segunda-feira, 14 de julho de 2014

Copa das Copas

Em janeiro próximo completarão vinte anos desde que assinamos pela primeira vez aqui em casa com uma fornecedora de TV a cabo. Desde então, o leque de opções para assistir TV aumentou consideravelmente, particularmente para quem gosta de esporte como eu, desde criancinha. Me lembro que do automobilismo, conheci Nascar, FIA GT, Mundial de Superbike e os inesquecíveis campeonatos de Superturismo, principalmente o alemão e o italiano. Na TV aberta já era tradicional a transmissão do Campeonato Italiano de futebol, mas desde que SporTV e ESPN entraram em minha vida, passei a ver Campeonato Inglês, Francês, Holandês e por aí vai. E foi justamente em 1995 que os clubes passaram a se tornar cada vez mais globalizados, com jogadores de todo o globo fazendo parte de equipes como Real Madri, Barcelona e Manchester United. Se eu quisesse ver os melhores jogadores do mundo, bastava assistir um joguinho do Campeonato Espanhol ou da Champions League, como passou ser chamada a Copa dos Campeões da Europa.

Ver craques internacionais era possível apenas pela TV. Quando eu poderia ver um Roberto Baggio, Ronaldo, Hristo Stoichkov ou George Weah in loco? Nunca! Porém, de 2007 para cá esse sonho poderia se tornar realidade, quando foi anunciado que a Copa seria no Brasil. Pô, o Castelão não poderia faltar. E não faltou. O sorteio dos grupos foi amplamente favorável para cá. Na primeira fase teria Uruguai e Alemanha. E ainda haveria dois jogos eliminatórios, o que significava dois jogões à vista. Ano passado já tinha visto Itália e Espanha, com a maioria dos seus craques em ação, mas me pareceu como um amistoso de luxo. Na Copa seria diferente, os craques que só via pela TV dariam o sangue para vencer. E realmente foi assim.

Fui a quatro jogos. O primeiro a gente nunca esquece e a experiência de ver um jogo de Copa do Mundo já valeu o caro ingresso que paguei. A torcida uruguaia é linda, os caras não param de cantar um minuto e dá para ver que os 'hinchas' vão, semana sim, semana não, ao Estádio Centenário em Montevidéu, ao contrário de boa parte da torcida brasileira que foi ao Castelão e a outros estádios torcer para o Brasil. O Uruguai perdeu para a inofensiva, em teoria, Costa Rica. Passei ao lado da musa do país caribenho e mesmo não tirando foto, o que me arrependo amargamente, pelo menos ela me mandou beijinhos.

O segundo jogo foi o da Alemanha e sua torcida bem mais fria e com poucos cânticos, assim como a criticada torcida brasileira. Porém, o que importava era dentro de campo. A constelação germânica não deu o show esperado, principalmente pela força de vontade dos ganeses, mas o segundo tempo daquele jogo foi inesquecível e de altíssimo nível. Porém, pela primeira vez num estádio, e vou a estádios há treze anos, vi uma confusão pertinho de mim. A primeira fase colocou a Holanda no roteiro de Fortaleza e todo dia olhava pela janela de minha casa por volta de uma hora da tarde e sentia pena do Robben ter que correr naquele horário ingrato para se jogar bola.

Dois dias antes do jogo Holanda e México, tive minha experiência mais legal nessa Copa. A Holanda veio treinar no PV, que fica à quarteirões daqui de casa e fui ver. Minha expectativa era ver alguns dos craques holandeses pela janela do ônibus da delegação, mas o destino mudou tudo quando um carinha veio falar comigo desesperado, pois alguns jornalistas holandeses queriam filmar o treino secreto dos laranjas. Como eu falava inglês e conhecia os arredores, me tornei um espião do 'De Telegraaf' e após algumas negociações nos edifícios vizinhos, conseguimos filmar parte do treino e no dia seguinte, tanto no jornal como no site, as fotos e os vídeos do qual participei estavam publicados. Uma história para ser contada para os filhos. No dia do jogo, sabia toda a equipe titular da Holanda, que venceu o México no último minuto. Pena que mais uma vez houve confusão com um mexicano que aparentava estar drogado e desta vez sobrou até cerveja na minha camisa do Bayern.

Muita gente me perguntou o porquê de não ter comprado ingresso para o jogo do Brasil na primeira fase. Não sei o motivo, não estava com muito tesão de ver a seleção brasileira, mas sabia da real possibilidade de vê-los jogar num jogo de quartas de final. E assim foi. A torcida cearense, tão criticada no jogo contra o México, desta vez não deixou a torcida colombiana se encher e o Brasil venceu e perdeu ao mesmo tempo, pois se ganhou a partida, perdeu o Neymar num lance em que eu não dei muita importância à primeira vista, mas quando Neymar foi para os vestiários, senti que poderia ser grave.

E assim acabou minha experiência nessa Copa das Copas. O Brasil passou pelo vexame histórico do qual já falei semana passada. Tomara que o legado para o nosso futebol seja uma mudança radical na maneira de como ele é gerido pelos nossos dirigentes, apesar de que a mudança necessária dificilmente ocorra. Felipão, do qual sou fã, foi extremamente infeliz em suas declarações, cheio de empáfia e arrogância. Acabou caindo, levando consigo Murtosa e o arcaico Parreira. A Copa do Mundo do Brasil foi a melhor que acompanhei. Cheio de gols, jogos emocionantes e histórias que entrarão para a posteridade. Claro que essa Copa custou caro, literalmente. Apesar de muita informação errada e interpretações equivocadas, a Copa foi ganha dentro de campo, mas a organização e planejamento deixaram muito a desejar. Não devemos esquecer isso.

Tive o prazer e sempre irei contar vantagem de ter visto o Campeão Mundial de 2014 dentro do estádio. A organização germânica dentro de campo era impressionante, da mesma maneira da desorganização brasileira, mesmo com a vitória. Tive um contato inédito com vários estrangeiros, conversando animadamente com uruguaios, costarriquenhos, americanos, alemães, mexicanos e holandeses, onde até banquei o espião. Vi Robben partir para cima dos zagueiros com a bola colada em seu pé esquerdo. Vi arrancadas incríveis de James Rodríguez. Vi a elegância de Cavani. Vi a garra dos ganeses contra a força dos futuros campeões desta Copa. Vi Navas voar. Via Neuer ser o melhor goleiro do mundo com um senso de colocação impressionante. Vi Hummels desarmar um ganês com o calcanhar. Vi Thiago Silva liderar a desorganizada defesa brasileira. Vi a frieza de Huntelaar em bater um pênalti no último minuto. Vi Van Persie colocar a bola onde quis no aquecimento do jogo. Vi Götze, Özil, Khedira e Scheweinsteiger tabelaram. Vi o gol histórico de Klose. Vi craques internacionais dentro do Castelão, um sonho utópico de criança se tornando realidade. Valeu, Copa das Copas.

2 comentários:

Ron Groo disse...

Foi muito melhor do que todos esperavam... Só espero que a conta não venha salgada demais.

João Carlos Viana disse...

Como falei Ron... não podemos esquecer como foi planejada e executada as obras desta Copa...