quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O último dos moicanos suecos

Ele poderia ser um digno sucessor de Ronnie Peterson. Ele disputou campeonatos de F1 por três das quatro principais equipes do final dos anos 80 e ainda assim não conseguiu uma vitória. Ele é o piloto com o maior número de pódios, mas sem subir no degrau mais nobre. Assim pode ser resumida a carreira de Stefan Johasson na F1. Sueco simpático e fã de rock, Johansson foi um piloto marcante nos anos 80, onde correu pela Toleman (futura Benetton), Ferrari e McLaren, mas ainda assim não conseguir brigar constantemente pelas primeiras posições, vendo sua carreira decair na mesma velocidade em que cresceu. Com 55 anos de idade, vamos conhecer um pouco mais desse sueco.

Stefan Nils Edwin Johansson nasceu no dia 8 de setembro de 1956 na cidade de Vaxjo, na Suécia. Desde criança o pequeno Stefan esteve envolvido com corridas, já que seu pai, Roland Johansson, foi um piloto de corridas de turismo na Suécia. Crescendo em meio a finais de semana de corridas, o pequeno Stefan começou a correr bem cedo, quando ganhou seu primeiro kart aos nove anos de idade, só participando das suas primeiras corridas três anos mais tarde. A carreira de Stefan Johansson no kart foi vitoriosa, conquistando um campeonato nódico em 1974 e sendo sexto colocado no mundial de kart em 1973. O sucesso de Stefan no kart o fez experimentar os monopostos já em 1975, com 19 anos de idade, participando de um campeonato de F-Ford na Suécia. No ano seguinte Johansson disputou um campeonato de F3 promovido Automóvel Clube de Estocolmo e se sagrou vencedor, lhe garantindo cancha suficiente para vôos maiores. Em 1977 ele participa de algumas provas do Campeonato Europeu, mas sem muito apoio, a carreira de Johansson demora a deslanchar. Em 1979 o sueco é contratado pela equipe de Derek McMahon para disputar o campeonato inglês de F3, com um fraco chassi Chevron, mas Johansson se sobressai e consegue um ótimo quarto lugar no campeonato.

Isso rende a Stefan um convite para participar da última etapa do Europeu de F2 em Donington Park, onde o sueco surpreende e abandona com o motor quebrado quando brigava pelas primeiras posições. De um período sem grandes chances, a carreira de Stefan Johansson ganha um grande impulso a partir de então. Em 1980 o sueco é contratado por Ron Dennis, onde inicia uma grande amizade, para disputar o Campeonato Inglês de F3 em 1980 e Johansson se torna favorito, pois a Project Four tinha dado o título a Chico Serra do certame em 1979 e o sueco vinha em grande fase. E a fase era tão boa que Johansson acaba recebendo um convite surpreendente: ele participaria de sua primeira corrida de F1. Ou, pelo menos, tentaria... A Shadow já não era a equipe média, que incomodava as grandes, da metade da década de 70 e com sérios problemas financeiros, o time traz Johansson e David Kennedy para as duas primeiras corridas de 1980, na América do Sul. Johansson melhorava de desempenho a cada treino, mas a falta de desenvolvimento do carro fez o sueco não se classificar para nenhuma corrida. Sem dinheiro, a Shadow fecha as portas e a primeira passagem de Johansson termina tão rápido como começou. Voltando o foco para a F3, Stefan não tem o começo de temporada dos sonhos, sofrendo com o chassi March, mas quando Dennis compra um chassi Ralt, Johansson se reencontra com as vitórias e após quatro triunfos consecutivos nas últimas corridas do ano, o sueco vencia o campeonato, repetindo os feitos de Ronnie Peterson e Gunnar Nilsson, dois ídolos suecos na década de 70.

Isso faz com que Johansson suba mais um degrau na carreira e estréia para valer na F2 Européia, pela equipe de Alan Docking. E o sueco não perde tempo, vencendo logo em sua primeira corrida, em Hockenheim. Porém, Johansson não mantém o mesmo embalo e só consegue mais uma vitória, ficando em quarto no campeonato, o que não deixava de ser impressionante para um estreante, fazendo-o ganhar um teste com a March de F1 no meio de 1981. Com o cartaz de novo sueco voador, Johansson consegue um bom patrocínio com a Marlboro e se transfere para a equipe Spirit, que tinha o precioso apoio da Honda na F2 e, futuramente, na F1. Johansson era um dos favoritos no campeonato, mas o sueco decepciona amargamente, sofrendo vários abandonos e fica apenas em oitavo no campeonato, enquanto seu companheiro de equipe, Thierry Boutsen, consegue três vitórias e um terceiro lugar no campeonato europeu. Porém, Johansson havia demonstrado velocidade ao conseguir várias poles e de forma surpreendente, o sueco vence o duelo com Boutsen para desenvolver o motor Honda turbo de F1, com o qual a Spirit estrearia na F1 durante o Grande Prêmio da Inglaterra de 1983 e Johansson participaria de sua primeira largada na F1. O time inglês participa das demais corridas da temporada apenas servindo de cobaia da Honda para melhorar preparação aos motores japoneses e Johansson consegue como melhor resultado um 7º lugar na Holanda. Porém, de forma súbita, a Honda deixa a Spirit a ver navios e se transfere com força total para a Williams. Sem apoio, novamente Johansson se vê numa encruzilhada na carreira e de forma bastante incomum, se manda para o Japão, onde participa do forte campeonato de F2 local. Stefan também se especializa em corridas de endurance e vence a tradicional 12 Horas de Sebring com um Porsche 935, mas a F1 não saí dos sonhos de Stefan e ainda em 1984 ele retornaria a categoria. Quando Martin Brundle quebra os tornozelos num acidente durante os treinos do Grande Premio de Dallas, Johansson é chamado para substituir o inglês na Tyrrell, mas o escândalo dos pesos de ferro num tanque de água da Tyrrell fez a equipe ser desclassificado no resto do ano, mas logo em seguida Ayrton Senna é suspenso pela Toleman por ter se transferido para a Lotus, quebrando o contrato com a equipe, e Stefan é chamado para participar do Grande Prêmio da Itália. O sueco surpreende ao conseguir um quarto lugar e marcar seus primeiros pontos na F1, a ponto de ficar na Toleman até o final de 1984.

Stefan Johansson é contratado pela Toleman e finalmente teria uma chance de verdade na F1 após tanto tempo fazendo corridas esporádicas, mas as coisas não andavam boas para a Toleman, pois o time inglês havia brigado com Goodyear e Pirelli em 1984 e ambas eram as únicas a fornecer pneus a F1 em 1985. Mesmo com algum apoio financeiro, a Toleman não correria as primeiras corridas da temporada de 1985 por não ter pneus! Johansson participa da primeira corrida da temporada emprestado pela Tyrrell, mas a surpresa viria na etapa seguinte. O bom desempenho na Itália chama a atenção de vários italianos, inclusive os dirigentes da Ferrari. O time italiano estava claramente insatisfeito com René Arnoux, que não conseguia mais andar no mesmo nível do queridinho Michele Alboreto. Arnoux ainda disputa o Grande Prêmio do Brasil, mas é dispensado logo depois por motivos nebulosos e Johansson é contratado para o resto da temporada. A Ferrari vinha numa boa fase e Alboreto era um dos favoritos ao título, fazendo com que Stefan consegue ótimas corridas e quase vence logo em sua segunda corrida pela Ferrari, em Ímola, onde sai da 15º posição no grid para ser segundo na penúltima volta, mas quando Senna pára sua Lotus sem gasolina, Stefan assume a ponta... para abandonar metros mais tarde também sem combustível. Em Montreal, Johansson consegue seu primeiro pódio na F1, mas o sueco só fica em segundo lugar por ordens da Ferrari, que queria Alboreto como vencedor. Após outro pódio em Detroit, a primeira temporada completa de Johansson na F1 era bastante animadora. O que não era nada animadora era a fase da Ferrari no final de 1985, que fez Alboreto perder a chance de brigar pelo título. Isso se refletiu em 1986, onde a Ferrari não foi páreo a Williams e McLaren, muitas vezes sendo apenas a quarta força do grid, perdendo para a Benetton-BMW. Sendo segundo piloto, Johansson sofreria ainda mais com essa perda de rendimento e o sueco só conseguiria um pódio no ano. A Ferrari já havia contratado Gerhard Berger, sensação da temporada, para 1987 e como Alboreto ainda era intocável, mesmo ficando atrás de Johansson no campeonato, foi o sueco que acabou sobrando.

Porém, Johansson ainda tinha cartas na manga. O patrocínio da Marlboro e a amizade com Ron Dennis fez o sueco assinar com a McLaren para 1987, onde seria segundo piloto da Alain Prost, então bicampeão mundial. O começo da temporada foi até muito bom, com Johansson conseguindo dois pódios e alcançando o segundo lugar no campeonato, mas a McLaren acabaria sucumbindo ao poderio da Williams-Honda e nem mesmo Prost seria capaz de fazer frente a Piquet e Mansell. Sobrando apenas as migalhas, Johansson só seria lembrado em 1987 durante os treinos para o GP da Áustria, quando atropelou um veado em alta velocidade e praticamente selou o fim do belo e veloz circuito de Zeltweg no calendário da F1. Com Senna sendo contratado pela McLaren para 1988, novamente Stefan estava sem lugar na F1. E agora, sem cartas na manga. Só lhe restou um lugar na Ligier, equipe de glórias num passado recente, mas em clara decadência. Johansson sofreria bastante com o péssimo chassi da Ligier e o anêmico motor Judd, ficando de fora de algumas corridas por falta de desempenho. Após fazer sua primeira temporada completa na F1 pela Ferrari, a decadência havia chegado para Stefan Johansson de forma rápida. Graças ao seu relacionamento com a Marlboro, Johansson conseguiu um lugar na novata Onyx em 1989 e de forma surpreendente, mais pelos pneus Pirelli, o sueco consegue bons resultados, culminando com um pódio no Grande Prêmio de Portugal. Este seria o último resultado de relevo de Stefan Johansson na F1. Ele acabaria brigando com os novos donos da Onyx em 1990 e acabaria demitido após apenas duas corridas. Stefan participou das 24 Horas de Le Mans pela Mazda, iniciando sua longa participação na tradicional corrida francesa. Em 1991, Johansson faria algumas corridas substituindo o machucado Alex Caffi na Footwork e abandonaria definitivamente a F1. Foram 79 corridas, 12 pódios e 88 pontos.

Após vários anos de F1, Johansson fez o que era moda na época: se transferir para os Estados Unidos. Com a equipe Bettenhausen, Stefan consegue um ótimo terceiro lugar em sua primeira corrida na F-Indy, em Detroit, conseguindo o conceituado prêmio de Novato do Ano em 1994. Porém, a carreira de Johansson na F-Indy apenas decairia, culminando com uma tragédia. Na última volta da corrida em Toronto em 1996, Johansson se envolve num acidente com Jeff Krosnoff, que bateu contra uma grade de proteção a alta velocidade, matando não apenas o piloto americano, como também um comissário de pista. Essa tragédia faz Johansson abandonar definitivamente os monopostos e se transferir para os carros de protótipo, onde consegue seu melhor resultado logo no ano seguinte, quando vence as 24 Horas de Le Mans em 1997, ao lado de Tom Krintensen e seu antigo companheiro de equipe Michele Alboreto. Enquanto corre em corridas de resistência, inclusive desenvolvendo o Audi R8, que entraria para a história do automobilismo mais tarde, Johansson começa sua carreira como chefe de equipe, abrindo uma equipe na Indy Lights. No ano 2000, Stefan contrata um jovem neozelandês chamado Scott Dixon, que se torna campeão e Johansson passa a empresaria-lo. Dixon se tornaria um dos grandes pilotos nas corridas americanas. Em 2003, Johansson abre uma equipe na CART, onde consegue uma vitória na base da sorte em Surfers Paradise com Ryan Hunter-Reay, mas a crise da categoria faz Stefan vender o time no final do ano. Ainda hoje Stefan Johansson participa de algumas corridas ocasionais, inclusive pela malograda GP Masters. De piloto considerado como um favorito a se tornar um vencedor de Grandes Prêmios, Stefan Johansson também rapidamente se tornou um piloto medíocre, sem nenhuma vitória, mesmo atuando pelas melhores equipes da época e sendo mais conhecido por ter atropelado um veado... Muito pouco para quem poderia suceder Ronnie Peterson, mas com sua simpatia, Johansson se tornou um dos pilotos mais conhecidos da inesquecível década de 80.

Parabéns!
Stefan Johansson

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