O Lotus 79 estava humilhando toda a concorrência até então e isso atiçou a imaginação dos projetistas das demais equipes. Se Colin Chapman poderia dominar a F1 com um invento tão simples, eles também eram capazes de dar o troco. A Brabham de Bernie Ecclestone tinha Gordon Murray, um dos desenhistas mais promissores da época, e o sul-africano teve uma outra idéia muito simples, mas, ao mesmo tempo, tão revolucionária como o efeito-solo que marcava o Lotus 79.
O Brabham BT46 foi mostrado ao mundo quando a F1 aportou em Anderstorp para o Grande Prêmio da Súecia de 1978. O novo carro era dotado de um grande ventilador na parte traseira, que tinha o objetivo de sugar o ar debaixo do carro, aumentando extraordinariamente a aderência mecânica. O Brabham BT 46 era totalmente carenado, inclusive cobrindo o motor e o câmbio. Abaixo do aerofólio traseiro foram instalados o exaustor e o radiador de água. Para compensar o desequilibrio dos pesos, Murray projetou uma nova frente, cujos spoillers tinham uma angulação maior em relação aos antigos Brabham. O nariz era fino e tinha laterais em forma de piramide. Durante os treinos, os mecânicos cobriam os exaustores dos carros assim que eles entrassem nos boxes. A F1 estava curiosa com a performance do novo carro. E novamente ficou assustada.
O carro tinha sido testado na Inglaterra e tanto Lauda como Watson tinham ficado impressionados com o grip do carro e na Suécia, o BT46 estava andando no mesmo ritmo do Lotus 79 com enorme facilidade. E logo na primeira corrida! Não demorou e as demais equipes queriam que o carro fosse proibido de correr, mas Bernie Ecclestone disse que o ventilador servia apenas para refrigerar o motor. Mario Andretti, líder destacado do campeonato, se revolta com a idéia da Brabham (ou se sentiu ameaçado?) e disse que a alegação de que o ventilador servia para a refrigeração era um desrespeito a inteligência dele. Afirmou também, bastante irritado, que a Brabham atirava pedras e detritos nos pilotos de trás. Jody Scheckter foi mais polido e disse que Murray tinha tido uma idéia genial e que os pneus de F1 jogavam pedras para trás, não importando o carro.
Porém, a política dominava o cenário sueco, mas de volta à pista Andretti conseguia mais uma pole, mas teria os dois Brabham logo atrás dele. O piloto da casa, Ronnie Peterson, louco para mostrar serviço, colocava seu Lotus na segunda fila, mas a surpresa ficava pelo bom desempenho da Arrows do novato Riccardo Patrese, principalmente pelo fato de que seu companheiro de equipe, o veterano Rolf Stommelen, largaria na última posição.
Grid:
1) Andretti (Lotus) - 1:22.058
2) Watson (Brabham) - 1:22.737
3) Lauda (Brabham) - 1:22.783
4) Peterson (Lotus) - 1:23.120
5) Patrese (Arrows) - 1:23.369
6) Scheckter (Wolf) - 1:23.621
7) Villeneuve (Ferrari) - 1:23.730
8) Reutemann (Ferrari) - 1:23.737
9) Jones (Williams) - 1:23.951
10) Jabouille (Renault) - 1:23.963
O dia 17 de Junho de 1978 amanheceu com o tempo seco e quente. Principalmente fora das pistas! Ainda no domingo as equipes tentaram barrar o Brabham BT46, mas não conseguiram o seu objetivo. Andretti larga muito bem, seguido de perto por Lauda, enquanto Watson se atrasa na largada e cai para quinto. Em terceiro estava Patrese, seguido por Peterson, Watson, Scheckter, Reutemann e Jones. Andretti e Lauda começavam a abrir dos outros.
Na quarta volta, Andretti e Lauda já tinham 3s para o resto do pelotão. A Brabham seguia a, até então, dominante Lotus com imensa tranqüilidade. Segundo a lenda, Ecclestone teria pedido antes da corrida para que seus pilotos não forçassem o ritmo em nenhum momento, para que a corrida não fosse um escândalo. Scheckter é uma das primeiras vítimas com problemas de motor e o sul-africano perderia rendimento até abanadonar na volta 16. Na nona volta, Brambilla, sutil como uma locomotiva, tentou uma ultrapassagem impossível sobre Pironi. O resultado foi coerente com a carreira do italiano e Brambilla estava fora da prova, levando consigo Pironi.
Motivado pela torcida, Peterson vinha fazendo uma boa corrida e ultrapassa Patrese na volta 11, assumindo a terceira posição. Infelizmente para os suecos, o pneu de Peterson furou duas voltas depois e ele caiu para a décima sétima posição. Watson, longe de repetir o desempenho do seu companheiro de equipe, abandona quando vinha em quarto com o acelerador quebrado. A corrida fica bem estática na frente, enquanto Alan Jones superava as duas Ferraris de Reutemann e Villeneuve, assumindo a quarta posição. Bem longe do terceiro colocado Patrese. Que estava bem longe dos dois ponteiros.
Andretti e Lauda vinham imprimindo um ritmo fortíssimo lá na frente, enquanto Peterson se recuperava de forma espantosa, subindo de posição a posição, ultrapassando quem via pela frente. Vinte voltas após ter que fazer sua parada não-programada nos boxes, Peterson já estava na sétima posição, colado na Ferrari de Villeneuve. Como o canadense estava colado em Reutemann, Peterson assumiu a quinta posição em duas voltas. Quando os dois primeiros colocados vinham para abrir a volta 38, Andretti cometeu um erro na última curva antes da reta dos boxes e Lauda fez uma clássica manobra de ultrapassagem, pegando o vácuo e freando mais tarde no final da reta dos boxes. Com pista livre, Lauda começa a se distanciar de Andretti, finalmente mostrando do que o BT46 era capaz. O americano se desespera e tenta acompanhar Lauda de qualquer forma, tendo que andar mais do que o carro. Resultado? Na volta 45 o motor Ford-Cosworth de Andretti explodiu e Lauda estava com a corrida nas mãos.
Ao mesmo tempo Jones abandonava e Peterson se aproximava de Patrese. Atrás deles, Patrick Tambay fazia uma prova correta em seu pouco competitivo McLaren e estava em quarto. Com o final da prova se aproximando, todas as atenções foram para a briga pela segunda posição, envolvendo Patrese e Peterson. Patrese, a revelação do ano, fechou a porta de todas as maneiras possíveis e, principalmente, impossíveis. Correndo em casa, Peterson forçou o quanto pôde para garantir a segunda posição, mas teve que se conformar com o lugar mais baixo do pódio. Após a corrida, Peterson reclamou bastante de Patrese, o acusando de estar guiando como na F3. Lauda deu a primeira vitória para o motor Alfa Romeo desde 1951 e com tamanha performance, entraria com os dois pés na luta pelo título. Porém... As outras equipes ficaram alarmadas com tamanha demonstração de força da Brabham. Claramente andando muito menos que o carro poderia mostrar, Lauda ainda chegou 30s na frente de Patrese. Ainda estudando o efeito-solo da Lotus, os demais projetistas agora teriam que entender o fan-car de Gordon Murray. Três dias após a corrida na Suécia, todos os chefes de equipe se reuniram e no final do encontro o Brabham BT46 foi considerado ilegal, mas os resultados em Anderstorp seriam mantidos. Ainda segundo a lenda, nessa mesma reunião os chefes das equipes inglesas teriam decidido que não se associariam com montadoras e que juntas lutariam com Ferrari e a Renault. Três dias depois, Ecclestone acertou com a BMW para 1982...
Chegada:
1) Lauda
2) Patrese
3) Peterson
4) Tambay
5) Regazzoni
6) Fittipaldi
Um comentário:
Ótimo texto JC!!!!
A F1 devia ser fantástica naquela época,imagina se na próxima corrida a Toyota ou Red Bull aparecem com um carro revolucionário e ganham tudo...ia ser incrível!!
Voltando a realidade.Andretti deve ter se borrado com a aquele ventilador enorme na Brabham.
Abraço JC!!
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