sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Flying Finn


Antes do "sueco" Keke Rosberg, o esporte a motor finlandês se resumia a Jarno Saarinen e as variadas lendas do Mundial de Rally, como Vatanen, Kankkunen e etc. Quando Rosberg foi campeão de F1 em 1982, os nórdicos passaram a prestar atenção também em corridas no asfalto e foi nesse cenário que Mika Häkkinen cresceu. Desde muito cedo, Hakkinen se mostrou um verdadeiro talento e isso foi confirmado nas categorias de base, fazendo com que Mika chegasse a F1 com toda a pompa e circunstância, mas um grave acidente quase pôs fim a sua carreira. Porém, Hakkinen tirou forças dessas adversidades para se tornar, sempre à bordo da McLaren, o maior rival de Michael Schumacher no final do século passado. Dez anos após o seu primeiro título com os prateados, Hakkinen vive uma aposentadoria feliz e completando quarenta anos essa semana, iremos conhecer um pouco mais de sua carreira na F1.

Mika Pauli Häkkinen nasceu em 28 de setembro de 1968 na cidade de Vantaa, próximo a Helsinque. Filho de um taxista e uma secretária, o pequeno Mika logo cedo se interessou pelas corridas e com apenas cinco anos já "brincava" de kart numa pista próximo a sua casa. Em sua primeira corrida, Hakkinen sofreu um acidente, mas ele já tinha decidido que seria um piloto e convenceu o seu pai a comprar o micro-carro de corrida. O interessante foi a procedência do veículo, pois o mesmo tinha sido utilizado por Henri Toivonen, que não seguiu a carreira nos monopostos e se tornou mais uma lenda do Rally mundial. Hakkinen obtém enorme sucesso no kart finlandês, conquistando cinco títulos, tocando rodas com J.J. Lehto e com seu xará, Mika Salo. Após todo o seu sucesso no kart, Mika tinha que tomar uma decisão importante na sua carreira no início de 1987. Ele tinha propostas para se mudar para o Rally, mas ele preferiu os monopostos, comprando um F-Ford 1600 que tinha percebido anteriormente a J.J. Lehto.

O início de carreira de Hakkinen nos monopostos é avassalador e ele conquista dois títulos de F-Ford, o Campeonato Sueco e Finlandês. No final deste ano ele é convidado pela Marlboro para participar de um mini-torneio em Donington Park e que teria no júri, entre outros, Ron Dennis e o ex-Campeão Mundial James Hunt. A essa altura, Keke Rosberg já ajudava Hakkinen a conseguir patrocínios e abria as portas ao seu pupilo na longa estrada do automobilismo. Mika não venceria esse torneio, que é vencido por um velho conhecido do finlandês: Eddie Irvine. Graças aos contatos de Rosberg, Hakkinen consegue o forte patrocínio da Marlboro e sobe para a F-Opel em 1988. Ao lado do escocês Allan McNish, Hakkinen disputaria o Campeonato Inglês e Europeu pela equipe Dragon. O campeonato era extremamente disputado e tinha carros iguais, para garantir uma igualdade entre os competidores. Mika perde o campeonato inglês para McNish, mas fatura o título europeu, derrotando o dinamarquês Henrik Larsen por apenas um ponto. No total, Mika disputa vinte corridas, onde consegue sete vitórias e seis poles, garantindo-se como um dos pilotos promissores no final dos anos 80.

Apesar de alguns convites para correr na F3000, Hakkinen prefere permanecer na equipe Dragon e disputar o fortíssimo Campeonato Inglês de F3. Esse seria um ano de aprendizado para Mika, mas ele ainda consegue bons resultados, terminando o ano com duas poles e na sétima colocação do campeonato. Graças ao seu talento e a grana da Marlboro, Hakkinen se muda para a melhor equipe da época, a West Surrey, e ainda em 1989 vence o Superprix de F3. Hakkinen era o principal favorito ao título em 1990, mas teria que enfrentar o seu velho rival do kart, Mika Salo. Os dois finlandeses monopolizaram o campeonato, mas Hakkinen acaba vencendo o campeonato naquele ano numa das temporadas mais disputadas da história do certame inglês de F3. Ainda em 1990, Hakkinen participa com sucesso de corridas isoladas do Campeonato Italiano e Alemão de F3, mostrando que era mesmo um dos pilotos mais promissores da época. Em sua passagem pela Alemanha, Mika conhece e derrota um alemão de queixo comprido e muito rápido, chamado Michael Schumacher. Esse seria o primeiro encontro deles no ano. No final da temporada, as equipes de F3 foram para Macau disputar a famosa corrida de rua e Hakkinen era o favorito natural. O finlandês teve como maior opositor o próprio Michael Schumacher e na penúltima volta da segunda bateria, que decidia o torneio, Hakkinen errou o cálculo de uma manobra de ultrapassagem e acabou acertando a traseiro do alemão. Mika acabou batendo forte no muro, enquanto Schumacher, sem a asa traseira, venceu a corrida. Há quem diga que Schummy tirou o pé de propósito para que Hakkinen enchecesse sua traseira. Pela fama que o alemão pegaria mais tarde...

Mesmo com essa derrota, Hakkinen chegaria a F1 na frente do seu rival alemão. A Lotus já via com binóculos seus dias de glória e no início da década de 90 era apenas uma caricatura da grande equipe que tinha sido. Precisando de dinheiro e de talento, a Lotus contrata Hakkinen e o finlandês estrearia na F1 com estilo. A sua estréia foi em Phoenix e Mika abandonou a corrida já próximo ao final, com o motor pegando fogo. O carro da Lotus era praticamente o mesmo do ano anterior e por causa disso, Hakkinen pouco podia fazer para levar o seu carro mais à frente. Era preciso uma corrida diferente para que Mika se destacasse. E ela aconteceu mais rápido do que o esperado. A terceira etapa do Mundial de 1991 seria realizado em Ímola e largando na última fila, Hakkinen tinha poucas esperanças de se sobressair, mas uma chuva forte um pouco antes da largada pegou a todos se surpresa, principalmente Alain Prost, que rodou na volta de apresentação. Andando com extremo cuidado, Hakkinen fez uma corrida de muita cautela e paciência para terminar a prova numa ótima quinta posição, marcando seus primeiros pontos na carreira. O carro era tão ruim, que Mika terminou três (!) voltas atrás do vencedor Ayrton Senna e esses seriam os seus únicos pontos do finlandês em seu ano de estréia.

Apesar de todas as dificuldades, Hakkinen permaneceu mais um ano na Lotus e provando que "camisa ganha jogo", a tradicional equipe construiu um bom carro e Hakkinen teria ao seu lado o inglês Johnny Herbert. Mika consegue bons resultados, marcando pontos de forma regular e termina o campeonato num surpreendente oitavo lugar, com dois quarto lugares (França e Hungria) como melhor resultado. Esses resultados chamaram a atenção das grandes equipes, principalmente da McLaren, que sofria uma forte reestruturação. A Honda tinha abandonado a equipe no final de 1992 e Ron Dennis tinha os fracos motores Ford a disposição. Senna estava louco para ir para a Williams e colocou enormes obstáculos para renovar com a equipe que tinha lhe dado todos os seus três títulos mundiais. Tentando reverter a situação, a McLaren trouxe a estrela da F-Indy, Michael Andretti, e contrata Hakkinen como terceiro piloto, já que Senna podia acordar não correr. Apesar de não ter feito parte da equipe ao longo do ano, Mika aprendeu muito em 1993, pois Andretti fez a besteira de ainda morar nos Estados Unidos e Hakkinen fazia todos os treinos para a equipe. O finlandês ainda teria a companhia de Senna na equipe. Andretti fazia uma temporada pífia e abandonou a F1 após o Grande Prêmio da Itália. Tudo o que Hakkinen tinha corrido naquele ano foi uma prova da Porsche Supercup em Mônaco, com vitória do finlandês, mas com a saída do americano, Hakkinen estrearia pela McLaren no Grande Prêmio de Portugal de 1993. Era o início de uma longa parceria.


Demonstrando um enorme conhecimento do carro, Mika surpreende ao superar Senna na Classificação para a corrida portuguesa e fazia uma bela prova até sofrer um acidente. Porém, Hakkinen se recuperaria em grande estilo na corrida seguinte, ao conquistar o seu primeiro pódio na F1 com um terceiro lugar no Grande Prêmio do Japão. Graças a esses resultados, Hakkinen garantia o seu lugar na McLaren em 1994. No entanto, a saída de Senna trouxe uma enorme desinstabilidade na equipe e a chegada da Peugeot mais atrapalhou do que ajudou. O motor francês fazia sua estréia na F1, mas ainda sofria bastante com a confiabilidade, mas Hakkinen ainda mostrava o seu talento, conquistando um terceiro lugar no nefasto Grande Prêmio de San Marino de 1994, que marcou a morte de Senna. Graças a sua impetuosidade, Hakkinen ainda sofria bastante acidentes e quando o finlandês provocou o acidente na largada para o Grande Prêmio da Alemanha, Mika foi suspenso pela FIA por uma corrida. Apesar de todos os problemas, Hakkinen fez uma ótima temporada de estréia na McLaren, conquistando vários pódios e terminando o ano na quarta colocação, com seis pódios.

Após um ano com a Peugeot, a McLaren foi seduzida pelos dólares da Mercedes-Benz e se aliou com a gigante alemã, iniciando uma parceria duradoura, que resiste até hoje. Contudo, como toda mudança, a equipe teria que se adaptar ao novo motor e Hakkinen sofreu com mais um ano de adaptação. No início do ano, Mika teria como companheiro de equipe Nigel Mansell, mas o inglês abandonou a equipe antes da metade do ano e Hakkinen teve como companheiro de equipe Mark Blundell. O finlandês sofreu várias quebras ao longo do ano, mas ainda conquistou dois pódios, inclusive no Japão, penúltima etapa do ano. Mika foi confiante para os treinos para o Grande Prêmio da Austrália, que seria realizado pela última vez em Adelaide. Nos treinos de sexta, Hakkinen tocou de leve num muro de concreto, mas o problema se manifestaria mais tarde. Poucas curvas depois, Hakkinen passa reto e bate no muro com violência. Mika bate a frente do seu capacete no volante, esmagando ossos da sua face e quase decepando sua língua. Hakkinen não respirava e uma traqueostomia foi realizada às pressas, salvando a vida do finlandês. Mika ficou alguns dias em coma e com algumas seqüelas, mas ele estava pronto para a temporada de 1996.

Tentando crescer frente as rivais, a McLaren trouxe o promissor David Coulthard como companheiro de equipe de Hakkinen, iniciando outra parceira de longa data na F1. Na época, o escocês ainda recebia a alcunha de voador e todos diziam que ele derrotaria o convalescente Hakkinen até mesmo com facilidade. Provando que não era bem assim, Mika marca pontos nas duas primeiras corridas da temporada, mostrando que estava completamente recuperado, mas uma série de quebras pôs todo o campeonato a perder. Coulthard se destacava mais na equipe e estava na frente do campeonato. Para piorar, Heinz-Harald Frentzen era o sonho de consumo de todas as equipes grandes e como era alemão e já correu pela montadora, a Mercedes ficou bastante interessada, mas Dennis se sobressaiu. Com o acidente no final de 1995, Dennis começou a ter uma forte ligação com Hakkinen e mantém o finlandês na equipe. No final do ano, Hakkinen sobe de desempenho e conquista mais alguns pódios e finaliza uma longa parceria de sucesso com um terceiro lugar. Após anos correndo sobre as asas da Marlboro, McLaren e Hakkinen não correriam mais com os famosos carros vermelho e branco.

Aos poucos, a McLaren encostava nas grandes equipes da época, Williams e Ferrari, e em 1997, começa a andar novamente no pelotão da frente. Logo na primeira corrida, estreando o prateado da equipe e do patrocinador West, a McLaren consegue sua primeira vitória desde a saída de Senna na Austrália, mas a honra coube a David Coulthard. Hakkinen chega em terceiro e um tabu já começava a incomodar. Mika já tinha quinze pódios e nenhuma vitória e já se tornava o piloto com o maior número de GPs a não subir ao lugar mais alto do pódio. E não faltaria oportunidades no ano. Num campeonato equilibrado, McLaren dividiu vitórias com Williams, Ferrari e Benetton e Hakkinen ficou às portas da vitória várias vezes. Em Silverstone, aproveitando uma estratégia difrente de boxes, Mika liderava no final da prova, pressionado pela Williams de Jacques Villeneuve. Quando o canadense já tinha desistido de lutar pela vitória, o motor Mercedes explodiu no final da prova. Na volta da Áustria a F1, Hakkinen conquistou a pole com autoridade e abandonou quando liderava na... primeira volta! Porém, a mais cruel foi em Nürburgring. Bem no dia do seu vigésimo nono aniversário, Hakkinen largaria pela primeira vez na pole e com os problemas de Ferrari e Williams, o piloto da McLaren liderava com autoridade e tinha tudo para vencer. E com dobradinha! Então, Coulthard apareceu com o motor Mercedes fumando, bem à frente do box da McLaren. Quando a imagem da TV mostrava Norbert Haug, chefe de competições da Mercedes, que corria em casa, o motor de Hakkinen explodiu no mesmo lugar, uma volta depois. Todos ficaram com pena do finlandês, mas a primeira vitória não demoraria a acontecer. E seria bastante polêmica. Em meio a disputa pelo campeonato entre Schumacher e Villeneuve, um acordo era traçado entre Williams e McLaren. Se os pilotos de Dennis ajudassem a atrapalhar Schumacher, a Williams pediria a um dos seus pilotos que cedesse a primeira posição a um piloto da McLaren. Após o famoso "acidente" entre Schumacher e Villeneuve, o canadense liderava à frente de Coulthard e Hakkinen. Enquanto as McLarens se aproximavam da Williams para cumprir o prometido, Dennis entrou no rádio pedindo a Coulthard que deixasse Hakkinen passar. O escocês tentou não argumentar, mas após ser ameaçado de demissão, Coulthard entregou a posição e a vitória para Hakkinen, que comemorou, muito timidamente, sua primeira vitória. E seria a primeira de muitas!

Com a chegada do multi-campeão Adrian Newey da Williams, a McLaren prometia um grande salto de qualidade. As regras tinham mudado radicalmente os carros eram praticamente novos para 1998. Usando sua magia, Newey construiu um carro excelente e a McLaren mostrou uma força incomum na primeira corrida da temporada. Andando 1,5s mais rápido do que qualquer um, a McLaren dominou a corrida e estabeleceu quem seria o vencedor. Hakkinen tinha conseguido uma pole muito apertada, mas se atrapalhou ao entrar nos boxes para uma parada fantasma e perdeu a liderança para Coulthard. Mais uma vez, Dennis entrou no rádio e lembrou a Coulthard do acordo feito antes da corrida, em que o primeiro a passar pela primeira curva seria o vencedor. Assim como tinha acontecido em Jerez, Coulthard deixou Hakkinen passar e vencer. Era a segunda vitória seguida. A segunda com a benção da McLaren. A primeira vitória de "verdade" seria no Brasil, onde Hakkinen não deu chances ao azar. O domínio da McLaren era tão grande, que, conta a lenda, Dennis teria feito uma aposta que venceria o campeonato sem perder uma única corrida, fato quem nem Senna/Prost fizeram em 1988. Porém, o imponderável chamado Michael Schumacher começou a aparecer e o que era para ser um campeonato tranqüilo decidido dentro do seio da McLaren, se tornou uma temporada acirrada. Com cinco vitórias nas primeiras oito corridas, Hakkinen se sobrepõem em cima de Coulthard e seria ele o piloto a lutar contra Schumacher. O alemão se aproveitava de todas as brechas possíveis e sempre que podia, vencia uma corrida num erro da McLaren ou de Hakkinen, que tinha o melhor carro disparado. Após ter problemas nos freios em Monza, Hakkinen estava empatado na liderança com Schummy. O alemão estava em vantagem psicológica com relação a Hakkinen e faria a penúltima etapa do ano em Nürburgring, casa de Schumacher. Numa corrida nervosa e tensa, Hakkinen superou seu antigo rival na primeira bateria de pit-stop e chegou a última etapa, em Suzuka, com vantagem. Todos temiam uma repetição da decisão do ano anterior, mas a Ferrari pôs tudo a perder quando não preparou corretamente o carro de Schumacher para a segunda largada (a primeira fora cancelada) e o alemão largaria em último. Hakkinen dominou a prova, enquanto Schumacher vinha que nem um foguete lá de trás. Quando já aparecia em terceiro, o pneu traseiro da Ferrari estourou e Hakkinen pôde comemorar, antes de levantar a taça de vencedor daquele GP, o primeiro Campeonato Mundial de F1.

Era a confirmação do talento de Hakkinen, mas todos sabiam que a Ferrari, após três temporadas com Schumacher, viria extremamente forte para 1999. Mais uma vez Newey projeta o melhor carro do pelotão, mas a McLaren se perde em um mar de inconfiabilidade e Hakkinen sofre para manter sua liderança. No Grande Prêmio de San Marino, o finlandês errou bestamente no início da corrida quando liderava com folga. Numa briga forte com Schumacher, Hakkinen parecia que garantiria a taça facilmente no Grande Prêmio da Inglaterra, quando Michael sofreu o acidente que lhe quebrou a perna e o tirou da disputa pelo título. Na mesma prova, Hakkinen abandonou e Irvine, segundo piloto destacado da Ferrari, empatava com Schumacher no campeonato. Mesmo tendo agora toda a equipe a sua disposição, poucos podiam imaginar Irvine lutando pelo título com Hakkinen. Porém, Mika é tirado da pista por Coulthard na Áustria logo na primeira volta e sofre um acidente na Alemanha e Irvine aproveita para conseguir duas vitórias consecutivas. O piloto da Ferrari liderava surpreendentemente o campeonato e Hakkinen precisava reagir logo. Após uma vitória dominante na Hungria, Mika estava extremamente forte no Grande Prêmio da Itália. Enquanto liderava com folga, Irvine brigava pela sexta posição. Então, como tinha acontecido na outra corrida da bota, Hakkinen erra bizonhamente enquanto estava numa tranqüila primeira posição. Normalmente frio, Mika explode e saí do carro extremamente irritado, jogando suas luvas no chão com raiva. Se em Ímola Hakkinen bateu em frente aos boxes, em Monza ele se acidentou no outro lado dos boxes, num bosque. De forma comovente, Hakkinen se ajoelhou e começou a chorar, sendo flagrado pelas câmeras de todo o mundo. Isso parecia um momento de fraqueza, mas era apenas o sinal do quanto Hakkinen queria vencer aquele campeonato. Na penúltima etapa do ano, Hakkinen vê a volta de Schumacher à F1 como escudeiro de Irvine e no novo Grande Prêmio da Malásia, Mika é humilhado pelo alemão, que detinha seu ritmo para ajudar o irlandês a vencer. A Ferrari chegou a ser desclassificada após a prova, mas a punição foi cancelada e o campeonato, mais uma vez, seria decidido em Suzuka, na última etapa do ano. Se quisesse conquistar o bicampeonato, Hakkinen teria que vencer de qualquer maneira. Porém, Schumacher apronta das suas e conquista a pole, deixando no ar que o título iria para a Ferrari. Então, com um garra incomum, Hakkinen tomou a ponta do alemão na largada e partiu rumo ao único resultado que lhe interessava. Enquanto Irvine era um obscuro terceiro colocado, Schumacher fazia de tudo para se aproximar de Hakkinen, mas quando o alemão foi atrapalhado por Coulthard, o ferrarista baixou a guarda e Mika era bicamepão Mundial de F1!

Mesmo com o reconhecido talento de Schumacher, a temporada 2000 seria uma espécia de tira-teima com Hakkinen. Ambos tinham dois títulos mundiais e corriam pelas duas melhores equipes da época. Schumacher estava com fome de título e conquista três vitórias nas três primeiras corridas, enquanto Hakkinen fazia uma corrida discreta. Muitos especulavam sobre a fase do finlandês, inclusive dizendo que o nórdico estava exagerando nas biritas! Contudo, Hakkinen chega a sua pista favorita, Barcelona, e volta a vencer, mas àquele altura, quem brigava mais seriamente com Schumacher era Coulthard. Parecia que Mika seria derrotado dentro da equipe, enquanto o escocês não apenas brigava com o alemão nas pistas, como também em polêmicas discurssões fora das pistas. Enquanto isso, Mika marcava pontos constantemente e consegue duas vitórias em três provas no meio do ano, enquanto Schumacher ficou várias provas sem marcar pontos. O resultado disso era que Hakkinen tinha superado, mais uma vez, Coulthard e se aproximava de Schumacher no campeonato. Quando a F1 aportou em Spa, Hakkinen estava em uma ótima fase e liderava a chuvosa corrida quando rodou sozinho. Schumacher assumiu a liderança. À medida em que a pista secava, Hakkinen foi se aproximando do seu rival e encostou no alemão no final da prova. Mika estava muito rápido na rápido reta Kemmel, mas Schumacher estava querendo aquela vitória de qualquer jeito e fechou perigosamente o piloto da McLaren. Hakkinen também estava disposto a correr riscos para conseguir a vitória e extender a liderança do Mundial. Então, Schumacher e Hakkinen se aproximam do retardatário Ricardo Zonta na reta Kemmel. O brasileiro da BAR deixa espaço para o alemão passar pela esquerda, mas Hakkinen acha uma brecha milimétrica pela esquerda, ultrapassa Zonta e fica por dentro do alemão na freada. Foi a ultrapassagem mais bonita de Hakkinen e uma das cenas inesquecíveis da F1 nos últimos dez anos.

No entanto, Schumacher ressurge e vence em Monza. Hakkinen permanecia forte, mas um motor quebrado em Indianápolis praticamente garantiu o terceiro título de Schumacher, que venceu mais três vezes. Mesmo sendo apenas um ano mais velho do que Schumacher, muitas pessoas especulavam sobre a aposentadoria de Mika. O finlandês tinha acabado de virar papai e ele mesmo admitiu que se conquistasse o terceiro título seguido, abandonaria a F1 no final do ano 2000. Não restavam dúvidas de que Hakkinen já não tinha a motivação de antes e o ano de 2001, marcado pela volta dos aparatos eletrônicos à F1, foi de dificuldades para o finlandês. O seu McLaren ficou parado no grid algumas vezes durante o ano e ele só foi conquistar seu primeiro pódio na oitava etapa do ano, enquanto Coulthard tomava as rédeas da equipe, mas não resistia a superioridade da Ferrari e de Schumacher. Na Espanha, Hakkinen mostra que seu talento ainda estava intacto e liderou a corrida praticamente de ponta a ponta, mas o seu carro passou na reta dos boxes na última volta soltando muita fumaça. O mundo inteiro prendeu a respiração, torcendo para que Hakkinen completasse a última volta, mas nas últimas curvas a McLaren parou definitivamente e Schumacher conquistou mais uma vitória. Podia-se esperar um piloto desesperado com sua falta de sorte, mas Hakkinen voltou aos boxes sorrindo, como se não se importasse o que tinha acontecido. Após conquistar uma vitória em Silverstone, os rumores sobre a saída de Hakkinen cresciam e no Grande Prêmio da Itália, Mika anunciou que passaria um ano sabático em 2002, pensando em voltar à F1 mais tarde. No entanto, Hakkinen ainda tinha mais uma grande vitória para nos mostrar. Em Indianápolis, em um país devastado pelo terrorismo, Hakkinen fez uma das grandes corridas de sua vida e venceu pela última vez na F1. Perguntado se essa vitória poderia mudar sua posição de deixar a F1 por uma ano, Hakkinen foi rápido na resposta. "Não, aqui é hasta la vista". Na última corrida de sua carreira na F1, Mika ainda teve tempo de retribuir todo o apoio recebido por Coulthard nos anos que passaram juntos e deixou o escocês passar nas últimas voltas do Grande Prêmio do Japão. Chegando em quarto lugar, Hakkinen encerrava uma carreira marcada por dificuldades e glórias. Foram 161 Grandes Prêmios, 20 vitórias, 26 poles, 26 melhores voltas, 51 pódios, 420 pontos e dois títulos mundiais.
Hakkinen nunca mais voltaria a F1 de forma competitiva, apesar de sido sondado pela Williams em 2004. Contudo, era impossível ver Hakkinen lutar contra a McLaren-Mercedes e Mika fez sua volta ao automobilismo via DTM, correndo pela equipe Mercedes com relativo sucesso e algumas vitórias. No final de 2007, com 39 anos, Hakkinen anunciou que estava abandonando definitivamente as corridas e hoje em dia, é garoto propaganda da Johnny Walker, patrocínio da McLaren, equipe com que mantém relações quinze anos após sua contratação. Hakkinen foi casado com Erja Honkanen, com que teve dois filhos (Hugo e Aina). Sempre ao lado do marido, Erja acompanhava Mika em todas as provas e era mostrada constantemente nas transmissões da F1. Porém, o casal se separou no início de 2008 e hoje Hakkinen mora em Monte Carlo, com uma dançarina. Muito respeitado no meio da F1, muitas pessoas disseram que a real razão do domínio de Schumacher nos anos seguintes foi que Hakkinen, piloto que o enfrentou ferozmente por três anos e venceu dois, estava de fora das corridas. E o próprio Schumacher confirmava isso! A saída de Hakkinen no final de 2001 foi uma espécie de passagem na F1, pois nesse ano estrearam Fernando Alonso, Juan Pablo Montoya e outro finlandês extremamente rápido chamado Kimi Raikkonen. Hakkinen ajudou Kimi chegar à McLaren em 2002 e hoje, mesmo em má fase, leva o bastão da Finlândia como sendo um dos países a ter um dos pilotos mais rápidos do mundo. Pessoa afável e respeitada no mundo da F1, a tocada suave de Hakkinen deixa saudade até hoje, principalmente dominando uma corrida à bordo de um McLaren-Mercedes prateado.
Parabéns!
Mika Hakkinen

2 comentários:

Ron Groo disse...

Emi nha modesta opinião JC, Hakkinen foi o unico piloto que realmente venceu Michael Schumacher. Pois o alemão estava no auge, em pleno vigor das forças quando Mika o bateu. Diferentemente de Alonso que ganhou quando Shumy pensava em se aposentar. E quase perde...

Unknown disse...

ÓTIMO TEXTO JC!!!!
REALMENTE MUITO BOM!!!!

Passei minha infância toda vendo o carro prateado de Hakkinen correndo com a Ferrari de Schumacher,ótimas mebranças.

Valeu JC!!!