segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Richard


Mesmo tendo um dos rallys mais tradicionais do mundo (Rally do RAC), a Grã Bretanha nunca teve muita tradição em produzir grandes campeões, até aparecer o carismático Colin McRae no início da década de 90. Juntamente com o escocês, apareceu outro piloto britânico que era exatamente o oposto de McRae praticamente na mesma época. Richard Burns era um piloto tão talentoso quanto McRae, mas bem mais discreto e capaz de conseguir resultados mais consistentes, fazendo com que se tornasse o segundo britânico (e primeiro inglês) Campeão Mundial de Rally, vindo a ser uma estrela numa época de ouro do WRC, onde várias lendas corriam ao mesmo tempo na segunda metade da década de 90. Infelizmente, Burns encontrou o seu destino longe das pistas e se estivesse vivo, estaria completando 40 anos no dia de hoje e por isso iremos ver um pouco mais de sua carreira.

Richard Alexander Burns nasceu no dia 17 de janeiro de 1971 em Reading, na Inglaterra. A paixão do pequeno Richard pelos carros começou muito cedo, pois já aos oito anos de idade ele dirigia o carro do seu pai, Alex Burns, em um pequeno terreno próximo a sua casa. Mostrando sua precocidade, aos 13 anos Burns se tornou piloto de um clube inglês próximo a sua cidade, mas o rally só entraria na vida do pequeno piloto dois anos depois, quando seu pai conseguiu que Richard passasse um dia numa escola de pilotagem para rallys, com um Ford Escort. Rapidamente Burns começou a se destacar em pequenos rallys na sua região e isso chamou a atenção de uma pessoa que seria muito importante na carreira do inglês: David Williams. Apaixonado por rally, Williams viu em Burns um talento nato e em 1988 passou a patrociná-lo, o inscrevendo em eventos nacionais. Aos poucos, Richard conseguia destaque nos rallys britânicos, mas a carreira de Burns engrenou de vez em 1990, quando ele participou do Peugeot 205 GTI Rally Cup, conseguindo sucesso quase que instantaneamente. No ano seguinte, Burns vence o campeonato monomarca e conheceria Robert Reid, que seria seu navegador para o resto de sua vida.

Como prêmio pelo título, Richard Burns fez sua estréia no Mundial de Rally participando com o seu Peugeot do Rally do RAC, ficando apenas em 28º lugar. Tentando dar um upgrade em sua carreira, Burns compra por conta própria um Subaru do Grupo N para 1992 e o inglês começa a se sobressair com um carro considerado antiquado frente a adversários melhor equipados. Isso chama a atenção de David Richards, antigo navegador de Ari Vatanen no Mundial de Rally e chefe da Prodrive, equipe que preparava os carros da Subaru no WRC. Burns seria uma espécie de piloto de testes da equipe, enquanto disputava o Campeonato Inglês de Rally ao lado de Alister McRae, irmão mais novo de Colin, já um piloto da Subaru no WRC. Burns vence quatro das cinco etapas do Campeonato Britânico e se torna o mais jovem campeão da história do certame e ainda consegue um bom sétimo lugar no Rally do RAC. Burns era uma jóia a ser lapidada e a Subaru sabia disso, mas a equipe já tinha em seu plantel Colin McRae e Carlos Sainz, duas estrelas do Rally e Richard não teve muito espaço na equipe, participando de provas eventuais do Mundial. Em 1995, consegue seu primeiro pódio com um 3º lugar no Rally britânico, mas pensando em vôos maiores, Burns se transfere para a Mitsubishi em 1996. Contudo, o inglês continuaria como um piloto-suporte, participando de algumas etapas e pensando unicamente em ajudar Makkinen em se tornar Campeão Mundial. No qual o finlandês conseguiria quatro vezes consecutivas.

Burns subia de produção na medida em que ganhava mais experiência e em 1997 consegue outro pódio no difícil Rally do Safári, no Quênia, acabando por terminar o campeonato em 7º. No ano seguinte, Richard faz sua primeira temporada completa no Mundial de Rally, mas ainda era um segundo piloto para Makkinen, contudo isso não impediu Burns de conquistar duas vitórias (Safári e RAC), terminando o campeonato em 6º. Sabendo que se ficasse mais tempo na Mitsubishi acabaria sempre como segundo piloto de Makkinen, Richard Burns sabia que teria que mudar de ares para conseguir realizar o sonho de se tornar Campeão Mundial. Aproveitando a saída de McRae da Subaru rumo a Ford numa transação milionária, Burns se muda para a Subaru em 1999, mas ainda como um mero segundo piloto, atrás do tetracampeão Juha Kankkunen. Em teoria. No início da temporada, a Subaru chegou a pedir a Burns que cedesse sua posição para o finlandês na Argentina, mas os resultados consistentes de Richard fizeram que ele tomasse as rédeas da equipe e brigasse com seu antigo companheiro de equipe, Makkinen, pelo título daquele ano. Com um final de campeonato esplendoroso, com três vitórias (Grécia, Austrália e Grã-Bretanha) e outros três 2º lugares, Burns terminou a temporada em 2º lugar e com a saída de Kankkunen da Subaru no final do ano, Richard se tornava o primeiro piloto da equipe e um dos favoritos ao título do ano seguinte. O começo de temporada 2000 foi ótimo para Burns, com três vitórias e um segundo lugar nas cinco primeiras etapas, mas havia uma sombra cinza para lhe atrapalhar. A Peugeot tinha feito duas temporadas de aprendizado e Marcus Grönholm era um piloto desconhecido até o ano 2000, quando ambos começaram a se destacar e se tornaram os principais rivais de Burns na luta pelo título. O inglês sofre três abandonos consecutivos e com a subida da Mitsubishi de Makkinen e o Ford Focus de McRae, o campeonato se torna espetacular no seu final, com quatro pilotos na luta pelo título. Aquele momento foi a Era de Ouro do WRC. Lendas como Tommi Makkinen, Colin McRae, Carlos Sainz e Marcus Grönholm, fortemente apoiado por grandes montadoras, davam shows mensais nas pistas mais difíceis do mundo. E Richard Burns, com seu Subaru, era uma dessas estrelas.

Mesmo com a terceira vitória consecutiva no Rally do RAC, Burns perdeu o título para Grönholm, ficando novamente em 2º lugar no Campeonato, mas ajudando a Subaru a reaver o título do Mundial de Construtores. O ano de 2001 começa com a mesma expectativa do ano anterior, com uma disputa equilibrada e em alto nível. Porém, o ano não começou bem para Burns, com dois abandonos nas duas primeiras provas. Com dois segundos lugares na Argentina e no Chipre, logo atrás de McRae, Burns dava sinais de recuperação, mas então dois abandonos seguidos fizeram com que as esperanças de título do inglês diminuíssem bastante, inclusive complicando a renovação de contrato de Burns. A Subaru não vencia um título de 1995 com McRae e não se esforça para renovar com Burns, que se recupera com uma bela vitória na Nova Zelândia. Foi o começo da reação! O que ninguém sabia naquele momento, era que essa seria a última vitória de Burns no Mundial de Rally... Com resultados consistentes, Richard chega à Inglaterra, local da última etapa, ainda com chances reais de título, mesmo estando apenas em 3º no Mundial. Os favoritos eram Makkinen e McRae, com o escocês estando numa ótima forma. O finlandês, sofrendo com um Mitsubishi considerado antiquado, tem problemas mecânicos após bater numa pedra e perde a chance de conquistar o quinto título. Essa seria a última vez que Makkinen brigaria seriamente pelo título. Porém, McRae liderava o Rally com facilidade, mas acabaria capotando seu Ford Focus e abandona a competição. Como Carlos Sainz, esse com chances apenas matemáticas, já tinha abandonado, tudo o que Burns precisava era de um segundo lugar. E é o que ele faz! Com cautela, Richard Burns se tornava o primeiro inglês a se tornar Campeão Mundial de Rally!

Mesmo com várias homenagens da Subaru no final do ano, Burns não acerta a renovação do seu contrato e se transfere para a Peugeot em 2002, onde seria o companheiro de equipe de Gronholm. Com os dois últimos campeões nas mãos e tendo o melhor carro, a Peugeot dizimou seus adversários, mas Burns não se aproveitou muito disso. Mais acostumados com carros longos (Mitsubishi Lancer e Subaru Impreza), Burns passou por um longo período de adaptação com o ágil e pequeno Peugeot 206 WRC. O carro era tão bom que Burns, mesmo não estando muito à vontade no pequeno bólido, conseguiu vários pódios. Para 2003, a pontuação havia mudado ficando igual a F1, privilegiando os pilotos mais regulares. Mesmo ainda não estando completamente à vontade com seu carro, Burns lidera a maior parte do campeonato mesmo sem conseguir nenhuma vitória. Na penúltima etapa do ano, na Espanha, Burns abandona e a liderança cai no colo de Petter Solberg, seu substituto na Subaru.

Alguns dias antes do Rally da Grã Bretanha, que decidiria o Mundial e no qual Burns ainda tinha chances, o inglês era uma pessoa tranqüila e com o futuro garantido. Com a FIA proibindo as equipes oficiais de terem mais de dois pilotos, Burns tinha acertado a sua volta para a Subaru em 2004, para correr ao lado de Solberg. Muito querido por toda a comunidade do WRC, Burns dava uma carona a Markko Martin rumo ao local do Rally, num carro de passeio, quando o inglês teve um desmaio repentino. O carro saiu da estrada, mas Martin conseguiu evitar um acidente pior, mas Richard imediatamente foi levado a fazer exames médicos. Como faltavam poucos dias para mais uma tensa final de campeonato, não faltou quem argumentasse que Burns teria amarelado, mas o futuro provaria que teria sido melhor assim. O desmaio foi o início da luta de Richard Burns contra um tumor maligno no cérebro. O mundo do WRC ficou chocado com a notícia e o inglês se retirou imediatamente das corridas para o seu longo e dolorido tratamento com o incrível cartel de 104 rallies, 10 vitórias, 34 pódios, 277 vitórias em estágios, 351 pontos marcados e o título mundial conquistado em 2001. As notícias com relação a saúde de Burns era encorajadoras e em abril de 2005 ele fez uma delicada cirurgia no cérebro. Porém, no final deste mesmo ano o tumor voltou a surgir e após alguns dias de coma, Richard Burns morreu em 25 de novembro de 2005 no hospital de Westminster, em Londres, aos 34 anos. Exatos quatro anos após seu título. Richard Burns deixou um enorme legado de amigos e várias homenagens foram prestadas, inclusive com a fundação da RB Foundation, uma instituição de caridade fundada para inspirar e apoiar pessoas com doenças graves. Uma bela homenagem a uma pessoa que inspirou a tantas outras com sua simpatia!

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