Dizer que a corrida de hoje foi um passeio é pouco para Jenson Button. Na verdade foi um massacre! O piloto da Brawn, ao contrário do que todos imaginavam, não teve adversários no dia de hoje e venceu pela sexta vez em sete corridas, abrindo caminho para o seu surpreendente primeiro título mundial na carreira. Se em Monte Carlo havia sido fácil, na Turquia Button foi ainda mais dominante, acabando de vez com a graça do campeonato. E hoje, a corrida foi bem sem graça também.
Ao contrário do que aconteceu nas edições anteriores, o espetacular circuito de Kurtkoy não nos proporcionou uma corrida emocionante e com várias ultrapassagens. Os ocupantes da primeira fila largaram bem, Vettel errou na primeira volta e Button assumiu a liderança para não mais perdê-la. O alemão tentou uma estratégia diferente de três paradas, chegou a se aproximar do piloto da Brawn, mas o tempo provou que a estrategema da Red Bull foi equivocada, mas só não foi pior porque foi Mark Webber quem assumiu a segunda posição. Trulli ultrapassou Webber na largada, também errou na primeira volta e tomou o troco do australiano, perdeu a quarta posição para Rosberg na primeira parada para retomá-la na segunda parada. E assim foi o resto das posições nesse chato Grande Prêmio da Turquia. Houve algumas bonitas imagens, como a bonita ultrapassagem de Nelson Piquet em cima de Lewis Hamilton, mas no geral foi um porre monumental, digno das piores corridas em Hungaroring. Nem a recuperação de Rubens Barrichello, que mais uma vez teve problemas na largada e caiu para as últimas posições, trouxe um algo a mais a prova. Quem não tem nada a ver com isso é Jenson Button. O inglês da Brawn só teve trabalho em ultrapassar Vettel na primeira volta após o erro do alemão e partir para a sua sexta vitória na temporada. Para quem imaginava que as novas regras trouxessem mais emoção ao campeonato, caíram do cavalo. Button até já pediu desculpas por tornar as coisas chatas esse ano, mas ele não tem culpa pela sua grande competência e pelo grande carro que tem. E ele vai se aproveitando disso para conquistar um campeonato quem nem o mais fanático fã do inglês poderia imaginar um ano atrás.
Como o carro da Brawn é o melhor do ano, o teórico maior desafiante de Button seria seu companheiro de equipe, mas Rubens Barrichello passam por momentos que, parodiando a frase que os torcedores do Botafogo usam com o seu time, algo que só acontecem com o "brasileirinho contra esse mundo todo". Na Austrália, Rubens já havia tido problemas de câmbio na largada que o fez cair várias posições, mas se em Melbourne ele pôde se recuperar, na Turquia ele foi bem aquém do carro que tem em mãos. Caindo para as profundezas do pelotão intermediário por causa de sua terrível largada devido ao câmbio, Barrichello tinha claramente carro (vide Button) para chegar e ultrapassar quem via pela frente. Porém, o brasileiro empacou na McLaren de Heikki Kovalainen, que usou muito bem o Kers para segurar a sua posição. Até quem um toque provocasse a rodada do piloto da Brawn. Voltando à pista, Rubens ultrapassou os pesados Hamilton e Piquet, mas quando chegou em outro carro mais leve, o Force India de Adrian Sutil, Barrichello novamente penou e contra o pior carro da F1, acabou perdendo o bico, acabando de vez com sua corrida. O brasileiro informou um problema na sétima marcha, mas a volta que levou de Jenson Button durante a corrida pode ser a prova definitiva de que o primeiro piloto já está escolhido na Brawn. E na comparação entre os dois, muito bem escolhido.
Sebastian Vettel provou que é, sim, um piloto de um enorme potencial, mas sua falta de experiência ainda provoca alguns erros que, nesse estágio de brigar pela ponta da corrida, se mostram imperdoáveis. Seu erro logo na primeira volta pôs toda a sua corrida a perder, mas o ritmo imposto por Button talvez apenas adiasse a ultrapassagem do inglês. Sua mudança de estratégia foi mais um ato de desespero de sua equipe, pois estava bem claro que uma mudança de duas para três paradas não ajudariam muito o alemão a vancer a prova. Quem se aproveitou disso tudo foi Mark Webber, que como em Barcelona, foi discreto e consistente, conseguindo outro ótimo resultado em 2009 e subindo ao pódio pela segunda vez esse ano. O australiano tem um trajetória até mesmo parecida com a de Button, pois começou muito bem na F1, mas carros pouco competitivos fizeram com que a passagem de Webber não fosse das mais auspiciosas, contudo, um bom carro está fazendo com que as habilidades do australiano ficassem em voga novamente. Webber é mais constante, enquanto Vettel é mais veloz e espetacular. Enquanto Mark não terá tantos anos assim para ganhar velocidade, Vettel terá muitos anos de estrada para ganhar consistência e quando este dia chegar, será muito difícil bater esse alemão! Utilizando o mesmo carro da Red Bull, fica difícil achar um motivo minimamente plausível para o péssimo rendimento da Toro Rosso. Seria o motor Ferrari? Difícil, pois a Renault não é considerado o mais potente da F1 e está levando a Red Bull aos altos postos da categoria. Sobra então para os pilotos. Buemi e Bourdais estão longe de serem virtuoses atrás de um volante de um carro de corrida, mas a atuação deles na Turquia foi abaixo do esperado.
Depois um fim de semana vexatório em Mônaco, a Toyota voltou ao normal na Turquia e andou no pelotão da frente, mesmo que mais distante da sonhada primeira vitória. Trulli fez uma corrida em que pouco foi notado, mas garantiu um bom quarto lugar, enquanto Timo Glock, largando mais atrás, fez uma prova estratégica, adiando sua primeira parada para fazer dois stints rápidos na parte final da prova, ganhando posições valiosas e ainda marcando um pontinho que poderá ser essencial no Mundial de Construtores, já que a Toyota se estabeleceu como a terceira equipe no campeonato. Se antes da corrida existia a possibilidade da Ferrari ter ultrapassado a Red Bull como a segunda força no campeonato, no circuito convencional de Kurtkoy podemos enxergar qual a posição atual da Ferrari. Os italianos estão bem melhores em comparação ao início da temporada, sem dúvidas, mas ainda brigando para ser a quarta força do Mundial, brigando com a Williams de Nico Rosberg. Massa largou muito bem, mas ao ser ultrapassado pelo próprio Rosberg no início da prova, sua corrida foi definida naquele momento, com o brasileiro fazendo uma corrida convencional para garantir o sexto lugar, onde se estabeleceu após levar o passão de Rosberg. Muito pouco para quem venceu as últimas três provas nesse circuito. Raikkonen, que vinha de um pódio em Mônaco e havia se classificado à frente de Massa mesmo estando mais pesado, fez uma corrida com o facho baixo e a tomada desligada. Largou mal, foi ultrapassado por Kubica e por lá ficou, se esforçando nas posições intermediárias, esperando que algo acontecesse para que pontuasse. Como não aconteceu nada demais na corrida de hoje e o finlandês pouco fez para que algo acontecesse com ele, Kimi acabou na nona posição e fora dos pontos. Ninguém discute a habilidade de Campeão do Mundo de Raikkonen, mas os italianos, que hoje dominam as posições estratégicas na Ferrari, esperam muito mais dos seus pilotos. Se não tem carro, ao menos que tenha garra!
Rosberg é o típico cara que leva seu carros nas costas. Sempre muito rápido nos treinos livres, o alemão volta a realidade na Classificação e nas corridas se mantém ao onde estar. Quando não cai. Na Turquia, Nico fez uma prova sólida, onde ultrapassou Massa na pista e Trulli nos boxes, mas a Williams nunca foi conhecida pela sua velocidade nos pits, nem nos seus tempos auréos, e acabou cedendo a quarta posição a Trulli, mas o quinto posto de Rosberg mostra bem que o alemão tem habilidade para ter em mãos carros melhores. O mesmo box que atrapalhou Rosberg destruiu a corrida de Nakajima, que vinha fazendo a sua melhor corrida do ano, com chances claras de marcar seus primeiros pontos no ano, mas um problema na pistola pneumática no seu segundo pit-stop jogou o japonês para as posições intermediárias. Mesmo sempre andando atrás de Rosberg, Nakajima vê suas parcas boas chances serem terminadas por algo que não tinha controle. Robert Kubica finalmente marcou seus primeiros pontos do ano com um sétimo lugar, demonstrando o quanto a BMW subiu em duas semanas. Porém, se compararmos com a expectativa que se tinha da equipe, os dois pontos pontos do polaco e a corrida invisível de Nick Heidfeld é muito pouco.
A cada dia que passa, Fernando Alonso fica mais distante da Renault em 2010. Em mais uma corrida sem velocidade, o espanhol ficou no pelotão intermediário e acabou fora dos pontos, o que não deixa de ser um declínio, pois Alonso, apesar do carro que tinha, sempre marcava alguns pontinhos. Pela segunda temporada consecutiva longe da briga pelo título, Alonso deve estar pensando o que fez para merecer um carro tão ruim e já deve estar pensando em outro para o ano que vem. Já a Renault, em constante pressão por resultados para não ficar de fora da F1, a briga que Briatore faz com a FIA parece ser o único indício de sua permanência na F1 nos próximos anos. De qualquer forma, dificilmente Nelsinho Piquet terá nova oportunidade. Não bastasse estar com o placar adverso de 25x0 nas Classificações, o brasileiro não faz corridas consistentes, apesar de um ou outro brilhareco, como a bela ultrapassagem sobre Hamilton. No entanto, a bonita manobra foi mais por causa da grande quantidade de combustível que o inglês levava em seu reservatório e Nelsinho acabou atrás de Alonso, Hamilton... Falando no inglês, a McLaren fez um péssimo fim de semana, talvez um dos piores desde 2004, quando iniciou o campeonato falando grosso, mas sempre correndo no pelotão intermediário. Hamilton esteve irreconhecível, fazendo uma prova altamente burocrática e sem nenhuma perspectiva, ao contrário das outras oportunidades em que largou mais atrás e partia para cima dos adversários com sua conhecida agressividade. Sempre muito pesado por causa da estratégia de uma parada, o inglês foi uma parca sombra de si mesmo hoje. Kovalainen se segurou bem contra o melhor carro de um pouco inspirado Barrichello, mas após suas paradas, o finlandês caiu na mediocricidade da McLaren e ficou para trás, terminando atrás até mesmo de Hamilton. A Force India tinha chances de algo melhor hoje, mas tudo começou mal quando Fisichella foi o primeiro abandono ainda no início da prova. Porém, Sutil fez uma corrida interessante, sempre andando à frente de Nelsinho e Hamilton, não se acovardando frente a poderosa Brawn de Barrichello, mas suas atuais estratégia de largar mais leve acabam lhe prejudicando mais à frente e o alemão acabou nas últimas posições. Se serve de consolo, ao menos não na última!
Dizer que o campeonato está decidido na sétima etapa do campeonato seria muita presunção. Na época de Schumacher era fácil dizer isso, pois todos conheciam o histórico do alemão e da Ferrari, mas com Button-Brawn é diferente. Button era um piloto talentoso, mas ninguém apostaria uma libra nele para conseguir algo em 2009. A Brawn era a antiga equipe Honda, que passou vexame nas duas últimas temporadas. Talvez desde Keke Rosberg em 1982, quando o finlandês não tinha marcado um único ponto no ano anterior, não estejamos vendo uma reviravolta tão grande com um piloto. Button está com o título bem encaminhado e seus dedos estão se aproximando cada vez mais da taça e a próxima corrida sendo na Inglaterra, uma sétima vitória de Button não está fora de questão. E do jeito que está guiando, será muito difícil alguém parar o britânico.
Um comentário:
Ninguém segura Jenson, e da forma que esta guiando e com o carro que tem, seria até injustiça que alguem segurasse.
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