quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Capitão Nice


Para muitos que acompanham a F1, o nome de Mark Donohue talvez não seja muito relevante, provavelmente entrando como mais uma das vítimas dos mortíferos anos 70. Porém, este simpático americano foi um dos pilotos mais completos e vitoriosos na histórias das pistas dos Estados Unidos e iniciou a tradição de uma das equipes mais importantes da história do automobilismo mundial, quando se juntou ao seu amigo Roger Penske na metade da década de 60. Dono de um conhecimento mecânico impressionante, além de sempre correr no limite, Donohue também era muito carismático dentro e fora das pistas, com sua estúpida morte chocando a todos, mesmo ele não sendo um front-runner na F1. Como essa tragédia ocorreu há 35 anos atrás, vamos conhecer um pouco da breve e vitoriosa carreira de Donohue.

Mark Donohue Neary Jr. nasceu no dia 18 de março de 1937 em Summit, em Nova Jersey. Vindo de uma família com boas condições financeiras, Mark estudou em bons colégios, mas sua paixão pelos carros fez com que cursasse Engenharia Mecânica na Universidade de Providence, daonde se formou em 1959. O que Donohue ganhou de conhecimento nas salas de aula, ele usaria bastante na prática nas corridas, sendo bastante conhecido por isso mais tarde. Quando completou 18 anos, Mark já tinha um Corvette em suas mãos e foi com o mítico carro da Chevrolet que ele fez sua primeira corrida em 1957, participando de provas de subida de montanha. Donohue venceria sua primeira prova neste tipo de corrida em 1959 e por isso já se empenhava em disputar provas mais importantes, principalmente em corridas de Carros-Esporte. Com seus contatos, Donohue entrou em contato com o piloto e futuro chefe de equipe Walt Hansgen, que lhe ajuda em suas primeiras provas. Em 1964, ao lado de Hansgen, Mark vence sua primeira corrida de Carros-Esporte em Bridgehampton e no ano seguinte, Donohue participa de sua primeira grande corrida: as 12 Horas de Sebring. A bordo de uma Ferrari 275, a dupla Donohue/Hansgen consegue terminar a prova em 11º no geral, o que não era pouca coisa.

Ainda em 1965, Mark Donohue tem seus primeiros contatos com os monopostos, participando de algumas corridas americanas, mas naquele momento ele estava mais focado nas provas de turismo. Graças aos contatos de Hansgen, que praticamente adota Donohue como pupilo, Mark se envolve no projeto da Ford em derrotar a Ferrari nas 24 Horas de Le Mans. Em 1966, ao lado do australiano Paul Hawkins, Donohue completa poucas voltas, mas no ano seguinte o americano consegue um excelente 4º lugar, ao lado de Bruce McLaren, mesmo com ambos os pilotos não concordando com o acerto do Ford GT40 Mark IV. Donohue e McLaren eram ótimos acertadores de carros e cada um queria um carro ao seu estilo, mas isso não impediu um ótimo resultado para ambos na famosa corrida francesa. Essas duas participações em Le Mans foram as únicas de Donohue na mítica corrida em Sarthe, pois em 1967 ele havia sido contratado a uma equipe que marcaria não apenas sua vida, mas também do seu chefe. Começava a dobradinha Donohue-Penske.

Ainda em 1966 Roger Penske convida Donohue a participar do Campeonato Americano de Carros Esporte com um Lola T70, com poucos resultados competitivos e muitos acidentes, mas Mark consegue ótimos desempenhos nas duas principais provas de Carros Esporte nos Estados Unidos, quando fica com um 3 º lugar em Daytona e consegue um segundo lugar nas 12 Horas de Sebring. Porém, no ano seguinte, Donohue conquista o Campeonato Americano de Carros Esporte de forma avassaladora, vencendo seis das sete corridas em que competiu. Em 1968, da mesma forma em que conquista o bicampeonato de Carros Esporte, desta vez com um McLaren M6A, Donohue também participava do Campeonato Americano de Trans-Am, com um Chevrolet Camaro de propriedade de Roger Penske. Mark conquista o título após vencer dez das treze provas do campeonato, ainda vencendo a etapa das 12 Horas de Sebring, ao lado de Craig Fisher. Donohue ainda conquistaria os títulos da Trans-Am em 1969 e 1971.

Com seu enorme sucesso em todos os tipos de carros, Mark Donohue começa a se aventurar nas corridas de Indycars e em 1969 participa de sua primeira 500 Milhas de Indianápolis, com a equipe Penske. Logo de cara, Mark conquista o prestigioso título de 'Rookie of the year' ao ficar em sétimo lugar em Indiana e para provar que marcaria sua nome também na Indy, quase vence a prova em 1970, ficando em segundo lugar, atrás de Al Unser. Após uma prova ruim em 1971, Mark Donohue consegue uma vitória arretabatora em 1972, com um McLaren-Offenhauser. A média conseguida por Donohue de mais de 163 milhas por hora foi recorde por vários anos e Roger Penske vencia pela primeira vez no solo sagrado de Indiana, iniciando assim uma trilha de sucesso da equipe Penske nas 500 Milhas de Indianápolis. Mostrando que desbravar novos territórios para Roger Penske era mesmo sua especialidade, Mark Donohue deu ao chefe de equipe a primeira vitória na Nascar, em Riverside, em 1973.

Com seus ótimos resultados nas pistas americanas, não foi surpresa ver o nome de Mark Donohue se envolver com a F1. No final de 1971, a equipe Penske aluga um McLaren de F1 para participar das provas americanas, no final da temporada e Donohue é escolhido para ser o piloto. Correndo em Mosport Park, Mark consegue um impressionante oitavo lugar no grid e termina a prova em terceiro lugar, conseguindo o que seria seu único pódio na F1. Para a corrida em Watkins Glen, Donohue sofre um acidente durante os treinos e é substituído por David Hobbs, mas ele havia deixado sua marca.

Em 1972, a Porsche desiste de participar do Mundial de Marcas e se junta a Penske para participar do Campeonato da Can-Am com o mítico Porsche 917. Donohue usa seus conhecimentos em mecânica para melhorar o carro e derrotar os até então imbatíveis McLarens. Porém, num teste em Road Atlanta com o intuito de melhorar o carro alemão, Mark Donohue sofre seu acidente mais grave. O americano perdeu o controle quando vinha a 240 km/h, saiu da pista, capotou sete vezes e se espatifou contra um posto de fiscalização vazio, num acidente muito parecido que havia tirado a vida de Bruce McLaren dois anos antes. A frente do Porsche foi arrancada, mas Donohue teve sorte em ter apenas as pernas quebradas, porém isso significou o fim da temporada para o americano. Ele voltaria em 1973 ainda mais forte e determinado a melhorar o Porsche 917 e conquistar o campeonato da Can-Am. A essa altura, o carro alemão já atingia inacreditáveis 1.100cv. Em ritmo de corrida! Mark Donohue conquista o campeonato de forma dominadora, mas em 1973 ocorre o primeiro choque do petróleo e os grandes carros, como McLaren e Porsche 917, ficam proibidos de correr no final desta temporada. Porém, esses belos e espetaculares carros entraram para a história do automobilismo.

Com a saída do seu carro favorito das pistas e já contando com 36 anos, Mark Donohue anuncia sua aposentadoria no final de 1973, ficando apenas como conselheiro da equipe Penske. Porém, Roger Penske inicia seu projeto para participar do Campeonato de F1 ainda em 1974 e convence Donohue a sair de sua aposentadoria e tocar o projeto como principal piloto. O Penske PC1 fica pronto apenas no final de 1974 e Donohue volta a participar de uma corrida de F1 no Grande Prêmio do Canadá daquele ano, mas o carro apresenta vários problemas e o americano larga nas últimas posições, com Donohue ainda completando a prova em 12º lugar. Apesar dos resultados nada animadores, a Penske resolve participar do Campeonato completo em 1975 com Mark Donohue como seu único piloto. Porém, Roger Penske sabia que o problema não era de piloto e bastava apenas dar um bom carro a Donohue para ele obter sucesso na F1 e isso foi provado no final de 1974, com a temporada da IROC. Esse mini-torneio de quatro corridas em pistas americanas reunia todos os principais campeões de automobilismo do mundo, com Porsche 911 iguais. Donohue foi convidado como último campeão da Can-Am, e se juntaria a pilotos como Emerson Fittipaldi (que havia acabado de conquistar o bicampeonato de F1), A.J. Foyt, Richard Petty e companhia bela. Em meio a tantas feras, Mark Donohue venceu três das quatro provas e conquistou o campeonato!

Porém, a temporada na F1 seria bastante complicada para a Penske e Mark Donohue. O modelo PC1 não conseguia grandes resultados nas Classificações e a melhor posição de grid conseguido por Mark foi um 15º lugar em Interlagos. Porém, usando sua experiência e talento, Donohue conseguia grandes resultados durante as corridas, onde normalmente levava o carro até o fim e no Grande Prêmio da Suécia, consegue um milagroso 5º lugar. Sabendo que o carro próprio ainda necessitava de melhoramentos, Penske decide usar um March até o final da temporada e Donohue mostra que bastava um carro melhor para conseguir um bom resultado, quando conquista outro 5º lugar logo em sua estréia com o carro, em Silverstone. Após a prova na Inglaterra, Mark Donohue volta aos Estados Unidos para bater o recorde mundial em um circuito fechado e para isso ele não utiliza um monoposto. O velho Porsche 917 estava parado e a Penske resolve modificá-lo para conseguir o feito, aumentando a pressão do turbo, fazendo com que a potência do carro chegasse a astronômicos 1.500 cv! Na pista de Talladega, no dia 9 de agosto de 1975, Donohue chegou a 382 km/h na reta principal, mas sua média de 355,858 km/h lhe garantiu o recorde, que duraria vários anos. Após estar com o recorde nas mãos, Donohue volta suas atenções para a F1 e a próxima etapa do campeonato, na Áustria. Mark ainda tentava melhorar o acerto do seu March durante o warm-up, no domingo pela manhã, quando se aproximava da veloz curva Hella Licht e então seu pneu dianteiro estourou sem aviso. Mark perdeu o controle do seu March, atravessou as grades de segurança e acertou com muito violencia o guard-rail e um suporte de cimento de um outdoor. Milagrosamente, Donohue sai do carro sozinho, mas dois comissários de pista foram atingidos e um deles acabaria morrendo. Numa emocionante entrevista no começo desse ano, Emerson Fittipaldi disse que parou seu McLaren no local do acidente e procurou o piloto envolvido. Quando encontrou Donohue, perguntou: Mark, are you ok? (Mark, você está ok?). O americano respondeu que sim, mas infelizmente não era a verdade. Quando Mark Donohue chegou aos boxes, andando, reclamou de fortes dores de cabeça e então foi levado ao centro médico. Como as dores só aumentavam, foi levado de helicóptero para um hospital de Graz. Chegando ao hospital, foi constatado um forte hematoma cerebral e Donohue entrou em coma na segunda-feira. Uma operação de emergência foi feita para diminuir a pressão do cérebro, mas Mark Donohue acabaria falecendo na madrugada do dia 19 de agosto de 1975, aos 38 anos de idade. Mesmo com poucas corridas no currículo, o mundo da F1 ficou devastasdo com a morte do simpático americano, mas a dor foi muito maior no outro lado do Atlântico. Visto como um ídolo nos Estados Unidos, Donohue recebeu várias homenagens durante aquele ano. No curso das investigações do acidente, foi descoberto um problema na construção do pneu estourado, fazendo com que a viúva de Donohue conseguisse ganhar uma milionária indenização da Goodyear. Até os dias de hoje, a Penske sempre que pode homenageia Mark Donohue, um dos grandes pilotos na sua história. E também do automobilismo americano!

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