domingo, 1 de agosto de 2010

Verdade reestabelecida


Todo mundo sabe que a Red Bull tem o melhor carro e nem as besteiras próprias e dos seus pilotos podem lhe tirar vitórias certas. Em sua centésima corrida na F1, a Red Bull escapou por pouco de perder o belo presente de comemoração, mas Mark Webber ainda teve tempo e competência para dar uma vitória a equipe, onde o que viu na pista era que a dobradinha era o resultado mais correto pela velocidade dos seus pilotos, mas a imaturidade de Vettel e da própria Red Bull durante o período de safety-car acabou por estragar os planos vitoriosos do time.

Sempre digo que uma pessoa que ainda não se apaixonou pela F1 para evitar assistir o Grande Prêmio da Hungria logo de cara, pois corre o risco de se decepcionar. Olhando a média histórica das corridas medíocres na pista próximo a Budapeste, até que a edição de 2010 foi muito boa, até mesmo com um ou outra ultrapassagem, mas ainda assim Hungaroring proporcionou uma prova modorrenta e com os principais lances acontecendo por momentos fora das pistas. Numa pista onde normalmente a largada define 80% do resultado final da corrida, nem assim Sebastian Vettel conseguiu sair da seca de vitórias. Pela primeira vez em um bom tempo o jovem alemão largou bem e mesmo acossado por Alonso, que ultrapassou de forma até esperada Mark Webber na largada, Vettel se manteve na ponta. Por sinal, ficou claro como quem largava no lado par da pista teve sérias dificuldades nos primeiros metros, com Massa tendo sorte em se manter na quarta posição.

O ritmo imposto por Vettel era alucinante, com a diferença entre Red Bull e Ferrari na Classificação, em torno de 1s, se mantendo na corrida, mas ainda assim Webber não conseguiu sequer botar o bico de lado em cima da Ferrari de Alonso. Quando as primeiras paradas se aproximaram, veio o safety-car que mudou os rumos da corrida. Primeiro, Vettel quase perdeu o entrada do box e claramente freou o carro para ir para o seu pit-stop. Voltando à pista, se perdeu aonde estava o Mercedão SLR e ficou esperando alguma instrução via-rádio, que não veio. A equipe só lembrou de falar com Vettel para avisar o alemão que ele deveria dar uma mão a Mark Webber, que ficou na pista e deveria abrir o máximo possível para ganhar a posição de Alonso na estratégia. E lá foi Vettel deixar Webber abrir uma boa diferença antes da bandeira verde. Não demorou e veio a notícia do drive-through para o alemão e a corrida, que estava nas mãos da Red Bull e de Vettel, parecia que escorria pelos dedos austro-germânicos. Então, Webber fez o que parecia impossível. Tudo o que o australiano queria era ganhar a posição de Alonso, até porque o ritmo de Vettel, mesmo com os pneus duros, era parecido com o seu. Mesmo com os pneus super-macios, Webber andou por mais de 40 voltas num ritmo forte, marcando volta mais rápida em cima de volta mais rápida para conseguir uma diferença tal, que fez seu pit-stop e voltou à pista mais de 10s à frente de Alonso, dando até uma canja no caso de um erro na parada da Red Bull, algo que não ocorreu.
Com mais esse triunfo, Mark Webber chega a sua quarta vitória no ano e a liderança do Mundial de Pilotos, mas nem tudo era festa no reino da Red Bull. Vettel ainda voltou por pouco à frente de Felipe Massa e partiu para cima de Alonso num ritmo alucinante. Parecia que nada seguraria o alemão, em média 1s mais rápido do que o espanhol da Ferrari, mas como diz o poeta global - chegar é uma coisa, passar é outra -, Vettel passou mais de vinte voltas olhando para o enorme nome da Santander na sua frente e não fez praticamente nada para ultrapassar Alonso. Durante o cumprimento de sua punição e após a corrida, Vettel deu chilique, fez beicinho e foi mandado para ir ao pódio por Herbie Blash, que teve que ouvir o chororo do alemão na ante-sala do pódio. Mais uma vitória desperdiçada pelo alemão, que viu Webber assumir a liderança do Mundial e com quase dois terços da temporada já percorrida, Vettel tem agora uma difícil tarefa de tirar uma boa diferença para o companheiro de equipe. Para a Red Bull, resta agora, na liderança dos dois campeonatos, ter juízo em segurar o ímpeto dos seus dois pilotos e partir rumo a um campeonato que só está emocionante pelos constantes erros da equipe.

Após toda a celeuma em Hockenheim, a Ferrari nada pôde fazer para enfrentar a Red Bull, mas Alonso usou da sorte para conseguir um resultado inimaginável após a classificação no sábado. Um segundo mais lento que os carros azuis, tudo o que Alonso poderia esperar era a terceira posição, mas eis que uma boa largada, seguido por uma estratégia correra dos boxes, somado ao problema de Vettel, fez o espanhol ficar entre os dois carros da Red Bull, mesmo que para isso tivesse que segurar o rojão de Vettel completamente alucinado vindo detrás. Com a Red Bull cada vez mais dominante, Alonso vê seu terceiro título cada vez mais longe, mas o asturiano pode tirar proveito desses pequenos vacilos da Red Bull e tentar algo mais no campeonato, até porque hoje a Ferrari é a segunda força do campeonato. Felipe Massa fez uma corrida extremamente discreta e dá até para dizer que foi quarto com sorte, pois se não fosse o abandono de Hamilton, o brasileiro passaria a tarde vendo o nome Vodafone na sua frente sem ter muito o que fazer. Claramente mais lento que Alonso, Massa tem que aproveitar as chances em erros das equipes adversários e do próprio companheiro de equipe. Avisado que Vettel sofreria uma punição, Massa não foi rápido o suficiente para passar o alemão e ficou longe de Alonso o tempo inteiro.

A McLaren teve um dia para esquecer, com Hamilton abandonando após o inglês fazer uma bela ultrapassagem sobre Vitaly Petrov logo na segunda volta e ter ganho a 4º posição de Massa na confusão que se estabeleceu com a entrada do safety-car. Sem poder marcar pontos, no momento o que Hamilton pode fazer, o inglês perdeu a liderança do campeonato e se a McLaren não reagir imediatamente, Lewis dificilmente voltará a brigar pelo título. Ainda pior que o companheiro de equipe, Button vagou feito um fantasma pelo pelotão intermediário, mesmo sendo um dos primeiros a fazer seu pit-stop quando percebeu que o safety-car poderia entrar a qualquer momento, mas o máximo que o inglês fez foi ganhar um ou duas posições e chegar num magro oitavo lugar. Muito pouco para alguém que ainda almeja reter o título para si pelo segundo ano consecutivo. A Renault viveu um dia incomum. Se chegar em quinto lugar não significa exatamente o melhor resultado do ano, a equipe francesa viu Vitaly Petrov liderar o time em toda a corrida, largando bem, se mantendo facilmente à frente de Rosberg e Kubica, seu companheiro de equipe, mantendo a calma quando viu Rubens Barrichello à sua frente e terminando uma corrida sólida na quinta posição, de longe, o melhor resultado do russo, que vive vendo seu nome em constantes especulações de que está fora da Renault em 2011. Isso pode ser um belo impulso para Petrov permanecer, bem, na F1.

Contudo, nem tudo foram flores para a Renault, durante o caos dos seguidos pit-stops, o mecânico-chefe da Renault, responsável pelo 'pirulito', levantou seu instrumento antes da hora e Kubica acelerou rumo ao pit-lane bem no momento em que Adrian Sutil entrava nos boxes. Um erro primário que quase custou um seríssimo acidente dentro dos boxes onde, graças a Deus, nenhum mecânico acabou machucado, mas com os dois pilotos de fora da prova. Porém, multas serão feitas a Renault pela presepada, assim como para a Mercedes, que liberou Nico Rosberg antes da hora e com três rodas, quase provocando um acidente na Sauber, o box a seguir. Porém, outro multado foi Michael Schumacher, que reviveu seus piores momentos hoje. Na verdade, o alemão está tendo o ponto mais baixo nessa sua volta meio estabanada a F1 e em nenhum momento se encontrou em Hungaroring. O heptacampeão estava em décimo, segurando o último pontinho quando se viu atacado por Rubens Barrichello, com pneus macios novos e voando na pista. Aqui vale o caso para dizer que Schumacher, mesmo em clara inferioridade, não poderia simplesmente deixar Barrichello passar e o alemão da Mercedes estava fazendo tudo direitinho para se defender de Barrichello, que começava a chorar via rádio. Mas Schumacher perdeu a razão quando quase colocou seu antigo companheiro de equipe no muro numa cena assustadora, onde Rubens finalmente completou a ultrapassagem, a mais bonita (e também perigosa) do final de semana.

"Stupid bastard", foi o que entendi Barrichello falar, clamando por uma bandeira preta a Schumacher, que se vier, será bem feito. Porém, Barrichello tinha que falar. Claramente irritado com a manobra, ele relembrou os tempos da Ferrari e o episódio da Áustria em 2002, onde disse que por isso não faria mais 'isso'. Bom, o ocorrido foi há oito anos atrás e só agora que Barrichello chegou a essa conclusão? Por isso que sempre falei que Rubinho precisava de alguém ao seu lado para manter o brasileiro equilibrado na hora de falar. Não que ele se transforme num robô, mas para que ele não falasse algumas coisinhas que acabam indo contra ele. A Williams também viveu um dia diferente com Nico Hulkenberg andando muito forte e superando seu companheiro de equipe mais experiente, fazendo com que o novato alemão conquistasse seu melhor resultado na sua temporada de estréia. Provando seu crescimento, a Sauber fez a sua melhor corrida no ano e pôs seus dois pilotos na zona de pontuação, com Pedro de la Rosa finalmente pontuando, enquanto Kobayashi subiu treze posições rumo ao nono lugar. No ritmo que vai, o time suíço está bem encaminhado para angariar patrocínios e consiga um 2011 mais tranquilo. Em uma rota inversa, a Force India caiu muito de umas provas para cá e mesmo se não fosse alboroado por Kubica nos boxes, dificilmente Sutil conseguiria pontos, enquanto Liuzzi passou a prova pressionando Buemi, mas sem chances de marcar pontos. A Toro Rosso só apareceu com mais destaque com Jaime Alguersuari quebrando o motor bem no início da corrida e a certeza que é hoje a equipe mais lenta dos times estabelecidos. Entre as novatas, houve poucos abandonos e muitas voltas de atraso.

Com a Red Bull assumindo a primeira posição no Mundial de Pilotos e Construtores, resta saber como o time austríaco irá reagir nessas férias de verão. Como disse na época da Copa do Mundo, ainda falta 'camisa' a Red Bull e por isso os incríveis erros da equipe nesse ano, inclusive na vitória de hoje, mas a queda repentina da McLaren e a subida repentina, mas tardia, da Ferrari pode fazer com que a Red Bull celebre os dois títulos no ano em que um time sem camisa, a Espanha, também chegasse ao título mundial.

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