terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Johnny


É raro no esporte a motor ver um piloto conseguir sucesso tanto em duas como em quatro rodas. Até a década de 1960 a troca do motociclismo pelo automobilismo era mais comum, mas depois disso a especialização tornou a transição cada vez mais difícil e complicada de acontecer. Pois Johnny Cecotto não se importou com as dificuldades para se destacar tanto em duas como em quatro rodas, conquistando vários títulos ao longo de sua vasta carreira. Surgindo como um furacão no motociclismo, esse venezuelano sofreu com vários acidentes e sérias contusões, que o fez trocar pelo automobilismo, onde também sofreu com um sério contratempo que o fez trocar o monoposto pelo turismo, onde conseguiu enorme sucesso na década de 1990. Completando 55 anos no dia de hoje, vamos ver um pouco da carreira desse piloto fiel a Yamaha e a BMW.

Alberto Cecotto nasceu no dia 25 de janeiro de 1956 em Caracas, na Venezuela. A velocidade sempre esteve presente na vida de Johnny, seu apelido de infância que o acompanharia por toda a carreira. Filho do italiano Giovanni Cecotto, campeão europeu de motociclismo e radicado na Venezuela, Cecotto sempre esteve envolvidos com máquinas de velocidade, seja carros ou motos. Por sinal, sua predileção era pelas quatro rodas, mas como na Venezuela não se podia correr de automóveis aos 16 anos, Johnny resolveu seguir a carreira de seu pai, que comprou para ele uma Honda CB750 de competição. Sua primeira corrida foi em abril de 1972 no circuito venezuelano de Barquimesimeto, onde Cecotto abandona quando estava em 3º. Dois meses depois, numa prova em Maracaibo, o jovem de 16 anos vinha liderando a corrida quando abandona na última volta, mas seu desempenho chama a atenção de um importador de Caracas, que o entrega uma novíssima Kawasaki 750H2 para competir no Campeonato Venezuelano. Apesar de poucos resultados, Cecotto demonstrava um talento de saltar os olhos e não demorou que Andrea Ippolito, representante da Yamaha na Venezuela, se interessasse por Johnny e o contratasse para correr por sua equipe, a Venemotos, em 1973. Seria o início de uma longa relação entre Cecotto e a Yamaha.

Com uma Yamaha 350cc, Johnny Cecotto começava a despontar como uma jovem promessa do motociclismo latino-americano. Após conquistar sua primeira vitória na carreira em abril de 1973, o venezuelano faz sua primeira prova internacional no mês seguinte em Interlagos, numa prova de longa duração pelo seletivo circuito paulista. Em dupla com Ferruccio Dalle Fusine, Cecotto se recupera de um acidente nos treinos que o fez largar em último para terminar em 3º! Johnny rapidamente se torna conhecido em toda a América Latina, conquistando uma incrível marca de 64 vitórias entre os anos de 1973 e 1974, conquistando o bicampeonato venezuelano e o título latino americano de 1974. No final de 1973, Cecotto resolve trocar seu capacete inteiramente branco por um casco com faixas vermelhas em homenagem a Jarno Saarinen, morto em maio de 1973. Ele correria com esse desenho durante toda a carreira. Vendo o sucesso do seu pupilo, Ippolito resolve levá-lo para algumas experiências internacionais ainda em 1974. Nas famosas 200 Milhas de Daytona, Cecotto consegue uma posição intermediária na geral, mas consegue a 2º colocação na categoria 350cc. Porém é na Europa que o venezuelano se destaca. Em Ímola, feudo do multi-campeão Giacomo Agostini, Cecotto liderava a corrida de 200 Milhas até faltaram cinco voltas, quando uma quebra mecânica acabou com a corrida do venezuelano. Isso foi o bastante para convencer Ippolito a apoiar Johnny Cecotto em uma carreira internacional a partir de 1975. O venezuelano compra duas motos Yamaha de 250 e 350cc para Cecotto estrear no Mundial de Motovelocidade pela equipe Venemotos. Antes de viajar a Europa, Cecotto faz duas corridas inesquecíveis, que seria uma espécie de cartão de visita pelo o que vinha pela frente naquela temporada. Primeiro ele voltou a Daytona e com sua equipe particular, chegou em 3º lugar na geral, à frente inclusive de Agostini. Depois a Venemotos veio ao Brasil participar da tradicional Taça Centauro, em Interlagos. Cecotto, aos 19 anos, já a estrela principal da corrida e após uma péssima largada que o deixou em último, o jovem venezuelano partiu para cima dos adversários e venceu a prova com extrema facilidade, batendo o recorde de Interlagos.

Quando foi para a Europa pela segunda vez, desta vez para estrear no Mundial de Motovelocidade, Johnny Cecotto era um jovem desconhecido numa equipe particular da Yamaha. Trazendo para os dias de hoje, daria para imaginar um piloto sair da América Latina e em seu primeiro final de semana na Europa vencer as duas corridas da GP2? Pois foi exatamente isso que Cecotto fez, vencendo em Paul Ricard nas 250cc e nas 350cc, causando um verdadeiro vendaval no paddock do Mundial de Motociclismo. Quem era esse venezuelano? Foi sorte? Cecotto demonstraria que não. Ao longo da temporada, Johnny venceria outras três provas nas 350cc (Alemanha, Itália e Finlândia) e mais uma nas 250cc (Bélgica), se sagrando campeão das 350 aos 19 anos, derrotando ninguém menos do que Agostini. E Cecotto só não repetiu a dose nas 250 por problemas mecânicos que o fizeram abandonar várias corridas quando liderava. O venezuelano chama tanta atenção, que a Yamaha o escala para participar do novo campeonato de 750cc, mas Cecotto acaba quebrando o pé em Assen, porém o venezuelano estava pronto para o seu primeiro desafio de 1976: as 200 Milhas de Daytona. Ao contrário das suas duas primeiras aparições nos Estados Unidos, Cecotto teria todo o apoio da Yamaha, mas o venezuelano teve que suar sangue para derrotar Kenny Roberts. Considerado uma estrela mundial, Cecotto iniciou a temporada do Mundial de Motovelocidade como favorito tanto na 350cc, como também nas 500cc, onde estrearia, mas uma série de quedas fez com que Johnny perdesse o título das 350cc para o italiano Walter Villa e fizesse uma temporada apenas regular nas 500cc. Apesar disso, a Yamaha ainda via em Johnny Cecotto um piloto de futuro e o contrata para correr pela equipe de fábrica em 1977 ao lado do americano Steve Baker nas 500cc. Seu objetivo era claro: derrotar a Sukuki do inglês Barry Sheene, seu melhor amigo. O início de ano é promissor e na estréia do Grande Prêmio da Venezuela, Johnny Cecotto vence na provas das 350cc (ainda correndo pela Venemotos na categoria intermediária) e termina em 4º nas 500cc. Porém, na etapa seguinte em Salzburgring, na Áustria, Cecotto sofre seu primeiro grande acidente. Na prova das 350cc, Cecotto se envolve num múltiplo acidente onde tem seu braço esquerdo quebrado em vários lugares e, pior, teve a morte do piloto Hans Stadelmann. Johnny passa a maior parte da temporada de molho, mas ainda retorna no final da temporada para conseguir duas vitórias nas 500cc, lhe garantindo o 4º lugar no campeonato. Para 1978, Cecotto é obrigado a correr apenas nas 500cc e 750cc pela Yamaha e teria agora como companheiro de equipe Kenny Roberts, que se destacava nos Estados Unidos há vários anos. Logo na estréia, na Venezuela, Cecotto sofre com o azar quando abandona enquanto liderava e Roberts se mostrava um piloto extremamente forte, capaz de fazer o que Cecotto ainda não tinha feito: enfrentar e derrotar Barry Sheene. O americano realiza uma temporada extraordinária e conquista o campeonato das 500cc logo em sua primeira temporada, enquanto Johnny tem que se conformar com a 3º posição e apenas uma vitória em Assen. Porém, no campeonato das 750cc, Cecotto derrota Roberts na última prova em Mosport Park.

A Yamaha agora tinha dois pilotos ponta (Cecotto e Roberts) para enfrentar a Suzuki de Sheene, mas o destino quis que o campeonato de 1979 fosse disputado apenas entre Roberts e o inglês. Na segunda etapa do campeonato, novamente em Salzburgring, Cecotto sofre uma queda e é atropelado por Gianni Rolando, destruindo sua rótula esquerda. Mais uma vez as chances de título de Cecotto acabam ainda no começo do campeonato, na Áustria, mas o pior ainda estava por vir. A Yamaha não renova com Johnny para 1980 e o venezuelano passa a sentir fortes dores no joelho esquerdo, fazendo com que tivesse sérias dificuldades em pilotar. Ainda com uma Yamaha, mas sem apoio direto da fábrica, Johnny Cecotto consegue resultados apenas regulares nos Mundiais das 350cc e 500cc e sua motivação vai diminuindo na medida em que as dores aumentam. Lembrando do seu amor pelos carros quando era adolescente, Cecotto faz suas primeiras corridas de automóvel ainda em 1980, no Campeonato Europeu de F2. Correndo com um March-BMW, o venezuelano não faz feio e aos 24 anos decide trocar as duas pelas quatro rodas. Em apenas seis temporadas, Johnny Cecotto tinha deixado uma marca indelével no Mundial de Motociclismo e em 48 corridas, conquistara 14 vitórias, 26 pódios, 22 poles e os títulos das 350cc em 1975 e das 750cc em 1978.

Agora concentrado unicamente no automobilismo, Johnny Cecotto disputa o Campeonato Europeu de F2 pela equipe Minardi em 1981, um time considerado médio da categoria e que utilizava motores BMW. Seria o início de uma relação que duraria, entre idas e vindas, 15 anos entre Cecotto e a marca bávara. Johnny seria o segundo piloto da equipe, circundando Michele Alboreto e por isso os resultados não são satisfatórios, fazendo o venezuelano mudar de equipe na metade da temporada, conseguindo bons resultados nas corridas finais. Isso chamou a atenção da equipe oficial da March, que o contratou para a temporada de 1982 ao lado de Corrado Fabi e Christian Danner. Cecotto faz uma temporada maravilhosa, conseguindo três vitórias (Thruxton, Pau e Mantorp Park) e brigando pelo título com o companheiro de equipe Fabi até o final, perdendo o campeonato por apenas um ponto. Isso em sua segunda temporada completa no automobilismo! A precocidade de Johnny Cecotto o faz estrear na F1 em 1983 pela equipe Theodore ao lado de outro piloto sul-americano, Roberto Guerrero. O início é promissor e Johnny consegue marcar seu primeiro ponto na F1 logo em sua segunda corrida, em Long Beach. Porém, isso acabaria por se provar fogo de palha. A Theodore tinha sérios problemas financeiros e os resultados só piorariam ao longo do ano, culminando com a não participação de Cecotto nas duas corridas finais daquela temporada. Mesmo com a decepção, Cecotto acha uma vaga como segundo piloto da promissora equipe Toleman, ao lado do estreante Ayrton Senna. O brasileiro tinha sido como Cecotto dez anos antes no motociclismo, assombrando a todos com seu talento nas categorias de base e sua estréia na F1 seria muito observada por todos. Isso fez com que a Toleman se concentrasse mais em Senna, deixando Cecotto de lado, mas outro acidente acabaria abreviando a carreira de Johnny na F1. Durante os treinos para o Grande Prêmio da Inglaterra de 1984, Cecotto perde o controle do seu Toleman e bate de frente no guard-rail em Donington-Park. O venezuelano fica preso dentro do carro e vários minutos se passam para que ele fosse retirado, com sérias lesões nas duas pernas. Cecotto, que morava na Alemanha, foi operado as pressas e felizmente não perdeu suas pernas, mas ele nunca mais correria de F1, onde realizou apenas 18 corridas e marcou um único ponto na Califórnia.

Ainda jovem, mas com algumas limitações físicas pelos seus acidentes, Johnny Cecotto resolve se dedicar ao turismo, onde consegue muito sucesso nos anos seguintes. Após retornar ao automobilismo no Campeonato Europeu de Turismo com uma BMW em 1985, Cecotto é contratado pela Volvo no mesmo campeonato e era um dos líderes do certame de 1986 quando acabou desclassificado de algumas provas por que a fábrica sueca tinha usado combustível ilegal. Em 1987 Johnny volta a BMW e disputa o campeonato mundial de turismo (que tinha corridas de média e longa duração) com Gianfranco Brancatelli, conquistando uma vitória marcante nos 1000 Km do Monte Panorama. Em 1988 Cecotto se transfere para o DTM, mas é contratado a peso de ouro pela Mercedes, onde fica apenas um ano, retornando a BMW na temporada seguinte. Juntamente com o DTM, Cecotto também participou do Campeonato Italiano de Turismo pela BMW e com sete vitórias ele foi campeão, garantindo seu primeiro título no automobilismo. Mais concentrado no DTM em 1990, Johnny disputa o título ponto a ponto com a o piloto da Audi Hans-Joachim Stuck, mas na última corrida do ano, em Hockenheim, Cecotto tem sua prova (e o campeonato) prejudicada ao levar um toque na primeira volta de um piloto convidado da Mercedes. Um tal de Michael Schumacher... Em 1994, Johnny Cecotto volta ao Brasil para participar das Mil Milhas de Brasília com uma BMW M3 com Nelson Piquet e Ingo Hoffmann, terminando em 4º. Ao lado do tricampeão mundial de F1, Cecotto participaria das 24h de Le Mans em 1996 com um McLaren F1 GTR e vence duas provas no Brasil, em Brasília e Curitiba. Com o fim do DTM (ou ITC), surge na Europa os Campeonatos de Superturismo, com carros sedã de quatro portas e motor 2l. Eram carros belíssimos e campeonatos nacionais de altíssimo nível, com destaque para o Alemão, Italiano e Inglês. A BMW prepara o modelo 320i para Johnny Cecotto e Joachim Winkelhock disputarem o certame alemão e seu maior rival em 1997 seria o Peugeot 406 do suíço Laurent Aiello. Num campeonato espetacular, Aiello supera as BMWs, mas em 1998 Cecotto derrota Aiello com a ajuda providencial do seu companheiro de equipe e se torna Campeão Alemão de Superturismo. Aquele seria seu último grande campeonato. A volta do DTM enfraqueceu os Campeonatos nacionais de Superturismo e com a BMW passando a se dedicar ao programa de F1, Cecotto passou a fazer parte de um campeonato menor na Alemanha, o V8 Stars, onde foi campeão em 2001. Desde então Johnny Cecotto passou a fazer apenas corridas esporádicas e apoiar a carreira do seu filho, Johnny Cecotto Jr, no automobilismo europeu. Até agora sem sucesso. De piloto agressivo e vibrante no motociclismo a um piloto cerebral no automobilismo, Johnny conseguiu enorme sucesso em ambas as modalidades e se tornou uma lenda do esporte a motor.

Parabéns!
Johnny Cecotto

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