quarta-feira, 15 de outubro de 2008

História: 25 anos do Grande Prêmio da África do Sul de 1983


Após uma temporada equilibrada, dominada por Ferrari, Renault e Brabham-BMW, a F1 chegada a Kyalami decidindo quem seria o Campeão Mundial de 1983. Prost tinha tudo para ser o campeão na metade da temporada, mas tinha perdido terreno para Arnoux e, principalmente, para Piquet no final da temporada, com o brasileiro vencendo as duas últimas corridas. Na única corrida no continente africano, Prost e Piquet estavam praticamente empatados no campeonato, com o francês levando vantagem por apenas dois pontos, enquanto Arnoux ainda nutria esperanças, apesar de estar oito pontos atrás do seu compatriota, mas ele precisava de uma combinação esquisita para levar o trófeu para casa.

Na semana anterior ao Grande Prêmio, todos os pilotos participaram de um treino coletivo em Kyalami e o mais rápido foi a Lotus de Elio de Angelis, mostrando o grande desenvolvimento do italiano. A Ferrari também mostrava força, enquanto Piquet e Prost andaram bem. Quando os treinos começaram para valer, a Lotus perdeu rendimento para a Ferrari, porém, quem ficou com a pole foi Patrick Tambay! O francês tinha sido demitido pela equipe para a entrada de Michele Alboreto, mas tinha grande simpatia por parte dos mecânicos da Ferrari, que ficaram ainda mais felizes quando Tambay doou o prêmio pela pole para os mecânicos! Enquanto isso no outro do box, Arnoux sofria por causa de um dos acidentes mais bizarros da história da F1. Durante o treino da sexta-feira, o francês encostou sua Ferrari com problemas. René saiu do carro e caminhava em direção aos boxes, quando resolveu ajudar os comissários a tirar seu carro da pista. No entanto, Arnoux viu que os comissários já empurravam o seu carro e o resultado foi que o ferrarista foi atropelado pelo próprio veículo! Apesar de ter ficado com o pé direito muito inchado e quase não ter participado dos treinos, Arnoux ainda arranjou forças para conseguir o quarto lugar no grid.

Porém, os grandes favoritos não se vestiam de vermelho. A Brabham mostrava que estava numa ótima fase e seus pilotos eram constantemente rápidos durantes os treinos e Piquet fecharia a primeira fila, tendo Riccardo Patrese como um ótimo escudo em terceiro. Prost estava com problemas em seu turbo quando o mesmo atuava com grande pressão e por isso não brigou pela pole, tendo que se conformar com a quinta posição. Piquet estava muito relaxado durante o final de semana e chegou a dizer que não se importaria se não fosse o campeão. "Pelo menos não teria que responder um monte de pergunta feita pelos jornalistas". Prost parecia mais tenso e sua equipe exarcebava isso, tanto que o francês, para relaxar, procurava abrigo na... equipe Brabham! Prost teria Keke Rosberg ao seu lado na terceira fila, com o finlandês inaugurando o novo Williams-Honda, mostrando a grande potência do novo motor turbo japonês.

Grid:
1) Tambay (Ferrari) - 1:06.554
2) Piquet (Brabham) - 1:06.792
3) Patrese (Brabham) - 1:07.001
4) Arnoux (Ferrari) - 1:07.105
5) Prost (Renault) - 1:07.186
6) Rosberg (Williams) - 1:07.256
7) Mansell (Lotus) - 1:07.643
8) Winkelhock (ATS) - 1:07.682
9) De Cesaris (Alfa Romeo) - 1:07.759
10) Laffite (Williams) - 1:07.931

O dia 15 de outubro de 1983 estava ensolorado e quente. Dia perfeito para uma decisão de campeonato, mas o forte calor preocupava. Porém, o que trazia mais preocupação era a segurança em Kyalami. A pista tinha protagonizado duas mortes nos últimos nove anos na F1 e os boxes eram estreitos demais para as equipes pudessem fazer seus pit-stops com tranqüilidade. Num ato inimaginável hoje, as equipes se reuniram para decidir quando iriam parar, evitando um congestionamento dentros dos boxes. Por isso, muitos estranharam a parada de Piquet: décima sétima volta. Ele pararia duas vezes? Após a última corrida em Brands Hatch, Piquet foi enigmático ao já falar sobre sua estratégia para Kyalami. Ele e Gordon Murray estariam aprontando novamente? Logo na largada, isso ficaria claro que sim!

Piquet parte como um foguete e antes da freada para a primeira curva, já tinha aberto uma enorme diferença para o resto do pelotão! O brasileiro contornou a primeira curva na dianteira, mas o melhor era que Tambay não tinha feito uma largada brilhante e Piquet tinha seu companheiro de equipe Patrese em segundo. Andrea de Cesaris tinha feito uma largada-relâmpago e pulou de nono para quarto ainda na primeira volta. A Ferrari de Tambay parecia ter problemas e no final da grande reta dos boxes, foi ultrapassado por De Cesaris e Prost, que assumia a quarta posição. Prost estava perdendo o campeonato que estava nas suas mãos naquele momento e partiu para cima da Alfa Romeo de De Desaris, mas o italiano resistiu bravamente, até ser ultrapassado na nona volta. Na mesma volta, o campeonato começava a se definir. Escondido na oitava posição, Arnoux diminui a velocidade da sua Ferrari até chegar aos boxes com o motor quebrado. Era menos na briga. Faltavam dois!

Piquet estava num ritmo fora do comum, chegando a abrir 2s por volta para Patrese, que tinha Prost totalmente sobre controle. Num ritmo parecido, Niki Lauda fazia uma corrida surpreendente. A McLaren tinha sofrido bastante com os motores aspirados Cosworth, mas quando o novo motor TAG-Porsche turbo chegou no terço final da temporada, o carro deu um salto de qualidade, apesar das quebras e de ainda não ser tão competitivo quanto Ferrari, Renault e Brabham. Em Kyalami, Lauda estava andando como nos velhos tempos e ganhava posições de forma voraz, chegando a quinta colocação em apenas nove voltas. Isso após largar em décimo segundo! Na volta 11, o austríaco deixou a Alfa de De Cesaris para trás e partiu para cima de Prost. O piloto da Renault sabia que se sofresse essa ultrapassagem, o campeonato poderia escorrer por seus pequenos dedos, mas havia uma esperança. A volta 17 começou com Piquet com uma enorme vantagem e entrou nos boxes para uma parada decisiva. Todos esperavam por uma parada longa, mas a Brabham bate o recorde da temporada com 9.2s e Piquet volta à pista ainda na frente!

Para piorar as coisas para Prost, enquanto Piquet retornava à pista logo à frente de Patrese, Lauda completava a ultrapassagem sobre a Renault de Prost na freada da grande reta. Agora, Patrese teria a enorme pressão de Lauda, mas o italiano segura as pontas e permanece em segundo, com Piquet em primeiro, mas agora num ritmo mais brando. As posições permaneceram as mesmas até Lauda fazer sua parada na volta 33. Infelizmente a McLaren se atrapalha e o austríaco perde 25s na operação e caí para sétimo. Prost assumia a terceira posição, mas pára nos boxes duas voltas depois. Todos se olham assustados, pois aquela não era a volta que Prost pararia. O francês parece lento e encosta sua Renault nos boxes para o que parecia um pit-stop normal, mas engenheiros conversavam com Prost. Então, o francês abandona o seu carro e praticamente entrega o título a Piquet. A título de curiosidade, tem um vídeo muito engraçado no youtube com a transmissão da Rede Globo desta corrida. No momento da parada de Prost, Galvão se anima todo com a parada do francês. Porém, ele não percebe que o francês abandona o carro e berra, super-feliz, que a parada de Prost estava demorando demais. "E a Renault se atrapalha toda!"...

Voltando a corrida, Piquet é informado que Prost tinha abandonado e resolve diminuir o seu ritmo para cuidar do seu carro. No pit-wall, Prost assistia a corrida ainda de macacão, torcendo para que algo acontecesse com o Brabham de Piquet, que teimava em cruzar a reta dos boxes na liderança. Nelson só precisava de um quarto lugar para ser campeão. Então, acontece outra história bizarra, contada pelo próprio Piquet anos depois. Tentando economizar o máximo do seu carro, Piquet resolve baixar a pressão do turbo através de um botão giratório, mas eis que o botão se quebra e o brasileiro não tinha mais controle sobre a pressão do seu turbo. Piquet disse que passou o resto da prova procurando o bendito botão!

Na verdade, não era preciso tanto sufoco. Patrese se aproximava e na volta 59 ultrapassou seu companheiro de equipe. Mais atrás, Lauda fazia outra grande corrida de recuperação e passava quem via pela frente. O austríaco se aproximava rapidamente de Piquet e fez a ultrapassagem na volta 71, mas a McLaren tem problemas elétricos e Lauda abandona tristemente no final. Apesar da decepção, Lauda sabia que a McLaren tinha um enorme potencial para 1984. Piquet tinha diminuído tanto o ritmo, que acabou ultrapassado por De Cesaris três voltas após a quebra de Lauda e mesmo num ritmo mais lento, o quarto colocado Derek Warwick estava quase uma volta atrás e não representava mais perigo. Tudo o que Piquet necessitava era levar seu carro até o final. E assim o fez!

Patrese recebeu a bandeirada em primeiro, conseguindo sua primeira vitória em 1983, num ano bastante difícil para o italiano. Praticamente toda a equipe Brabham tinha invadido a pista e comemorou muito a vitória de Patrese, mas eles queriam ver o outro carro. Que apontou na última curva em terceiro e Piquet era Campeão do Mundo em 1983. Toda a equipe Brabham comemorou a façanha do seu piloto e F1 tinha certeza de que tinha visto um das melhores temporadas da história. Mesmo com a decepção, Prost declarava que tinha grandes esperanças para 1984 na Renault, mas alguns dias depois ele anunciou que estava abandonando a equipe e se juntava a McLaren para o ano seguinte, no lugar do aposentado John Watson. Muito se falou sobre a saída repentina de Prost da equipe Renault, mas segundos os boatos maldosos da época, Prost estaria tendo um caso com a esposa de Gerard Larrousse, chefe da equipe Renault... Porém, todos queriam ouvir o que tinha dizer o novo Campeão Mundial de F1. Quer dizer, o novo Bicampeão Mundial: "Não posso dizer o quanto estou satisfeito, pois venci esse campeonato por mim. Em 1981 eu disse que tinha vencido pela equipe, pelos mecânicos, mas agora venci por mim e espero vencer outros, pois comecei a correr a pouco tempo e sou muito jovem ainda." Este jovem de 31 anos ainda darias muitas alegrias aos brasileiros ao longo da década de 80.

Chegada:
1) Patrese
2) De Cesaris
3) Piquet
4) Warwick
5) Rosberg
6) Cheever

9 comentários:

Anônimo disse...

haha.

Ron Groo disse...

Kaylami era um circuito pra lá de animado e desigual no que tange a disparidade economica da f1 e do povo africano na epoca.
Lembro de ter visto uma foto em que um Brabhan, como todo o aparato tecnologico faz uma curva do circuito e separados apenas por um guard rail, um trabalhador, negro, cultivava um pedaço de terra. Era impressionante.
Gostaria que voltasse.

Anônimo disse...

História viva!!!
Lembro de quando ouvia os anúncios de Kyalami na TV.
Era engraçado, o nome não casava com o país.
Quando pensava no país lembrava dos ingleses e não entendia como podiam ir lá "apoiar" aqueles branquelos!
Hoje entendo.
Bons tempos em que as coisas não faziam sentido!

Anônimo disse...

A corrida foi realizada no sábado e Piquet foi o primeiro campeão com o motor Turbo.

Anônimo disse...

Correção:
"Após a última corrida em "Brands Hatch" (e não em "Donington" como está escrito), Piquet foi enigmático ao já falar sobre sua estratégia para Kyalami".

Anônimo disse...

Hoje, 15 de outubro de 2013, completa-se 30 anos do bicampeonato de Nelson Piquet!!!

Anônimo disse...

Hoje, 15 de outubro de 2013, completa-se 30 anos do bicampeonato de Nelson Piquet!!!

Anônimo disse...

Vocês sabiam que Bruno Senna (filho de Viviane Senna (irmã mais velha do Ayrton) nasceu no dia da conquista do bicampeonato de Nelson Piquet?

João Carlos Viana disse...

Coincidência...