domingo, 2 de janeiro de 2011

Striezel


Ele era loiro, simpático e seus 1,94m não indicava que ele seria um piloto de corridas. Porém, Hans Joachim Stuck, filho de uma lenda do automobilismo alemão, se tornou um grande (literalmente) piloto não apenas de F1, mas principalmente no turismo ao longo de três décadas. Completando 60 anos no alvorecer de 2011, iremos conhecer um pouco a mais a carreira desse alemão carismático e bem-humorado.

Hans Joachim Stuck nasceu no dia primeiro de janeiro de 1951 em Garmisch-Partenkirchen, na Alemanha. Ainda bebê, foi morar na Áustria com seus pais e sua avó lhe apelidou de Striezel, pois ele se parecia com um dos famosos bolos bávaros. O automobilismo entrou muito cedo na vida do pequeno Hans Joachim, pois seu pai e quase xará, Hans Stuck, foi uma lenda do automobilismo alemão e mundial, inclusive sua amizade pessoal com Adolf Hitler ajudando a arquitetar o investimento nazista no automobilismo tedesco na década de 30. Stuck correu com ao lado de pilotos do naipe de Rudolf Caracciola, Bern Rosemeyer e Tazio Nuvolari, mas após a Segunda Guerra Mundial, Stuck passou a se dedicar em corridas de subida de montanha, inclusive ficando conhecido como ‘Rei da Montanha’. Quando Hans-Joachim nasceu, Stuck Sr. já estava na parte final da carreira, mas ainda houve tempo para Stuck pai ensinar Stuck filho a correr, no Inferno Verde de Nürburgring. Isso foi de valia dupla para a carreira de Hans Joachim. Primeiro, ele virou um especialista na perigosa e empolgante pista alemã. Segundo, por causa da inconstância climática na região, Stuck passou a andar maravilhosamente em pistas escorregadias, a ponto de também ser conhecido como Regenmeister (Mestre na Chuva).

A primeira corrida oficial de Hans Joachim foi em maio de 1969, aos 18 anos, com um BMW. Logicamente na pista de Nürburgring. Stuck correu o ano inteiro com o mesmo carro e rapidamente conseguiu destaque no automobilismo alemão, sempre correndo em turismo. No ano seguinte, de forma surpreendente, Stuck venceu a tradicional 24 Horas de Nürburgring com o mesmo BMW e em 1972 ele venceu a não menos tradicional 24 Horas de Spa, desta vez com um Ford Capri. Até então Stuck corria apenas em carros de turismo, mas começava a se destacar pelo seu estilo agressivo e muitas pessoas lotavam as arquibancadas de Nürburgring e Hockenheim apenas para ver Stuck. Mesmo tendo conquistado essa importante vitória com um Ford em 1972, Hans era apoiado fortemente pela BMW e a marca bávara investia forte no Campeonato Europeu de F2. Mesmo muito alto para correr em monopostos, Stuck passou a correr na F2 a partir de 1973, na equipe oficial da March, com motores BMW. Mesmo sem marcar um único ponto na temporada, Stuck conseguiu um lugar na equipe March de F1 para 1974, onde obtém resultados bem melhores. Logo em sua terceira corrida, Hans Joachim marcar seus primeiros pontos na F1 com um 5º lugar na África do Sul. A fase do alemão era muito boa, pois na F2 Stuck, ainda na equipe oficial da March-BMW, termina o campeonato de 1974 em 2º lugar com três vitórias (Barcelona, Hockenheim e Enna-Pergusa). Apesar da ótima temporada, Stuck perdeu seu lugar na F1 e se dedicou ao Campeonato Alemão de Turismo, onde foi campeão com a BMW. Isso forçou a March a recontratá-lo para 1976 e o alemão fez uma temporada de poucos pontos, pois na época, a March investia mais na F2, como provava as vitórias de Stuck quando era convidado a correr nas corridas alemãs.

Na época, a agressividade de Stuck começava a ser confundida com irresponsabilidade e o alemão começava a ficar marcado na F1 como um piloto perigoso, com algumas manobras temerosas. Para piorar, a March contrata Ian Scheckter e Alex Dias Ribeiro para sua equipe de F1 para 1977 e Stuck tem que se conformar com uma equipe particular. No entanto, o destino fez a carreira do alemão dar uma guinada. A Brabham-Alfa Romeo começava a se mostrar uma força graças aos acertos conseguidos por José Carlos Pace, mas bem no momento em que o carro deixava as quebras para trás, o brasileiro acabou morrendo no início de 1977 num acidente aéreo. Com os grandes nomes já empregados e com a temporada em andamento, Bernie Ecclestone traz Hans-Joachim Stuck para o time. No começo, o alemão não é páreo para John Watson, o outro piloto da Brabham, mas aos poucos Stuck consegue melhorar seu desempenho e os resultados melhoraram a ponto do alemão conseguir dois pódios consecutivos (3º na Alemanha e na Áustria). No final da temporada, Stuck lidera o chuvoso Grande Prêmio dos Estados Unidos-Leste depois de largar em 2º, mas acabaria por sofrer um acidente. Hans Joachim termina a temporada de 1977 em alta, mas a Brabham, numa grande sacada de Ecclestone, contrata Niki Lauda por um contrato milionário e Stuck tem que procurar uma equipe para 1978, o que não foi difícil graças a sua boa temporada. Stuck tinha uma proposta da Williams, que construiria seu novo carro com o dinheiro dos árabes, mas o alemão comete o erro estratégico de escolher a tumultuada equipe Shadow, que passava por grandes reformulações e a cisão que faria surgir a Arrows. Mais preocupado em provar na justiça que a Arrows era uma cópia do seu carro, a Shadow não faz uma boa temporada e Stuck só marca pontos com um 5º lugar. Em 1979, Stuck troca a Shadow pela ATS, tão alemã quanto ele, mas o time não constrói um bom carro e Hans Joachim larga a maioria das provas abaixo do 20º lugar. Na última corrida da temporada, no que seria sua despedida da F1, Stuck marca seus únicos pontos do ano e termina sua participação na F1 com 74 corridas, dois pódios e 29 pontos no total. Enquanto isso, a Williams, que Stuck havia desprezado, conseguia suas primeiras vitórias e iniciava sua trajetória para se tornar uma equipe vencedora...

Após sua aventura nos monopostos, Stuck retorna as origens e volta a correr de turismo, com um BMW no Campeonato Mundial de Turismo e posteriormente para o Mundial de Esporte-Protótipo. O alemão consegue vitórias eventuais em equipes particulares, mas em 1985 ele se transfere para a famosa equipe Rothmans Porsche, com o espetacular modelo 962. Ao lado de Derek Bell, ele vence em Hockenheim, Mosport Park e Brands Hatch, terminando no pódio várias vezez e garantiria o título da temporada. Ele manteria título no ano seguinte, depois de vencer em Monza e, mais importante, triunfar nas 24 Horas de Le Mans. No ano seguinte ele se juntou a Joest Racing e não consegue o tricampeonato, mas vence novamente no circuito de Sarthe. Em 1989, ele competiu na IMSA e na temporada seguinte ele retorna a Europa para disputar o DTM pela equipe oficial da Audi, com o modelo Quattro SMS. Após sete vitórias em 22 provas, Stuck se sagra campeão do DTM em sua reestréia. Em 1995 ele termina o Campeonato do DTM em 4º na equipe Opel Rosberg e então decide se aposentar como piloto, participando de corridas eventuais, principalmente em Le Mans, onde jamais voltaria a vencer. Em 2004, ele venceu as 24 Horas de Nurburgring, 35 anos após seu primeiro sucesso e no ano seguinte participou do mal-fadado GP Masters. Morando na Áustria, Stuck foi durante muitos anos comentarista da F1, onde destilou o mesmo bom humor que o fez ser um dos pilotos mais carismáticos e queridos do automobilismo mundial. Desde 2008, Stuck é presidente da Volkswagen Motorsport e pode ser o homem por trás da ida da montadora da F1 num futuro próximo. Assim como seu pai fez quase setenta anos atrás.

Parabéns!
Hans Joachim Stuck

Um comentário:

Paulo Gouvêa Jr. disse...

brilhante e preciso texto! muito bom! as fotos do DRM valem o destaque. bom 2011 para ti! abs