terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Homem Borracha


Ele foi o representante único da terceira geração de uma família que sempre respirou velocidade e conquistou várias glórias com seu maior representante, Emerson Fittipaldi. Talvez por essa pressão de levar o nome da família rumo ao estrelato, seguindo os passos do tio, tenham levado Christian Fittipaldi não ter tido tanto sucesso como sua avassaladora carreira nas categorias de base indicava. Filho mais velho de Wilson Fittipaldi Junior, Christian parecia ser destinado a ter uma carreira mais parecida com o tio, mas uma série de fatores e acidentes aos montes fizeram do brasileiro se transformar numa eterna promessa e não ter entregado totalmente o que prometia, ficando mais conhecido pelos violentos acidentes que sofreu ao longo da carreira. Completando 40 anos no dia de hoje, iremos conhecer a longa carreira de desse paulistano.

Christian Fittipaldi nasceu no dia 18 de janeiro de 1971 na cidade de São Paulo e a ligação com a velocidade começou pelo próprio nome, pois seu pai, Wilson Fittipaldi Junior, filho de Wilson ‘Barão’ Fittipaldi, homenageou Christian Heins, um dos melhores pilotos brasileiros da década de 60, que faleceu durante as 24 Horas de Le Mans de 1963, com o nome do seu filho mais velho. Quando Christian veio ao mundo, seu tio, Emerson, se preparava para a sua primeira temporada completa na F1, enquanto seu pai começava a temporada de F2, já se preparando para a F1. O neto mais velho do Barão fazia sempre a ponte aérea entre Inglaterra e Brasil desde novo, acompanhando as corridas do seu pai e do seu tio. No filme ‘Fabuloso Fittipaldi’, Christian, então com um ano de idade, aparece num jantar ao lado dos casais Emerson e Maria Helena Fittipaldi e Ronnie e Barbro Peterson. Christian não lembra o seu pai correndo de F1, pois Wilsinho pendurou o capacete no final de 1975 para comandar a equipe Copersucar, mas o jovem Fittipaldi lembra da festa protagonizada pelo tio com o 2º de Emerson no Grande Prêmio do Brasil de 1978. No final deste mesmo ano, Christian se sentou pela primeira vez num kart, mas ele teria que esperar mais três anos para poder correr nas competições, pois na época o limite de idade era de 11 anos. Até lá, Christian teve que ouvir muitas brincadeiras dos seus amigos de escola, que chamavam Emerson de lesma. Era a fase de falência do projeto do carro brasileiro de F1 e a família Fittipaldi pagou, literalmente, caro com a empreitada fracassada. Christian passou por várias dificuldades financeiras ao lado dos seus pais e de sua irmã mais nova, Roberta, mas ainda assim ele pôde estrear no kart no início da década de 80.

Levando o sobrenome Fittipaldi, Christian sofria toda a pressão de ser rápido e vencer, mas o paulistano não decepcionou, se tornando um dos pilotos dominantes do kartismo brasileiro ao longo dos anos 80, utilizando uma réplica do capacete do seu pai, mas com as cores ao contrário. Enquanto Wilsinho utilizava um casco verde escuro com gotas amarelas, Christian sempre correu com um capacete amarelo com gotas verdes. Logo no início de sua carreira, Christian Fittipaldi encontrou aquele que seria seu maior adversário nas pistas de kart. Um loirinho apenas um ano mais jovem do que ele: Rubens Barrichello. Christian e Rubinho passaram várias temporadas se degladiando nos kartodromos nacionais, enquanto seus pais, Wilsinho e Rubão Barrichello, discutiam asperamente fora das pistas. Conta a lenda que, enquanto seus pais quase se agrediam por uma ou outra manobra dentro das pistas, Christian e Rubinho brincavam juntos de pipa no lado de fora do kartodromo. Quando completou 17 anos, Christian estreou nos monopostos, na F-Ford brasileira, enquanto seu pai retornava ao cargo de chefe de equipe. Com uma baita estrutura e utilizando seu talento, Fittipaldi conseguiu fazer um bom campeonato, mas perdeu o título de 1989 para Tom Stefani. Se sentindo preparado para dar um passo adiante, Christian se mudou para a F3 em 1990, mas o brasileiro foi ainda mais ambicioso. Utilizando a sua equipe, a Fittipaldi Competicíon, Christian participou dos Campeonatos Sul-Americano e Inglês da categoria, conseguindo muito sucesso em ambas. Na América do Sul, o time conseguiu bater as equipes argentinas e Christian se tornou campeão, enquanto que na Inglaterra o paulista conseguiu vários bons resultados, culminando com um 2º lugar em Silverstone, logo atrás do campeão daquele ano, Mika Hakkinen. Christian foi o 4º colocado no certame inglês e partiu para a F3000 Internacional em 1991, com vários patrocinadores brasileiros, enfeitando bastante seu carro. Seja na F3000 ou na GP2, é bem raro ver um piloto se tornar campeão logo em sua temporada de estréia. Pois Christian, com apenas 20 anos, conseguiu essa proeza ao bater os italianos Alessandro Zanardi e Emanuele Naspetti numa disputa sensacional, que só foi decidida na corrida final em Nogaro. Christian tinha conquistado uma vitória em Jerez e fazia um campeonato mais regular, marcando pontos em praticamente todas as corridas, enquanto Zanardi havia vencido nas pistas italianas de Vallelunga e Mugello, só pontuando outras três vezes. Naspetti tinha sido mais irregular ainda, pois não pontuara nas quatro primeiras provas, para então engatar quatro vitórias consecutivas. Na penúltima etapa do campeonato, Christian viu sua equipe não mandar seu companheiro de equipe, Antonio Tamburini, lhe ceder a vitória e o resultado foi que Christian tinhas apenas dois pontos de vantagem sobre Zanardi e Naspetti, que estavam empatados em 36 pontos. O circuito de Nogaro era curto, estreito e de ultrapassagem complicada. Os treinos seriam decisivos e numa volta banzai, Christian tirou a pole de Zanardi por três centésimos de segundo e liderou a prova até o final rumo ao título.

Com um sobrenome famoso e talento comprovado, não foi difícil prever Christian Fittipaldi na F1 em 1992, mesmo tendo apenas 21 anos de idade, se tornando na ocasião, o piloto brasileiro mais jovem a estrear na categoria. Porém, o que ninguém poderia imaginar era que o terceiro Fittipaldi na F1 fosse estrear na pequena Minardi, levando consigo vários patrocinadores. Apesar dos bons resultados, muitos torciam o nariz pelo fato do sobrenome pode ter aberto várias portas para Christian, como equipamentos melhores e com isso ter garantindo o ótimo cartel que o brasileiro tinha. Mesmo com testes promissores no início do ano, o começo da caminhada de Christian Fittipaldi na F1 pareceu mais com a do seu pai do que seu tio. O carro era lento e quebrava bastante. Nos treinos para o Grande Prêmio da França, Christian bateu muito forte e o resultado foram fraturas nas quinta e sextas vértebras, fazendo com que o brasileiro ficasse algumas corridas de fora. Apesar de Christian ter um estilo de pilotagem limpo, esse seria o primeiro dos vários fortes acidentes do brasileiro no automobilismo. Christian retornou ao cockpit da Minardi já no final da temporada e na penúltima etapa ele conseguiu seu primeiro ponto na F1, com um 6º lugar em Suzuka. Mesmo com esse ponto quase milagroso para uma equipe paupérrima, isso não fez que os chefes de equipes melhores se interessassem por Christian e ele permaneceu na Minardi em 1993. No início deste ano ele venceu as Mil Milhas Brasileiras com um Porsche ao lado do pai, num momento inesquecível para o clã Fittipaldi.

Continuando o bom momento, Christian consegue sua melhor posição na F1 logo na primeira corrida de 1993, em Kyalami, com um 4º lugar. Porém, mesmo conseguindo pontuar mais uma vez com um 5º lugar em Mônaco, o brasileiro não estava nada satisfeito com seu carro, onde raramente largava entre os 20 primeiros. No Grande Prêmio da Itália, Christian sofre um dos acidentes mais espetaculares e fotografados da história da F1 quando toca na roda traseira do seu companheiro de equipe Pierluigi Martini na última volta, na reta de chegada, dando um looping e batendo forte no chão. Apesar do susto, desta vez Christian não sofreria nenhuma consequencia desta pancada. Com vários patrocinadores lhe apoiando, Christian se mudou para a Footwork em 1994, mas os resultados não melhoraram muito e o brasileiro ainda sofreria com o choque da morte de Senna em Ímola. Com 40 corridas de F1 no currículo e poucas perspectivas de melhorar na categoria, Christian tomou uma atitude radical no final de 1994. Repetindo o que fez seu tio Emerson dez anos antes, Christian se mudou para os Estados Unidos em 1995 para competir na Fórmula Indy. Era o auge da categoria, um ano antes da separação que se provaria extremamente danosa para o automobilismo de monoposto dos Estados Unidos. Correndo pela equipe Walker num carro com o desenho da bandeira brasileira, Christian teve a honra de protagonizar uma disputa sensacional com o seu tio em Long Beach, onde Emerson, 25 anos mais velho, levou vantagem sobre o sobrinho. Na sua única 500 Milhas de Indianápolis, Christian superou vários problemas para conseguir um surpreendente segundo lugar e mesmo com poucos resultados que lhe garantiram apenas a 15º colocação no campeonato, o mais jovem dos Fittipaldi se transferiu na temporada seguinte para a equipe Newman-Hass, uma das mais fortes e tradicionais da CART. Contudo, o time se baseava em Michael Andretti, o primeiro piloto da equipe, mas isso não impediu que Christian conseguisse bons resultados, terminando o certame em 5º lugar. Este seria o melhor ano de Christian na categoria. O início de 1997 começou com boas expectativas para o brasileiro, com a Newman-Hass estreando o novo chassi Swift com uma vitória na primeira etapa em Homestead com Michael Andretti. Na corrida seguinte, em Surfers Paradise, Christian conseguiu largar à frente do seu companheiro de equipe, mas o brasileiro levou um toque de Gil de Ferran ainda na primeira volta, fazendo com que batesse violentamente no muro, de frente, duas vezes. As cenas de Christian Fittipaldi se retorcendo de dor dentro do cockpit foram angustiantes e o resultado não era nada bom: a perna direita fraturada em três locais e uma longa recuperação.

Com mais esse acidente grave, Christian Fittipaldi confessou nunca ter sido o mesmo piloto. A temporada de 1998 foi terrível, com poucos resultados bons, mas ainda assim Christian tinha a confiança do seu time. A relação do brasileiro com o ator e dono de equipe Paul Newman era muito boa e por isso Christian nunca se sentiu ameaçado dentro do time. Em 1999, Christian teve emoções distintas. No oval de Gateway, Christian sofreu outro sério acidente quando quebrou o câmbio durante um treino e desenvolveu dois coágulos no cérebro, ficando de fora de algumas provas. Dois meses depois, o brasileiro conseguia sua primeira vitória na CART em Elkhart Lake, se consolidando como uma das estrelas da categoria. Infelizmente, Christian sofreu dois sérios acidentes no ano 2000, nos ovais de Milwakee (onde seu carro chegou a fazer um furo no muro!) e Chicago durante os treinos, ficando fora de ambas as corridas por ter desmaiado dentro do carro. Era o quarto acidente em três anos, lhe garantindo o apelido de Homem Borracha. Pois mesmo sofrendo acidentes violento, Christian sempre voltava! Contudo, a sensação ruim desta temporada foi diminuída com uma vitória na última corrida do ano em Fontana. Esta seria a segunda e última vitória de Christian Fittipaldi na CART.

Com a saída de Michael Andretti da Newman-Hass após mais de dez anos de idas e vindas na equipe, o jovem Fittipaldi, que já estaria completando 30 anos em 2001, teria uma chance de tomar as rédeas do time e finalmente brigar pelo título. Porém, tudo saiu errado quando Cristiano da Matta chegou na equipe vencendo logo em sua estréia e novamente Christian era um coadjuvante no forte time Newman-Hass. Foi nessa época que surgiu as primeiras oportunidades de correr pela Nascar e seguindo o espírito desbravador da família Fittipaldi, Christian fez algumas corridas pela Bush Series, a categoria de acesso da Nascar ainda em 2001. Quando a Penske se mudou para a IRL em 2002, a CART sofreu o tiro de misericórdia no qual nunca mais iria se recuperar, enquanto Christian se sentia cada vez mais desmotivado na categoria e na equipe, pois se sofria com apenas alguns bons resultados eventuais, seu companheiro de equipe Cristiano da Matta vencia o campeonato de forma avassaladora, conseguindo com isso o passaporte para a F1 no ano seguinte. Seguindo a receita do seu antigo companheiro de boxe, Christian abandona a CART no final de 2002 com 151 corridas e apenas duas vitórias. Em outra mudança radical, Christian vai para a Nascar, desta vez para a categoria principal numa das equipes mais tradicionais da categoria principal, a Petty Entreprises. Contudo, o time de Richard “The King” Petty só tinha a tradição como bom adjetivo e Christian, usando o famoso número 43, não faz uma boa temporada e no final de 2003 sai da Nascar praticamente sem ser percebido. Isso teve uma marca profunda na carreira de Christian Fittipaldi. Casado e morando em Miami, o brasileiro passou a correr apenas por diversão, não participando de campeonatos de forma regular. Sua última grande vitória foi nas 24 Horas de Daytona em 2004 e então correu na Stock Car, A1 GP, Gran-Am, 24 Horas de Le Mans, ALMS e Trofeo Linea. Sempre não conseguindo resultados muito auspiciosos. Completando 40 anos de idade, Christian pôde não ter repetido as glórias de que dele esperavam no começo de sua carreira, mas ninguém duvida de que ele é hoje um piloto bem sucedido.

Parabéns!
Christian Fittipaldi

2 comentários:

Rui Amaral Jr disse...

A foto do Wilsinho ao lado de Christian talvez vc tenha conseguido no Carlos de Paula ou em meu blog, o original está aqui comigo e foi tirada por meu amigo Victor Chiarella.

Cleber Frank Capacete disse...

Olá amigos, acompanhei de perto a carreira do nosso homem borracha (inclusive corridas fora do Brasil em 97, nos Estados Unidos)e posso afirmar: uma piloto coadjuvante, mediano e com alguns raros lampejos! Obrigado por deixar-me opinar nessa ótima matéria! Abs gasolinisticos a todos!