quinta-feira, 1 de novembro de 2007

História: 20 anos do tricampeonato de Nelson Piquet

O Campeonato Mundial de F1 voltava ao Japão dez anos após da grande e última vitória de James Hunt no circuito de Fuji. Se na década de 70 a presença japonesa era ínfima na F1, em 1987 o Japão tinha uma forte presença, principalmente com a Honda, prestes a vencer seu primeiro título mundial. Em conjunto com a Williams, a Honda iniciava um período de ouro, mas nem tudo era um mar de rosas na trincheira japonesa. A verdadeira guerra entre Nelson Piquet e Nigel Mansell, que já tinha possibilitado a perda do título de 86, irritou profundamente a Honda e por isso já era conhecido de que a marca nipônica se transferiria para a McLaren a partir de 1988. Dentro da equipe Williams o clima era horrível, com os mecânicos divididos entre Mansell e Piquet, sendo que o brasileiro afirmou alguns anos depois que teve que comprar muita gente dentro da própria equipe. Para quem diz que ter duas estrelas debaixo do mesmo teto significa perca do título, como foi esse ano, a Williams provou em 1987 que é possível vencer o campeonato mesmo com seus pilotos não sendo nada amigos.

Piquet era franco favorito e poderia garantir o tri na corrida japonesa, bastando que o brasileiro marcasse Mansell durante a corrida e sua confortável diferença de doze pontos não diminuísse. Mansell estava uma pilha de nervos quando a F1 chegou ao circuito de Suzuka, que recebia a F1 pela primeira vez e era o palco ideal para a Honda revelar seu campeão, já que a gigante japonesa é dona do autódromo. Piquet tinha feito um bom tempo na primeira Classificação da sexta e Mansell foi para a pista tentar superar seu companheiro de equipe e rival. Nos esses atrás dos boxes, Mansell forçou demais e sua roda traseira esquerda pegou um pouco de areia, jogando seu carro contra a barreira de pneus. A pancada foi forte e a Williams de Mansell subiu dois metros de altura antes de decolar com força no solo.

Mansell encostou sua cabeça no cockpit e tirou seu volante do carro, mas permaneceu imóvel dentro do carro. Quando os comissários japoneses se aproximaram dele, Mansell urrava feito um doido. Mansell foi levado para o hospital de Suzuka com fortes dores nas costas, provavelmente causadas pela forte decolagem. O inglês ficou em observação no hospital sexta-feira à noite e recebeu alta no dia seguinte, se mandando para a Inglaterra ainda no sábado à noite. Nelson Piquet era tricampeão mundial de F1. Não restava dúvidas que foi um anti-clímax, mas Piquet não ficou nada triste com o fim antecipado do campeonato. "Não fui campeão porque Nigel bateu. Fui campeão porque tenho doze pontos de vantagem no campeonato e fiz um campeonato bastante regular."

Com mais nada a provar e Mansell de fora, Piquet relaxou durante os treinos e não se importou muito com a pole de Berger, a segundo do austríaco na temporada. A Ferrari estava numa boa forma não vista desde 1985 e Alboreto ficou em quarto. Ainda com problemas na sua Lotus, Ayrton Senna foi apenas sétimo na sua primeira visita a uma pista que seria marcante em carreira futuramente. Mesmo no final da temporada, estréias aconteciam e Roberto Moreno substituiu o francês Pascal Fabre na pequena equipe AGS e largaria pela primeira vez numa corrida de F1.

Grid:
1) Berger(Ferrari) - 1:40.042
2) Prost(McLaren) - 1:40.652
3) Boutsen(Benetton) - 1:40.850
4) Alboreto(Ferrari) - 1:40.984
5) Piquet(Williams) - 1:41.144
6) Fabi(Benetton) - 1:41.679
7) Senna(Lotus) - 1:42.723
8) Patrese(Brabham) - 1:43.304
9) Johansson(McLaren) - 1:43.371
10) De Cesaris(Brabham) - 1:43.618

O dia começou muito nublado, mas a pista estava seca para a largada. Berger havia perdido o Grande Prêmio de Portugal semanas antes para Prost e agora teria o francês ao seu lado na primeira fila. Quando o sinal verde apareceu, Michele Alboreto teve problemas na embreagem e ficou parado, mas o italiano conseguiu sair da sua marca quando todos os carros já tinham passado. O desastrado Philippe Alliot conseguiu sofrer um acidente nos primeiros metros da corrida e ficou com seu Lola atravessado na reta.

Talvez com medo de que se repetisse Estoril, Berger disparou na frente, colocando uma boa diferença para o segundo colocado Prost, com Boutsen, Senna - que fez uma largada excepcional - e Piquet. Alboreto era o último e a Ferrari tinha seus carros nas duas pontas do pelotão, mostrando o declínio do piloto italiano. A preocupação de Berger com Prost acabou ainda no início da segunda volta quando o francês dimimuiu seu ritmo com um pneu furado. Ao contrário do ano anterior na disputa pelo título de 86, o pneu de Prost se entregou logo após a saída dos boxes e o piloto da McLaren teve que se arrastar por uma volta inteira.

Com isso Berger tinha uma confortável diferença para o segundo colocado Thierry Boutsen, com Senna e Piquet fazendo uma briga brasileira pela terceira posição (e com motores Honda!) e Johansson observando tudo isso de perto. A corrida foi muito tranqüila para Berger, que deu a primeira vitória para a Ferrari em dois anos, para enorme vibração dos mecânicos italianos. Provando a boa fase da Ferrari, Alboreto fez uma ótima corrida de recuperação e chegou ao quarto lugar. Boutsen perdeu rendimento após sua primeira parada, enquanto Johansson se aproveitou melhor de sua estratégia de box para assumir a segunda posição, com Senna colado em sua McLaren. O sueco queria provar que a McLaren tinha errado em trocá-lo pelo brasileiro, mas para desespero de Johansson, Senna efetuou a ultrapassagem na última chicane da última volta! Senna comemorou como se fosse uma vitória, enquanto a carreira de Johansson entrou em parafuso após a humilhante ultrapassagem. Correndo em casa, pela primeira vez no ano Satoru Nakajima não fez besteiras durante o fim de semana e chegou num bom sexto lugar. Essa corrida garantiu também o título da Copa Jim Clark para Jonathan Palmer e o título da Copa Colin Chapman para a Tyrrell. Esses torneios paralelos serviam para premiar os melhores pilotos com motores aspirados.

Após as paradas no meio da corrida, Piquet se acomodou num quarto lugar até que seu motor Honda explodiu no final da corrida. Nelson trouxe seu Williams bem lentamente para os boxes e abandonou ali mesmo, mas isso não importava. Nelson se tornava o primeiro brasileiro a ser tricampeão de F1 e se igualava a Jackie Stewart e Niki Lauda, os únicos tricampeões até então. Em novembro de 88, Piquet fez uma revelação bombástica e bem ao seu estilo. "Sabia que o Mansell não sofreu nada no acidente do treino do GP do Japão?," perguntava Piquet a Lemyr Martins, que o entrevistou na ocasião. Piquet disse que Mansell não queria perder mais um título na pista e por isso se mandou para a Inglaterra ainda no sábado, antes que ficasse provado que podia correr no domingo e se fazendo de vítima frente aos seus torcedores. "Quem me contou foi o próprio médico da FIA, Sid Watkins, que atendeu Mansell. Ele disse que o inglês teve sua autorização para competir normalmente," se explicou Piquet.

Ainda em 1987, o inglês Murray Walker, uma espécie de Galvão Bueno inglês, entrevistou Nelson Piquet ao vivo e perguntou qual era a diferença dele para Nigel Mansell. "Eu gosto de sol, ele gosta de chuva. Eu gosto de tênis, ele gosta de golf. Eu gosto de mulher bonita, ele gosta de mulher feia. Eu ganhei três títulos mundias, ele perdeu dois." Com essas e outras, Nelson explicou muito bem como conquistou seu terceiro título mundial. "Foi a vitória da inteligência sobre a burrice."

Chegada:
1) Berger
2) Senna
3) Johansson
4) Alboreto
5) Boutsen
6) Nakajima

3 comentários:

João Carlos Viana disse...

Estava louco por uma foto do Mansell após o seu acidente. Pra quem viu o blog antes deu achar a foto, vale a pena ver de novo. Se o Mansell tivesse mesmo se fingindo, ele é um ótimo ator.

Anônimo disse...

Embora nada politicamente corretas, ria demais com as frases que o Piquet soltava sobre seus rivais.
Além de tudo, um piloto fora de série, no nível dos melhores da F-1, por mais que tenha-se criado uma mística em torno de Senna, principalmente após sua morte.

Alexandre Nascimento disse...

Piquet era monstro, veloz, técnico e inteligente. Não fosse a Rede Globo endeusar tanto outros pilotos, ele seria aclamado pela maioria dos brasileiros como um dos melhores da história. Belo Post!