domingo, 6 de abril de 2014

Sem reclamações

Luca di Montezemolo, Christian Horner e Bernie Ecclestone já estavam reclamando. 'A F1 atual está chata!' Porém, quem está vencendo não tem do que reclamar e hoje, na notória pista sem emoções de Sakhir, a F1 proporcionou uma das melhores corridas dos últimos tempos com brigas por todas as posições e (pasmem!) companheiros de equipe brigando fortemente por posições, inclusive pela primeira, com Lewis Hamilton se saindo melhor do que Nico Rosberg e conseguindo uma vitória importante para sua luta pelo bicampeonato, enquanto Nico, melhor calçado nas últimas voltas, não conseguiu ultrapassar Lewis e vê sua liderança no campeonato sendo achatada pelo bom momento de Hamilton. Surpreendentemente o terceiro colocado foi Sergio Pérez, se recuperando de um início de campeonato terrível para dar o primeiro pódio da vida da Force India.

A corrida foi emocionante e cheia de histórias para contar. Primeiro, Hamilton deu um 'chega pra lá' em Rosberg ainda na primeira volta e conquistar a liderança da prova, mas sempre com o Nico por perto, algumas vezes chegando a brigar mais forte pela ponta da corrida. Lewis estava num dia inspirado e como num script, soube rechaçar os ataques de Rosberg utilizando praticamente as mesmas armas. Primeiro, Hamilton contornava a primeira curva com a tangência normal, enquanto Nico Rosberg freava mais forte por dentro e com isso deslizava e dava espaço para Hamilton dar o xis na chicane. Depois, entre as curvas três e quatro, Nico Rosberg forçava novamente, mas desta vez Hamilton ficava por dentro e dava um 'chega pra lá' no companheiro de equipe na saída da curva. Isso aconteceu algumas vezes na prova, com Hamilton se sobressaindo demonstrando a sua força de vontade em derrotar o amigo e companheiro de equipe. Porém, a Mercedes não estava muito animada em arriscar e quando o safety-car estava para sair da pista pelo bizarro acidente proporcionado por Maldonado, Paddy Lowe fez questão de se identificar e dizer aos pilotos para 'trazerem as crianças para casa'. Nico Rosberg deu o 'ok', mesmo tendo pneus macios, 1,5s mais rápido do que os pneus duros que Hamilton utilizava e... foi para cima. Fazia tempo que uma briga entre dois companheiros de equipe foi tão emocionante e próxima pela vitória, mas isso só acontece devido a enorme diferença entre a Mercedes e o resto. Em pouco mais de dez voltas, quando o safety-car foi embora, o duo da Mercedes abriu mastodônticos 24s sobre o surpreendente terceiro colocado.

A fase da Force India é muito boa e era questão de tempo para o time hindu conseguir seu primeiro pódio na F1, mas era esperado que o piloto a conseguir essa proeza fosse Nico Hülkenberg, que continuava a fazer suas boas atuações de 2013 nessa temporada. Contudo Sergio Pérez, que estava totalmente eclipsado por Nico, largou na frente do alemão hoje e fez uma corrida sensacional, com direito a ultrapassagem na base do oportunismo em cima de Hulkenberg, e conseguiu um excelente terceiro lugar para a sua equipe e também para o próprio mexicano. Saído praticamente corrido da McLaren no ano passado, Pérez necessitava de um resultado como esse para conseguir prova que pode, sim, se tornar um piloto de ponta. Só falta Pérez provar que corridas como a de hoje virem regra, não exceção. Já Nico Hulkenberg teve que se conformar com o quinto lugar, ultrapassado no final por Ricciardo e tendo que segurar Vettel nas voltas finais. Quando não conseguiu ultrapassar Bottas e ser jantado por Pérez logo em seguida praticamente definiu a situação de Hulkenberg, que permanece na expectativa de conseguir também seu primeiro pódio. Grande beneficiária da entrada do safety-car, a Red Bull maximizou a estratégia de duas paradas para conseguir posições melhores do que estava com a corrida ocorrendo normalmente, mas da mesma maneira da Force India, o seu piloto melhor classificado foi o surpreendente Daniel Ricciardo, que saiu da 13º posição no grid para quarto na bandeirada, inclusive ultrapassando duas vezes Vettel (uma a pedido da equipe no começo da prova e outra na marra!). Quando foi para a Red Bull, todos esperavam por um comportamento subalterno de Daniel frente a Vettel, mas o que estamos vendo é um piloto combativo e sem medo de enfrentar o tetracampeão, que conseguiu um sexto lugar sofrido, com problemas no assoalho do seu carro e reclamando dos seus pneus e da potência do seu motor.

Com a confusão na Malásia, uma das equipes mais focadas na corrida foi a Williams. Como seria o comportamento dos seus dois pilotos uma semana após o desastrado pedido da Williams para que Massa cedesse sua posição para Bottas? Se depender apenas da largada, Felipe reagiu otimamente com uma das melhores largadas já vistas, com o paulista saindo de sétimo para terceiro com uma facilidade incrível, pois Felipe em nenhum momento fez manobras bruscas, simplesmente desviando de Raikkonen e em linha reta frear na primeira curva em terceiro. Porém, o apetite de Felipe pelos pneus fez com que a Williams preferisse uma estratégia de três paradas, enquanto a Force India, principal rival da Williams pelo lugar restante do pódio fez duas paradas com seus dois pilotos. Nos dois stints intermediários, Bottas se deu melhor do que Massa nas paradas e ficou à frente do brasileiro, com Felipe atacando o companheiro de equipe. Para mudar essa situação, Massa antecipou sua terceira parada e com isso tomou a posição de Bottas, mas a entrada do safety-car estragou a corrida da Williams e do pódio, o time brigou pelas últimas posições pontuáveis, com Massa ficando em sétimo e Bottas em oitavo, mas foi claro que a Williams tem totais condições para brigar pelo pódio. Algo que a Ferrari parece bem distante. As caras e bocas de Montezemolo no começo da corrida e o braço levantado por Alonso após a bandeirada em nono lugar pode significar uma crise se avizinhando no reino de Maranello. A cruzada de Montezemolo contra a nova F1 tem muito haver com os problemas da Ferrari, que hoje está claramente com o pior motor da F1, pois foi nítido as dificuldades de Alonso ultrapassar carros mais lentos na reta. Raikkonen foi atacado e ultrapassado de todos os jeitos e maneiras, mas ainda conseguiu salvar um pontinho, mas o finlandês pode se desmotivar com esse estado de coisas na Ferrari.

A McLaren andou forte com Button, mas quando foi dada a relargada o inglês foi perdendo posições até abandonar sua 250º corrida na F1 nas voltas finais, se juntando a Magnussen, que havia abandonado quase que anonimamente um pouco antes. Com os demais carros equipados com motores Mercedes lá na frente, Ron Dennis terá que trabalhar dobrado se quiser fazer com que a McLaren não tenha outra temporada medíocre. Daniil Kvyat fez outra corrida consistente e se não marcou pontos hoje, ficou em 11º e bastante próximo de Raikkonen, demonstrando que o russo não é apenas mais um pay-driver, enquanto que para Jean-Eric Vergne, conhecendo a pouca paciência da Red Bull com seus jovens pilotos, deve começar a se preocupar com a falta de resultados e de estar sempre tomando tempo de Kvyat. A Sauber fez uma corrida para esquecer com seus dois pilotos abandonando, mas Gutierrez foi vítima da barbeiragem mais perigosa dos últimos tempos. Tem quem goste de Pastor Maldonado e eu não estou entre eles. De estilo espetacular, Maldonado deve ter bebido da mesma fonte de Montoya, que chegou chegando na F1 há treze anos atrás, mas se Montoya tinha talento, isso falta a Maldonado, que parece ser um piloto mimado e cercado por pessoas que devem dizer 'você está certo, eles querem derrubar o chavismo. Vai Pastor!' E Pastor vai... fazendo merda em cima de merda. Hoje provocou uma espetacular capotagem de Gutierrez quando... saía dos boxes! A punição de 10s parados nos boxes foi pouca para Maldonado, que só está na F1 pela crise financeira da categoria. 

A corrida de número 900 foi espetacular e fez juízo a uma corrida histórica. Hamilton também mostrou com uma pilotagem sensacional nas últimas voltas que tem cacife para se juntar a Moss, Peterson, Lauda e Piquet (nomes de vitoriosos em corridas centenárias) como um digno piloto a vencer uma prova especial como a de hoje. Vale salientar que o campeonato será decidido basicamente dentro dos boxes da Mercedes, que hoje demonstrou que não está muito propícia a dar ordens de equipe a seus pilotos, que brigaram livremente numa prova espetacular e que não deu margem a nenhuma reclamação. 

2 comentários:

El Luso disse...

A Force India já tem um podium, com Fisichella em 2009 no Grande Premio da Belgica em Spa-Francochamp. Segundo lugar, antes do Fisichella se mudar e eclipsar na Ferrari!

João Carlos Viana disse...

É verdade!
Me confundi com a Spyker, antigo nome da Force India...
Obrigado pela correção!