quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Acabou!


Me lembro de ter ido ao autódromo do Eusébio no Dia dos Pais de 2001, para assitir a segunda corrida na carreira de Nelsinho Piquet no automobilismo, na F3 Sulamericana. Logo de cara, notei algumas diferenças. Cada piloto tinha uma mocinha segurando um guarda-sol no grid. Nelsinho tinha três. No notório calor cearense, todos os pilotos, dentro dos seus carros, tiravam o capacete ou ficavam a viseira aberta. Nelsinho era o único com o capacete colocado e a viseira fechada. E lá foi Nelsinho para cima de Thiago Medeiros e Juliano Moro, conseguindo ultrapassar o primeiro e terminar a corrida colado em Moro, chegando em segundo. Ele tinha acabado de completar 16 anos e surgia como maior esperança do automobilismo brasileiro. Campeão de forma polêmica da F3 Sulamericana, de forma incostestável na F3 Inglesa e vice na GP2, perdendo (para não dizer apanhando...) de Lewis Hamilton, Nelsinho chegou à F1 com muita banca, mas uma pergunta ficava na minha cabeça. Numa equipe diferente da do pai, como seria o comportamento de Nelsinho? A resposta vem numa temporada terrível dentro das pistas e atribulada fora dela. Sempre às turras com seu patrão e empresário Flávio Briatore, Nelsinho não mostrou 10% do que esperavam dele e o resultado foi uma demissão para lá de esperada do filho d tricampeão. O que ninguém esperava era sua confissão, onde demorou oito parágrafos para começar a delação, de que havia batido de forma proposital no GP da Cingapura do ano passado, para auxiliar Fernando Alonso a vencer a corrida em questão, a mando de Briatore e Pat Simmons, chefe técnico da equipe.

A F1 sempre teve maracutaias e acho engraçado as pessoas acusarem Michael Schumacher ter vencido o título de 1994 com um carro irregular. Se levarmos em conta a história completa da F1, dificilmente veremos um campeonato 100% limpo e isso é notório em todas as competições automobilísticas. Estudei com um piloto que andava na Copa Corsa regional e ele me falou que perdeu rendimento entre os treinos e a corridas, causado por alguém ter danificado os radiadores de alguns carros de forma proposital. Reação dele? Isso faz parte, como que dizendo "Eu também poderia faria isso". Claro que Briatore não é flor que se cheire e não me surpreenderia isso acontecer, mas Nelsinho fazer pose de vítima após compactuar com tamanha marmelada é chamar os outros de imbecil. Claro que, confirmado a denúncia, todos serão punidos, inclusive Nelsinho. Ninguém gosta de 'entregadores' e Nelsinho ficará com essa marca pelo resto da vida. Briatore errou ao fazer isso? E muito, mas Piquet Jr foi tão sujo quanto o italiano. E se sujou mais ainda com todo o mundo da F1, que dificilmente o quererá por perto daqui para frente.

Para quem ama a F1 e precisa disso para viver, é bem melhor calar do que colocar a boca no trombone. Se sabemos o que Barrichello passou dentro da Ferrari, imagine o que não sabemos! Nelsinho não precisa da F1 para viver e parece não amar a categoria. No mínimo, irá ficar ao lado do pai gerenciando os negócios da família Piquet. Desiludido com a F1? Nelsão já aguentava uma barra pesada na sua época e estava claro que a barra pesou ainda mais nos vinte anos seguintes. E os Nelsons sabiam disso! Nelsinho Piquet não é um piloto diferente na F1, mas é uma pessoa diferente. É apenas um menino rico que se viu num ambiente hostil e longe do seu habitat, onde faz o que quer. Dentro da Renault de Briatore, teve que viver sobre as ordens de um homem difícil e sem escrúpulos, mas, não podemos negar a verdade, um vencedor. O italiano pode ter acabado para a F1, assim como a passagem da Renault na categoria. Mas Nelsinho também foi no mesmo buraco.

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