quinta-feira, 25 de junho de 2009

Patrick


No começo da década de 80, havia uma “guerra” entre os pilotos franceses para saber quem seria o primeiro gaulês a se tornar Campeão Mundial de F1. Além de Jabouille, Arnoux e Prost, entre outros, havia um piloto extremamente técnico dentro das pistas e educado fora delas. Patrick Tambay foi mais um francês formado pela Elf na tentativa dos franceses de se tornaram campeões mundiais e mesmo não tendo um sucesso extraordinário na F1, Tambay marcou uma geração por ter enfrentado, de igual para igual, pilotos de enorme talento, como seus compatriotas Arnoux e Prost, além de Nelson Piquet, Keke Rosberg e outros. Tambay era grande amigo de Gilles Villeneuve e graças a amizade com o canadense e o seu talento, o francês conseguiu ingressar na Ferrari, onde viveu seu melhor momento. Completando 60 anos no dia de hoje, iremos acompanhar mais de perto a carreira de Patrick Tambay.

Daniel Patrick Charles Maurice Nasri Tambay nasceu no dia 25 de junho de 1949 em Paris, filho de uma família rica e por isso, sempre teve acesso a tudo do bom e do melhor. O primeiro esporte de Patrick foi o esqui, onde se destacou e chegou a competir em disputas internacionais e morar nos Estados Unidos, mas o gosto pela velocidade de Tambay o fez partir para o automobilismo tardiamente, quando ele ingressou na escola de pilotagem de Paul Ricard em 1971, aos 22 anos. Como era comum aos jovens pilotos franceses no início da década de 70, Tambay participou do famoso concurso da Elf, para ser apoiado pela petroleira francesa. Patrick levou a disputa e participou do Campeonato Francês de F-Renault de 1973 sobre as asas da Elf, onde conseguiu um bom vice-campeonato. Com esse sucesso inicial, Tambay pula direto para o conceituado Campeonato Europeu de F2 na equipe da Elf, na época uma das mais fortes do certame.

Ao lado do experiente Jean-Pierre Jabouille e do desconhecido Alain Serpaggi, Tambay teve que enfrentar logo na estréia o poderio da equipe oficial da March, que tinha nas suas fileiras Hans Joachim Stuck e Patrick Depailler. A equipe Elf usava o chassi Alpine, mas os Marchs dominaram a temporada e Depailler acabou campeão, com Stuck em segundo e Jabouille em terceiro. A equipe francesa era a única que enfrentou a March e Tambay conseguiu como melhores resultados três quartos lugares (Hockenheim, Salzburgring e Vallelunga), terminando o campeonato em sétimo. Concomitantemente ao Europeu de F2, Tambay também participou do Campeonato Europeu de F-Renault, onde conseguiu o vice-campeonato, mas empatado com o campeão, só perdendo o título nos critérios de desempate. Mesmo tendo uma equipe no Europeu de F2, a Elf se juntou a equipe March e levou Tambay para a equipe, fazendo-o favorito ao título de 1975. Foi nesse momento que o estilo de Patrick ficou mais em evidência. Mesmo tendo melhor carro, Tambay não se notabilizava como um velocista, mas sua técnica o fazia chegar ao fim da maioria das provas. Porém, a técnica em excesso não significava falta de velocidade e Tambay conseguiu três poles, mas o experiente Jacques Laffite, com um carro da equipe Martini, dominou o campeonato e faturou o título com seis vitórias, enquanto Tambay, na base da regularidade, foi vice-campeão com uma vitória em Nogaro e segundos lugares em Thruxton, Nürburgring, Rouen e Zolder.

Num movimento pouco comum na época, Tambay fica mais um ano na F2 Européia e como tinha acontecido na temporada anterior, Patrick leva o patrocínio da Elf para a equipe campeã, partindo para a equipe de Tico Martini, onde teria como companheiro de equipe o atrevido René Arnoux. A equipe March passaria a ter apoio oficial da BMW e teria como pilotos Maurizio Flammini e Alex Dias Ribeiro, enquanto a Martini teria apoio irrestrito da Renault e da Elf. Seria uma briga de titãs, mas Jean-Pierre Jabouille, com um chassi feito por ele, fatura o campeonato com três vitórias, enquanto Tambay fica em terceiro, com apenas uma vitória em Nogaro e duas poles. Patrick revela novamente uma consistência notável, mas o fato de ter ficado atrás de Arnoux no campeonato e ter perdido o título pela segunda vez consecutiva, mesmo estando na equipe campeã do ano anterior, faz com que a Elf cortasse o patrocínio a Tambay e passasse a apoiar outros pilotos franceses.

Sem dinheiro para se manter numa equipe forte na F2, Tambay se volta aos Estados Unidos e após uma lesão de Brian Redman, ele é contratado pela equipe de Carl Hass para participar do famoso Campeonato da Can-Am em 1977 com um Lola-Chevrolet. Foi um sucesso. Mesmo estando inscrito apenas em sete das nove corridas da temporada, Tambay consegue seis vitórias (Watkins Glen, Mid-Ohio, Mosport Park, Trois-Rivieres, Sears Point e Riverside), conquistando o título com enorme facilidade. Esses resultados chamam a atenção no outro lado do Atlântico e fazem com que Patrick Tambay estréie na F1 ainda em 1977. Primeiramente, o francês consegue um acordo com a Ensign-Theodore na metade do ano, mas como o carro não estava pronto, Tambay resolve participar do Grande Prêmio da França daquele ano pela equipe Surtees, que passava por enormes dificuldades nos seus últimos anos. Tambay não consegue se classificar para a corrida, mas quando o segundo carro da Ensign fica pronto, Patrick faz sua primeira corrida em Silverstone, juntamente com aquele que seria seu melhor amigo na F1: Gilles Villeneuve. O canadense estreou no terceiro carro da McLaren e logo chamou a atenção de Teddy Mayer, mas o então chefe da McLaren não consegue um acordo com Villeneuve, enquanto Tambay fazia uma surpreendente temporada pela pequena Ensign, marcando seu primeiro ponto logo em sua segunda corrida, na Alemanha, largando num surpreendente sétimo lugar em Zeltweg e conquistar um quinto lugar em Mosport Park e Zandvoort.

Isso chama a atenção de Mayer e quando Villeneuve é contratado pela Ferrari para 1978, o chefão contrata Tambay para correr pela McLaren. O francês fica ansioso em correr por uma equipe forte de F1 em sua primeira temporada completa na categoria e ainda ter ao lado nos boxes o Campeão Mundial de 1976, James Hunt. Mas o sonho se tornou pesadelo quando o modelo M26 da McLaren, que tinha feito Hunt conseguir algumas vitórias em 1977, se tornasse obsoleto frente Ferrari, Brabham e, principalmente, a Lotus e seu carro-asa. Tambay consegue ficar entre os dez primeiros no grid nas três primeiras corridas do ano, mas quando a McLaren ficou definitivamente para trás, o tormento do francês aumentou e em pouco tempo ele se viu largando nas últimas posições. Graças a sua consistência, Tambay consegue alguns pontos, com um quarto lugar na Suécia, um quinto lugar na Itália e três sextos, mas a McLaren acaba em oitavo lugar no Mundial de Construtores. Para a temporada de 1979, Tambay deveria ter sido companheiro de equipe de Ronnie Peterson, mas quando o sueco morre um dia depois do Grande Prêmio da Itália após o seu acidente, a vaga é preenchida por John Watson, mas a McLaren consegue ter uma temporada ainda pior do que a anterior e Tambay não marca um único ponto durante o ano. Decepcionado com a F1, Tambay volta aos Estados Unidos e ao Campeonato da Can-Am, onde disputa o certame pela segunda vez com Carl Hass. E pela segunda vez é campeão inconteste com seis vitórias (Sears Point, Mid-Ohio, Mosport Park, Watkins Glen, Brainerd e Trois-Riviers) em seu Lola-Chevrolet.

Isso encoraja a Tambay voltar a Europa e a F1 em 1981. Assim como fez com Hass, Patrick retorna à F1 nas mãos da equipe Theodore, que agora construía seus carros. Como tinha acontecido anteriormente, Tambay se mostra confortável no Theodore. Mesmo não conseguindo largar nas primeiras posições, o francês consegue levar seu carro a boas posições e em Long Beach, consegue o que seria seu único ponto do ano ao terminar a difícil prova em sexto. Apesar da ruindade do carro, Tambay conseguia se destacar e isso chama a atenção de equipes mais fortes. Jean-Pierre Jabouille ainda não tinha se recuperado plenamente das suas fraturas nas pernas causado por um acidente no Grande Prêmio do Canadá de 1980 e por isso ele resolveu se aposentar no meio da temporada. Sem grandes pilotos disponíveis, a Ligier contrata Tambay até o final do ano, mas da mesma maneira de quando fez duas temporadas pela poderosa McLaren, Patrick não se destacou na forte equipe Ligier e mesmo com Laffite, primeiro piloto da equipe francesa, conseguindo brigar pelo título até o final do ano, Tambay não marca um único ponto e na última etapa do ano, o francês sofre um horrível acidente em Lãs Vegas em que teve a frente do seu carro é arrancada. Com os maus resultados durante o ano, Tambay não permaneceu na Ligier, mas quando Marc Surer sofre um sério acidente durante testes antes da temporada de 1982 e machuca seus calcanhares, Tambay é chamado pela Arrows para fazer parte do início do ano. Contudo, a greve dos pilotos em Kyalami faz Patrick desistir da F1 e partir, novamente, para a Can-Am.

Quando se preparava para estrear na categoria americana, Tambay se vê parte de uma tragédia. Seu amigo Gilles Villeneuve morreu durante os treinos do Grande Prêmio da Bélgica em Zolder e Patrick Tambay foi o nome escolhido para substituí-lo. Era uma oportunidade de ouro para a carreira de Tambay, até porque a Ferrari tinha o melhor carro da época, mas também era um compromisso emocional, pois Patrick e Gilles eram tão próximos, que Tambay era padrinho do pequeano Jacques Villeneuve. Após um teste em Brands Hatch, a primeira corrida de Tambay no mítico Ferrari 27 foi no Grande Prêmio da Holanda, com o francês não se destacando, mas conseguindo seu primeiro pódio logo na corrida seguinte, em Brands Hatch. Após um quarto lugar em Paul Ricard, a Ferrari partiu para o Grande Premio da Alemanha tendo como principal favorito Didier Pironi. Após toda a polêmica com Villeneuve em Ímola, o francês era o líder destacado do campeonato e tinha tudo para se tornar o primeiro piloto da França a vencer o Campeonato Mundial de F1, mas nos testes de sábado, quando testava os pneus de chuva, Pironi sofre um acidente grave, em que teve as pernas terrivelmente feridas e isso foi o fim da carreira do francês. Com mais essa tragédia, Tambay se torna o primeiro piloto da Ferrari e o francês não decepciona, conseguindo sua primeira vitória na F1 em Hockenheim, com sua equipe ainda chocada com tudo que havia acontecido em 1982.

O francês consegue um emocionante pódio no Grande Prêmio da Itália em Monza, sendo glorificado pelos tifosi, mas um problema nas costas o fez perder algumas corridas e o francês acabou a temporada em sétimo, ainda dando o título do Mundial de Construtores para a Ferrari. Graças aos bons resultados, Tambay é contratado pela Ferrari por mais um ano e isso seria o início da melhor fase do francês. A Ferrari ainda teria Harvey Postlethwaite como projetista-chefe e o inglês constrói o modelo 126C2, um dos mais belos da história da F1. Como companheiro de equipe, Tambay teria o compatriota René Arnoux, que vinha de um período de glórias e polêmicas na Renault. Arnoux era um piloto extremamente rápido, principalmente nas Classificações, e como Tambay também era conhecido por ser rápido nos treinos, a Ferrari conseguiu várias poles em 1983, inclusive com algumas dobradinhas. Após terminar em quinto no Brasil, Tambay liderou um trenzinho de carros com motores aspirados em Long Beach e mesmo com um carro nitidamente mais lento do que os que o perseguiam, Tambay se manteve na ponta até ser jogado para fora da corrida por Keke Rosberg. Em Ímola, todos os tifosi estavam de olho em Tambay, pois o francês tinha o mesmo 27 do ídolo Gilles Villeneuve e várias homenagens foram feitas ao canadense antes da corrida, emocionando Tambay. Na corrida, Patrick fez uma corrida tática, pois a Brabham de Riccardo Patrese tinha o carro mais rápido da pista, mas após um péssimo pit-stop do italiano, Tambay estava na liderança para delírio dos mais de 150.000 presentes naquele dia. No entanto, Patrese se aproximava rapidamente e efetuou a ultrapassagem faltando sete voltas. O mundo prendeu a respiração, mas um urro de alegria foi solto pelos italianos quando Patrese errou na Acqua Minerale e bateu de frente na barreira de pneus. Patrick Tambay consegue sua segunda vitória na carreira e após cruzar a linha de chegada, o francês levado em jubilo pela torcida italiano rumo ao pódio.
Isso torna Patrick Tambay um ídolo na Itália e dos favoritos ao título mundial de 1983, mas o francês não consegue mais nenhuma vitória até o final da temporada. O piloto da Ferrari conseguiu um segundo lugar em Spa, na volta do tradicional circuito a F1, e foi terceiro no Canadá. Em Silverstone, Tambay liderou as primeiras voltas, mas seus pneus Goodyear perderam aderência e ele acabou em terceiro, enquanto que na Alemanha, Patrick largou na pole, liderou as primeiras voltas, mas acabou abandonando, bem parecido com o que aconteceu em Zeltweg uma semana mais tarde. Em Zandvoort, Tambay larga mal saindo da segunda posição e após cruzar a primeira volta em 21º, o francês consegue um brilhante segundo lugar na corrida, completando uma dobradinha da Ferrari. Após um quarto lugar em Monza, Tambay ainda tinha chances matemáticas de conseguir o título, mas um problema nos freios em Brands Hatch, penúltima etapa do ano, acabou com os sonhos de Patrick Tambay. Mesmo sendo extremamente popular na Itália e gozar de muita popularidade dentro da equipe, Tambay não era o favorito da cúpula da Ferrari, que sonhava com Michele Alboreto e via em René Arnoux um campeão em potencial. Isso significava que Tambay teria que procurar outra equipe para 1984, mas ao contrário das outras oportunidades, o francês era considerado uma das estrelas da F1 e ele substituiu Alain Prost na Renault.

Parecia uma parceira promissora e o inglês Derek Warwick não era nenhum bicho de sete cabeças, além da francesa Renault poder dar um apoio especial a Tambay. No entanto, o modelo RE50 não foi páreo ao poderio da McLaren e a equipe Renault não repetiu 1983. Tambay começou o ano bem ao abandonar o Grande Prêmio do Brasil na última volta, sem gasolina, quando estava em segundo. Após algumas corridas ruins, Tambay se recupera em Dijon-Prenois, sendo o único a enfrentar as McLarens no Grande Prêmio da França, brigando de igual para igual com Niki Lauda, terminando em segundo lugar, logo atrás do austríaco. Contudo, na corrida seguinte Tambay tem a perna quebrada na primeira curva do Grande Prêmio de Mônaco e o francês acaba não fazendo uma temporada tão boa, ficando atrás até mesmo de Warwick. Para 1985, a Renault tem uma desaceleração no desenvolvimento do sue carro e apesar de dois terceiros lugares nas três primeiras corridas, Tambay só consegue onze pontos no final do campeonato. Na verdade, a Renault estava em seu último ano da F1 e com o fechamento do time no final de 1985, Tambay estava procurando outra equipe para 1986. Já contanto com 37 anos, Patrick não era nenhum garoto e as grandes equipes não se interessaram mais no francês, mas graças a grande relação que mantinha com Carl Hass nos tempos da Can-Am, Tambay consegue um lugar na nova equipe do americano, a Lola-Hass. Patrick teria ao seu lado Alan Jones e teria como engenheiro Adryan Newey, capitaneados por Ross Brawn.

Apesar de toda essa turma, a Lola não fez uma temporada impressionante e raras vezes Tambay pôde completar uma corrida, mesmo largando normalmente entre os dez primeiros. Claramente mais rápido que Jones, onde derrotou nas Classificações por 11-4, Tambay ainda sofreria dois sustos. No Grande Prêmio de Mônaco, ele tentou uma ultrapassagem sobre Martin Brundle na Mirabeau e após um toque, Patrick capota e bate forte no muro, mas sem grandes conseqüências. Contudo, em Montreal, ele bate forte no warm-up e acaba perdendo a corrida canadense e o GP em Detroit com o dedão quebrado. Após conseguir um quinto lugar na Áustria, Tambay anuncia que aquela era sua última temporada e o Grande Prêmio da Austrália de 1986 se torna sua despedida da F1. Foram 114 Grandes Prêmios, duas vitórias, cinco poles, duas melhores voltas, onze pódios e 103 pontos conquistados.
Após deixar as pistas, Patrick formou uma equipe própria de promoção de esportes na Suíça, mas o francês retornou às corridas em 1989, participando do Campeonato Mundial de Esporte-Protótipo pela equipe oficial da Jaguar, onde conseguiu um quarto lugar nas 24 Horas de Le Mans, além de ter participado do Paris-Dakar, onde terminou em terceiro lugar em 1989 com um Mitsubishi e se tornou um participante ativo no início dos anos 90. Tambay voltou à F1 em 1994 pela equipe Larrousse, desta vez como parceiro comercial do time francês. Após abandonar definitivamente às pistas, Patrick Tambay se tornou comentarista de F1 da TV francesa, além de ter se tornado vice-prefeito da pequena cidade de Le Cannet. Apesar de não ter sido um piloto conhecido pela sua velocidade exuberante em ritmo de corrida, chegando a se perder em tentativas de ultrapassagens, Patrick Tambay marcou a F1 nos inesquecíveis anos 80 com sua técnica, velocidade em treinos e seu charme fora das pistas. Após correr pela fracassada GP Series, Tambay acompanha de perto a carreira do seu filho Adrien Tambay, que já está na F3 Européia, tentando levar o sobrenome Tambay de volta à F1.

Parabéns!
Patrick Tambay

2 comentários:

Cezar Fittipaldi disse...

Excelente texto e trabalho de pesquisa João Carlos. Parabéns, continue assim!
Abraço.

Arthur Simões disse...

É o meu piloto frances favorito ,junto com Arnoux e Lafitte.
Não sabia que o Newey estava naquela volta da Lola.Pelo visto o time não era mal servido fora das pistas...