua sexta vitória no Grande Prêmio do Brasil, segunda etapa do certame. Com a sua finesse, Prost foi evoluindo o carro e, pouco a pouco, foi se aproximando da McLaren. No Grande Prêmio do México, o francês largaria em 13º e numa prova sensacional, acabou vencendo ao ultrapassar Senna nas voltas finais. Com outras duas vitórias nas duas provas seguintes, Prost encostou de vez no brasileiro, mas Mansell passou a ser um fator decisivo a favor... de Senna. Em Silverstone, o inglês ficou furioso quando descobriu que a Ferrari tinha dado seu carro, melhor acertado, para Prost sem ele saber e após a corrida chegou a anunciar que abandonaria as corridas no final do ano, tirando o foco da equipe. Em Portugal, largando na pole, Mansell jogou seu carro para cima de Prost, permitindo a Senna a tomar a liderança antes da primeira curva. Prost venceria a prova seguinte em Jerez e chegaria a Suzuka em situação inversa do ano anterior, pois precisava de uma vitória para se manter vivo no campeonato. Senna nunca havia engolido a decisão de 1989 e via no Grande Prêmio do Japão de 1990 uma chance única para se vingar. E o brasileiro tratou de fazê-lo logo. Prost larga melhor do que Senna e quando se preparava para contornar a primeira curva, o brasileiro atinge com força a traseira de sua Ferrari. Novamente ambos estavam fora da corrida, mas quem levava vantagem desta vez era Senna, que conquistava seu bicampeonato. Prost ficou louco da vida! Se em 1989 a batida aconteceu a 80 km/h, Senna bateu a 260 km/h e Alain não poupou críticas quanto ao comportamento do brasileiro. “O que ele fez foi nojento. Ele é um homem sem valor.” Mas será que Prost tinha moral para falar assim do rival?
Mansell desfaz a promessa de se aposentar e vai para a Williams em 1991, enquanto Prost teria como companheiro de equipe o promissor Jean Alesi. O jovem francês via Prost como ídolo e isso significava que, dentro da equipe, Alain não teria problemas. Na verdade, o problema estava fora. A McLaren continuava sua constante evolução e Senna vence as quatro primeiras corridas do ano, mas ao contrário do esperado, a principal rival da McLaren não é a Ferrari de Prost, mas a Williams-Renault de Mansell. A Ferrari tem um ano confuso, em que o chefe de equipe Cesare Fiori, com quem Prost tinha se desentendido, fora demitido no meio da temporada e o carro simplesmente não conseguia acompanhar McLarens e Williams. Prost fica frustrado e começa a criticar a equipe e pela primeira vez em dez anos, não consegue uma vitória numa temporada. Após ficar mais de um minuto e meio atrás das McLaren em Suzuka, Prost declara que a Ferrari parecia um caminhão e isso foi a gota d’água. A Ferrari nem espera a temporada terminar e antes da última corrida na Austrália demite Prost. O francês se vê sem equipe para 1992 e decide ter um ano sabático, enquanto passa o ano como comentarista da TF1. No início do ano ele faz um teste com o Ligier-Renault, mas na verdade a intenção de Prost não era com a Ligier, mas com a Renault. Alain tinha ficado impressionado com a Williams em 1991 e começara uma reaproximação com a Renault após quase dez anos, para defender as cores da equipe inglesa em 1993. Quando Mansell conquista o Mundial de Pilotos de 1992 de forma arrasadora, ele não consegue a renovação com a Williams e vai tentar a sorte na Formula Indy. Com a certeza de que não correria ao lado de um dos seus desafetos, Prost precisava se livrar de outro. Senna estava louco para correr pela Williams, chegando a se oferecer de graça para ter a oportunidade de correr com o que ele chamava de “carro de outro planeta”. Porém, Prost coloca uma cláusula em seu contrato que impedia que Senna se juntasse a Williams em 1993. Ao saber disso, Senna chamou Prost de covarde em uma conferência de imprensa em Portugal. Como Patrese também não ficaria ao lado de Prost, a Williams teve que promover seu piloto de testes, Damon Hill, a segundo piloto da equipe. Sem nenhum adversário mais forte dentro da equipe e com um carro nitidamente superior, Prost era o favorito destacado no ano, mas ainda restava ver como o francês se sairia após uma temporada fora da F1. No Grande Prêmio da África do Sul de 1993, Prost teve sua prova de fogo quando teve que enfrentar não apenas Senna, mas um alemão que estava iniciando sua carreira na F1: Michael Schumacher. Os três protagonizaram uma disputa ferrenha pela ponta, mas Prost soube usar a superioridade do seu carro para vencer novamente. No auge da briga com Senna, Prost precisou de escolta policial para chegar a Interlagos e ainda foi humilhado quando rodou enquanto liderava, debaixo de uma chuva torrencial. Senna ainda o bateria em outra corrida histórica em Donington Park, mas não demorou para Prost, usando sua astúcia, a vencer em série. Na verdade, com um carro muito melhor do que os outros, Alain usou sua maestria para conquistar o tetracampeonato mundial de F1, sempre parecendo estar correndo abaixo do real potencial do carro. Prost fazia isso de propósito, pois sabia que tinha reservas para superar seus adversários quando quisesse. Já com o título garantido, Prost anunciou antes do Grande Prêmio de Portugal de 1993 que estava se aposentando da F1, dando a Senna a chance de substituí-lo na Williams. Na sua última corrida pela F1, em Adelaide, Prost chegou em segundo e pela primeira vez em anos foi cumprimentado por Senna na ante-sala do pódio. Porém, em público, o brasileiro surpreendeu quando puxou Prost ao degrau mais alto e o abraçou. Aquilo marcou o fim das hostilidades com o brasileiro e também da carreira de Prost na F1. Os números de Alain Prost o colocam facilmente como um dos maiores pilotos que a F1 já viu e realmente impressionam. Foram 199 Grandes Prêmios, 51 vitórias (Prost ficou 14 anos com o recorde de mais vitórias na F1, superado por Schumacher em 2001), 33 poles, 41 melhores voltas, 106 pódios, 798,5 pontos e quatro títulos mundiais (1985, 86, 89 e 93).
Imediatamente após sua aposentadoria, Prost voltou a TF1 e se tornou comentarista da TV francesa, acompanhando de perto a F1. No início de 1994, ele teve muito contato com Senna e antes do fatídico Grande Prêmio de San Marino, ele recebeu um recado emocionado do brasileiro, numa entrevista antes da largada. “Eu gostaria de dizer ao meu amigo Alain que todos estão sentindo a sua falta!” Prost ficou tocado com a homenagem, porém minutos depois Senna acabaria morrendo na curva Tamburello. “Parte de mim também morreu naquele dia”, falaria Prost anos depois, pois sabia que sua carreira estaria para sempre atrelada a Senna. Para surpresa de todos, Alain veio ao Brasil para o enterro de Senna e ao contrário do ano anterior, foi homenageado pela torcida brasileira. Em 1995, Prost passa a ser consultor técnico da McLaren e quando Mika Hakkinen se acidentou gravemente no final do ano, foi especulado que Prost poderia substituir o francês nas primeiras corridas de 1996. Algo que nunca aconteceu, até por que Alain já estava com a cabeça em outros projetos. O francês sempre sonhou em ter uma equipe de F1 e em 1989 ele cogitou essa possibilidade no auge da sua briga com Senna. No dia 13 de fevereiro de 1997, Prost comprou a Ligier de Flavio Briatore e a equipe passou a se chamar Prost Grand Prix. Tentando fazer da sua equipe 100% francesa, ele assinou contrato com a Peugeot para 1998, mas ainda estava sob contrato com a Mugen Honda para 1997. Olivier Panis continuaria como principal piloto e na verdade a melhor temporada da Prost GP foi exatamente a de estréia, quando Panis se aproveitou dos bons pneus Bridgestone para conseguir dois pódios surpreendentes, mas o francês acabaria quebrando a perna num acidente durante o Grande Prêmio do Canadá. Para o lugar de Panis veio o promissor italiano Jarno Trulli, que conseguiu a proeza de liderar o Grande Prêmio da Áustria até ter problemas. A expectativa para 1998, com a chegada da Peugeot, era ótima, mas a Prost só marca um ponto com Trulli, enquanto Panis, recuperado do seu acidente, passa o ano em branco. Alain traz de volta John Barnard, projetista do carro que foi campeão em 85 e 86, mas o motor Peugeot se mostra pesado e confiável, resultando em outra decepção. Prost troca a sua dupla de pilotos para a temporada 2000, trazendo seu amigo Jean Alesi como piloto principal, além da promessa Nick Heidfeld, que acabara de conquistar o Europeu de F3000. Porém, Prost continuava as turras com a Peugeot, o que acabaria resultando na rescisão de contrato da equipe, enquanto Alesi e Heidfeld batiam entre si em duas corridas. Sem o apoio de uma montadora, Prost assinava a morte de sua equipe e mesmo com a melhora com a chegada dos motores Ferrari e a venda de parte da equipe para Pedro Paulo Diniz, isso não melhorou a situação da equipe. Mesmo conquistando alguns pontos no meio da temporada 2001 e ter comemorado bastante o feito, Alesi abandonou a equipe antes do final do ano acusando Prost de estar lhe devendo salários atrasados e no início de 2002 Alain Prost anunciou o fim de sua equipe.
Após essa decepção, Alain Prost de afastou mais da F1, preferindo matar a saudade das corridas em corridas na neve (Troféu Andros) e corridas eventuais do Campeonato Francês de GT. Seu filho mais velho, Nicolas Prost, entrou no automobilismo, mas nem de longe mostrou o talento do pai e hoje corre em carros protótipos. Alain Prost foi protagonista de uma geração que entrou para a história da F1 e juntamente com Nelson Piquet, Nigel Mansell e, principalmente, Ayrton Senna, marcou época no automobilismo mundial. Sua pilotagem cerebral e sem erros trouxe um novo padrão para a F1 e mesmo longe de ser o mais popular entre os fãs de automobilismo, Prost é uma das pessoas mais respeitadas do automobilismo mundial. Sua disputa com Senna o tornou uma espécie de persona non grata no Brasil, mas o próprio ídolo brasileiro dizia que uma de suas motivações eram suas brigas com Prost e, aos poucos, os brasileiros passaram a olhar com menos rancor para Alain. Rápido, talentoso e polêmico, Prost fracassou como chefe de equipe, mas todos preferem olhar para o lado positivo da sua carreira.
Parabéns!
Alain Prost
2 comentários:
Um feliz aniversário ao francês mais sortudo e narigudo da F1
PARABENS PROST ! abraços
Fernando Gennaro
Postar um comentário